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JORNAL

Acessibilidade e Inclusão

Quinta-feira, 26 de Novembro de 2009

Edição 30

EDITORIAL - Acessibilidade e Inclusão

O tema da 30ª edição do Jornal do Professor é Acessibilidade e Inclusão. O assunto foi escolhido por 41,37% dos leitores que votaram na enquete colocada em nossa página.

O percentual de alunos da educação especial matriculados em escolas comuns cresceu 41% em 10 anos. Este aumento traz resultados positivos não só para os alunos especiais, mas a todos os membros da comunidade escolar.

Aqui, você vai conhecer experiências de inclusão e acessibilidade que estão sendo desenvolvidas nos Estados do Acre, Paraná, e Piauí. Vai conhecer o professor Luiz Aquino, do Instituto Federal do Rio de Janeiro que desenvolve ferramentas para portadores de necessidades especiais. Também vai conhecer a tecnologia Mecdaisy: um conjunto de programas que permite transformar qualquer formato de texto disponível no computador em texto digital falado.

Ainda nesta edição, na seção Espaço do Professor, a professora da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Luzia de Fátima Medeiros de Oliveira, que lançou o livro Formação docente na escola inclusiva: diálogo como fio tecedor.

A entrevistada é a professora Maria Tereza Eglér Mantoan, da Faculdade de Educação da Universidade de Campinas, para quem a escola e a família têm papel primordial na inclusão dos alunos especiais.

Ajude-nos a escolher o tema das próximas edições, votando na enquete colocada em nossa página. E aproveite para colaborar enviando sugestões, críticas, textos e músicas!

Seja bem-vindo!

Inclusão eleva número de alunos especiais em classes comuns

Aluna com deficiência visual fazendo atividade em sala de aula.

O Brasil teve um aumento significativo no número de estudantes da educação especial matriculados nas classes comuns do ensino regular. O percentual de alunos da educação especial estudando em escolas regulares cresceu 41% em 10 anos. São 375.775 estudantes incluídos em classes comuns. De acordo com o Censo Escolar da Educação Básica (Inep/MEC), em 1998, apenas 13% dos estudantes com necessidades especiais freqüentavam estas turmas comuns; em 2008, o número de matrículas chegou a 54%.

Este avanço é resultado de uma mudança de cultura em relação a crianças e jovens que nascem com algum tipo de necessidade especial. Atualmente, são 695.699 estudantes nesta condição. Do total, que inclui deficientes visuais, auditivos, portadores de deficiência físicas, mentais ou com altas habilidades e superdotados, 375.775 frequentam classes comuns em escolas regulares. O que tem trazido resultados positivos para toda a comunidade escolar.

Na visão da psicopedagoga Marilda Nepomuceno da Silva, que trabalha há 11 anos na sala de recursos multifuncionais da Escola Classe 316 Norte, em Brasília (DF), a inclusão é um direito realmente de todos e todos saem ganhando com a interação que ela proporciona. Em sua opinião, quando as crianças comecam a conviver, muito cedo, com as diferenças, aprendem a lidar com isso, naturalmente. Segundo Marilda, sua escola atende crianças com necessidades especiais, de forma inclusiva, há muito tempo, antes mesmo de existir legislação específica. Dos 217 alunos do 1º ao 5º ano do ensino fundamental, matriculados na instituição, 29 têm necessidades especiais.

A Secretaria de Educação Especial (Seesp) do Ministério da Educação possui diversos programas de inclusão e acessibilidade em escolas. Por meio deles são oferecidos apoio técnico e financeiro aos sistemas públicos de ensino para a oferta e garantia de atendimento educacional especializado, de forma complementar à escolarização. Assim, no período de 2005 a 2008, o MEC distribuiu 5.551 salas de recursos multifuncionais a escolas de educação básica.

Para participar dos programas leia mais sobre: Escola Acessível; Educação Inclusiva: Direito à Diversidade; Implantação de Salas de Recursos Multifuncionais; Benefício de Prestação Continuada da Assistência Social na Escola (BPC); e Programas de Formação Continuada de Professores na Educação Especial - presencial e a distância -, oferecidos pela Universidade Aberta do Brasil (UAB). Em 2009, foram abertas 13 mil vagas em 11 instituições públicas de ensino superior para professores que atuam no atendimento educacional especializado e na sala de aula comum: 5 mil para cursos de especialização e oito mil vagas para cursos de extensão ou aperfeiçoamento.

Outra ação da Seesp é a produção de livros em braile ou em forma digital, realizada com o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) a fim de promover a acessibilidade nos programas nacionais do livro. Além disso, este ano a Seesp entregou 1.300 laptops a alunos com necessidades especiais matriculados nas séries finais da educação fundamental, da educação de jovens e adultos (EJA) e da educação profissional. Em 2008, foram distribuídos 774 laptops.

(Adriane Cunha/Fátima Schenini)

Ensinar alunos especiais é uma lição de vida

Alunos surdos com os intérpretes, na sala de aula.

Quando foi comunicada, no início de 2009, que teria quatro alunos surdos na mesma turma, a professora Ana Lima Cordeiro Gomes sentiu um impacto: “falei que ia embora da escola.” Ela não se sentia preparada para trabalhar com eles, pois nunca tinha feito curso de libras. Mas já na primeira semana de aulas, modificou sua opinião.

“Se tivesse abandonado meu trabalho, estaria arrependida. Tem sido uma lição de vida”, conta a professora de português da Escola São José, no município de Cruzeiro do Sul, no Acre, que tem 21 anos de experiência no magistério. Segundo ela, desde o início das aulas os estudantes surdos procuravam ensinar algumas coisas aos professores, de modo a facilitar a comunicação: “a gente colocava no papel o que queria dizer e eles traduziam para a linguagem de sinais.” Atualmente, a instituição dispõe de um intérprete, encarregado de passar o conteúdo dado na aula para a linguagem de sinais.

De acordo com Ana, os alunos surdos demonstram um interesse muito maior por aprender, do que os demais. “Eles têm esforço, dedicação, e vontade de participar. E o que falta na fala, sobra na percepção,” salienta. Para ela, nenhum aluno especial é problema. “Eles ajudam a contribuir”, destaca a professora, que também tem um cadeirante entre seus alunos, desde 2008. “Ela é ótima aluna,” garante.

Com 1.258 alunos de ensino fundamental, a Escola São José atende 13 alunos especiais: são nove surdos, dois cegos, um autista, e um cadeirante. “Temos alunos especiais há muitos anos. A aluna que utiliza cadeira de rodas está aqui desde o 1º ano e agora está terminando o fundamental”, explica a diretora da instituição, Sernizia Araújo Correia, que é pedagoga e trabalha há 16 anos. “Os alunos recebem bem os especiais. Eles cuidam e protegem. É muito boa a interação entre eles”, diz.

Capacitação – A Secretaria de Educação do Estado do Acre implantou um programa chamado Padrão Mínimo, que inclui ações para acessibilidade tais como construção de rampas, banheiros e alargamento de portas. Além disso, vem realizando ações de capacitação em parceria com as secretarias de educação dos 22 municípios acreanos, promovendo cursos tanto para professores da rede regular (a distância ou presencial) quanto para professores das salas de recursos. A capacitação é feita em dois pólos, que atendem todos os municípios. Um funciona na capital, Rio Branco, e o outro em Cruzeiro do Sul.

“Montamos cursos a partir das necessidades e demandas das escolas. Elas é que determinam o tipo de capacitação que precisam para o atendimento de suas necessidades,” esclarece a gerente de Educação Especial da Secretaria de Educação do Acre, Claudia de Paoli. Ela informa que maioria dos pedidos das escolas é relativo à avaliação e incluem questionamentos sobre como avaliar os alunos, quais os instrumentos que podem ser utilizados para registrar a evolução do aluno, e como transformar os relatórios em notas. A secretaria também promove oficinas de diferentes disciplinas. “O professor aprende a confeccionar material e vê que é possível e que, com vontade, consegue. Estão saindo trabalhos excelentes”, garante Claudia.

Entusiasmada, a italiana radicada no Acre relata que já fizeram capacitação em libras nas aldeias indígenas, mas ainda quer fazer mais pela educação especial, a exemplo do que é feito pelo programa Asinha da Floresta, que trabalha para beneficiar crianças da área rural. “Por que não utilizar um professor itinerante que vá de casa em casa e reúna crianças de moradias próximas?”

(Fátima Schenini)

Escola do Paraná está comprometida com a inclusão

Foto da sala de aula mostra o triciclo utilizado pelo aluno com dificuldades de locomoção.

O Colégio Estadual Prefeito Joaquim da Silva Mafra, localizado no município de Guaratuba, no litoral do Paraná, é uma escola comprometida com a inclusão. Entre os cerca de 1.600 alunos matriculados nas séries finais do ensino fundamental e no ensino médio, sete têm necessidades especiais: três são surdos, três têm deficiência mental, e um tem paralisia cerebral.

De acordo com a coordenadora pedagógica da instituição, Jaqueline Mistura, o primeiro estudante com necessidade especial a chegar na escola, há cerca de seis anos, era surdo. Logo em seguida veio um aluno com paralisia cerebral. E os demais alunos foram chegando, atraídos pelo bom atendimento e as melhorias que foram sendo introduzidas. “Nossa diretora tem uma visão muito inclusiva. Ela e uma orientadora educacional, já aposentada, encabeçaram o processo de inclusão em nossa escola”, conta Jaqueline. Atualmente, o Joaquim Mafra é uma referência para o ensino de surdos e centraliza o atendimento de estudantes com problemas de surdez.

A escola fez algumas reformas para garantir a acessibilidade: construiu rampas, banheiro especial, e alargou portas. Também se preocupou em garantir a presença de profissionais capacitados para o atendimento de alunos com necessidades educacionais especiais, entre eles, intérpretes da linguagens de sinais (Libras), para auxiliar no aprendizado. Além disso, segundo Jaqueline, muitos professores têm curso de pós-graduação na área de educação especial.

Triciclo – A chegada de Anderson, o aluno com paralisia cerebral, levou o colégio a construir um triciclo para que ele pudesse se movimentar facilmente de um ambiente para outro. O modelo é semelhante ao veículo que ele já usava, tanto em casa quanto para se deslocar até à escola. Inteligente e simpático, o garoto que está hoje no primeiro ano do ensino médio não enfrenta problemas de falta de aceitação. “Todo mundo ajuda o Anderson”, diz a professora de matemática, Neide Carneiro do Nascimento Silva. Lecionando em oito turmas diferentes, Neide dá aulas para a turma de Anderson há três anos. E diz que o trabalho não é difícil.

Neide já deu aulas para um aluno com dificuldades semelhantes. Para ela, a diferença agora é que Anderson conta com a ajuda de uma professora de apoio pedagógico, encarregada de adaptar o conteúdo para ele. “Assim é bem melhor”, acredita. Além disso, o estudante utiliza um computador especialmente adaptado para ele.

Na visão do pai de Anderson, Ricardo Pascoal França, a inclusão é uma medida muito boa. Ele diz que o garoto se adaptou à escola e a escola se adaptou a ele: “todos os professores já se acostumaram com o Anderson e mesmo que a professora de apoio não esteja, eles sabem o que fazer para ajudá-lo”.

(Fátima Schenini)

Piauí incentiva a inclusão em suas escolas

Professora Socorro Alencar em pé, com alunos sentados na sala de aula.

O Piauí quer que pelo menos uma escola em cada um de seus 224 municípios esteja totalmente adaptada e acessível, até o final de 2010. Para tanto, os novos prédios já estão sendo construídos dentro dos padrões de acessibilidade. E os antigos estão sendo reformados, para que possam se adequar às novas normas.

De acordo com a gerente de Educação Especial da Secretaria de Educação do Piauí, Viviane Fernandes Faria, o processo de inclusão está sendo construído pelo Estado em parceria com o Ministério da Educação e com os municípios. Segundo ela, apesar de ter iniciado a inclusão em 2003, o Piauí só conseguiu aumentar o número de crianças especiais no ensino regular, em 2007, quando implantou as salas de recursos multifuncionais.

Na opinião da professora Maria do Socorro Cruz Alencar, que dá aulas em turmas regulares de 5º (4ª série) e 6º ano (5ª série) da Unidade Escolar Nair Gonçalves, em Teresina, a implantação da sala de recursos ajudou muito. “Melhorou demais”, diz a professora com 22 anos de experiência no magistério, 12 dos quais atendendo alunos com deficiência visual. Com curso de normal superior e especialização para trabalhar com deficientes visuais, Maria do Socorro atende, no momento, quatro alunos cegos, sendo três na turma do 5º ano e um na turma do 6º ano. Ela garante que não há preconceito. Os estudantes cegos são bem aceitos pelos demais estudantes, que procuram ser amáveis e ajudar, quando necessário.

Segundo a professora, antes da criação da sala de recursos os alunos cegos aprendiam o conteúdo um dia depois dos demais estudantes. Isso ocorria porque era preciso esperar até que o conteúdo fosse passado para uma linguagem própria. “Agora eu passo para as professoras da sala de recursos o conteúdo que precisa ser preparado, um dia antes. E ele está pronto no dia em que preciso”.

Uma das professoras da sala de recursos dessa escola é Maria Creusa Gonçalves Batista Ribeiro. Formada em pedagogia e em biologia, ela é professora da rede estadual desde 1981. Com curso de linguagem Braille, ela começou a trabalhar com deficientes visuais em 2003, em uma associação de cegos e, em 2007, foi para a Unidade Escolar Nair Gonçalves.

Alguns dos 17 alunos cegos que hoje estão matriculados nessa instituição de ensino fundamental e médio, já foram atendidos por Maria Creuza na antiga associação onde trabalhava. O que ela observou, a partir dessa mudança de local, é que eles agora estão mais independentes. “Na associação eles ficavam mais protegidos”, acredita.

De acordo com ela, os cegos não se sentem rejeitados ou estereotipados. “Não se vê preconceito na nossa escola”, salienta. Favorável à nova legislação, a professora acredita que ela também contribuiu para uma nova conscientização das famílias, que têm, inclusive, feito mais reivindicações.

Na Escola de Educação Básica Governador Freitas Neto, também de Teresina, a professora Carmem Alves Marques tem duas alunas surdas em sua turma de 5º ano (4ª série). Formada em pedagogia, há dois anos no magistério, Carmem conta que a experiência de inclusão tem sido muito positiva. “No início do ano, as duas estavam muito tristes, muito quietinhas, mas agora estão mais alegres e participativas”. Quando querem se comunicar com a professora elas mandam mensagens, via celular. “É muito gratificante”, diz. A escola também tem uma sala de recursos e as duas alunas participam de atividades no contraturno.

(Fátima Schenini)

Nova tecnologia torna livros acessíveis a alunos cegos

Alunos com deficiência visual, baixa visão ou cegueira têm acesso gratuito a qualquer livro ou documento, a partir de uma nova tecnologia que transforma texto escrito em áudio. É a tecnologia Mecdaisy: um conjunto de programas que permite transformar qualquer formato de texto disponível no computador, em texto digital falado. A ferramenta foi desenvolvida pelo Ministério da Educação em parceria com a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

“Essa solução tecnológica foi desenvolvida com base no padrão internacional Daisy”, explica a diretora de Políticas de Educação Especial, Martinha Clarete dos Santos, em referência ao padrão Digital Accessible Information System (Daisy) – para produção e leitura de livros digitais.

A ferramenta, segundo Martinha, confere autonomia à pessoa com deficiência visual, ao permitir acesso a qualquer tipo de informação escrita disponível para leitura no computador. A tecnologia Mecdaisy permite que o usuário leia qualquer texto, a partir de narração em áudio ou adaptação em caracteres ampliados, além de oferecer opção de impressão em braille, tudo a um só tempo. Além disso, oferece recursos de navegabilidade muito simples. A partir de movimentos de teclas de atalhos ou do mouse, o leitor pode fazer anotações e marcações no texto, avançar e recuar na leitura etc.

O conjunto de programas vem acompanhado de uma metodologia de produção de livros em formato digital acessível. Assim, a tecnologia permite a leitura de qualquer texto disponível no computador e a produção de livro digital.

“A tecnologia Mecdaisy democratiza o acesso ao livro, dá condição à livre produção, ao compartilhamento e até ao aperfeiçoamento dos programas, já que desenvolvedores podem incrementar a metodologia”, completa Martinha. A tecnologia Mecdaisy é compatível com os sistemas Windows e Linux.

(Maria Clara Machado)

Professor cria ferramentas para portadores de necessidades especiais

Com apenas um clique, crianças com paralisia cerebral conseguem se comunicar com computadores, graças a pequenos acionadores montados pelo professor Paulo de Aquino, do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro. Os dispositivos foram desenvolvidos a pedido de professoras da Oficina Vivencial de Ajudas Técnicas para a Ação Educativa, que integra o Centro de Referência em Educação Especial do Instituto Helena Antipoff (IHA), no Rio de Janeiro (RJ).

Engenheiro elétrico, com mestrado e doutorado em engenharia elétrica, o professor Aquino leciona para alunos do ensino superior do Instituto Federal (antigo Cefet/RJ), desde 1984. Sua parceria com o IHA começou há cerca de quatro anos, com a montagem dos pequenos acionadores, mas não parou por aí. Ele já elaborou diversos produtos, como brinquedos, acionadores diversos, comunicadores, mouses e teclados, para serem disponibilizados aos portadores de paralisia cerebral (PC's) atendidos pelo IHA.

Uma de suas preocupações é desenvolver produtos semelhantes aos que existem no exterior, mas com preços menores. “Trabalho constantemente junto ao IHA, quase sempre atendendo às suas solicitações. Temos feito pesquisas juntos, buscando personalizar cada instrumento, visto às distintas capacidades de cada usuário PC. A ideia central é sempre fazê-los a baixo custo”, salienta o professor.

Ele conta que tem recebido pedidos de outras cidades e estados, para que desenvolva ferramentas. “Gostaria de atender a muitas pessoas, mas minhas disponibilidades de tempo e laboratório são muito restritas”, explica. Para que possa oferecer um atendimento mais sistemático às solicitações recebidas, Aquino pretende montar um Laboratório de Tecnologia Assistiva onde possa trabalhar com uma equipe de alunos estagiários.

De acordo com o professor, o atendimento das necessidade dos portadores de paralisia cerebral acaba beneficiando outros portadores de necessidades especiais (PNE). Ele já fez adaptações para pessoas portadoras de baixa visão e tetraplegia. Atualmente, desenvolve um acionador por pequenos movimentos faciais: olhos, testas e sobrancelhas. “Para mim, cada projeto é mais um desafio tecnológico”, destaca Aquino, que não cobra pelos equipamentos que desenvolve, em “hipótese alguma”.

Ele ensina a seus alunos da disciplina Introdução à Engenharia Elétrica, no Instituto Federal, como elaborar um acionador. Os melhores projetos são encaminhados ao IHA. “Com isso, tento introduzir os jovens, recém ingressos no ensino superior, no contexto social em que vivemos. O resultado tem sido excepcional”, avalia.

(Fátima Schenini)

Acesse aqui o site do Professor Aquino.

Reflexões de educadora dão origem a livro sobre formação docente na escola inclusiva

Foto da professora Luzia no lançamento de seu livro.

Formada em letras, com mestrado e doutorado em educação, Luzia de Fátima Medeiros de Oliveira tem cursos de especialização em psicopedagogia, audiocomunicação, e no método verbotonal. Ela trabalha no Setor de Educação Especial da Secretaria Municipal de Educação de Natal, no Rio Grande do Norte, cuja função principal é a formação continuada e em serviço, dos educadores da rede que têm em suas salas alunos com necessidades educacionais especiais matriculados.

Também é coordenadora pedagógica no Centro de Atendimento aos Educandos Surdos e presta assessoria na área de educação de surdos e formação de professores em instituições de ensino privadas, em nível básico e superior.

Além disso, Luzia é professora colaboradora na Base de Pesquisa e Estudos sobre Educação de Pessoas com Necessidades Especiais, do Programa de Pós-graduação em Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).

Já exerceu a atividade de professora-substituta no curso de Pedagogia na UFRN, durante dois anos, quando lecionou as disciplinas de introdução à educação especial, fundamentos da educação especial, metodologia para educandos com deficiência auditiva e metodologia para educandos com deficiência visual.

Ela publicou, recentemente, seu primeiro livro – Formação docente na escola inclusiva: diálogo como fio tecedor. A obra é resultado de suas reflexões como educadora e assessora pedagógica nas escolas da rede pública municipal de Natal e estadual do Rio Grande do Norte, no ensino básico e superior.

Segundo Luzia, ela espera que o livro venha a auxiliar aos professores, coordenadores, gestores escolares e assessores educacionais nas secretarias de educação no processo formativo, continuado dos educadores nas escolas, além de contribuir com as reflexões na formação inicial dos futuros educadores, em cursos de licenciatura, bem como na pós-graduação, envolvendo formação e inclusão escolar.

Luzia apresentou projeto às Secretarias de Educação do Estado e do município de Natal, para a implantação de escolas de referência para surdos, denominadas bilíngües, semelhantes às existentes em Madri, na Espanha. “Como minha área de atuação tem sido mais voltada para a formação de professores e, particularmente, dos professores que lecionam alunos surdos em escola regular, venho lutando pela implantação de escolas que favoreçam a real inclusão dos sujeitos surdos”, conta Luzia, que espera que essas escolas possam funcionar a partir de 2010. “Será um grande desafio para toda a rede municipal de ensino de Natal, mas ao mesmo tempo a oportunidade de realmente propor a real inclusão educacional para esses sujeitos”, acredita.

Ela diz que está feliz com a publicação do livro e com a possibilidade de concretizar o projeto de escolas bilíngües. “Os dois são frutos de muito estudo, muita reflexão, luta e esperança de contribuir para a educação de meu país, nessa área tão complexa, mas ao mesmo tempo tão fascinante do ensino-aprendizagem de alunos e professores em ambiente escolar inclusivo”, finaliza.

(Fátima Schenini)

Maria Tereza Mantoan: escola e família têm papel primordial na inclusão

Foto da professora Maria Tereza Eglér Mantoan.

Pedagoga, com doutorado em educação, Maria Tereza Eglér Mantoan é professora da Faculdade de Educação da Universidade de Campinas (Unicamp). Sua dedicação, nas áreas de pesquisa, docência e extensão, está voltada ao direito incondicional de todos os alunos à educação escolar de nível básico e superior de ensino. Tem 17 livros publicados.

Ela exerce, desde 2007, a função de coordenadora pedagógica do curso de especialização para formação de professores de atendimento educacional especializado, promovido pela Secretaria de Educação Especial do MEC em parceria com a Universidade Federal do Ceará (UFCE).

Em entrevista ao Jornal do Professor, Maria Tereza diz que a escola e a família têm papel primordial na inclusão dos alunos especiais. Para ela, é importante que esses alunos tenham acesso a escolas comuns, mas também é importante que as escolas ofereçam atendimento educacional especializado, complementar à formação, segundo as necessidades de cada um.

Jornal do Professor – Em sua opinião, qual o papel da escola na inclusão de alunos especiais? E da família?

Maria Tereza Eglér Mantoan – Escola e família têm um papel primordial na inclusão do aluno que é público–alvo da educação especial. Elas introduzem a diferença, encarnada nesses alunos, assim como podem escondê-la, como ocorre nas escolas e famílias que excluem essas pessoas dos ambientes sociais.

JB – Quais as principais dificuldades enfrentadas por professores e escolas no processo de inclusão? Como superá-las?

MTEM – O principal obstáculo é o modo de organização das escolas, que é excludente, por natureza. Os professores têm muitas dificuldades no sentido de concatenar processos educativos includentes com os que vigoram ainda nas escolas e que implicam em categorizar e hierarquizar alunos e as próprias escolas, pelo desempenho de ambos, diante das exigências do sistema de ensino, das “cobranças”, entre outras. A superação dessas barreiras acontece quando existe compreensão do que é a inclusão e de seus propósitos de transformar a escola, no sentido de fazer dela um ambiente colaborativo, onde os alunos aprendem segundo suas capacidades e têm livre expressão de suas idéias, não sendo meros repetidores de conhecimentos que lhes são transmitidos. Para que essa “virada” da escola aconteça, a formação continuada é fundamental. Os professores precisam atualizar suas práticas e estarem convencidos de que o ensino que ministram não dá conta das diferenças de todos os alunos que freqüentam suas turmas. Os pais, novamente podem ser grandes aliados da escola para que seus membros se sintam estimulados a fazer uma revisão e uma reorganização pedagógica do que é propiciado aos alunos e do valor do ensino para que estes, de fato, se beneficiem do processo educacional formal.

JP – O que é necessário para incluir bem os alunos da educação especial?

MTEM – Em primeiro lugar, é preciso que esses alunos tenham acesso às escolas comuns. A presença deles nas turmas torna-se um desafio à “virada” da escola comum, no sentido de garantir-lhes a permanência e participação plena nas aulas. Também é fundamental que cada escola ofereça a esses alunos, o atendimento educacional especializado, como complemento à formação de cada um, segundo suas necessidades. Esses conhecimentos não são os escolares/curriculares, propriamente ditos: matemática, língua portuguesa etc, mas aqueles que irão lhes garantir o máximo de autonomia e independência no aprendizado, como o sistema Braille, a comunicação alternativa /aumentativa e outros equipamentos, ferramentas, linguagens que esse serviço da educação especial lhes proporciona, preferencialmente, nas suas escolas, no período oposto ao das aulas.

O reforço financeiro, para que a escola consiga manter esse novo serviço da educação especial é de grande valia. A partir de 2010, o Fundeb será duplicado para os alunos da educação especial que estiverem matriculados na escola comum e frequentando o atendimento educacional especializado – AEE.

JP – É importante que as escolas participem ativamente do processo de inclusão de alunos especiais? Quais os benefícios que a inclusão traz tanto para os alunos especiais quanto para os demais?

MTEM – A convivência com as diferenças traz para todos a possibilidade de exercitarem, desde pequenos, o questionamento sobre tudo o que discrimina e coloca à parte pessoas, escolas, instituições, programas.

JP – Você acredita que a inclusão pode contribuir para diminuir o preconceito? Por quê?

MTEM – Sim, porque o preconceito é aprendido, toda a vez que mostramos que é possível escolher os que podem ficar dentro e os que vão para fora de um grupo, seja na escola ou na sociedade em geral.

JP – Qual o papel das instituições superiores na preparação de professores que vão atuar nessa área? Os novos professores já saem preparados para atuar na inclusão?

MTEM – A formação garante em parte essa preparação, porque não há como assegurar aos concluintes de uma formação que estão assegurados para exercício profissional com os conteúdos e estágios que realizaram em uma determinada área do conhecimento, especialmente quando se trata de ciências humanas e do magistério em todos os seus níveis. Há, contudo, a necessidade que a formação inicial dos professores se ajuste para atender a um novo perfil de aluno e de escola, na perspectiva da inclusão.

JP – É importante que os professores das escolas comuns participem de cursos ou seminários para aprenderem a lidar com a inclusão?

MTEM – Os professores devem estar sempre participando de cursos, encontros, seminários para que possam se atualizar, para melhor desenvolver suas atividades nas escolas, segundo o que requerem as novas propostas educacionais, sejam as que tratam da inclusão , como de outros assuntos do momento.

JP – A senhora tem participado das capacitações oferecidas pelo MEC. Como são esses cursos?

MTEM – Esses cursos são realizados na modalidade semipresencial, sendo a maior parte a distância. O curso do qual sou uma das coordenadoras é o pioneiro na formação de professores para a educação especial, na perspectiva da educação inclusiva. Ele começou em 2007, como aperfeiçoamento e vai ser oferecido agora, como especialização lato sensu. Já atingimos mais de dois mil professores, em todo o Brasil, só com o curso da Universidade Federal do Ceará, que promove a formação da qual participo. No momento estamos em vias de iniciar o curso de especialização para três mil professores. Outras universidades brasileiras também estão promovendo cursos semelhantes.