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JORNAL

Voluntariado na Escola

Terça-feira, 8 de Junho de 2010

Edição 40

EDITORIAL - Voluntariado na Escola

Em sua 40ª edição, o Jornal do Professor aborda o tema Voluntariado na Escola, que foi o preferido de 52,87% de nossos leitores.

Você vai conhecer diferentes experiências de trabalho voluntário desenvolvidas em escolas brasileiras: Colégio JK, de Brasília (DF); Colégio Sesi, de Londrina (PR); colégios Guilherme Dumont Vilares e Bandeirantes, de São Paulo (SP); e Escola Aurora Pedroso de Camargo, de Dourados (MS). E vai conhecer também a professora Ana Solange Müller, de Estrela (RS), que escreveu uma dissertação de mestrado sobre o tema As Campanhas de Voluntariado na Escola.

A entrevistada desta edição é a doutora em educação, Rejane Ramos Klein, professora da Unisinos e da rede municipal de Novo Hamburgo (RS). Em sua dissertação de mestrado sobre o tema Educação e voluntariado: uma parceria produtiva, Rejane Klein afirma que o trabalho voluntário na escola deve estar a serviço da proposta pedagógica da instituição, sem perder de vista a relação entre a proposta de ensino e a prática voluntária desenvolvida.

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Trabalho voluntário conjunto traz bons resultados

Grupo de pessoas pinta o meio-fio da calçada.

Ao assumir a direção da Escola Aurora Pedroso de Camargo, em Dourados, no Mato Grosso do Sul, em janeiro de 2009, a professora Denize de Moura Martins resolveu colocar logo em prática seus planos para a melhoria da instituição. Embora estivessem no período de férias, ela e um grupo de pais trabalharam muito, durante cerca de um mês, pintando salas, arrumando o jardim e colocando rampas de acesso.

Quando as aulas recomeçaram foi uma surpresa: a escola estava renovada. “Que transformação! Os alunos gostaram, os pais amaram e os professores se apaixonaram”, conta Denize. Segundo ela, que é pedagoga e se dedica ao magistério desde 1993, os professores, antes desanimados com o comportamento dos alunos e a falta de material, ficaram entusiasmados com a mudança ocorrida. Todos decidiram, então, que as melhorias na escola deveriam ter continuidade. Os recursos para isso são obtidos com a realização de festas beneficentes.

“Estamos transformando a escola a cada dia”, diz Denize, que vinha exercendo a coordenação pedagógica da Escola Aurora, desde o ano 2000, período em que aproveitou para observar quais as mudanças mais necessárias. Quando ela assumiu, a escola tinha 650 alunos da educação infantil e ensino fundamental. Atualmente são 725 matriculados. “Só de escolas particulares vieram 25 estudantes, em 2010. Foi uma demanda muito grande”, salienta Denize, para quem “o que se faz, é preciso fazer bem feito e com amor.”

De acordo com a professora do 4º ano do ensino fundamental, Márcia Sueli Figueiredo, que é pós-graduada em psicopedagogia, as melhorias ocorridas na escola, tanto físicas quanto pedagógicas, provocaram um aumento no rendimento escolar. “Hoje temos alunos interessados, participativos, comprometidos com os estudos e assíduos. As estatística confirmam esse crescimento”, salienta Márcia, que trabalha há 23 anos no magistério e há 21 anos nessa escola. Em 2008, a taxa de aprovação entre alunos do 1º ao 5º ano foi de 70% e entre os do 6º ao 9º ano, de 52,5%. Em 2009, o percentual de aprovados entre o alunado do 1º ao 5º ano chegou a 77,83%; entre os estudantes do 6º ao 9º ano atingiu o total de 82,51%.

“Observou–se também um grande entusiasmo dos alunos em participarem das atividades propostas pela escola, na conservação dos bens físicos, na disciplina e, principalmente, na demonstração de orgulho de serem taxados de alunos da Escola Aurora”, destaca Marcia. Em sua opinião, entre as principais melhorias pedagógicas ocorridas na Escola Aurora estão: os projetos de leitura e música; implantação da horta, que complementa a merenda escolar; cursos de capacitação para os professores; melhorias da biblioteca existente, com espaço físico para a educação infantil; e parcerias com universidades.

Todos pela Escola - Quanto às principais melhorias referentes ao aspecto físico, Márcia ressalta a reforma da escola, com pintura e construção de calçadas; a criação de duas novas salas de aulas reaproveitando espaços ociosos; a construção de um bicicletário com área específica e protegida; a revitalização da parte visual, com ajardinamento, cascata com peixes; além de estacionamento privativo para professores e funcionários. “Os Amigos da Escola trabalharam muito durante as reformas e ainda continuam trabalhando. A Escola Aurora hoje trabalha em equipe: todos pela escola”, salienta.

Para a professora Reassilva Stein Quast, que dá aulas do 6º ao 9º ano do fundamental, os alunos estão mais participativos, receptivos, e calmos. “Por ter diminuído a indisciplina, o aproveitamento dos alunos durante as aulas é maior, o que repercute na melhoria do aprendizado e pode ser observado através das notas”, diz Reassilva, que é formada em história, com especialização em história do brasil e está no magistério há 12 anos, cinco dos quais nessa instituição.

Na opinião da professora de educação artística, Rosana Sandri Frantz, que leciona do 2º ao 9º Ano, as mudanças realizadas nas dependências físicas da escola foram muito significativas e proporcionaram aos alunos uma maior motivação. “Ser aluno do Aurora, hoje, implica também em ter direitos e obrigações e em querer não parar de crescer”, acredita Rosana, que tem especialização em história da arte e está há 20 anos no magistério, sete deles no Aurora.

(Fátima Schenini)

Colégio insere trabalho voluntário no currículo

Foto mostra crianças lendo.

O trabalho voluntário nas escolas virou tendência e, hoje, muitas desenvolvem projetos nas mais diversas áreas com o objetivo de tentar fazer “um mundo melhor”. Em benefício do meio-ambiente, da comunidade, ou para a promoção da saúde, estudantes descobrem na doação de tempo, trabalho ou material, como colocar em prática o que aprendem na escola. Já os professores encontram uma forma mais prazerosa de trabalhar e garantem maior retorno dos alunos.

Foi com esses objetivos que o Colégio Guilherme Dumont Villares, em São Paulo, decidiu inserir o trabalho voluntário no currículo. Segundo a diretora Eliana Baptista Pereira Aun, no início da década de 1990 a escola implantou o Projeto Considere, com ações voltadas a alunos, família e comunidade, visando o comprometimento da escola com ações de cidadania e direitos humanos.

Depois, a escola mudou sua estratégia e decidiu fazer com que os alunos se tornassem protagonistas das ações. Para isso criou o Núcleo de Educação e Direitos Humanos (EDH), que inseria o voluntariado no currículo como atividade eletiva. As atividades têm caráter multidisciplinar onde alunos e professores desenvolvem a consciência solidária. “Temos a convicção de que cidadania e direitos humanos não devem ser encarados como disciplina ou conteúdo escolar, mas como práticas cotidianas de todas as disciplinas”, afirma Eliana.

O colégio tem 1.280 alunos no ensino infantil, fundamental e médio. Desse total, 264 estudantes do 8º ano do ensino fundamental ao 3º ano do ensino médio participam das atividades voluntárias. A diretora explica que a consciência voluntária é trabalhada desde o ensino infantil e estudantes do 1º ao 7º participam de ações dentro da escola, como produção de material de limpeza, de cobertores, entre outros itens que são doados para instituições. “É um trabalho conjunto. O aluno que desenvolve esse tipo de ação desenvolve mais o senso crítico-construtivo”, destaca Eliana.

Para um dos coordenadores do programa, professor Marcelo Cintra de Souza, o voluntariado na escola possibilita que tanto os alunos quanto os professores entrem em contato com outras realidades sociais e tomem consciência de que têm um papel na transformação da sociedade. De acordo com ele, a dinâmica do aprendizado obtém um novo sentido. “Várias disciplinas ganham a possibilidade de ampliação do conhecimento ao oferecer ao estudante uma situação concreta”, diz. Como exemplo, cita um projeto na área de química de fabricação de material de limpeza: “os alunos são levados para o laboratório da escola onde aprendem mais sobre as reações químicas e depois da fabricação, levam esses produtos para instituições”, conta.

Além desse projeto existem outros, como o de prevenção do câncer de mama, alem de oficinas de artes para crianças e idosos. “Todos os projetos partem da ideia de que aquilo que o aluno aprende é o que ele tem a oferecer para a comunidade e isso com o envolvimento de professores das mais diversas áreas”, ressalta Souza.

Os estudantes participantes ganham certificado de voluntariado. Não existe pressão ou obrigatoriedade para o cumprimento das atividades. “Eles aprendem o significado e a essência da palavra e doam o que julgam necessário. E não é pouco”, afirma o professor. De acordo com ele, os alunos descobrem a importância do voluntariado na vida de quem precisa e em suas próprias vidas. “É uma atividade importante para a carreira futura deles. Eles descobrem qual a profissão que querem exercer e ganham credibilidade no mercado de trabalho. Acaba sendo um ciclo virtuoso”, conclui.

(Rafania Almeida)

Escola de Brasília estimula atividades de voluntariado

Jovens e crianças fazem ginástica em quadra coberta.

Diversas atividades sociais voluntárias movimentam o Colégio JK, em Brasília, no Distrito Federal, a fim de estimular o protagonismo juvenil e o voluntariado educativo entre os estudantes do 6º ano do ensino fundamental ao 2º ano do ensino médio. Elas foram inseridas na instituição, há cinco anos, por iniciativa da coordenadora pedagógica Maria das Graças de Castro Gírio, diretora do Centro de Cultura, Educação e Cidadania JK.

“O voluntariado é uma opção para a transformação do jovem protagonista, capaz de escolher, decidir, agir e assumir responsabilidades”, acredita a professora maria das Graças, que atua no magistério há 39 anos, 20 dos quais no Colégio JK. A participação dos alunos é totalmente voluntária. “Não vale nota ou conta pontos. Para nós isso é um dos pontos positivos,” ressalta.

Ela explica que os alunos são convidados a participar de uma reunião inicial sobre voluntariado, quando tomam conhecimento dos programas e assistem vídeos com ações já realizadas. “A partir daí fazem a sua escolha”, diz. Em sua opinião, a escola é um local privilegiado, onde podem ser criados espaços para o jovem poder descobrir suas motivações a partir da ação. “Não podemos esquecer de que a solidariedade está ligada à educação”, destaca.

Em 2009, a instituição desenvolveu atividades na Creche Anjo da Guarda, que acolhe filhos de detentos do Penitenciária de Brasília, no DF. Em 2010, a escola está desenvolvendo dois programas de voluntariado: Portas Abertas- Cidadania em Ação e Jovens Voluntários nas Trilhas da Cidadania. O programa Portas Abertas, voltado a escolas da rede pública de São Sebastião, é realizado na Escola Classe 104 daquela cidade satélite. “O foco é a realização de trabalhos em prol de comunidades carentes estimulando, apoiando e realizando projetos e ações objetivando a diminuição da desigualdade social”, explica a professora Graça.

Ações – O programa é formado por quatro projetos: Maria Maria, atende mães e avós de estudantes. As ações incluem aulas de ginástica e dança, palestras sobre temas de interesse, como planejamento familiar e relacionamento entre pais e filhos, além de oficinas diversas, como culinária, tricô, crochê, e cabeleireiro. Cidadãos do Presente, para jovens da faixa etária de 14 a 19 anos, oferece atividades de lazer, como dança, teatro, e pintura, bem como oficinas e cursos de capacitação para o mercado de trabalho, como aulas de informática e etiqueta. Janela Cultural possibilita que alunos de 9 a 13 anos se familiarizem com a cultura, por meio de música, teatro e outras linguagens artísticas. E o projeto Abracadabra pretende familiarizar crianças de 4 a 8 anos com várias práticas educativas, tais como ouvir e contar histórias, dançar, cantar, e dramatizar.

A cada encontro, realizado dois sábados por mês, é montado um cronograma com as atividades que serão realizadas e quais os responsáveis por elas. Os voluntários saem do colégio às 7h20 min e retornam às 12h, em um ônibus pago pela própria escola, que também colabora com o lanche para os participantes.

O programa Jovens Voluntários nas Trilhas da Cidadania é integrado pelos projetos: Rádio Escolar, SOS Planeta Terra, Abracadabra, e Janela Cultural. Seu objetivo é preparar os jovens para o exercício da cidadania e a atuação positiva na comunidade, oferecendo espaços para vivências e práticas de solidariedade.

“Desde que comecei a participar dos projetos sociais muita coisa mudou em minha vida. Passei a olhar para as crianças e suas necessidades de uma outra forma, melhor”, diz a estudante Júlia Gonçalves, do 9º ano. Na opinião da aluna do 8º ano, Eliza Maria Queiroz Oliveira, todo jovem deveria participar desse tipo de experiência. “É uma oportunidade de conhecer outra realidade”, acredita.

Para Isabela Lima Dourado, do 1º ano do ensino médio, é maravilhoso participar dos projetos sociais. “Aprender, ensinar e receber sorrisos é indescritível, não há nada melhor”, justifica. Já Willian Malaguti, do 2º ano do ensino médio, sente-se extremamente gratificado. “Mudou completamente minha visão sobre os grupos mais necessitados. Consigo ver agora que as crianças que atendemos na escola pública, precisam muito de ajuda e de carinho”.

(Fátima Schenini)

Voluntariado na escola colabora para reintegrar detentos

Tudo começou durante uma aula de física, quando um aluno estourou uma caixa de leite tetrapak. O professor aproveitou a oportunidade para estimular os estudantes a analisarem o material da caixa e estudarem a possibilidade de sua utilização como isolante térmico. A partir desses estudos, os alunos do Colégio do Serviço Social da Indústria (Sesi), em Londrina, no Paraná, produziram mantas que foram instaladas nos tetos de casas localizadas na periferia da cidade, reduzindo em cerca de 50% a temperatura do ambiente.

Segundo a coordenadora da escola, Mari Clair Moro Nascimento, a intenção do projeto não estava só na montagem das mantas, mas também no estímulo aos alunos para que tomassem conhecimento de outras realidades. Com os ótimos resultados obtidos, os pedidos de mantas começaram a aumentar e foi feita uma parceria com o Centro de Detenção e Ressocialização de Londrina. Com isso, os detentos aprenderam a confeccionar as mantas para serem instaladas nas casas de famílias carentes. Assim, além de possibilitar o contato dos alunos com a realidade carcerária, o projeto ajuda a promover a reintegração dos detentos na sociedade.

O trabalho foi desenvolvido apenas por alunos voluntários, pois não houve nenhum vínculo com notas ou qualquer outro reforço, a não ser a vontade de fazer. Cerca de 18 alunos do ensino médio estiveram envolvidos diretamente na montagem das mantas. A arrecadação das caixas de leite foi feita por aproximadamente 400 estudantes da educação infantil e do ensino fundamental.

Participar de outras realidades permitiu a esses alunos conhecerem situações diferentes do que estão acostumados a viver na escola. O que possibilitou a análise crítica, a conscientização e o desenvolvimento da criatividade nos estudantes.

Na opinião de Mari Clair, é preciso que os professores estimulem os alunos a serem voluntários. Para isso, é preciso que eles estejam envolvidos e se sintam parte do assunto que está sendo estudado. De acordo com ela, envolver o estudante é uma das formas que possibilita a sua conscientização a fim de que o professor e os alunos possam propor soluções para modificar uma situação ou realidade. “Para ser voluntário não se deve esperar um retorno. O aluno participa do projeto porque acha interessante e quer ajudar”, acredita.

(Assessoria de Imprensa da Seed/MEC)

Alunos de escola particular ensinam inglês para alunos carentes

Sandra Braid e grupo de alunos na sala de aula.

Estudantes do ensino médio de um colégio tradicional de São Paulo participam de um projeto de trabalho voluntário que tem dado bons resultados. São alunos do Colégio Bandeirantes, de São Paulo (SP), que dão aulas de inglês a alunos carentes. O projeto é coordenado pela professora Sandra Braid, que leciona inglês no 8º e no 9º ano do ensino fundamental e no segundo ano do ensino médio.

Os beneficiados são alunos do próprio colégio, bolsistas do Instituto Social Para Motivar, Apoiar e Reconhecer Talentos (Ismart), entidade que oferece bolsas de estudos a jovens de baixa renda com alto potencial acadêmico. Estes estudantes, que em geral ingressam no 8º ano, no final do 9ª ano terão que participar de uma prova de seleção para ingressarem no ensino médio, com conteúdos de português, matemática e inglês. “Como inglês é a matéria que apresentam mais dificuldade em atingir o nível desejado - low-intermediate -, pensamos neste curso extra ministrado pelos nossos alunos do ensino médio”, explica Sandra, há 28 anos de magistério, 13 dos quais no Colégio Bandeirantes.

De acordo com a professora, os alunos que atuam como professores são escolhidos em primeiro lugar por ela e outros colegas através do contato em sala de aula. São observados aspectos como: proficiência em língua inglesa e inteligência emocional, principalmente, no que diz respeito às habilidades intra e interpessoais. “Vejo que os alunos-bolsistas chegam ao ensino médio bem mais seguros e já não necessitam de acompanhamento dos monitores. Conseguem excelentes notas no “vestibulinho” e estão colocados nas melhores classes, destaca.

Segundo Sandra, que tem licenciatura em língua inglesa, especialização em tecnologia em educação, e mestrado em literatura inglesa, o trabalho voluntário que realiza com seus alunos não está vinculado a qualquer tipo de avaliação curricular ou nota. “Existe uma autoavaliação do trabalho e da equipe, mas somente como instrumento para melhoria do nosso trabalho”, salienta. Ela conta que, no final de cada ano, organiza uma festa de confraternização com todos os voluntários, onde compartilham histórias, depoimentos e sensações. “Então percebo como eles ganharam muito mais do que doaram”, enfatiza a professora.

(Fátima Schenini)

Trabalho voluntário nas escolas é importante como exercício da cidadania

As Campanhas de Voluntariado na Escola foi o tema escolhido pela pedagoga Ana Solange Muller para o desenvolvimento de sua dissertação de mestrado em educação, em 2008. A pesquisa foi feita no Instituto de Educação Cenecista General Canabarro, no município de Teutônia (RS). O interesse surgiu devido ao número crescente de convites que a instituição recebia para participar de campanhas, muitas delas visando o voluntariado.

Ela procurou, então, estudar esse movimento, suas implicações na prática escolar, e o que leva a sociedade a estimular as escolas a se envolverem com cidadania e voluntariado organizado. “O estudo está em aberto – as conclusões se dão de acordo com as lentes que usamos para ver”, diz Ana Solange, que se dedica a estudos na área da educação há 15 anos.

Em seu trabalho, ela procurou analisar o discurso dos enunciados que articulam educação, voluntariado e cidadania na escola, fortalecendo o voluntariado organizado. “Para discutir estes conceitos, tomei como ferramentas analíticas a teorização foucaultiana, especialmente os conceitos de discurso, biopoder e biopolítica”, explica Ana Solange, que tem especialização em psicopedagogia institucional e clínica e trabalha atualmente na Escola Básica e Técnica do Colégio Santo Antônio, em Estrela (RS), como coordenadora. Além disso, ela leciona em uma instituição que oferece cursos de pós-graduação na área de psicopedagogia.

Segundo Ana Solange, ao pensar em cidadania ela pensa em voluntariado como conceitos e ações que estão em constituir-se, em fazer-se. Para ela, o trabalho voluntário nas escolas é importante como um exercício à cidadania - seja local ou global. “Viver o exercício de tal cidadania possibilita a professores e alunos estar em uma ordem discursiva pela vida, pelo cuidado à vida, e assim pela sustentabilidade do planeta”, acredita.

Para a realização de sua dissertação, ela pesquisou e estudou o trabalho realizado pela Organização Não Governamental (ONG) Parceiros Voluntários, que tem uma ação chamada Tribos nas Trilhas da Cidadania, que conta com a adesão de mais de 80 mil alunos da escola básica.

(Fátima Schenini)

Dinamizadora escolar trabalha com alunos e professores

Professora Hellen Castro e alunos no laboratório de informática.

Dinamizadora na Escola Municipal de Educação Fundamental Rosalina Borges, em Rio Verde, Goiás, a professora Hellen Ferreira dos Santos Castro atua no laboratório de informática da instituição, desde 2009. Além de atender alunos ela é responsável pela área de tecnologia da escola. “Sou uma dinamizadora que está à disposição dos alunos e professores para retirar todas as dúvidas e resolver possíveis problemas que venham a ocorrer durante a utilização dos computadores e demais recursos”, adianta.

De acordo com Hellen Castro, a utilização das tecnologias na escola e na sala de aula dá uma abertura ao mundo, permitindo articular situações global e local sem perder o universo dos conhecimentos acumulados ao longo da vida. “No laboratório da nossa escola são usados outros recursos além do computador, como televisão conectada ao computador, data show, DVD, retroprojetor e aparelho de som”, explica a professora, que fez o curso de Tecnologias na Educação: Ensinando e Aprendendo com as Tecnologias de Informação (TIC), no Núcleo de Tecnologia Educacional de Rio Verde.

Formada em letras, antes de assumir o laboratório de informática ela atuava nos anos iniciais do ensino fundamental, dando aulas de todas as disciplinas. “Escolhi o magistério porque sempre desejei trabalhar com crianças. É onde podemos observar o crescimento diário das pessoas”, destaca.

Segundo Hellen Castro, o dinamizador é o responsável pela capacitação de outros professores no processo de integração das mídias na unidade escolar, orientando-os nas atividades contidas no plano de aula. “Procuramos trabalhar com as mídias digitais de forma contextualizada e positiva, dispondo de mais instrumentos para a formação dos alunos”, assinala.

Em sua opinião, embora as mídias estejam presentes na vida dos professores, ainda se percebem dificuldades em seu uso nos contextos educacionais. Quanto aos estudantes, diz que eles têm mais facilidade em incorporar as mídias utilizadas na escola. “Gosto do que faço. É muito bom. E sempre estou voltada aos quatro pilares da educação: aprender a conhecer; aprender a fazer; aprender a viver com os outros; aprender a ser. Assim aprendo a amar o que faço e a fazer bem feito”, ressalta.

(Fátima Schenini)

Trabalho voluntário deve estar a serviço de proposta pedagógica

Foto da professora Rejane Klein

 

Pedagoga, com mestrado e doutorado em educação, Rejane Ramos Klein atua no magistério há dez anos. Atualmente, ela leciona na Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos), em São Leopoldo (RS), onde dá aulas no curso de especialização em educação especial. Na Escola Municipal de Ensino Fundamental Dr. Antonio Bemfica Filho, em Novo Hamburgo (RS), trabalha com alunos do 5º ano do ensino fundamental.

Em sua dissertação de mestrado sobre o tema Educação e voluntariado: uma parceria produtiva, Rejane Klein diz que as ações voluntárias na escola possibilitam um maior relacionamento dos alunos com seu contexto social, mas é preciso analisar de forma coletiva as implicações de assumir no currículo escolar aquilo que outros dizem que é importante de ser trabalhado com os alunos. Em sua opinião, as participações dos estudantes podem ser intensas quando os objetivos forem coletivos, pois terão partido deles também e não vindos apenas de fora, por sugestão de outros.

Para ela, o trabalho voluntário na escola deve estar a serviço da proposta pedagógica da instituição, sem perder de vista a relação entre a proposta de ensino e a prática voluntária desenvolvida.

Jornal do Professor - O que a levou a desenvolver essa tese? Quais os principais resultados ou conclusões obtidos?

Rejane Klein – O que me levou a desenvolver essa tese foi meu envolvimento com a área da educação, desde a minha graduação, quando atuei em uma instituição que recebia professores voluntários para trabalhar em oficinas que funcionavam como complementares ao currículo da escola regular. Já no trabalho de conclusão de curso, iniciei minhas análises sobre a temática do voluntariado e sua relação com a educação, dando continuidade logo em seguida, no mestrado em educação.

Nesse último estudo analisei dois programas de voluntariado que tinham relação com a escola: “Tribos nas trilhas da cidadania”, da instituição Parceiros Voluntários e “Selo Escola Solidária”, instituição Faça Parte. A partir do objetivo da pesquisa, que era analisar os discursos que articulam a educação e o voluntariado, busquei compreender os mecanismos que criam as condições necessárias para a materialização de certa cultura do voluntariado na escola. Descrevi e analisei os procedimentos utilizados por esses dois programas, os quais sensibilizam as escolas, os professores e os alunos, produzindo determinados saberes e capacidades que se colocam como críticos à sociedade neoliberal, mas que, ao mesmo tempo, podem estar a seu serviço.

Nesse sentido, pode-se dizer que os resultados encontrados apontam para uma necessidade de problematização das práticas voluntárias que são realizadas nas escolas, as quais geralmente são vistas apenas em termos de benefício que possibilita aos envolvidos em tal prática, mas deixa de fora outras análises que tratam das condições históricas, políticas, econômicas que embasam essa lógica do voluntariado em nossas sociedades contemporâneas.

Outro resultado importante foi perceber que a escola tem sido colocada muitas vezes, no lugar de “salvadora”, ou de resolução dos problemas sociais e, por isso, as práticas de voluntariado eram tão incisivamente direcionadas ao currículo escolar, priorizando determinados conhecimentos, valores e atitudes dos sujeitos que poderiam levá-los a uma maior autonomia, responsabilidade, engajamento, etc. Portanto, não se trata de ser contra a essas práticas, até porque elas possibilitam maior relação dos alunos com seu contexto social, mas é preciso analisar coletivamente, enquanto escola, as implicações de assumir no currículo escolar aquilo que dizem ser importante de trabalhar com os alunos (KLEIN, 2005).

JP – A senhora desenvolve algum projeto de voluntariado em sua escola?

RK - Atualmente direcionei meus estudos para o tema da avaliação e do currículo, pensando sobre os alunos que têm sido reprovados na escola. Não me detive mais nessa questão do voluntariado, ainda que a perceba presente em muitas de nossas práticas escolares. Em minha escola não há nenhum projeto de voluntariado, mas vejo muitas escolas assumirem tais projetos porque são sugeridos como bons, ou como aqueles que deram resultado em algum contexto. O problema está em querer aplicar projetos modelos nas escolas sem ser esse o objetivo que pauta aquela comunidade escolar. Então, acredito que pequenos projetos, quando nascem de alguma necessidade do grupo escolar, sejam professores, alunos, ou mesmo comunidade, devem ser incentivados para aquela escola e não servir de cópia para outras. Assim, as participações dos estudantes podem ser intensas porque terão objetivos coletivos, os quais partem deles também e não vindos apenas de fora, sugeridos por alguém.

JP - Em sua opinião, qual é a importância de se realizar trabalho voluntário nas escolas? Quais os benefícios que ele pode trazer para os alunos envolvidos?

RK - Conforme mencionei nas questões anteriores, o trabalho voluntário não pode ser analisado apenas em termos de benefícios para os alunos envolvidos. Certamente há benefícios significativos, porém devemos considerar que com esse tipo de trabalho muitas vezes também estamos assumindo outras funções que transcendem o nosso papel que deve estar mais atrelado às questões do conhecimento. A lógica atual de minimização do papel do Estado tem auxiliado na proliferação dessas práticas voluntárias e, principalmente, dessas desenvolvidas e assumidas pelas escolas e por seus currículos. Nas escolas que analisei (envolvidas com a instituição Faça Parte), as que desenvolvessem o voluntariado eram premiadas com um “Selo Escola Solidária”. Então é preciso que seja analisada essa lógica de competição. Proporcionar momentos em que se pode pensar em quais são os objetivos de se desenvolver esse tipo de trabalho na escola parece ser fundamental. Quando essas questões são consideradas e também discutidas com os alunos, podemos sim, desenvolver com eles certas práticas que possam fugir a essa lógica de competição e possibilitar que o ensino e o saber não fique apagado na escola em detrimento de práticas que apenas priorizam o fazer.

JP - O voluntariado na escola deve ser uma atividade obrigatória, integrante do currículo ou opcional?

RK - Quando são assumidas em seus currículos, as práticas voluntárias já ganharam uma dimensão de obrigatoriedade, a qual deve perpassar todas as disciplinas e tudo o que se faz na escola. Então esse é um cuidado importante de se tomar antes de regulamentar essa prática. Quando ela é opcional às escolas, deixa em aberto a possibilidade de nascer um projeto que tenha significado àquela comunidade escolar e não se impõe a todos que desenvolvam algo apenas porque dizem ser importante. Uma das práticas que mais apareceu nos materiais que analisei foram aquelas em que os alunos com dificuldade de aprendizagem recebiam a ajuda de outros alunos (voluntários) que se dispunham a ajudá-los em momentos específicos, organizados pela escola. Se pegarmos esse exemplo como uma prática obrigatória dentro da escola, talvez se perca o objetivo de possibilitar trocas maiores entre os alunos a partir de diferentes propostas, porque estaria dentro de uma obrigatoriedade, em que necessariamente a superação das dificuldades deveria ocorrer como resultado dessas práticas, ou seja, os alunos voluntários seriam cobrados por isso, pois estariam desenvolvendo uma prática regulamentada.

JP - Há algum tipo de atividade voluntária mais apropriada para ser desenvolvida por estudantes?

RK - Penso que não se deva de antemão determinar quais tipos de práticas os alunos poderiam desenvolver. Dessa forma estaremos limitando o que é potencialmente pedagógico aí, que é justamente o envolvimento dos alunos no desenvolvimento dessas práticas, desde a sua criação até a sua execução. Ainda assim, mesmo com esse envolvimento dos alunos não se pode perder de vista a intencionalidade pedagógica, ou seja, ao propor para os alunos que desenvolvam certas práticas, o que elas têm a ver com aquilo que o professor está trabalhando em sala de aula de forma a não perder de vista a relação entre a proposta de ensino e a prática voluntária desenvolvida. Quanto mais houver essa relação, mais essa prática pode tomar uma outra posição na escola: aquela que está a serviço de uma proposta pedagógica.

JP – O trabalho voluntário pode ser realizado por estudantes de qualquer faixa etária?

RK - Conforme mencionei acima em relação à prática a ser desenvolvida, o mesmo serve para pensar em relação ao estabelecimento de uma idade adequada. Desde que esteja dentro de uma proposta de ensino, não pode haver limitações como estas. As práticas podem diferenciar-se conforme as idades, mas não podem deixar de ocorrer porque nós professores delimitamos que apenas alguns teriam condições de realizar.

JP - A senhora tem conhecimento do número de Estados brasileiros que possuem escolas que realizam atividades desse tipo? Ou do percentual de escolas brasileiras que participam de atividades voluntárias?

RK - Penso que hoje são muitas as escolas que se envolvem com essas práticas voluntárias. Elas passaram a ser incorporadas pelas escolas principalmente com a entrada do trabalho das Organizações não-governamentais (ONGs). Não tenho um percentual tão exato, mas conforme analisei em minha pesquisa, há uma certa cultura do voluntariado sendo disseminada em todas as áreas, portanto a escola não está alheia a isso. Ao contrário, as escolas tendem a assumir esse discurso como benéfico até porque os recursos públicos estão cada vez mais escassos, sendo que um projeto como o do “Amigos da Escola”, por exemplo, é sempre bem vindo. Nas duas instituições que analisei, uma do Estado do RS e outra do Estado de SP, havia um número altíssimo de escolas envolvidas.

JP – A senhora tem conhecimento de experiências desse tipo em escolas de outros países?

RK - O que é possível perceber é que essa lógica de voluntariado não existe apenas aqui no Brasil. Ela é fortemente desenvolvida, principalmente, nos EUA e tem sido muito copiada por nós brasileiros. O I Congresso Brasileiro do Voluntariado, realizado no Estado de São Paulo em julho de 2001, apresenta essa aliança entre a escola e o voluntariado como uma necessidade.

Desta forma é que se justifica e tem se tornado inquestionável essa parceria entre organizações não-governamentais, o Estado e a sociedade civil para que juntos possam mobilizar recursos, energias, habilidades e competências para estender a educação a todos.

Muitos estudos também reafirmam esses discursos que aliam as práticas voluntárias ao meio escolar, aparecendo poucas problematizações de alguns elementos econômicos e políticos envolvidos. Além disso, o desenvolvimento dessas práticas é colocado como uma forma possível de melhorar o processo educativo, como um espaço de construção da cidadania ou, ainda, como uma possibilidade de transformar “a realidade social”.