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JORNAL

Saúde do Professor

Quinta-feira, 7 de Agosto de 2008

Edição 3

EDITORIAL - Saúde do Professor

A terceira edição do Jornal do Professor trata do tema Saúde do Professor.

É um assunto importante, que preocupa gestores e a comunidade em geral.

Aqui você vai ficar informado sobre os principais problemas de saúde enfrentados pelos professores; quais os principais motivos que levam os professores a pedir licença de saúde; vai saber mais sobre a síndrome de Burnout; além de conhecer os projetos que estão sendo desenvolvidos em Mato Grosso e Sergipe com o objetivo de melhorar a qualidade de vida dos professores e demais trabalhadores da área da educação.

Ainda nesta edição, apresentamos sugestões de exercícios de ginástica laboral e dicas para você organizar melhor os seus papéis e documentos.

Aproveite para escolher o tema das próximas edições. E colabore conosco: envie sugestões, críticas, textos e músicas!

Seja bem-vindo!

Problemas de saúde afastam professores da escola

Estresse, dor nas costas, distúrbios vocais. Estes são os principais fatores que levam os professores a pedir afastamento da sala de aula

 

O trabalho tem um papel central na vida das pessoas, podendo contribuir tanto para a melhoria da qualidade de vida quanto para o desenvolvimento de doenças. Muitas categorias profissionais têm sido alvo de estudos para diversos pesquisadores, entre elas, encontram-se os professores, que desde a década de 80 vêm, de forma mais acentuada, apresentando sinais de adoecimento. As causas são, em sua maioria, as mesmas: distúrbios vocais, estresse, dor nas costas e esgotamento mental e físico.

 

Cerca de 22,6% dos professores pediram afastamento por licenças-médicas de acordo com a pesquisa Identidade Expropriada – Retrato do Educador Brasileiro realizada pela Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE), em 2003. “Isso causa um desfalque no sistema e é um problema difícil de controlar”, explicou a secretária de Finanças do CNTE, Juçara Dutra. Ela ressaltou que cada licença-médica significa, em média, cerca de três meses fora da sala de aula.

 

Com 250 mil professores, o Estado de São Paulo tem a maior rede de ensino público do país e registra aproximadamente 30 mil faltas por dia. Só em 2006, foram quase 140 mil licenças médicas, com duração média de 33 dias. O custo anual para o governo estadual chega a R$ 235 milhões. O cenário é o mesmo em centros metropolitanos menores. Nas escolas públicas do Distrito Federal, por exemplo, quase metade (46%) dos professores precisa pedir licença médica durante o ano letivo.

 

Mestre em Educação pela Universidade Federal de Santa Catarina, Osnyr Batista atribui o percentual excessivo de professores adoecidos à falta de reconhecimento da profissão. Em 2005, o especialista realizou uma radiografia da situação de trabalho dos professores catarinenses e descobriu que 15 mil professores, de um total de 40 mil, ficaram afastados por licença.

 

Segundo Batista, a primeira suspeita era de que isso seria decorrente dos baixos salários, mas, na verdade, ele descobriu que as principais causas de afastamentos são as condições inadequadas de trabalho. “Há uma cobrança muito grande da sociedade com relação aos professores, mas, ao mesmo tempo, eles não são valorizados como deveriam ser e quando percebem isso, adoecem”, explicou. (Renata Chamarelli)

Atividades físicas dão qualidade de vida a profissionais da educação

Hidroginástica: aliada importante.

Alegria, entusiasmo, satisfação, interesse, vontade, idéias, concentração, auto-confiança e humor são os sentimentos relatados por profissionais da educação, participantes do projeto A arte de viver bem: atividade física e qualidade de vida para profissionais da rede estadual de educação de Mato Grosso.

 

Luciano Paulo da Silva, 33 anos, é professor de língua portuguesa no Centro de Educação de Jovens e Adultos (Ceja) Licínio Monteiro, em Várzea Grande. Hipertenso e com bronquite, nos últimos três meses encontrou na hidroginástica uma aliada importante. O tempo é apertadíssimo para o professor marcar presença na piscina do Centro de Convivência Padre Firmo, em Cuiabá. “Saio às 17h da escola para chegar aqui às 17h30 (quando começa a aula) e volto às 18h30 para entrar na sala de aula às 19h”. O detalhe é que ele utiliza transporte coletivo. Mas a correria não intimida o professor Luciano. “Acabou minha crise de bronquite, sem falar que ampliei meu círculo de amizades”, comemora.

 

Rosane Aparecida K. Arruda, 39 anos, é merendeira na Escola Estadual Porfíria Paula de Campos, em Várzea Grande, município vizinho a Cuiabá. Ela atravessa a cidade para garantir sua vaga nas aulas de hidroginástica. O ritual é feito há três meses, o que garantiu dar adeus ao stress, à irritação e proporcionou o controle da pressão arterial. Se ela comemora? “Até minha mãe brinca que já consigo encostar no dedinho do pé”, diz, aproveitando para dar um recado para quem ainda não descobriu os benefícios da atividade física. “A gente fica mais leve e não esquenta a cabeça por qualquer coisa. Quem deseja qualidade de vida precisa se exercitar”, sugere.

 

O sorriso cativante e a tranqüilidade de Terezinha Calista da Silva, 62 anos, chamam atenção. Exercendo a função de apoio administrativo na Escola Estadual Rodolfo Augusto, no Residencial Paiaguás, em Cuiabá, ela mergulha de cabeça na hidroginástica. Terezinha deixou a profissão de doméstica há 27 anos, quando passou a trabalhar na rede pública de ensino. Numa rápida observação, nem parece que dona Terezinha tem hipertensão, bronquite e osteoporose, tamanha sua disposição para a hidroginástica. Por que ela enfrenta dois coletivos para participar das aulas de hidroginástica? “Tinha muitas câimbras e melhorou muito. A insônia também foi embora. Minha pressão caiu de 17/9 para 9/12 e diminuíram as dores no corpo. Precisa falar mais alguma coisa?”, indaga, bem-humorada.

 

Duas profissionais responsáveis pela melhoria da qualidade de vida dos personagens acima são as professoras de educação física Elizane Cruz de Sousa e Vanessa Gonçalves Lopes Costa. Esta última é uma jovem de 37 anos, com visível disposição e amor pelo que faz. Inclusive o Projeto Qualidade de Vida oferecido pela Secretaria de Estado de Educação de Mato Grosso contou com seu entusiasmo. “Via a ginástica laboral realizada na sede da Seduc e propus que levássemos atividades físicas e culturais para os profissionais das escolas. Fico muito feliz pelo sucesso da iniciativa e pela melhoria na vida dos participantes”, destaca Vanessa.

O entusiasmo dos freqüentadores da hidroginástica no Centro de Convivência Padre Firmo é reforçado com a presença da professora Elizane Cruz de Souza. Ela foi citada carinhosamente por todos personagens dessa matéria como maravilhosa e competente. “Estou realizada. Percebo que os alunos estão menos estressados e mais de bem com a vida”, ressalta.

 

Artes Visuais – Um outro projeto inserido no projeto Qualidade de Vida é o de Artes Visuais, desenvolvido em parceria com a Universidade Federal de Mato Grosso (UMFT). Numa ensolarada manhã de quarta-feira, bem cedo, estavam a postos na sala 10 da Coordenação de Cultura da UFMT, os alunos Zuleika de Jesus Araújo, Izaías da Silva Neves e Ana Lucia Gouveia Taveira. Todos com interesse idêntico: melhorar a qualidade de vida por meio da arte.

 

Formada em artes, Ana Lucia Gouveia Taveira, 42 anos, há dez anos leciona na Escola Clênia Goreth, localizada num bairro periférico de Cuiabá. Ela desfruta dos cursos oferecidos, desde 2005. Primeiro fez aulas de violino e, agora se encantou pelo mundo das artes visuais. “Não fiz antes porque não tinha tempo e nem dinheiro. Estou apaixonada por essa atividade porque artes não têm limites, quanto mais pensamos que sabemos, menos sabemos”, afirma. Além de se aprimorar profissionalmente, Ana Lucia tem uma motivação extra para viver na profusão das cores e pincéis: seu filho de 10 anos, que pinta desde os seis. “Pintamos juntos e trocamos experiências, o que é compensador e aumenta nossa comunhão”, conta, reconhecendo que tornou-se uma pessoa mais calma e equilibrada desde que começou as aulas de pintura, há um ano.

 

Izaías da Silva Neves, 51 anos, trabalha há 24 anos na rede estadual de ensino de Mato Grosso. Já foi alfabetizador e professor de Filosofia, entre outras atividades. Atualmente trabalha no Arquivo Geral da Seduc. Foi incentivado por uma colega da Secretaria a participar do Curso de Artes Visuais pela qualidade de um desenho que fez. Está firme no propósito de melhorar a qualidade de vida usando mais sua criatividade e pintando. “No início tinha medo de desenhar na tela. Agora viajo no desenho, amo retratar a natureza, que é uma coisa divina”. Em um mês os trabalhos realizados no curso serão apresentados na feira de artesanato realizada todos os meses na sede da secretaria. A expectativa? É fácil supor. “O que vão achar de nossos trabalhos, como vai ser?”, reflete Izaías.

 

Outra aluna de artes é Zuleika de Jesus Araújo, 32 anos, apoio administrativo na Escola Maria Leite Markoski, em Várzea Grande. Seu maior orgulho é ter pintado sozinha um quadro com rio, montanha, pássaros e árvores. O prêmio está exposto em sua casa. “Está na sala”, conta, orgulhosa. Mãe de três filhos, ela revela que o curso proporcionou mais concentração e paciência. “Hoje convivo mais tranquilamente com meus filhos. Pintar dá uma paz espiritual muito grande”, relata.

 

A fada madrinha dos alunos das artes visuais é a professora Claudia Alexandra de Albuquerque Menezes. “Aqui o profissional passa a ser aluno também. Portanto, há crise, interação e criação. Isso resulta em pessoas mais compreensivas na rotina das escolas”, acredita.

 

Ela conta que o mais difícil num Curso de Artes Visuais é superar os seis primeiros meses do total de dois anos da atividade. “Há uma tendência do aluno pensar que não dará conta de desenhar e pintar. Convencemos que ele é capaz sim, é apenas uma questão de determinação e tempo”, defende.

 

O projeto – O projeto A arte de viver bem: atividade física e qualidade de vida para profissionais da rede estadual de educação de Mato Grosso desenvolve ainda atividades de dança de salão, ginástica, yoga, canto, teclado e violino. Em Cuiabá, além do Centro de Convivência Padre Firmo e UFMT, as aulas são oferecidas no Centro de Convivência Maria Inês Auad.

 

Também integram o projeto os municípios de Primavera do Leste, Querência e São José dos Quatro Marcos. Até setembro, os municípios de Juina e Rondonópolis vão aderir à iniciativa. A coordenadora de Aplicações e Desenvolvimento da Seduc, Ana Maria Mota Ferreira, esclarece que a implantação dos referidos cursos nos municípios ocorre a partir da solicitação da Assessoria Pedagógica. “Fazemos uma parceria em que os municípios oferecem o espaço físico e os equipamentos e a Seduc garante os professores”, explica. (Creuza Medeiros, da Assessoria de Imprensa/Seduc-MT)

Oficinas melhoram saúde vocal dos professores

Cerca de 500 professores de Sergipe foram atendidos, de abril a julho deste ano, pelo Programa de Educação Vocal. A meta é atender, até o final de 2010, cerca de dez mil professores em 410 escolas de todo o Estado. Durante as aulas, os participantes aprendem a utilizar a voz de maneira adequada, de modo a diminuir a ocorrência de problemas de disfonias (alterações da voz).

 

“O objetivo é promover a saúde e a qualidade de vida dos educadores,” diz a fonoaudióloga Neuza Sales, coordenadora do programa. Ela explica que é de suma importância levar conhecimentos sobre saúde vocal para os professores, para que eles aprendam alguns cuidados básicos, como manter o volume normal da voz, evitar falar excessivamente, sempre beber água, evitar bebidas alcoólicas, não fumar, além de evitar ambientes com poeira, mofo e cheiros fortes.

 

Já foram realizadas oficinas de voz em 15 escolas pilotos de Aracaju e em 46 instituições de 14 municípios do interior do Estado. O programa conta com três fonoaudiólogos voluntários. Além de ministrarem as oficinas de educação vocal, eles também aplicam um questionário, a fim de traçar um panorama da saúde vocal do educador em Sergipe.

 

Segundo a coordenadora da Escola Estadual Severiano Cardoso, de Boquim (SE), Maria Cláudia Barreto Sobral dos Santos, quatro ou cinco professores de sua instituição tiveram problemas de voz e foram afastados da sala de aula para fazerem readaptação de função. Para ela, a oficina de voz realizada na escola, no início de julho, foi de grande importância. “Alguns professores têm comentado que estão fazendo os exercícios recomendados e já estão observando os benefícios. Seria ótimo se novas oficinas fossem realizadas”, destaca.

 

Na opinião do professor José Ramos, que leciona geografia na mesma instituição, essas oficinas são importantes não só pela realização de exercícios vocais mas, principalmente, pelas informações repassadas e que podem vir a auxiliar os educadores a falar de forma mais adequada. “A pessoa pode educar a voz e aprender a forçar menos o organismo”, salienta.

 

Problemas sérios de disfonia foram enfrentados por Bernadete Cristina Peixoto, de Aracaju. Diretora de escola durante 25 anos, 17 deles no Colégio Estadual Castelo Branco, ela precisou ficar afastada de suas atividades durante 60 dias e retirar dois cistos nas cordas vocais. Durante um ano, fez tratamento com fonoaudióloga praticamente todos os dias. “Considero de suma importância a realização dessas oficinas. E não só para os professores, mas também para os alunos, para que eles aprendam a cuidar da voz”, diz Bernadete, que defende a realização constante dessas oficinas.

 

Qualidade de Vida – O Programa de Educação Vocal integra a Rede de Programas Qualidade de Vida na Educação – Rede Qualivida, voltada para servidores da área educacional. Foi criado pela Secretaria de Educação do Estado de Sergipe com o objetivo de prevenir a ocorrência de disfonias, minimizar os fatores de risco, e levar conhecimentos e tecnologias voltados aos cuidados em saúde vocal. Além das oficinas de voz, engloba atividades como palestras e campanhas educativas. Segundo informações do coordenador da Rede Qualivida, Sílvio Oliveira, 34% das licenças médicas ocorridas entre os professores de Sergipe são devido a disfonias. (Fátima Schenini)

Burnout: síndrome afeta mais de 15% dos docentes

Professora da UNB fez pesquisa sobre síndrome de Burnout.

Exaustão emocional, baixa realização profissional, sensação de perda de energia, de fracasso profissional e de esgotamento. Estes são os principais sintomas de pessoas que sofrem da síndrome de Burnout. A pessoa é consumida física e emocionalmente pelo próprio objeto de trabalho. Daí o termo burnout - do inglês burn (queima) e out (para fora, até o fim). A doença acomete profissionais de várias áreas, mas seu diagnóstico é mais freqüente em profissões com altas demandas emocionais e que exigem interações intensas, como é o caso, por exemplo, dos professores e dos profissionais de saúde.

 

Uma pesquisa realizada pela psicóloga Nádia Maria Beserra Leite, da Universidade de Brasília (UNB), com mais de oito mil professores da educação básica da rede pública na região Centro-Oeste do Brasil revelou que 15,7% dos entrevistados apresentam a síndrome de Burnout, que reflete intenso sofrimento causado por estresse laboral crônico. “A enfermidade acomete principalmente profissionais idealistas e com altas expectativas em relação aos resultados do seu trabalho. Na impossibilidade de alcançá-los, acabam decepcionados consigo mesmos e com a carreira”, explicou.

 

De acordo com Nádia, obter 15,7% num universo de oito mil não é desprezível. Caso o índice seja o mesmo em todo o país, por exemplo, então mais de 300 mil professores brasileiros convivem com a síndrome, isso somente no ensino básico. Entre outras conseqüências, tal cenário levaria a um sério comprometimento na educação de milhões de alunos.

 

Os dados foram revelados por meio de um questionário aplicado no Sistema de Avaliação da Educação Básica, em 2003, mas somente analisado em 2007. O questionário permite identificar a incidência dos três sintomas que caracterizam a síndrome: exaustão emocional, baixa realização profissional e despersonalização. Com relação ao primeiro sintoma, 29,8% dos professores pesquisados apresentaram exaustão emocional em nível considerado crítico. Quanto à baixa realização profissional, a incidência foi de 31,2%, enquanto 14% evidenciaram altos níveis de despersonalização.

 

Em entrevista ao Jornal do Professor, a psicóloga explica como os professores podem identificar a síndrome e o que devem fazer para tratá-la.

 

1. O que é a síndrome de Burnout? Como ela se diferencia do estresse?

 

Burnout é um estado de sofrimento que acomete o trabalhador quando este sente que já não consegue fazer frente aos estressores presentes no seu cotidiano de trabalho. Diferentemente do estresse, que se caracteriza pela luta do organismo no sentido de recobrar o equilíbrio físico e mental, a síndrome de Burnout compreende a desistência dessa luta. Por isso se diz que Burnout é a síndrome da desistência simbólica, pois embora não se ausente fisicamente do seu trabalho, o profissional não consegue se envolver emocionalmente com o que faz.

 

2. O que leva o professor a desenvolver a síndrome?

 

Burnout é resultado de longa exposição aos estressores laborais crônicos, sendo mais freqüente em profissões com altas demandas emocionais e que exigem interações intensas, como é o caso, por exemplo, dos professores e dos profissionais de saúde. No caso dos profissionais de saúde, as demandas emocionais estão ligadas à compaixão, à onipotência de poder salvar vidas e à impotência por perdê-las. Já no caso do professor, as demandas são de outra natureza; estão relacionadas ao cuidado, à possibilidade ou não de se estabelecer um vínculo afetivo com o aluno que favoreça o processo de aprendizagem e permita ao professor realizar um bom trabalho.

 

Essas demandas emocionais, no caso do docente, são inerentes a sua profissão, podendo ser agravadas, por exemplo, por políticas educacionais que aumentem a sobrecarga de trabalho sem a devida contrapartida, ou por condições inadequadas de trabalho, ou pela presença de alunos particularmente difíceis (alunos violentos, com grande déficit de aprendizagem) ou ainda pelo sentimento de injustiça, de não reconhecimento do seu esforço e da importância do seu papel na sociedade.

 

3. Quais são os principais sintomas dessa síndrome?

 

Os principais sintomas de Burnout são exaustão emocional, despersonalização e sentimento de baixa realização profissional. A exaustão emocional é uma sensação de perda de energia, de esgotamento, quando o profissional comumente relata que, embora querendo, já não consegue mais se envolver emocionalmente com o seu trabalho. Em decorrência dessa exaustão surgem dois mecanismos reativos, a despersonalização, que é o desenvolvimento de atitudes negativas em relação às pessoas destinatárias do trabalho (cliente, usuário) e o sentimento de baixa realização profissional, ou seja, uma sensação de fracasso profissional, de ineficácia.

 

4. Quais cuidados os professores podem tomar para evitar a síndrome?

 

Em tese, qualquer movimento no sentido de reduzir a vulnerabilidade do professor aos estressores do seu cotidiano, particularmente aqueles relacionados com as demandas emocionais, seria uma medida preventiva no sentido de minimizar as possibilidades de o indivíduo vir a desenvolver Burnout. Dessa forma, aplicam-se à prevenção de Burnout, todas as estratégias voltadas para ajudar o indivíduo a lidar com o estresse. Por isso, o apoio dos pares e da direção da organização é tão importante. A direção da escola tem papel fundamental no sentido de minimizar problemas estruturais como, por exemplo, condições de trabalho inadequadas. Com relação aos colegas, a troca de vivências e de problemas comuns favorece a reorganização cognitiva no sentido de o trabalhador rever suas expectativas e encontrar formas possíveis de lidar com suas frustrações, e ideais inalcançáveis.

 

5. Como os professores podem saber se estão com a síndrome ou não? Tem algum exame específico? Eles devem procurar um psicólogo?

 

O diagnóstico de Burnout pode ser feito por exame clínico, com profissional da área de saúde (médico, psicólogo) que efetivamente conheça os sintomas da síndrome, e por meio de instrumentos psicológicos elaborados especificamente para fazer essa avaliação. É importante que em ambos os casos a avaliação seja feita por profissional com formação adequada em relação ao fenômeno específico. Entretanto, é admissível que o próprio professor, ao tomar conhecimento dos sintomas de Burnout, identifique com razoável precisão que está vivendo esse processo. Nesse caso, é recomendável que ele busque ajuda psicológica.

 

6. Uma vez constatada a síndrome, o que os professores podem fazer para melhorar?

 

É altamente desejável que o profissional com Burnout tenha acesso a atendimento especializado, tanto médico quanto psicológico. Além disso, a participação da direção da organização e dos colegas pode ajudar muito, tanto na prevenção quanto na recuperação. Nos profissionais de saúde, medidas interessantes já vêm ocorrendo: profissionais que trabalham, por exemplo, em UTIs, prontos socorros e áreas mais críticas, por iniciativa própria ou por sugestão da instituição onde trabalham, fazem reuniões periódicas (grupos de reflexão) em que discutem suas angústias, suas limitações, buscam alternativas possíveis para os problemas e se preparam psicologicamente para se alegrar com o sucesso (mesmo que em pequena proporção) como forma de fazer frente ao insucesso freqüente. Meu estudo demonstrou que esse suporte social no trabalho é um grande aliado na redução dos níveis de Burnout.

Arte e Vida

Professora escreve sobre a importância do teatro.

Pedagoga, com pós-graduação em Metodologia do Ensino Superior, Voní Eidt é natural de Santa Cruz do Sul (RS), mas reside há mais de 30 anos em Venâncio Aires (RS). Professora de artes e psicologia nos ensinos médio e superior, possui extensa atuação em diversos segmentos sociais e comunitários.

Sua experiência profissional engloba ainda o teatro, onde agregou seus conhecimentos em psicologia e artes. Foi diretora de teatro por cerca de 15 anos. Também escrevia peças e participava da execução de cenários e figurinos.

Para esta edição do Jornal do Professor, ela colabora com um artigo sobre teatro.

 

Teatro, um disparador pedagógico

 

Voní Eidt

 

O teatro é uma produção cultural que proporciona lazer e cultura. Raramente nos atemos a perceber sua riqueza pedagógica. O produto nem sempre é entendido e o processo quase sempre ignorado. Porém, seu enfoque psicológico, social e pedagógico é tão profundo que merece uma ampla discussão.

 

Do ponto de vista psicológico, no momento em que se compõe um personagem, virão à tona elementos do inconsciente, possibilitando, assim, uma análise posterior dos mesmos. Fazer teatro também pode ser terapêutico. Na forma como o ator incorpora seu personagem, ele irá dosar entre o que é seu e o que é do personagem. O que vai ter significado para cada um, tem a ver com a sua história.

 

O teatro reforça a auto-estima, integra, oferece limites, humaniza e produz emoções. Ele é fundamental na formação da personalidade, tornando o ator um ser consciente de sua função no contexto onde vive.

No enfoque social, o teatro é uma via de expressão, trabalha com liberdade. Tem sentido político, porque confronta as pessoas a se posicionarem. Institucionalmente, é um porta-voz, retratando a realidade de cada um. Proporciona uma análise de personagem-pessoa no sentido institucional, grupal e pessoal. Ajuda a organizar o sujeito.

 

Sob a ótica pedagógica, o teatro é um disparador, um catalisador, uma mola propulsora, que facilita o agenciamento e a ruptura. Oportuniza a visualização e o estranhamento do eu, da pessoa, sujeito. A partir daí, nasce o questionamento e uma nova construção. É um recurso rápido e um instrumento de trabalho. Tematiza. Envolve diferentes conteúdos e enfoques. Estimula a criatividade, a percepção, a sensibilidade, a observação, o senso crítico...

 

Seu aspecto lúdico transforma questões complexas de forma que a criança entenda, intelectualizando e racionalizando o que não compreende.

 

O teatro é uma relação de vida, hoje e agora. É estético e ético.

Poucas são as pessoas que se dedicam a fazer teatro. Realmente não é fácil sustentar as emoções que ele produz, a mobilização é ampla e não se sabe exatamente o que toca as pessoas.

 

Para realizar teatro é necessário um clima de entendimento, de confiança, de acolhimento de diferenças, para que possa ser descoberta a singularidade de cada um. Por mobilizar intelectual e emocionalmente, o teatro pode transformar as pessoas e o contexto onde vivem, dependendo, é claro, do agente de produção e sua própria vivência em relação à arte teatral.

 

Enfim, o teatro é um laboratório, onde são experimentados diferentes modos de fazer.

 

Não basta ver...

Pesquisador fala sobre as doenças mais comuns

Entrevista com o chefe do Laboratório de Investigação Médica do curso de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), Chao Lung Wen. Entrevista gravada pela equipe da disciplina de Telemedicina da FMUSP.