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JORNAL

Atividades Extracurriculares

Quinta-feira, 21 de Janeiro de 2010

Edição 33

EDITORIAL - Atividades Extracurriculares

Atividades Extracurriculares é o tema da 33ª edição do Jornal do Professor. O assunto foi escolhido por 43,23%% dos leitores que votaram na enquete colocada em nossa página.

Nossa entrevistada é a professora Márcia Regina Onofre, da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), para quem as atividades extracurriculares são uma forma de oferecer aos alunos uma formação mais plena, autônoma e integradora, na qual os alunos passam a ser parceiros dos professores e demais envolvidos.

Nesta edição, abordamos os benefícios trazidos pela realização de atividades extracurriculares. Para a presidente da Associação Brasileira de Psicopedagogia, Quézia Bombonatto, essas atividades têm a finalidade de complementar e enriquecer a vivência acadêmica e favorecem o processo de formação do sujeito.

Mostramos, ainda, exemplos de atividades desenvolvidas em escolas de São Paulo, Mato Grosso do Sul, e Rio de Janeiro, que contribuem para a valorização dos alunos, elevação da autoestima e melhoria no aprendizado.

Ajude-nos a escolher o tema das próximas edições, votando na enquete colocada em nossa página. E aproveite para colaborar enviando sugestões, críticas, textos e músicas!

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Atividades extracurriculares beneficiam alunos e professores

Foto ilustrativa de alunos na sala de aula

Dança, teatro, culinária, circo e até mesmo robótica. As escolas brasileiras oferecem hoje um leque de atividades extracurriculares. Elas são utilizadas para diversas finalidades. Seja para despertar a criatividade e o talento nos estudantes ou para melhorar seu desempenho em sala de aula. Para a presidente da Associação Brasileira de Psicopedagogia, Quézia Bombonatto, essas atividades têm a finalidade de complementar e enriquecer a vivência acadêmica e favorecem o processo de formação do sujeito.

Ela acredita que toda atividade cumprida dentro de um projeto pré-elaborado “quer seja de uma trabalho de estimulação cognitiva nas diferentes áreas, quer seja de atividades que visam o desenvolvimento sócio-afetivo do sujeito”, traz um ganho significativo tanto no desempenho acadêmico como na formação geral deste indivíduo. Fazem parte desses trabalhos aulas de reforço de conteúdo programático, oficinas de artes (teatro, música, artes plásticas, dança), esportes, arte culinária, artesanatos, marcenaria, feiras culturais, entre outros.

Para desenvolvê-las é necessário, segundo Quézia, que o professor, em primeiro lugar, tenha o desejo de desenvolvê-las e acredite que essas atividades farão diferença no desempenho de seus alunos. Contudo, ressalta, que cabe às instituições proporcionar as condições favoráveis para que o professor possa promovê-las. “Sempre devem ser antecipadas por um planejamento, o qual deve ser cumprido no sentido de se obter os resultados e as metas propostas no projeto inicial”, avalia.

A especialista acredita que elas proporcionam, ao professor, um maior comprometimento com sua prática docente. “Ele se sente mais valorizado por seus alunos que ficam mais envolvidos em suas aulas. Elas também favorecem a interdisciplinaridade e, desta forma também, uma aprendizagem mais significativa, possibilitando vivenciar os conceitos teóricos numa prática que lhe traga sentido àqueles estudados em sala de aula”, garante.

Um estudo elaborado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep/MEC), em 2004, a partir do cruzamento dos resultados do Exame Nacional do Ensino Médio de 2003 (Enem) e das respostas dos participantes ao questionário socioeconômico do Exame, mostra como essas atividades são importantes. De acordo com ele, o acesso a atividades extracurriculares pode representar uma diferença positiva no desempenho escolar. Ele apontou que a média na prova objetiva do Enem dos estudantes que frequentaram cursos de língua estrangeira, informática e pré-vestibular, por exemplo, foi de até 17 pontos acima da atingida por alunos que tiveram pouca ou nenhuma oportunidade de fazer esses cursos. Na escala utilizada de zero a cem, a pontuação média para a primeira situação foi de 62 e, no segundo, 45.

Quézia destaca ainda que esse quadro vai além do desempenho dos alunos e a facilitação do trabalho do professor. Ela lembra que esse tipo de atividade aumenta ainda a auto-estima dos envolvidos no processo além de promover a sociabilização do sujeito.

Visando essas melhorias, em 2008 foi sancionado um projeto de lei que institui o ensino da música nas escolas públicas e particulares de ensino básico. No Rio de Janeiro, o xadrez passou a fazer parte do currículo das unidades escolares estaduais de ensino após a aprovação de uma lei pela Assembléia Legislativa do Estado. “Essas atividades geram e ampliam o trabalho do professor, mas são, certamente, um complemento que enriquece sua proposta pedagógica”, conclui.

(Rafania Almeida)

Música e teatro auxiliam na superação de desafios

Apresentação do coral de alunos da Escola da Comunidade (SP)

Transformar realidades, enfrentar novos desafios e adquirir mais conteúdo. Essas propostas estão previstas em unidades de uma escola que promove atividades extracurriculares. O Centro Pedagógico Porto Seguro desenvolveu programas com cursos extraclasse para alunos do colégio particular da rede e para a Escola da Comunidade, que atende crianças e adolescentes carente de Paraisópolis (SP). Coral, banda, culinária, teatro, alemão e robótica fazem parte do currículo da instituição, no intuito de valorizar os estudantes e lhes proporcionar uma formação mais completa, além de mais oportunidades.

As atividades da banda e do coral da Escola da Comunidade se destacam. Os alunos que não tinham contato com a cultura e nem oportunidades descobriram seus talentos, ganharam respeito na comunidade e mais atenção dos professores, por começarem a se destacar na escola após ingressarem nesses grupos. A coordenadora da Escola da Comunidade Rachel Braun conta que os trabalhos desenvolvidos contribuem para a melhoria da auto-estima tanto de alunos quanto de professores, ampliam os vínculos com a escola e retiram o jovem dessas comunidades carentes, das ruas. “Eles passam a representar o colégio em comemorações internas e externas. Isso aumenta o senso de responsabilidade e liderança e lhes dá a oportunidade de mostrar outras habilidades”, diz.

De acordo com Rachel, os professores ganham mais que alunos satisfeitos, ganham parceiros na sala de aula. Isso porque eles adquirem responsabilidade, os mais velhos cuidam dos mais novos. “Eles são vistos como ídolos e tornam-se exemplos. O aluno se sente valorizado pelo professor e por toda a comunidade escolar e isso estreita os vínculos entre professor e aluno”, afirma. A coordenadora avalia que o professor passa a olhar o aluno sob uma nova perspectiva fora da sala de aula. Da banda, participam 82 alunos e do coral, 62. As atividades são realizadas em horários diferentes das aulas.

Na escola particular, as atividades extracurriculares também são usadas para despertar as habilidades dos alunos, mas principalmente para auxiliar na comunicação e na relação entre professor e aluno. Um dos destaques é o grupo de teatro em alemão. Como o currículo é bilíngüe, eles são alfabetizados na língua portuguesa e na alemã. No teatro, vivenciam o que aprendem em sala de aula.

A coordenadora de integração de currículos da escola diz que a atividade desenvolve habilidades como a retórica, expressão corporal, desenvoltura, memória e trabalhos em grupo. Nela, o aluno escolhe textos, monta falas e cenário, no decorrer do ano. “Ele é co-autor, perde o medo de colocar a sua opinião e aprende a utilizar outros recursos para a resolução de problemas”, explica. O curso é ministrado para crianças do 4º e 5º ano.

Ela conta que as atividades mudaram o comportamento inclusive de alunos tímidos, que não conseguiam se posicionar em um trabalho em sala de aula. “Este ano tivemos o caso de um aluno que sofria de mutismo seletivo, que acontece quando se cria um bloqueio para fala e compreensão em determinadas situações sociais. No teatro ele se expôs, falou e superou o desafio”, relata a coordenadora. Na avaliação dela, as crianças aprendem a perder o medo de colocar a sua opinião e a utilizar outros recursos para a resolução de problemas.

(Rafania Almeida)

Atividades extras melhoram desempenho de alunos

Foto mostra professora Márcia Mello na sala de aula

Os especialistas afirmam: atividades extracurriculares podem despertar, nos alunos, o interesse pelos estudos. O desempenho abaixo da média de alguns estudantes levou o a Escola Municipal Dr. Mario Augusto de Freitas, em Engenho Novo (RJ), a criar uma atividade extracurricular para ajudar quem estava com dificuldades nas disciplinas. A professora de educação física, Márcia Bandeira de Mello, conta que o trabalho chamado “PraticaMente” consiste na produção de jogos com material reciclável para despertar o interesse dos estudantes. “Os alunos que têm algum tipo de dificuldade no aprendizado vêm ao colégio duas vezes por semana, fora do horário de aula, para criar jogos e aprender com eles”, diz.

As atividades são feitas com alunos do 1º ao 5º ano do ensino fundamental. São eles mesmos quem criam os jogos e suas regras. As “brincadeiras” são trabalhadas de acordo com a dificuldade dos estudantes em cada disciplina. As turmas têm no máximo 12 crianças para que tenham toda a atenção possível. Segundo Márcia, os trabalhos são focados na memória e na atenção das crianças. “É mostrar que a matéria que está difícil de aprender em sala de aula pode ser prazerosa, e divertida se estimulada da maneira correta”, ressalta.

As oficinas do PraticaMente foram criadas no início de 2009. Nelas, os alunos aprendem especialmente matemática e língua portuguesa, de forma lúdica. “Essas são as disciplinas onde eles encontrar mais dificuldade. Se os professores identificam baixo desempenho em alguma outra, também desenvolvemos jogos para ela”, explica. O aprendizado vai desde a construção de um dado de papelão, até jogos mais complexos que envolvem lógica, com tabuleiros de madeira e garrafa pet, ou desafios silábicos.

Márcia afirma que a avaliação dos professores é a melhor. Eles comentam que as atividades facilitam seu trabalho e ajudam os alunos a ter um desempenho positivo em sala. “Tanto que já chegamos a reduzir o número de estudantes nas turmas, pois eles conseguiram aprender e ter notas acima da média”, garante. Entretanto, segundo a professora, os alunos sentem falta das atividades quando deixam a turma extra. Eles gostam tanto que querem voltar, mesmo com notas melhores. Já vimos que eles levam o que aprendem na escola para casa e praticam os jogos aprendidos com a família e os amigos. É gratificante ver esse resultado”, destaca.

Em Campo Grande (MS), 83 das 91 escolas municipais usam as atividades extracurriculares para melhorar o desempenho dos estudantes. O projeto Grupo Avançado de Estudos (GAE) atende alunos com dificuldades no aprendizado em matemática e língua portuguesa. Funciona como um reforço escolar, com três horas semanais. “Mas eles aprendem de uma maneira diferente, de forma lúdica, com jogos, músicas e até teatro. Não bastaria só estender o horário da aula. Tinham de aprender de uma forma diferente, pois no método convencional eles não estavam se saindo bem, precisavam de estímulo”, conta a superintendente de Gestão de políticas Educacionais da Secretaria Municipal de Educação de Campo Grande, Ângela Brito. O projeto começou em 2007, quando foi identificado que os estudantes da rede pública estavam com o rendimento muito abaixo da média.

Após o início do GAE, com atividades extracurriculares, o cenário mudou. “Nos destacamos inclusive na Prova Brasil, entre as melhores notas, reduzimos o número de repetentes na rede e aumentamos o nosso Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb)”, afirma.

O programa atende, atualmente, a 8.970 alunos da rede que estão abaixo da média. “O número de reprovações era muito grande. Víamos que isso desmotivava muitos alunos, que preferiam abandonar a escola. Estamos reduzindo esse índice, pois entendemos que ninguém é obrigado a aprender no mesmo tempo do outro. Cada um tem seu tempo, suas limitações”, avalia.

(Rafania Almeida)

Possibilidades oferecidas por recursos tecnológicos apaixonam professora do Pará

Foto da professora Jamille Galvão

Formada em geografia, com especialização em informática educativa, Jamille Galvão dos Santos trabalha no Núcleo de Informática Educativa de Belém (Nied) e no Núcleo de Tecnologia Educacional (NTE) Belém 2, no Pará.

Com experiência de 15 anos no magistério como professora de geografia nos níveis fundamental e médio, Jamille passou a trabalhar como multiplicadora nos NTEs, há cerca de um ano e meio. Ela ministra os cursos do Proinfo Integrado - Introdução à Educação Digital e Tecnologias e Educação: ensinando e aprendendo com as TICs.

“Procuramos levar o professor a se apropriar das ferramentas básicas do computador e utilizar as TICs na prática pedagógica, adequando o currículo às propostas de uso das tecnologias”, conta. Além disso, ministra várias oficinas de blogs, google docs, JClick, história em quadrinhos, Navegatube etc .

Ela diz que se apaixonou pelas possibilidades que os recursos tecnológicos oferecem para trabalhar com os alunos, tornar o ensino mais dinâmico e o aluno ainda mais ativo no processo de aprendizagem. “Ainda não tinha visto um recurso pedagógico que trouxesse tanta contribuição para desenvolver a autonomia, a busca reflexiva de informações e, consequentemente, a melhoria da aprendizagem dos alunos como os recursos tecnológicos oferecem”, destaca.

Uma de suas maiores alegrias no trabalho é acompanhar o progresso de seus alunos: é ver “quando um professor que chegou ao curso morrendo de medo de tocar no computador, com o passar das aulas começa a criar textos, formatações, apresentações de slides com criatividade e autonomia, sem brigas com o computador”. Outro grande motivo de satisfação é ver os blogs dos professores e das escolas se multiplicando pelo Pará.

Ela criou seu blog em outubro de 2008, pensando em passar pela experiência de trabalhar com os blogs de forma pedagógica. “Seria um espaço para trabalhar questões relacionadas ao uso das TICs na educação - para que eu pudesse passar isso para os professores cursistas”, explica. Muito de sua vivência com as tecnologias são repassadas durante os cursos. “Percebo que tem sido uma fórmula excelente”, finaliza Jamille.

Márcia Onofre (UFSCar): atividades extracurriculares transformam alunos e professores em parceiros

Foto da professora Márcia Onofre, da UFSCar

Formada em Pedagogia, com doutorado em educação escolar, Márcia Regina Onofre é professora do Departamento de Metodologia de Ensino da Universidade Federal de São Carlos (UFSCAR). Também exerce atividades de pesquisa na Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho e na própria UfsCar.

Em entrevista ao Jornal do Professor, Márcia Regina diz que as atividades extracurriculares são uma forma de oferecer aos alunos uma formação mais plena, autônoma e integradora, na qual os alunos passam a ser parceiros dos professores e demais envolvidos. E essa parceria torna a sala de aula mais democrática e prazerosa.

Jornal do Professor - Como devem ser desenvolvidas as atividades extracurriculares na escola?

Márcia Regina Onofre - Antes de qualquer ação, é necessário que as atividades sejam previstas de forma coerente e organizada na elaboração do planejamento escolar, com o intuito da organização de horários, duração, objetivos, finalidades, etapas e metodologias. Uma ótima forma de trabalhar esses tipos de atividades é por meio de projetos que se voltem para um trabalho interdisciplinar. Nesse sentido é preciso refletir, analisar, discutir, e redimensionar as atividades com um olhar mais atento à realidade de cada escola e de suas necessidades, visando desenvolver um trabalho de coletividade e parcerias entre os alunos, professores, funcionários, comunidade, articulando as áreas de conhecimento e os objetivos do ensino com a prática cotidiana de trabalho.

JP - Pesquisa de 2004 do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep/MEC) revela que essas atividades melhoram o desempenho dos estudantes. Como elas podem auxiliar?

MRO - Acredito que sim. Essas atividades objetivam oferecer aos alunos uma formação mais plena, autônoma, integradora, oferecendo aos educandos o contato com o mundo que não é apenas o escolar. Ou seja, a proposta das atividades extracurriculares é de ensinar os alunos a eliminar barreiras, a aprender lidar com as dificuldades, as situações problemas, a conviver em sociedade, a trabalhar em equipe, a buscar meios de superar as crises e os conflitos, a respeitar e conviver com as diferenças, a exercer cidadania, a estar sintonizado com o mundo atual globalizado, a ter senso crítico em relação aos acontecimentos políticos.

Esse processo contribui para a formação integral do aluno auxiliando na socialização, autonomia, reflexão, pesquisa, integração dos conhecimentos escolares e de mundo, criatividade, questionamento, posicionamento crítico, emancipação. Possibilita novas buscas, mudança de postura e mentalidade bem como de transformação social. O envolvimento dos sujeitos nesse processo gera comprometimento e trabalho em equipe, possibilita a ruptura com as rotinas instaladas na escola e com a visão conteudista de conhecimento, fornecendo uma participação mais ativa e participativa dos indivíduos envolvidos. O resultado desse processo reflete nos processos de leitura e escrita, bem como, na organização das idéias e no domínio da linguagem oral.

JP - Que benefícios elas podem trazer para os alunos?

MRO - Os alunos passam a ser parceiros dos professores e demais envolvidos percebendo sua importância social. Esse processo, quando pautado no diálogo, possibilita a compreensão de que podemos ser capazes de intervir na realidade e não apenas de nos adaptarmos a ela, como afirma o educador Paulo Freire. Portanto, uma formação extracurricular associada a uma formação curricular adequada, coerente e de qualidade oportunizará ao educando a possibilidade de investigação, dinamismo, autonomia, crítica e emancipação.

JP - Facilita o trabalho do professor ou essas atividades geram apenas mais trabalho?

MRO - As duas coisas. Com certeza o professor terá mais trabalho para desenvolver esse tipo de atividade. No entanto, o resultado das ações se reflete, de forma significativa, na sala de aula e, portanto, acaba por auxiliar no processo ensino-aprendizagem de forma mais efetiva e consistente. Quebra com o conteudismo, com a rotina e com a postura de professor transmissor e do aluno receptor passivo do processo. A parceria nas atividades extracurriculares torna a sala de aula mais democrática e prazerosa.

JP - O que um professor precisa para desenvolver essas atividades?

MRO - Em primeiro lugar, domínio do conhecimento, estudo, pesquisa. Em seguida, deixar claro quais os objetivos e finalidades que deseja atingir com as ações. Quanto mais claro for para o professor o significado e a importância da natureza das ações, mais coerente e tranquilo ficará para os educandos o desenvolvimento delas. É preciso a organização de um trabalho em grupo, do levantamento de recursos, da sensibilização da escola. É preciso planejar antes, durante e depois de forma consciente, crítica e emancipadora. Independente das ações estabelecidas, o professor não pode ser entendido como um mero executor ou instrutor de ensino reproduzindo atividades mecanicamente. É preciso que suas ações sejam refletidas e embasadas em princípios políticos e epistemológicos visando desenvolver em si mesmo e em seus alunos a capacidade para um pensamento crítico, reflexivo e criativo. Assim, esse professor assume um papel relevante na construção de um “ethos democrático”, ao se ver formando uma sociedade democraticamente mais livre. O papel do professor deve ser o de provocar a “aprendizagem relevante” no educando, permitindo o acesso aos meios culturais, sociais, políticos, educacionais de forma prazerosa, clara e relevante.

JP - Como realizar atividades extracurriculares de forma que não sejam apenas uma brincadeira?

MRO - A atividade educativa deve ter por meta a finalidade de proporcionar aos sujeitos um conhecimento significativo e nessa trajetória a mediação do professor e a relação de parceria com o grupo devem permear todas as atividades. Portanto é preciso planejar previamente, preferencialmente, com a participação de todos os envolvidos no processo, construindo uma relação democrática, dialógica e coerente. Os professores devem dar voz ativa aos alunos e a suas experiências de aprendizagem, com o intuito de desenvolver um trabalho mais adequado às situações cotidianas.

JP - O que muda no comportamento de um professor no resultado dessas atividades?

MRO - De um processo como esse ninguém sai incólume. Posso dizer que o professor mais aprende do que ensina, pois são várias as possibilidades de trocas, experiências e conhecimentos fornecidos pelos alunos. Portanto não há o que questionar em relação à mudança de postura e mentalidade de um professor nesse processo. O exercício de refletir sobre o cotidiano de trabalho se constitui como base indispensável ao desenvolvimento profissional do professor. É por meio do diálogo que o professor estabelece com as situações de aprendizagem e realidades que enfrenta, na maioria das vezes complexas e incertas, que vai lhe permitindo criar cotidianamente novas formas de pensar e agir sobre suas ações, por meio do questionamento, das experiências, das trocas, corrigindo, inventando, permitindo errar e, acima de tudo de refletir sobre o erro visando a construção de novas formas de intervenção, de mediação e de conhecimento.