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JORNAL

Educação a Distância

Quinta-feira, 29 de Abril de 2010

Edição 38

EDITORIAL - Educação a Distância

Por escolha de 35,51% de nossos leitores, o tema da 38ª edição do Jornal do Professor é Educação a Distância.

Aqui você vai saber mais sobre essa modalidade de ensino introduzida no Brasil no início do século XX, por meio de aulas por correspondência, e que hoje, utilizando tecnologia digital, atinge um número cada vez maior de alunos, em diferentes níveis de ensino.

Vai conhecer a professora Rosilâna Dias, da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), em Minas Gerais, para quem as aulas de educação a distância necessitam de um planejamento meticuloso e antecipado; as experiências de duas professoras de Rio Verde, em Goiás, matriculadas em cursos a distância; vai ficar por dentro do que pensa a professora Lea Fagundes, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), sobre a formação necessária ao professor que atua na educação a distância; e vai conhecer, ainda, o Multicurso Ensino Médio – matemática, programa de formação continuada para professores criado pela Fundação Roberto Marinho.

Trazemos ainda para você uma entrevista com a professora Masako Masuda, presidente da Fundação Centro de Ciências do Estado do Rio de Janeiro (Fundação Cecierj), que abrange o Consórcio Centro de Educação a Distância do Estado do Rio de Janeiro (Consórcio Cederj). Ela faz uma análise da situação da EAD no Brasil e aborda, entre outros pontos, os benefícios dessa modalidade, perfil dos alunos, e como eles são recebidos pelo mercado de trabalho.

Ajude-nos a escolher o tema das próximas edições, votando na enquete colocada em nossa página. E aproveite para colaborar enviando sugestões, críticas, textos e músicas!

Seja bem-vindo!

A educação que transpõe barreiras

Imagem ilustrativa de alunos no computador

O ensino a distância é considerado por especialistas um instrumento de democratização do acesso à educação. A flexibilidade e a autonomia que proporciona aos estudantes da modalidade são reconhecidos como formas de transpor barreiras e oferecer oportunidades de formação. Mas como surgiu a educação a distância?

Basicamente, EAD é um modelo educacional em que a aprendizagem não tem limitações espaciais e temporais. A história registra os primeiros cursos feitos a distância em 1728, nos Estados Unidos. Na época, os cursos eram feitos por correspondência principalmente na Europa e nos Estados Unidos. As aulas por correspondência, anunciadas em jornais, foram as primeiras formas de ensinar a distância.

No Brasil, há registros dessa modalidade de ensino desde os primeiros anos do século XX, por meio da oferta de cursos profissionalizantes por correspondência, no Rio de Janeiro. Mas a primeira experiência brasileira na graduação foi da Universidade Federal de Mato Grosso, que ofereceu cursos de graduação a distância, somente para os professores da rede de ensino, em 1995.

Para um o entusiasta da modalidade no Brasil, o professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Wanderley de Souza, a EAD é acessível para pessoas que vivem em locais onde a educação superior presencial não chegaria. Também avalia como um instrumento importante nos processos de educação continuada, aquelas em que os docentes não precisam sair da sala de aula para ter uma qualificação profissional. “É uma oportunidade”, destaca.

Com a evolução tecnológica, a EAD deixou de ser um curso de correspondência unidirecional. Com sua regulamentação ganhou mais qualidade e vantagens da EAD, utilizando-se de meios de comunicação, técnicas de ensino, metodologias de aprendizagem, processos de tutoria, obedecendo uma série de princípios básicos de qualidade.

Aulas virtuais, contato com professores e tutores, além de fóruns e plataformas criadas para aproximar os alunos da realidade acadêmica fazem parte do avanço tecnológico da modalidade. Entre esses avanços está a criação dos Referenciais de Qualidade para a oferta de cursos a distância. Com sugestões da comunidade, foram estabelecidas as diretrizes para a elaboração dos instrumentos de avaliação específicos para o credenciamento de instituições e polos de apoio presencial, além de reconhecimento e autorização de cursos de educação superior a distância.

Esse avanço qualitativo permitiu que a modalidade se desenvolvesse no país e chegasse a um crescimento surpreendente. Se em 2000 a EAD contava com apenas cinco mil estudantes, em 2009 foram registrados 856 mil matriculados em cursos de graduação a distância em todo o país. Na visão do secretário de Educação a Distância, Carlos Eduardo Bielschowsky, essa evolução é uma prova da ampliação do acesso ao ensino, pois a modalidade transpõe as barreiras de tempo e espaço e leva educação a regiões remotas do Brasil.

A Associação Brasileira de Educação a Distância (Abed), apresentou estudo mostrando que a EAD foi utilizada por 2,6 milhões de brasileiros em 2008, nos diversos níveis de ensino.

A reitora da Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT) e pesquisadora de EAD, Maria Lucia Cavalli Neder, explica que a modalidade a distância se diferencia da presencial por permitir ao estudante que ele estabeleça um horário para realizar todas as atividades da graduação. “Ou seja, proporciona liberdade, mas exige dele mais responsabilidade e dedicação para concluir os estudos”, pondera.

(Rafania Almeida)

Estudo a distância exige comprometimento do aluno

Elizabeth Borges, de Rio Verde (GO)

Fazer um curso de especialização foi sempre um sonho para a professora Elizabeth Vieira Borges, de Rio Verde, Goiás. O desejo, muitas vezes adiado por razões financeiras, começou a ser realizado em outubro de 2009, quando Elizabeth ingressou no curso de especialização em Metodologia do Ensino Fundamental, modalidade a distância, no Centro de Ensino e Pesquisa Aplicada à Educação da Universidade Federal de Goiás (UFG).

“Agora, graças a Deus, estou tendo a chance de realizar esse sonho. Através dele quero fazer a diferença na educação e, consequentemente, obter valorização profissional e satisfação pessoal”, diz a professora, que tem formação em Normal Superior. Com 22 anos de magistério, Elizabeth trabalha há 13 na Escola Municipal de Educação Fundamental Rosalina Borges, onde atua como coordenadora pedagógica do 1º ao 5º ano do Ensino Fundamental.

Ela diz que está gostando muito do curso, que tem duração de um ano e meio, embora não esteja sendo fácil como imaginava: “essa modalidade exige muito comprometimento por parte do aluno, ou seja, um grande compromisso com a própria aprendizagem”, salienta. Segundo Elizabeth, a educação a distância requer que o estudante organize seu tempo, se dedique aos estudos e pesquisas e seja participativo nas discussões em fóruns e demais atividades on-line e presenciais, pois é avaliado, rigorosamente, a todo instante.

“Os estudos e discussões em fóruns têm contribuído ricamente no aperfeiçoamento da minha prática pedagógica, pois aprender é um exercício constante para quem deseja ampliar seus conhecimentos”, acredita a professora. Em sua opinião, o ensino a distância oferece várias oportunidades de conhecimento, crescimento e troca de informações, onde a verdadeira educação se dá em um ambiente de interação, crítica, e trabalho em conjunto, o que garante uma reflexão e construção baseada em pesquisas, orientações, ações conjuntas e colaborativas.

Colega de Elizabeth na Escola Rosalina Borges, Rita de Cássia Oliveira também participa de um curso a distância. Formada em pedagogia, ela agora faz uma segunda graduação, em história, graças à oportunidade aberta pelo Plano Nacional de Formação dos Professores da Educação Básica, ação conjunta desenvolvida entre o MEC, instituições públicas de educação superior e secretarias de educação de estados e municípios. Os professores interessados em participar de cursos se inscrevem em um sistema desenvolvido especialmente para esse fim: a Plataforma Freire.

Com esse curso, iniciado em fevereiro último, Rita espera conquistar novas oportunidades na área profissional. Segundo ela, a experiência está sendo formidável, embora perceba, a cada dia, que exige muita dedicação. “Não é fácil estudar praticamente só, mas a vantagem é que o horário é flexível, pois sou eu quem o determino”, enfatiza a professora do ensino fundamental, que também dá aulas na Escola Filadelfo Jorge da Silva Filho.

(Fátima Schenini)

Planejamento é fundamental para processo de aprendizagem

Foto ilustrativa de alunos no computador

Toda aula necessita de um planejamento prévio, mas na modalidade a distância a organização é fundamental. A opinião é da professora Rosilâna Aparecida Dias, da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), em Minas Gerais. “Um curso a distância precisa ser meticulosamente planejado. É preciso estabelecer cronograma, escolha e preparação do material didático, selecionar as mídias que serão utilizadas, as estratégias didáticas que melhor atenderão os objetivos”, ressalta.

Licenciada em matemática e bacharel em informática, com mestrado em educação, Rosilâna está no magistério há cerca de 25 anos, sempre trabalhando com informática na educação. Ela trabalha com educação a distância (EAD) desde 2005, após concluir um curso de capacitação em docência em EAD, na Universidade Metodista de São Paulo. Na UFJF, ela leciona a disciplina Produção de Material Pedagógico, no curso de especialização em Tecnologias de Informação e Comunicação no Ensino Fundamental. Também trabalha no Departamento de Políticas de Formação, da rede municipal, com cursos de formação continuada (presenciais e semipresenciais) na área de tecnologia na educação.

Segundo Rosilâna, é importante que o professor que leciona em cursos a distância tenha familiaridade com o uso da tecnologia. “Embora a tecnologia não deva ser o centro do processo, é importante ressaltar que as relações na EAD são mediadas por alguma tecnologia – que vai do material impresso aos mais sofisticados aparatos tecnológicos”, salienta.

Quanto à formação necessária ao professor que atua na EAD, Rosilâna acredita que nada é o bastante, nos dias de hoje. Para ela, o momento atual requer formação continuada: “sempre temos algo a aprender para darmos conta de todos os avanços nas mais diversas áreas”. Ela explica que as instituições de ensino, públicas ou privadas, têm oferecido capacitação para o corpo docente e enfatiza a necessidade de o professor ser licenciado, quer atue de forma presencial ou a distância.

Com relação à interação professor-aluno nas aulas a distância, Rosilâna diz que ela é mediada pela tecnologia. “Pode-se contar com todo o aparato tecnológico do tempo presente: os ambientes virtuais de aprendizagem e todas as ferramentas de comunicação viabilizadas pela interface web”. Ela enfatiza que o conceito de presença mudou e é possível conversar com o aluno que se encontra a quilômetros de distância, por meio de conferência web, por exemplo, mas destaca a importância dos encontros presenciais, obrigatórios pela legislação. “Nada impede que um curso a distância promova encontros presenciais para seminários, defesa de trabalhos, apresentações culturais, além das avaliações”, defende. “Eles podem e devem fazer parte do planejamento”, acredita a professora, que em março deste ano lançou o livro Educação a Distância: da Legislação ao Pedagógico, em coautoria com a professora Lígia Silva Leite, orientadora de sua dissertação de mestrado.

(Fátima Schenini)

Professores devem estar preparados para uso de tecnologia digital

A utilização de tecnologia digital traz contribuições significativas para a educação a distância e transforma as possibilidades de comunicação entre professores e alunos. De acordo com a professora Lea Fagundes, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), o professor que for trabalhar em educação incluída na cultura digital deve ter uma formação especial. Segundo ela, além de saber como atuar nessa área o professor também precisa aprender como inovar em educação, seja presencial ou a distância.

Formada em pedagogia e em psicologia, com mestrado em educação e doutorado em psicologia escolar e do desenvolvimento humano, Lea Fagundes é professora titular aposentada da UFRGS. Atualmente, na mesma instituição, ela é docente permanente, convidada no Mestrado em Psicologia Social e Institucional, docente no Programa de Pós-Graduação Informática na Educação, e coordenadora de pesquisa no Laboratório de Estudos Cognitivos.

Jornal do Professor – Quem é o professor que dá aulas em cursos de EAD? Quais as características que ele deve ter para atuar nesse segmento?

Lea Fagundes – Não considero dois segmentos, pois as transformações que estão acontecendo em nossa sociedade aproximam cursos em EAD dos cursos presenciais, não só porque permitem uma comunicação a distância “sem distâncias”, aproximando os alunos tanto do professor quanto de outros alunos pelas conexões virtuais, como também muitas atividades de um curso presencial podem se beneficiar dos recursos digitais para minimizar as distâncias.

Com a cultura digital a tradicional “educação a distância” recebe contribuições muito significativas:

- os meios de comunicação são totalmente modificados – do transporte pelo correio de materiais impressos, jornais, de programas em rádio e em televisão, que dependiam de emissões em horários e locais pré-programados para serem acessados pelos alunos, passamos a dispor de ambientes virtuais de aprendizagem como suporte a materiais digitalizados não só os específicos para um curso, mas redes de sistemas de informações amplas e permanentemente acessíveis à pesquisa e em constantes atualizações;

- o uso da tecnologia digital transforma as possibilidades de comunicação entre professor e aluno, as trocas podem ser interativas em modalidades síncronas ou assíncronas, não mais só unidirecionais e hierarquizadas como a EAD tradicional que considera que o professor emite a mensagem porque sabe mais, tem autoridade para decidir, por isso planeja o ensino, e o aluno a recebe porque será avaliado por reproduzir e aplicar adequadamente essa mesma mensagem. Pois a EAD agora dispõe de recursos para que os indivíduos passem a interagir cooperativamente não só com um professor especialista, mas com outros professores estabelecendo conexões interdisciplinares. O aluno não só interage linear e hierarquicamente, respondendo às perguntas do professor, ou cumprindo suas ordens, ele pode interagir com colegas de outros grupos heterarquicamente, escolhendo conteúdos, recebendo e enviando comentários, sugestões, contribuindo nas soluções de problemas, formulando outras questões, argumentando com os próprios professores e até com outras comunidades na rede. E então pode ser alcançado o desenvolvimento, as competências, habilidades, atitudes, procedimentos que os cursos buscam.

Nos programas que tenho avaliado de cursos em EAD não encontrei caracterizações especiais para seus professores. De um lado, o planejamento desses cursos tendem a reproduzir os cursos presenciais que as instituições já desenvolvem, de outro, os professores são aceitos, e não selecionados, porque são competentes no ensino presencial e porque se apresentam disponíveis a aprender a usar as novas tecnologias.

Não estou afirmando que não há características que ele deva ter! Estou tentando analisar as diferenças entre EAD tradicional e as relevantes características da EAD na cultura digital e sublinhando que é necessário tratá-la como inovação revolucionária.

JP – A formação de um professor de EAD deve ser diferente de um professor presencial? O que é necessário que ele saiba para atuar nessa área?

LF – Um professor presencial não é necessariamente diferente de um professor de um curso EAD, se neste último os recursos forem textos, apostilas, radio, televisão, ou vídeoconferências. E não será diferente se o curso EAD for trabalhado sem considerar os recursos da cultura digital, quando só privilegiem o atendimento de alunos que estejam distantes de instituições de ensino e sem dispor de tempo para frequentá-las.

Entretanto, seja um professor presencial ou seja um professor em EAD, ele necessitará de formação especial se desejar trabalhar em educação incluída na cultura digital. Muita atenção: há instituições que possuem equipamentos, laboratórios e conexões à internet, mas usam esses recursos para desenvolver um ensino tradicional, como, por exemplo, currículo fragmentado em disciplinas de períodos predeterminados, cumprindo tarefas pré-programadas com conteúdos descontextualizados, de forma linear, centralizado no ensino pelo professor, e avaliado por desempenho com apresentação de uma só resposta certa, de atender turmas como fossem todos os alunos semelhantes e com níveis de desenvolvimento equivalentes para aprendizagem dos mesmos conteúdos.

Seja na educação presencial, ou seja em EAD, o importante é sua inclusão na cultura, é o esforço para mudar a concepção de ensino da sociedade industrial para a concepção de desenvolvimento cognitivo e sócioafetivo no processo de aprendizagem, da sociedade da informação, da sociedade do conhecimento.

Não é só necessário que ele saiba como atuar nessa área, o professor necessita aprender como inovar em educação seja na presencial, seja em EAD. Por quê? Porque mesmo na educação presencial a cultura digital pressupõe tanto contatos presentes como interações no espaço virtual, trabalho nas salas da escola, mas também trabalhos cooperativos no espaço virtual, uso de hipertexto, de recursos multimídias, de radio digital, de televisão digital, de bibliotecas digitais, de museus virtuais, na própria escola conectada com redes de escolas próximas ou distantes.

Uma nova formação também é necessária para o professor para que se aproprie das novas contribuições da cultura com reflexão crítica, com experimentação metódica para testar, analisar e avaliar novas práticas como um investigador permanente e consciente. É fundamental que comunidades de professores aprendam a buscar os melhores, os mais explicativos fundamentos teóricos para entender melhor seu próprio processo de aprendizagem e o de seus alunos, e como esse processo acontece na apropriação dos recursos da tecnologia digital sustentando as atividades de comunicação interativa, colaboração e cooperação para a construção de conceitos, para a prática de procedimentos criativos nas ciências, nas técnicas como nas artes, para a prática de atitudes e valores na convivência social local e planetária.

JP – Há diferenças no planejamento de aulas presenciais e a distância? Quais?

LF – São muitas as semelhanças e pouquíssimas as diferenças quando se reestrutura a educação incluindo-a na cultura digital. O que está acontecendo atualmente são apenas adaptações do ensino presencial à EAD. Urge que se iniciem pesquisas substanciais considerando desde o grande problema dos técnicos em desenvolver ambientes virtuais de aprendizagem, estruturados em rede, com distribuição de espaços tanto para alunos como para os professores, para garantir cooperação nos planejamentos e autoria nas produções. O que isto significa? Assegurar a liberdade para tentar e para errar, o tempo para discutir, refletir e replanejar, a distribuição das tarefas interdisciplinares em que o professor exerce as funções de mediador e não decide unilateralmente. O plano precisa considerar sempre diferentes pontos de vista, múltiplas perspectivas assegurando defesas contra a repressão e buscando a ampliação valorizando o investimento dos aprendizes. Os alunos podem participar na elaboração dos objetos de aprendizagem, na proposta de atividades criativas, desde o primeiro ano do ensino fundamental até o ensino universitário.

Isto não é o que está acontecendo. Precisamos repensar e ter a coragem para novas iniciativas. No Brasil temos, felizmente, acesso a esse novo conhecimento. Só precisamos valorizá-lo mais e experimentá-lo com critérios bem definidos.

Curso a distância promove a inclusão digital de professores

A educação a distância (EAD) é construída pela colaboração e troca de experiências e informações entre os educadores e alunos. Além de investir na qualificação dos docentes, contribui para a promoção da inclusão digital dos professores. Um exemplo de programa de EAD que tem dado certo e visa melhorar o ensino da matemática por meio de um método inovador é o Multicurso Ensino Médio – matemática.

Criado pela Fundação Roberto Marinho, há cinco anos, ele consiste em um programa de formação continuada para educadores. Desde 2008, o curso vem sendo aplicado no Espírito Santo e já foi realizado também em Goiás, entre 2004 e 2006. O trabalho dos grupos é desenvolvido e acompanhado também a distância, por meio de um ambiente virtual, que possibilita a comunicação contínua entre todos os participantes do programa.

De acordo com o professor Giovani Pröscholdt, coordenador de um grupo de estudos, a troca de experiências entre os participantes é fundamental. “É nesse momento de interação que realmente conseguimos verificar o quanto há profissionais que realmente se envolvem e se preocupam com a qualidade da educação”, completa.

Os momentos presenciais ocorrem nas reuniões dos grupos de estudo, com suporte de tutores. Além das reuniões, a equipe central e os tutores do programa promovem encontros nos chamados seminários periódicos com os coordenadores e suplentes dos grupos. Nessa ocasião, as experiências, os sucessos e as dificuldades vividas nos grupos de estudos são compartilhados e avaliados.

Uma equipe especializada acompanha todas as etapas do projeto para rever práticas e procedimentos e melhor atender aos beneficiados pelo programa. O objetivo é coletar o maior número possível de informações sobre sua aplicação e buscar o aperfeiçoamento, para dar conta das variáveis e necessidades pontuais do estado em que atua. O curso já recebeu cinco prêmios entre os anos de 2005 e 2010.

Segundo Pröscholdt, as atividades interativas a distância fortalecem e colaboram para a formação de uma rede de aprendizagem colaborativa. Ele afirma que a internet dinamiza o trabalho do professor, pois permite o acesso rápido às informações e possibilita a participação em debates, como uma ferramenta de troca de experiências. Também avalia que os educadores realizam atividades de formação, interagem com os demais envolvidos no programa e acessam diversos materiais relativos ao assunto de interesse.

(Assessoria de Comunicação da Seed/MEC)

Professora utiliza aulas do Portal do Professor,com alunos de licenciatura

Professora Abigail Vital

Há 25 anos no magistério, Abigail Vital de Góes Monteiro é professora do Centro Universitário Geraldo Di Biase (UGB), em Volta Redonda (RJ). Ela leciona a disciplina Laboratório de Prática Pedagógica, nos cursos de licenciatura. Especialista em Informática Aplicada à Educação, Abigail também atua como Multiplicadora do Núcleo de Tecnologia Educacional (NTE) de Volta Redonda, na capacitação de professores para o uso da informática na educação.

Segundo ela, em suas aulas no UGB procura promover a reflexão sobre a prática pedagógica, efetuando questionamentos sobre estratégias e teorias disponíveis e integrando o conhecimento à ação. Ela conta que as aulas do Portal do Professor são utilizadas por seus alunos como referência para a elaboração de situações didáticas que representam a culminância de um trabalho de pesquisa e reflexão desenvolvido ao longo do semestre.

Inicialmente, os estudantes fazem uma revisão de literatura sobre os diferentes aspectos de um conteúdo matemático escolhido por eles. Em seguida, eles entrevistam, nas escolas, professores e alunos do ensino básico que, por sua vez, apontam detalhes relevantes do processo ensino-aprendizagem desses conteúdos. “A partir dos dados coletados são propostas sugestões de aula que serão submetidas à análise pelos envolvidos e, finalmente, enviadas ao Portal do Professor”, explica Abigail.

Ela diz que, até o momento, o resultado do trabalho tem sido muito estimulante. “Através da análise e discussão de várias sugestões já publicadas no Portal por outros professores, os acadêmicos têm tido oportunidade de desenvolver uma visão crítica sobre a prática educativa, possibilitando sua transformação”, acredita a professora.

Masako Masuda: EAD democratiza acesso à educação

Professora Masako Masuda

A Presidente da Fundação Centro de Ciências do Estado do Rio de Janeiro (Fundação Cecierj), que abrange o Consórcio Centro de Educação a Distância do Estado do Rio de Janeiro (Consórcio Cederj), Masako Oya Masuda, diz que um benefício importante trazido pela educação a distância (EAD) de qualidade é a democratização do acesso à educação.

Ela destaca, ainda, o fato de a EAD atender pessoas sem acesso ao sistema universitário tradicional, o que permite melhores perspectivas de inserção no mercado de trabalho e realização profissional.

Jornal do Professor – Que análise a senhora faz da situação da educação a distância no Brasil, atualmente?

Masako Masuda – Creio que estamos em fase de implementação em escala nacional. É, portanto, fundamental a presença das instâncias de regulação governamentais, para que o processo aconteça com responsabilidade.

JP – Qual é a situação do Brasil, em comparação com outros países, quanto à oferta de cursos a distância?

MM – Neste aspecto, como uma alternativa universal de acesso à educação, estamos apenas começando. Esta modalidade já está implementada com sucesso em muitos países.

JP – Ainda há preconceito com relação a essa forma de ensino? De que tipo?

MM – Há sim preconceito tanto no meio acadêmico quanto na população em geral. Há por exemplo uma desconfiança de que possa ser uma forma de aligeiramento de formação, uma educação de baixa qualidade. Penso que estamos vivendo, neste primeiro momento, uma etapa natural de desconfiança em relação ao novo. Claro que tanto quanto no ensino presencial, podem existir cursos EAD de excelente qualidade e outros abaixo da crítica. É necessário separar o joio do trigo e a sociedade precisa ter acesso a esta informação. Neste ponto, a ação dos órgãos reguladores é fundamental para que tudo que não atinja padrões mínimos de qualidade seja corrigido. A melhor forma de vencer o preconceito será através da qualidade da formação dos egressos, cuja atuação profissional será avaliada pela sociedade.

JP – Quais os principais benefícios da educação a distância?

MM – Diria que um benefício importante trazido pela educação a distância (EAD) de qualidade é a democratização do acesso à educação. A principal característica da EAD é a flexibilidade que o estudante tem do ponto de vista de horário e local para estudar. Assim, tanto aquela pessoa que mora a muitas centenas ou milhares de quilômetros de uma universidade poderá estudar neste sistema, quanto aquele outro estudante que embora more num grande centro não pode assistir aulas durante quatro ou oito horas todos os dias porque trabalha para o sustento próprio ou de sua família ou precisa cuidar da casa, filhos etc. Ou seja, a EAD atende pessoas que jamais conseguiriam estudar no sistema tradicional das nossas universidades. Permite melhores perspectivas de inserção no mercado de trabalho e realização profissional para estas pessoas. Com isto, contribui em última instância para capilarizar o desenvolvimento social e econômico por todo o território e também através das camadas da população socialmente menos favorecidas.

Um outro benefício destacado pela grande maioria dos alunos que concluem nossos cursos é que esta modalidade desenvolve a capacidade de planejamento e disciplina visando metas claramente estabelecidas. Eles aprendem a administrar o tempo e são os atores do seu processo de aprendizagem. Com isto, tornam-se profissionais com mais autonomia. Eles se tornam também capazes de se manter em permanente aperfeiçoamento profissional. São características fundamentais do bom profissional no mundo atual.

JP – Qual a importância da educação a distância para a formação dos professores?

MM – Além das vantagens citadas na resposta à pergunta anterior, particularmente o desenvolvimento de autonomia, poderia incluir, neste momento, a vantagem da obrigatoriedade do aluno, futuro professor (na maior parte, atualmente, imigrantes no mundo digital) familiarizar-se com as tecnologias de comunicação e informação e consequentemente tornar-se capaz de utilizar os mesmos meios de comunicação com os quais seus alunos (mais jovens, nativos no mundo digital) convivem, tranquilamente, no seu dia a dia. Assim, o professor formado através da EAD poderá utilizar com segurança mais esta ferramenta como auxiliar no seu trabalho junto aos alunos.

Adicionalmente, a possibilidade de formar professores nos locais onde residem, permite que populações do interior possam ter professores com o mesmo background cultural regional, por efetivamente vivenciarem esta realidade, e portanto talvez mais capazes de contextualizar o novo conhecimento na vida dos alunos. Neste sentido, levantamento que estamos fazendo com os alunos egressos de nossos cursos de licenciatura indica que grande parte dos que fizeram concurso para professores se candidataram e foram aprovados nos próprios locais onde residem e estudaram e vão atuar profissionalmente nestes locais.

JP – Qual o perfil dos alunos de educação a distância?

MM – A média de idade dos nossos alunos no momento do ingresso é mais alta, quando comparado com alunos das mesmas universidades no sistema presencial; temos hoje alunos ingressantes de 17 a 60 anos. A maioria (cerca de 80%) trabalha pelo menos em tempo parcial; cerca de 60% deles sustenta a família ou contribui de forma significativa para tal e a maioria (cerca de 70%) concluiu o ensino médio há cinco ou mais anos, quando ingressam nos nossos cursos. Portanto,no nosso caso, tratamos com alunos trabalhadores, adultos, homens e mulheres, a maioria em seu primeiro curso superior. Temos como nossos alunos muitas donas de casa que pela primeira vez estão buscando uma profissionalização e que, ao ingressarem e conhecerem nossos cursos trazem seus maridos, filhos, outros parentes e vizinhos para a universidade.

JP – Como as tecnologias auxiliam no ensino a distância?

MM – A rápida popularização do uso das tecnologias de comunicação certamente é um auxiliar muito poderoso na EAD. As tecnologias de informação e comunicação permitem uma rápida e ampla comunicação entre os atores do processo ensino-aprendizagem-gestão na EAD, fator fundamental para o sucesso desta modalidade. Permitem, também, enormes possibilidades de interação, troca de experiências e produção intelectual colaborativa nos ambientes virtuais de aprendizagem. No entanto, pela característica desta linguagem pelo menos na forma atualmente em uso, penso que a educação a distancia não prescinde dos livros, didáticos ou não, clássicas fontes bibliográficas e no nosso caso, também do material impresso, onde os alunos buscam parcela importante dos subsídios que fundamentam suas reflexões e seus conhecimentos específicos num trabalho solitário, que constitui uma das etapas de aprendizagem.

JP – Como o mercado de trabalho recebe esses estudantes do ensino a distância?

MM – Não tenho uma avaliação objetiva sobre o tema, apenas relatos de casos. Há situações como a de uma prefeitura que, há cerca de três anos, excluiu egressos de cursos a distância em edital de concurso que selecionava professores da educação básica. Por outro lado há relatos de egressos que não tiveram dificuldade de serem contratados em empresas e instituições de pesquisa públicas e privadas, sem falar no enorme sucesso dos professores formados nas nossas licenciaturas, nos concursos públicos em diversas prefeituras e também do Estado do Rio de Janeiro. É também crescente o número de ex-alunos cursando pós-graduação strictu e lato senso em universidades e instituições de pesquisa públicas de reconhecida qualidade.

Assim, acho fundamental que haja um controle muito estrito da qualidade de todos os cursos (a distância e presenciais), através de avaliações periódicas, para que o cidadão possa, com tranquilidade, escolher a modalidade de educação que melhor se adeque a sua condição individual.

Saiba mais sobre a Fundação Cecierj/Consórcio Cederj