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JORNAL

Prêmio Professores do Brasil - 2009

Terça-feira, 15 de Dezembro de 2009

Edição 31

EDITORIAL - Prêmio Professores do Brasil - 2009

A quarta edição do Prêmio Professores do Brasil é o tema de nossa 31ª edição.

O Jornal do Professor traz para você algumas das 35 experiências premiadas. No ensino infantil, apresentamos as ações desenvolvidas pela professora Marta de Moura Nunes Dias, de Curitiba (PR), e pela professora Patrícia Machado de Freitas, de Florianópolis (SC).

No ensino fundamental, séries iniciais, mostramos as experiências do professor José Reginaldo dos Santos, de Aracaju (SE) e da professora Tatiana Bianca Basso, de Blumenau (SC); nas séries finais, destacamos os projetos das professoras Meire Canal, de Bariri (SP) e Íris Maciel, de Macapá (AP).

E no ensino médio, são apresentadas as atividades desenvolvidas pelas professoras Claudia Maria Gomes de Araújo, de Parnamirim (RN) e Bernardete Terezinha Costa, de Pato Branco (PR).

Ainda nesta edição, uma entrevista com a professora da PUCPR, Ana Maria Eyng, sobre os benefícios trazidos pelo uso de projetos na sala de aula.

Ajude-nos a escolher o tema das próximas edições, votando na enquete colocada em nossa página. E aproveite para colaborar enviando sugestões, críticas, textos e músicas!

Seja bem-vindo!

Ações pedagógicas bem sucedidas dão prêmios a professores

Professores premiados e convidados lotam o Auditório do Edifício-Sede do MEC

De acordo com o filósofo e professor norte-americano John Dewey, o professor que desperta entusiasmo em seus alunos obtém algo que nenhuma soma de métodos sistematizados, por mais corretos que sejam, pode obter. Para Dewey (1859-1952), um dos representantes da chamada pedagogia ativa, o aprendizado se dá quando compartilhamos experiências, e isso só é possível ocorrer em um ambiente democrático, que não ofereça barreiras ao intercâmbio de pensamento.

O Prêmio Professores do Brasil, promovido pelo MEC e instituições parceiras, foi criado com o objetivo de reconhecer o mérito de professores das redes públicas de ensino que tenham contribuído para a melhoria da qualidade da educação básica, por meio de experiências pedagógicas bem-sucedidas, criativas e inovadoras.

Em sua quarta edição, foram premiados 35 projetos de um total de 1.027 inscritos por professores da educação básica de escolas públicas, que desenvolveram ações pedagógicas bem sucedidas: sete projetos da educação infantil, oito dos anos iniciais do ensino fundamental, dez dos anos finais e dez do ensino médio.

Cada professor premiado recebeu R$ 5 mil, certificado e troféu. As escolas nas quais as experiências foram ou são desenvolvidas ganharam equipamentos audiovisuais ou multimídia, a critério de cada uma, no valor de até R$ 2 mil.

A cerimônia de premiação foi realizada no dia 3 de dezembro, na sede do Ministério da Educação, em Brasília. Na ocasião, o ministro Fernando Haddad destacou que, além do contato direto com quem transforma a escola pública, aquele era um momento de valorização do trabalho. "O Prêmio é uma forma de reconhecimento de quem trabalha com afinco, de quem se dedica às crianças e aos jovens”.

Segundo o coordenador geral de Tecnologia da Educação da Secretaria de Educação Básica (SEB) do Ministério da Educação (MEC), Raymundo Machado Ferreira Filho, a cada nova edição, o prêmio apresenta à sociedade brasileira experiências inovadoras na área da educação básica com impacto direto em salas de aula. “É o ensino público mostrando sua capacidade de interação e qualidade”, salienta.

O coordenador adianta que a SEB pretende socializar todos os trabalhos por meio de publicações, cursos e eventos de formação continuada, bem como na imprensa. O objetivo é disseminar, nacionalmente, práticas pedagógicas bem sucedidas e que possam servir de parâmetro de novas ações, nos mais variados contextos regionais brasileiros.

Como participar – Para participar, os professores devem inscrever experiências já realizadas ou que estejam em andamento, com resultados parciais comprovados durante os anos letivos anteriores ao processo de inscrição. Cada candidato pode concorrer com somente uma experiência, em uma das categorias. Caso a experiência tenha dois autores, o autor principal deverá ser indicado no formulário de inscrição. Para saber mais, acesse aqui.

(Ionice Lorenzoni/Fátima Schenini)

Fantasia é importante auxiliar no aprendizado infantil

Foto mostra professoras com fantasias dos personagens de O Mágico de Oz

A inesquecível história da menina Dorothy, que vai parar na fantástica Oz após a passagem de um tornado, foi o tema escolhido pela professora Patrícia Machado de Freitas, de Florianópolis (SC), para o desenvolvimento de um projeto com alunos da educação infantil. O Mágico de Oz – Descobrindo as surpresas da estrada de tijolos amarelos, colocou Patrícia entre os vencedores da quarta edição do Prêmio Professores do Brasil.

Depois de assistir ao filme de 1939, com a atriz Judy Garland no papel de Dorothy, Patrícia teve a ideia de aproveitar o tema com seus 25 alunos de 5 e 6 anos de idade, do Núcleo de Educação Infantil Maria Salomé dos Santos. Providenciou, então, para que os estudantes assistissem ao filme, que foi dividido em três etapas. As crianças também ouviram a história do livro escrito em 1900, por L. Frank Baum e assistiram a um desenho animado em DVD, relativo à mesma história.

A construção da identidade individual e coletiva, por meio da escrita do nome, a exploração das características físicas das crianças e adultos, as diferentes moradias e tipos de construções existentes, os fenômenos da natureza como ciclones, furacões e tornados e suas conseqüências para a população foram alguns dos conteúdos trabalhados durante o desenvolvimento do projeto. Além disso, houve um resgate de sentimentos e valores – amor, amizade, coragem e sabedoria, relacionados aos amigos da Dorothy – o espantalho (cérebro), leão (coragem), e o homem de lata (coração).

O projeto foi realizado durante todo o ano letivo de 2009. Algumas atividades, como a eleição para a escolha do nome do espantalho envolveram os 120 estudantes de toda a escola. Patrícia contou com a colaboração de suas duas auxiliares de sala: Sílvia Montiel e Geórgia Flores. “As contribuições dessas duas parceiras vieram somar, multiplicar nossas ações no sentido de fazer uma prática pedagógica transformadora”, analisa.

(Fátima Schenini)

Projetos provocam mudanças nos alunos

Alunos utilizam jogos na sala de aula.

Por inspiração do marido, que é carteiro no município de Bariri (SP), a professora Meire Canal, que leciona língua portuguesa na Escola Estadual Professora Ephigênia Cardoso Machado Fortunato, criou o projeto De Carta em Carta, Encontrando o Caminho, em que seus alunos trocam correspondência com outros estudantes do país.

A professora mantém o clube de correspondência desde 2005, mas foi premiada, em 2009, por promover a troca de cartas de seus alunos do 8º e do 9º ano do ensino fundamental com estudantes da Associação dos Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae).

A professora conta com entusiasmo que a proposta de trocar cartas com crianças da Apae surgiu de seus próprios alunos, que conheceram seus futuros correspondentes durante um jogo de futebol organizado pela Escola Professora Ephigênia. Segundo Meire, o desenvolvimento desse projeto incentivou seus alunos nos estudos e os tornou mais sensíveis. “Hoje em dia eles enxergam as pessoas com necessidades especiais de outra maneira”, avalia.

Ao longo do ano, os estudantes trocaram por volta de oito cartas. O assunto abordado é livre, o que estimula a curiosidade e o aprendizado dos estudantes. Aproveitando os textos criados pelos alunos, a professora monta sua aula de português. “Desse jeito, as crianças têm mais vontade de aprender”, acredita.

Meire confessa que estava ficando desanimada com o projeto, devido às dificuldades encontradas e à falta de apoio, mas o fato de ter sido uma das premiadas na Quarta Edição do Professores do Brasil a motivou. “Essa avaliação significa que estou no caminho certo. É muito bom ser reconhecida por aquilo que fazemos”.

Com o projeto A Contribuição dos Jogos no Ensino da Matemática, também voltado para alunos que estão terminando o ensino fundamental, a professora Íris Maciel, de Macapá (AP), mudou o ensino da matemática na escola onde leciona. “Além de estimular a imaginação e a interação, a criação dos jogos facilitou a compreensão da matéria”, justifica a professora, que leciona na Escola Estadual Ruth de Almeida.

A escola organiza o projeto de temas matemáticos, a partir deste ano. O objetivo é que os próprios alunos confeccionem os jogos, que abordam conteúdos como números decimais e as quatro operações fundamentais: adição, subtração, multiplicação e divisão. De acordo com Íris, a forma permite que eles fixem melhor a matemática”.

(Assessoria de Comunicação da Seed/MEC)

Telejornal na escola incentiva alunos

Ministro da Educação entrega o prêmio à professora Tatiana

O interesse de um grupo de alunos da Escola de Ensino Básico Júlia Lopes de Almeida, de Blumenau (SC), em repassar os conteúdos aprendidos nas aulas de ciências e história para os demais colegas da instituição, levou a professora Tatiana Bianca Basso a criar o projeto Telejornal na Escola. O projeto deu tão certo que foi um dos vencedores da Quarta Edição do Prêmio Professores do Brasil.

Desenvolvido nas turmas A e B do 5º ano (4ª série), a partir de abril de 2009, o projeto começou como uma experiência piloto, com o nome de Repórter por um Dia. Os alunos das duas turmas, divididos em equipes, ficaram responsáveis pela seleção dos conteúdos a serem apresentados. A professora ficou encarregada de fazer a gravação das apresentações, com uma câmera digital. O sucesso foi tão grande que o projeto não só continuou como foi ampliado. “Então surgiu a ideia de fazermos um noticiário educativo, a ser apresentado no pátio da escola, no horário do almoço, com assuntos de interesse de todos os estudantes, como dicas e curiosidades, além de informações sobre os trabalhos que estavam sendo feitos na escola”, conta Tatiana.

Os alunos passaram a fazer entrevistas com diferentes personagens, tais como o diretor da escola, professores, alunos, e merendeiras, incluindo temas como a história da escola e assuntos ligados à preservação ambiental. Os estudantes ficaram mais entusiasmados e sugeriram à professora colocar o telejornal na internet. Assim, todo o conteúdo foi disponibilizado na rede de relacionamentos Orkut, com fotos e vídeos de todo o trabalho das turmas. Fizeram também um blog, que funciona como um portal de comunicação, divulgando informações sobre a Escola Júlia Lopes de Almeida.

Formada em pedagogia, com habilitação em séries iniciais, pós-graduação em interdisciplinaridade e 12 anos de experiência no magistério, Tatiana observa muitas mudanças em seus alunos a partir da execução desse projeto. “Há melhorias na auto-estima, expressão corporal, oralidade, produção escrita, e no conhecimento básico com as Tecnologias de Informação e de Comunicação (TICs). Também há troca de experiências e maior cooperação entre eles”, avalia.

Alguns estudantes se destacaram na função de repórter e foram convidados pela TV da Universidade Regional de Blumenau, para fazerem coberturas jornalísticas de jogos escolares. “Eles já estão fazendo trabalhos de reportagem. Com isso, passaram a acreditar nos sonhos e a pensar em seu futuro profissional”, ressalta a professora.

(Fátima Schenini)

Mascote ajuda crianças a conhecer seus direitos

Um cachorro de pelúcia verde escolhido entre sete outros bichinhos como mascote da turma de educação infantil da professora Marta de Moura Nunes Dias, de Curitiba (PR), tornou-se um grande auxiliar no aprendizado dos alunos com idades entre quatro e cinco anos. Com curso de normal superior e especialização em educação infantil, Marta leciona há dez anos, sendo os três últimos na Escola Municipal Professora Maria Ienkot Zeglin.

Ao perceber, no início deste ano, um grande número de alunos que vinham de outros bairros, sozinhos, e que tinham vergonha não só de falar sobre suas casas, mais pobres, como também da estrutura familiar em que viviam, que não era a tradicional, composta por pai e mãe, Marta resolveu trabalhar essas questões, por meio da legislação dos direitos da criança e do adolescente. Para isso criou o projeto Sou pequeno, mas tenho meus direitos – Uma releitura do Estatuto da Criança e do Adolescente, que foi um dos premiados na quarta edição do Prêmio Professores do Brasil.

“Trabalhamos no sentido deles valorizarem tudo o que têm, em termos de alimentos, moradia, e família. Explicamos também seus direitos, seja em relação à saúde, ao ensino, ou ao lazer,” diz Marta. Como muitas mães não conheciam os direitos das crianças, ela teve a preocupação de envolver a família no projeto. “Mandava bilhetes na agenda, com perguntas para as mães. E elas respondiam contando, por exemplo, coisas do tempo em que eram crianças. Também mandavam as receitas prediletas dos filhos ou fotos dos lugares mais legais que seus filhos visitaram”. E todas essas informações obtidas das mães eram repassadas, por seus filhos, aos demais colegas.

Tanto a escolha do mascote quanto a de seu nome foram feitas por meio de eleição. Três crianças foram escolhidas para a apresentação de justificativas sobre porque deveria ser escolhido este ou aquele nome. Afinal, o nome do bichinho ficou sendo Fofinho, com o sobrenome Zeglin, igual ao da professora que dá nome à escola. E ele tem um documento de identidade, para destacar que isso também é um direito das crianças.

A cada dia o mascote vai para a casa de um aluno, que tem que assinar um documento se responsabilizando pelos cuidados com o Fofinho. Ao levar o bichinho para casa o estudante leva também sua casinha e sua comida, feitas pelos próprios alunos, assinalando, dessa forma, que esses também são direitos das crianças. Como toda criança tem direito à educação, o mascote também está presente durante as aulas, onde participa da chamada e das tarefas.

Teve um dia em que uma criança trouxe a lição de casa com uma pintura em que uma metade estava bem feita e a outra não. E disse à professora que a parte que não estava muito boa tinha sido feita pelo Fofinho: “não fica brava com ele, profe! Ele não pintou muito bem, porque ainda não sabe. Mas vai aprender.”

Marta já havia trabalhado, anteriormente, com um projeto de mascote. Também tinha usado conteúdos do Estatuto da Criança e do Adolescente. Mas nesse projeto ela integrou os dois assuntos e obteve excelentes resultados. Ela explica que no início do ano os alunos faltavam muito, porque as mães achavam que isso não tinha importância. “Eles só vão brincar na escola”, diziam. Agora a presença melhorou, graças à conscientização da importância das aulas nessa etapa do ensino infantil. Também diminuíram as brigas entre eles. “Quando eu digo a um aluno – você está desrespeitando os direitos de seu colega – ele consegue refletir sobre isso e acaba pedindo desculpas. Isso não acontecia no início do ano”, avalia.

(Fátima Schenini)

Projetos integram alunos, família e comunidade

Foto mostra a cafeteria lotada, com alunos, pais e comunidade.

Nos Estados Unidos, na Europa e até em algumas capitais brasileiras é comum encontrar ambientes onde o público pode assistir uma peça, recitais de poesia e apresentações de dança enquanto lancha ou toma um café. Pensando nisso, a professora Claudia Maria Gomes de Araújo decidiu criar um espaço diferente na Escola Presidente Roosevelt, em Parnamirim (RN), onde 1.400 alunos do ensino médio saem da sala de aula para oferecer cultura a pais, colegas e comunidade. O projeto Cafeteria Sabor Literário lhe rendeu, além do esforço dos alunos, uma recompensa na quarta edição do Prêmio Professores do Brasil, do Ministério da Educação.

A inspiração da professora veio após uma viagem com o marido à Campina Grande (PB). Lá, conheceu o Café com Poesia, um espaço onde os clientes podem ler e acompanhar apresentações culturais. “Havia um salão pouco utilizado no colégio. Resolvi lançar um desafio a mim e aos meus alunos que era transformar o local em uma cafeteria durante uma semana inteira”, lembra.

A proposta da professora era decorar o espaço, organizar apresentações de dança, teatro, canto e recitais para os convidados. Além disso, os estudantes deveriam produzir o cardápio, receitas, convites, lembranças e revezar no trabalho de garçom. “É mais que um momento cultural. Os pais e a comunidade participam em um momento de confraternização”, afirma.

Os resultados, segundo a professora, impressionam. “Os alunos aprenderam que a leitura e a educação como um todo podem abrir caminhos. Eles não têm mais dificuldade com a leitura, despertam a criatividade, levam isso para outras disciplinas e ainda conquistam mais alunos para o projeto”, garante. Claudia diz que o colégio conta com mais de dois mil alunos nos três turnos. Neste ano, participaram apenas os estudantes da manhã e da tarde. “Mas para o ano que vem, os da noite pediram para serem incluídos”.

Em 25 anos de serviço, ela afirma estar realizada. “Com todo esse tempo de trabalho, eu já poderia estar acomodada. Mas minha realização é a sala de aula, fazer com que meus alunos reconheçam minha importância como educadora e a importância da educação”, diz.

Já no interior do Paraná, a professora Bernardete Terezinha Costa decidiu promover a inclusão digital na escola de ensino médio Casa Familiar Rural de Pato Branco. O trabalho As Tecnologias da Informação e Comunicação na Educação do Campo também a levou a ganhar um prêmio e ajudou 60 alunos do colégio, filhos de produtores rurais, a aprender a usar a tecnologia na educação e no campo.

Professora da área de humanas, decidiu colocar em prática os conteúdos trabalhados em sala com auxílio de computadores e televisão. “Escolhemos um tema – no caso, a horticultura – e o trabalhamos em 11 etapas, que envolvem desde a teoria até a prática em casa”, explica. Os estudantes discutem o tema, estudam a teoria, utilizam laboratórios de informática para pesquisa e avaliação de resultados, assistem vídeos com orientações e casos de sucesso, visitam plantações, fazem redações sobre o assunto, cálculos, colocam tudo o que aprenderam na prática e criam uma horta.

“Para o aluno do campo, ter acesso a essas tecnologias é mais difícil. Mas esse aprendizado os leva a mais que bons resultados na plantação. Eles praticam o respeito mútuo, o trabalho compartilhado, se aproximam inclusive de suas famílias que, como produtoras, vão querer aprender mais sobre o tema com os próprios filhos”, diz. Bernardete avalia que ficou mais fácil ensinar com o uso das TIC’s. De acordo com ela. os estudantes, de 13 a 18 anos, podem se tornar mais participativos na vida e no trabalho das famílias e na economia da região. A professora avalia o prêmio como um reconhecimento pelo seu esforço, mas acredita que o maior ganho é o aprendizado por parte de seus alunos.

(Rafania Almeida)

Em Aracaju, projeto se preocupa com o futuro do planeta

Foto mostra professor José Reginaldo recebendo o prêmio.

A preocupação com a ecologia e o futuro do planeta levou um professor de Sergipe a criar um projeto interdisciplinar envolvendo temas de história, ciências, português, geografia e artes, entre outros conteúdos. É o Projeto Plantae, do professor José Reginaldo dos Santos, um dos vencedores da quarta edição do Prêmio Professores do Brasil.

“Queremos levar esse projeto adiante e sensibilizar as autoridades”, diz José Reginaldo, que leciona para alunos do 3º ano (2ª série) do ensino fundamental na Escola de Ensino Fundamental Olga Benário, na periferia de Aracaju. Com 21 anos de magistério e concluindo, no momento, o curso de pedagogia, o professor afirma que sonhou alto: “queria que meu projeto atingisse não só a escola, mas também o município e o nosso estado”.

José Reginaldo conta que ficava assustado ao ver o que estava ocorrendo no bairro da escola, com a destruição da mata nativa e do manguezal. Segundo ele, houve uma expansão residencial, com muitas invasões e construções. E atualmente, na beira do rio que passa nos fundos do colégio, tem até fábricas e indústrias, em uma região, onde os moradores, antigamente, sobreviviam da pesca e da cata de caranguejo. “Hoje isso não acontece mais. Então, achei que devíamos fazer algo, começando pela educação”, explica o professor.

O projeto teve início com um levantamento histórico do bairro, feito pelos alunos. Cada um se encarregou de entrevistar pessoas que pudessem contar como era o bairro há alguns anos atrás. “A partir do problema local, pensamos em trabalhar a questão do aquecimento global”, destaca José Reginaldo. Aos poucos, o professor conseguiu uma maior conscientização não só por parte dos alunos, mas também de toda a escola e dos pais.

Uma das atividades que mais atraiu o interesse dos estudantes foi a execução de um jardim. “As crianças gostaram muito desse trabalho. Demoraram mais tempo para explorar a terra do que para plantar, propriamente”, assinala o professor. A realização de um concurso de plantas ornamentais, aberto aos cerca de 1.200 alunos da escola, foi outra atividade que teve boa repercussão. “Conseguimos deixar a escola verde”.

De acordo com José Reginaldo, a boa adesão de outros professores possibilitou levar mais estudantes para visitar o local onde os moradores costumavam tomar banho de rio. E para que o trabalho tivesse mais amplitude na comunidade, foram feitas parcerias com algumas organizações não governamentais. “Conseguimos transmitir o que é a cidadania. Foram pequenos passos, mas que representaram muito para os estudantes”, acredita o professor.

(Fátima Schenini)

O que é ser professor hoje?

Foto do professor José Antônio Moreira

O professor José Antônio Moreira dá aulas de sociologia no ensino médio desde 2007, atuando principalmente na Escola Estadual Rodolfo Augusto Trechaud e Curvo, em Cuiabá (MT). Ele é licenciado em ciências sociais pela Universidade Federal de Mato Grosso.

Publicamos abaixo o artigo que José Antônio enviou para o Jornal do Professor.

Os professores na contemporaneidade ou as duas heranças socráticas

Recentemente tive que responder a seguinte questão: o que é ser professor hoje? Para respondê-la retomei duas heranças do filósofo grego Sócrates. Vejamos quais são:

I. A primeira delas ocorre quando recorremos ao filósofo grego para fazer a seguinte sentença: “só sei que nada sei”, que a ele é atribuída, para por diversas vezes utilizá-la de maneira equivocada. O principal equívoco consiste em simplesmente dizer que nada sabemos e que tudo ignoramos. Perdemos assim seu sentido fundamental que, pretendo recuperar aqui, e consiste na sabedoria de reconhecer a própria ignorância como ponto de partida para o saber. Isto é: reconheço a minha própria ignorância para que dela possa me libertar, porque o seu reconhecimento é o que torna necessário a busca do aprendizado, do conhecimento. Esta primeira herança socrática remete a nossa identidade como professor, pois nunca deixamos de ser aprendizes e que, portanto, professor e aprendiz não são termos opostos ou muito distantes, mas complementares.

II. A segunda herança socrática é negativa em relação a nós: profissionais da educação. Por seu sentido possuir um caráter pejorativo este legado se apresenta como pólo oposto ao da primeira contribuição. Leiamos: na Grécia Antiga havia os sofistas, que foram professores muito criticados por seus contemporâneos porque cobravam pelas aulas, inclusive por Sócrates, que os acusou de prostituição.

Ocorre que na Grécia Antiga apenas os nobres se ocupavam com o trabalho intelectual, pois gozavam de tempo para o ócio, já que, os trabalhos manuais eram tarefa dos escravos, e os sofistas pertenciam à classe média, portanto, faziam das aulas o seu ofício, já que não eram suficientemente ricos. Quanto a isso, Maria Lúcia Aranha e Maria Helena Martins (1993) frisam que “até hoje os professores são mal-remunerados tanto porque as pessoas se recusam a pagá-lo de forma semelhante ao que é feito aos outros profissionais liberais, tanto porque os próprios professores sofrem da 'síndrome de Sócrates’!” [1] Isto é: um sintoma que se apresenta quase como uma doença em nosso pensamento: o de que ser professor não é uma profissão, mas uma vocação. Essa simples sentença que a primeira vista parece bela traz consigo conseqüências perversas, pois naturaliza o que é socialmente construído, - cabe lembrar: o que é natural não pode ser combatido, contestado – reforçando assim a idéia de que os professores que tomam uma atitude de reivindicação por melhores salários para a profissão são mercenários, prostitutos, já que vocação acaba se opondo à profissão no imaginário social.

Esse processo na prática naturaliza, consolida ainda mais a condição desigual que o profissional da educação encontra na atualidade: o salário do professor continua a ser menor do que o de outro profissional com diploma de nível superior.Desse modo continuamos a sofrer da “síndrome de Sócrates”, os nossos contemporâneos e nós, profissionais da educação de hoje.

Uma maneira simples de compreendermos essa questão é a seguinte: por que o piso salarial do professor (profissional com diploma universitário) é inferior ao de qualquer outro profissional com nível superior no Estado? Penso que o caminho desta indagação é o caminho para compreendermos o que é ser professor hoje. Nós como todos os outros cidadãos brasileiros desejamos a melhoria da qualidade da educação, e trabalhamos para isso, mas acredito que a melhora dos índices de qualidade não depende APENAS da introdução de recursos tecnológicos nas escolas, de cursos de capacitação e da motivação não remunerada dos profissionais da educação através de publicidades recentemente veiculadas nos meios de telecomunicação pelo Governo Federal. Pois, em uma sociedade em que a estética prevalece sobre a ética, a valorização do profissional da educação depende fundamentalmente da valorização salarial da profissão. Então, um movimento importante e lógico no processo da melhoria da educação está na equiparação dos pisos salariais com outros profissionais com nível superior, que são igualmente importantes para a vida social.

José Antônio Moreira – cientista social e professor da rede estadual.

[1] ARANHA, Maria Lúcia de Arruda & MARTINS, Maria Helena Pires.Filosofando: introdução à filosofia. São Paulo: Moderna, 1993.

Ana Maria Eyng (PUCPR): trabalho com projetos traz diversos benefícios

A pedagoga Ana Maria Eyng é professora titular da Pontifícia Universidade Católica do Paraná e pesquisadora no programa de pós-graduação em educação da mesma instituição.

Com doutorado em Inovação e Sistema Educativo pela Universidad Autonoma de Barcelona, na Espanha, Ana Maria atua, principalmente, com os seguintes temas: projetos pedagógicos institucional e de curso, formação de professores, políticas educacionais, e gestão educacional.

Em entrevista ao Jornal do Professor, Ana Maria diz que são diversos os benefícios proporcionados pelo desenvolvimento de projetos. Cita, entre eles, a abordagem interdisciplinar no processo ensino-aprendizagem e a ação colegiada no processo pedagógico, além do potencial mobilizador, que gera motivação, desafio, gratificação e maior fundamentação na formação teórica e prática de alunos e professores.

Jornal do Professor – Quais os principais benefícios que o desenvolvimento de projetos na sala de aula pode trazer para a escola, professores e alunos?

Ana Maria Eyng - É importante assinalar, inicialmente, que as demandas educativas atuais estabelecem desafios novos para a escola, professores e alunos. Essas demandas exigem que sejam ampliados os entendimentos, os tempos e os espaços da sala de aula.

O trabalho com projetos que tem como foco a aprendizagem amplia o entendimento, o tempo e o espaço da sala de aula. Tanto a reflexão teórica quanto as experiências de aplicação demonstram que os benefícios proporcionados pelo desenvolvimento de projetos são diversos. Num trabalho de formação continuada de professores de uma rede municipal de ensino do Estado do Paraná, que tive o privilégio de assessorar e no qual pudemos estudar, planejar, aplicar e avaliar o trabalho com projetos, ao final sistematizamos os benefícios possibilitados.

Assim, podemos listar como benefícios do trabalho com projetos que abrangem a escola, os professores e os alunos:

1. a avaliação do projeto da escola;

2. a formação continuada dos profissionais da escola;

3. a aprendizagem continuada do professor no movimento ação-reflexão-ação extensivo a toda a organização escolar;

4. a ação colegiada no processo pedagógico;

5. a prática pedagógica reflexiva;

6. a superação das dificuldades de aprendizagem (de alunos, professores e da escola), manifestadas por intermédio da rotina, insegurança ou medo;

7. a quebra de paradigmas superando modelos mentais arraigados;

8. a apresentação de potencial mobilizador, gerando motivação, desafio, gratificação e maior fundamentação na formação teórico-prática de alunos e professores;

9. a abordagem interdisciplinar no processo ensino-aprendizagem;

10. a melhora da aprendizagem no processo pedagógico;

11. a ampliação do espaço e do tempo da aprendizagem.

Gostaria de destacar que esses benefícios, em conjunto, poderão efetivar a educação básica de qualidade para todos.

JP - Em sua opinião, o desempenho dos alunos apresenta melhora com a implantação de projetos? De que forma?

AME – A melhora é sem dúvida bastante significativa, o que se pode constatar pelos avanços relatados na resposta anterior. Além disso, gostaria de acrescentar que os problemas de comportamento (tais como competição, indisciplina, indiferença, acomodação, briga, desrespeito, conflito) e as dificuldades na aprendizagem (tais como atenção, aprender a pensar, audição, dicção, interpretação, concentração, coordenação motora, expressão corporal, leitura e escrita, matemática – situações-problema, tabuada, divisão, associar o número à quantidade, etc.), relacionados pelos professores no início da capacitação, já referida, foram atenuados e/ou superados.

Isso ocorre quando se dá ao aluno a oportunidade de refletir e pesquisar, vinculando as suas referências, sua bagagem de conhecimento ao conhecimento científico, já sistematizado, relacionando-os com a realidade. Dando-lhe, ainda, a oportunidade de experimentar, investigar, trocar ideias. Assim, o aluno estará pesquisando e construindo um conhecimento significativo que lhe permite compreender e significar o cotidiano e os diversos contextos locais e globais.

No trabalho com projetos, os diferentes estilos de aprendizagem, considerando as características, os talentos e as qualidades dos aprendizes, podem ser mobilizados com o intuito de superar as dificuldades que impedem a aprendizagem. Outra estratégia importante é valorizar as atividades preferidas pelo grupo, pois elas têm grande poder mobilizador.

A proposta permite o desenvolvimento da criatividade, da inovação, da quebra das rotinas, da utilização de materiais diversificados. Na contextualização do projeto, a maior riqueza da proposta está na utilização da realidade como fonte de pesquisa, pois essa se constitui, sem dúvida, numa fonte disponível, barata e inesgotável de informações.

JP – Como este tipo de metodologia pode ser utilizado em sala de aula?

AME – A metodologia se pauta na pesquisa, vinculada ao projeto pedagógico da escola, que seja fruto de reflexão coletiva e continuada, e que de preferência se paute numa concepção de currículo integrado.

A participação irá se dar por meio de planejamento, aplicação e avaliação participativa de projetos de pesquisa interdisciplinar. Essa participação, a que me refiro, dá-se em dois níveis:

1. a participação efetiva do professor na elaboração do projeto da escola – a partir do qual irá desenvolver os projetos em sala de aula; 2. a participação dos alunos no planejamento, aplicação e avaliação do projeto de aprendizagem.

O currículo integrado, nessa proposta, poderá contribuir na superação da dicotomia e da fragmentação formativa, pois enfatiza a produção do conhecimento interdisciplinar, contextualizado e inovador. O currículo integrado seria aquele capaz de promover a inter-relação teórico-prática no processo formativo e, ainda mais, permitir às disciplinas interatuarem como unidades integradas e contextualizadas. Esta modalidade enfatiza a problematização na construção do conhecimento.

JP – Quais os aspectos desta metodologia que devem ser observados e levados em consideração na hora de elaborar um projeto como os que participam do Prêmio Professores do Brasil?

AME - A inovação pedagógica poderá se processar mediante organização de projetos integrados de aprendizagem – PIA –, orientados nos princípios da interdisciplinaridade, da problematização e da pesquisa contextualizada, objetivando a construção individual e coletiva do conhecimento significativo e a construção do currículo mediante planejamento e gestão participativa do projeto pedagógico da escola.

Na elaboração de um projeto, devem ser observados como princípios básicos a pesquisa, a interdisciplinaridade e a participação, habilidades já referidas na resposta anterior. No encaminhamento metodológico, sugiro a consideração de quatro etapas inter-relacionadas e complementares.

A) Mobilização para o conhecimento: na mobilização, definido coletivamente o tema da aprendizagem, cabe ao professor provocar, nos aprendizes, a curiosidade, a motivação para aprender, enfim, mobilizá-los para que o processo de aprendizagem se inicie. Sugestão de procedimentos: observação e análise de filmes, fotografias, músicas, poemas, pequenos textos, gravuras e gráficos, além de perguntas e relato de fatos do cotidiano.

B) Pesquisa do conhecimento sistematizado: no segundo momento, na pesquisa do conhecimento sistematizado, objetiva-se o levantamento dos conceitos básicos e iniciais já sistematizados disponíveis a respeito do tema, compreendendo o conhecimento sobre a realidade. Esses conceitos iniciais são de extrema relevância para a operacionalização da fase seguinte, que objetiva interrogar a realidade, questionando o conhecimento já sistematizado. Sugestão de procedimentos: coleta de informações sistematizadas sobre o tema consultando livros, revistas, jornais e meios eletrônicos.

C) Pesquisa de campo: no terceiro momento, processa-se a pesquisa de campo, quando o aprendiz irá aprender com, na e da realidade. Os sujeitos interrogam a realidade, inseridos, envolvidos nela. Sugestão de procedimentos: coleta de informações na vida real, utilizando observação, entrevistas, aplicação de questionários.

D) Atividades de aplicação, aprofundamento e sistematização do conhecimento: é no quarto momento que o conhecimento é sistematizado e reintegrado à prática, mediante atividades de aplicação, aprofundamento e sistematização do conhecimento produzido. Aqui se abrem novos questionamentos que poderão desencadear um novo processo. Sugestão de procedimentos: produção de textos individuais e coletivos, debates, elaboração de relatórios, organização de campanhas de conscientização da comunidade, palestras, confecção de maquetes, painéis, criação de poesias, músicas, peças teatrais, gráficos e tabelas.

Essa sugestão de encaminhamento metodológico foi inspirada nos estudos de Freire (1980), Vasconcelos (1995) e publicada em EYNG, Ana Maria. Planejamento e gestão da construção do conhecimento no cotidiano escolar: plures-humanidades. Revista da coordenadoria de pesquisa e pós-graduação, Ribeirão Preto: 3, 1, p. 14-34, jan./out., 2002.

JP – Os projetos podem ajudar no crescimento pessoal e profissional dos professores?

AME - O trabalho com projetos suscita um processo inovador que requer a mudança de cultura, dos gestores, dos professores, dos pais, dos alunos, das instituições e dos sistemas escolares. Enfrentar esse desafio, que pode ser deflagrado por um novo olhar à prática pedagógica, poderá efetivar-se na construção de uma nova profissionalidade docente e de um novo papel da escola como gestora, e ao mesmo tempo como espaço privilegiado no processo, tanto da formação inicial, quanto na formação continuada do conjunto de seus protagonistas.

Acredito que o trabalho com projetos de aprendizagem podem ser inspiradores na busca por ressignificar o sentido da educação e o sentido da vida humana. Esse movimento tem um enorme potencial e há que ser continuado, como afirmou um aluno (de primeira série) no final do tempo destinado ao projeto. Quando a professora explicou para a sua turma que naquele momento iriam fazer a avaliação do projeto que havia acabado, um menino se manifesta, dizendo: “Professora, o projeto não acabou, ele está na nossa vida todo o dia!”