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JORNAL

Semana Nacional de Ciência e Tecnologia-2010

Terça-feira, 9 de Novembro de 2010

Edição 46

EDITORIAL - Semana Nacional de Ciência e Tecnologia-2010

A 46ª edição do Jornal do Professor trata da Semana Nacional de Ciência e Tecnologia – 2010.

Nesta edição, você vai saber mais sobre esse evento que vem sendo promovido desde 2004, em todo o Brasil, pelo Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT). Mostramos aqui algumas experiências apresentadas em Brasília, por professores e alunos do Centro Educacional Adventista Milton Afonso (Ceama), do Plano Piloto; do Centro de Educação Fundamental 03, de Planaltina; e do Instituto Federal de Brasília, integrante da Rede Federal de Educação Profissional e Tecnológica.

Nosso entrevistado é o professor e pesquisador Isaac Roitman, secretário regional da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, no Distrito Federal, que coordena o Grupo de Trabalho de Educação da SBPC.

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Durante uma semana, milhares de atividades ajudaram a popularizar a ciência

Estudantes visitam estande.

A edição 2010 da Semana Nacional de Ciência e Tecnologia (SNCT), realizada em todo o país no período de 18 a 24 de outubro, ofereceu mais de 13 mil* atividades. Participaram do evento, que teve como tema Ciência para o Desenvolvimento Sustentável, aproximadamente 700* instituições ligadas à ciência e tecnologia, em 395* municípios.

Criada em 2004, a SNCT tem como principal objetivo a mobilização da população, principalmente crianças e jovens, em torno de temas e atividades de ciência e tecnologia, a fim de valorizar a criatividade, a atitude científica e a inovação. Desde que foi criado, o evento já promoveu cerca de 63 mil atividades.

Em Brasília, cerca de 70 instituições participaram da exposição da SNCT, realizada no canteiro central da Esplanada dos Ministérios. Escolas, instituições de ensino e pesquisa, Exército, Marinha e Aeronáutica estiveram entre as entidades participantes. Um dos estandes que mais despertou a atenção foi o do Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (Ibict), que apresentou a mostra Canto das Aves – Aves do Planalto Central: indicadores de biodiversidade. Além de escutar o canto dos pássaros, o visitante podia ver ilustrações e textos explicativos sobre as aves do cerrado.

Outro estande que provocou bastante interesse foi o da Universidade de Brasília (UnB), por apresentar grande variedade de temas. No local era possível participar, por exemplo, de jogos pedagógicos com fins vocacionais ou profissionais; escutar o som de um terremoto, vivenciando a experiência como se estivesse no local; ou participar de oficinas sobre origamis.

A SNCT é coordenada pelo Ministério da Ciência e Tecnologia, por meio do Departamento de Popularização e Difusão de C&T, da Secretaria de C&T para a Inclusão Social. O evento é apoiado pela Financiadora de Estudos e Projetos (Finep/MCT) e pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq/MCT).

(Fátima Schenini, com informações do MCT - republicada com correções)

* Os dados ainda estão em fase de consolidação.

Trabalhos apresentados em exposição foram feitos pelos próprios alunos

Vista do estande do Ceama

Quem visitou o estande do Centro Educacional Adventista Milton Afonso (Ceama) durante a Semana Nacional de Ciência e Tecnologia 2010, em Brasília, certamente ficou impressionado com as partes do corpo humano que faziam parte da exposição: bem coloridos, lá estavam, entre outros órgãos, o coração, pulmões, boca e língua, feitos pelos próprios alunos.

“Todos os experimentos apresentados foram feitos de material reciclável, como papel, plástico, latas, sucata de computadores, fios, tubos e conduítes”, explica o professor Flávio Franco Nascimento, coordenador pedagógico do 6º ano do ensino fundamental até o ensino médio. Os materiais eram levados para a escola, pelos alunos, depositados em recipientes colocados nas salas de aula e recolhidos, uma vez por semana, pelos professores. “A escola entrou no clima da sustentabilidade durante todo esse ano”, diz.

De acordo com o professor de biologia, Maximiliano Rinco Lopes, a preparação para o evento deu muito trabalho. “Os alunos ficavam no turno contrário, preparando os experimentos com nossa supervisão”, relata. Foram selecionados os trabalhos considerados melhores pelos próprios alunos “Esses trabalhos nos ajudaram a colocar em prática nossas aulas e contribuíram para a Semana de C&T”, acredita o professor, que dá aulas para alunos do 1º ano ao 5º ano do ensino fundamental e também do ensino médio.

Segundo o coordenador pedagógico, a área de ciência e tecnologia é muito valorizada no Ceama não apenas por meio da infraestrutura oferecida, com um laboratório amplo e equipado, mas também pelo estímulo que é dado pelas aulas práticas de disciplinas como química, biologia, física, matemática, entre outras, além de projetos coletivos e interdisciplinares. “Isso também é feito em nossas capacitações coletivas ou por área do conhecimento, dando condições e preparando nossos professores para o ofício prático de lecionar”, destaca Flávio Nascimento.

Os alunos têm contato com o laboratório, em aulas especiais laboratoriais, desde o primeiro ano do ensino fundamental até o terceiro ano do ensino médio. O local pode ser utilizado pelos professores, no horário matutino, mediante agendamento. “Procuro, sempre que possível, utilizar o laboratório em minhas aulas, experimentando a teoria na prática. Os alunos adoram as aulas práticas e participam sem restrições, colocando a mão na massa”, diz o professor Maximiliano. À tarde, o espaço do laboratório abriga oficinas especiais como a de Robótica e o Clube de Ciências.

Criado, em 2009, o clube é um lugar de encontro de alunos interessados pela ciência. “O objetivo é despertar nos sócios o interesse pela pesquisa e pelo conhecimento científico, além de desenvolver habilidades relacionando os conteúdos teóricos vistos na sala de aula, com a prática, através de ações ligadas ao meio onde estão inseridos”, salienta Flávio Nascimento. Participam estudantes do 5º ano do fundamental ao ensino médio, sendo a maior parte formada por alunos do 9º ano e do 1º ano do ensino médio.

Em funcionamento há 40 anos, o Ceama tem, atualmente, cerca de 650 alunos matriculados da educação infantil ao ensino médio. E além das aulas práticas, os estudantes participam de muitas outras atividades como os projetos de desenvolvimento sustentável e de meio-ambiente - recolhimento de pilhas, baterias, lâmpadas fluorescentes, latas, garrafas, e papel, em parceria com empresas de Brasília. Eles também realizam visitas a órgãos e entidades da Universidade de Brasília, como os museus de astronomia, botânica, e geofísica, e a empresas de reciclagem.

(Fátima Schenini)

Móveis e produtos de higiene e limpeza são destaque em escola de Planaltina

Alunos preparam material durante a exposição.

“Sempre que vou preparar uma aula, procuro imaginar como aqueles conceitos teóricos irão ajudar na vida cotidiana do meu aluno ou de seus familiares”, diz o professor Fábio Alves de Aguiar, professor de física e química em Planaltina, cidade satélite do Distrito Federal. Licenciado em química e cursando bacharelado em enfermagem, desde 2008 ele leciona no Centro de Educação Fundamental 03, localizado no bairro de Buritis 2.

Uma de suas preocupações, desde que ingressou no magistério, é o desenvolvimento de projetos voltados à resolução de demandas da comunidade onde a escola está inserida. Tratamento de água, reciclagem de lixo, reaproveitamento de alimentos, e reutilização de garrafas pet para a fabricação de sofás e pufes, são alguns dos itens que fazem parte desses projetos. Entre os trabalhos que desenvolve ao longo do ano letivo, estão a produção de detergentes, sabonetes, e desinfetantes e a coleta seletiva de óleo de cozinha. Os produtos são feitos no laboratório da escola, no horário inverso ao das aulas.

Em 2009, com o alastramento da chamada gripe suína, o professor deu início à produção de saneantes. “Sentimos a necessidade de aumentar os recursos da escola para combater o vírus H1N1”, justifica. Segundo ele, nesse mesmo momento foi lançado na escola um programa de higiene pessoal, focado tanto na lavagem técnica das mãos e antebraços quanto nas formas de contágio.

Esses materiais feitos na escola – tanto os produtos de higiene e limpeza quanto os móveis feitos com garrafas pet – foram apresentados na exposição da Semana Nacional de Ciência e Tecnologia 2010, em Brasília. Para Fábio, o que mais atraiu a atenção do público foi a produção de detergente e sabonete líquido. “Acredito que o público não esperava que “crianças” do ensino fundamental manifestassem interesse por conhecimentos dominados pelos adultos”, ressalta o professor, que acrescenta ainda o baixo custo de toda a produção como outro fator de interesse.

Ele explica que o CEF 03 procura se inscrever em todas as feiras de ciências e amostras culturais das quais tem conhecimento, mas essa foi sua primeira participação em um evento do nível da Semana Nacional de C&T. “Representou uma realização profissional e acima de tudo pessoal”, salienta. De acordo com o professor, ele ficou emocionado com os depoimentos de diversos alunos, de que, finalmente, descobriram a motivação e o objetivo para os estudos, seja nas ciências exatas ou na ciências humanas: “não posso afirmar que cumpri a minha missão, mas que plantamos um sonho e certamente iremos colher vencedores”.

Já a diretora, Rita Martins de Godoi, acredita que poder mostrar o trabalho desenvolvido na escola em um evento como esse é um grande privilégio, visto que a escola atende uma comunidade muito carente e está inserida em um bairro considerado violento. “A escola é sempre vista com receio por quem não conhece sua realidade e ser percebida de forma diferente, por um bom trabalho desenvolvido é uma oportunidade de demonstrar que a educação é caminho de transformação e inserção social”, defende Rita, que é formada em matemática e em pedagogia.

(Fátima Schenini)

Rede federal oferece primeiro curso de dança no Centro-Oeste

A partir de uma pesquisa de opinião com a comunidade do Distrito Federal, o Instituto Federal de Brasília (IFB) verificou que uma das principais carências na oferta de cursos era na área de dança. A partir disso, em julho deste ano a instituição lançou o primeiro curso de dança do Centro-Oeste com o objetivo de formar professores. A iniciativa inédita foi apresentada na sétima edição da Semana Nacional de Ciência e Tecnologia, que aconteceu de 18 a 24 de novembro, na capital federal.

De acordo com a mestre em arte pela Universidade de Brasília e professora do novo curso, Cínthia Nepomuceno, o mercado de trabalho na área de dança tem se ampliado e, por esse motivo, está havendo uma maior procura por um curso voltado para esse fim. Para ela, que é apaixonada por arte desde pequena, a dança tem o poder de transformar a vida, contribuindo para o físico e psicológico. “A dança, além de outras coisas, nos ajuda a adquirir uma consciência maior do nosso corpo”, diz Cínthia Nepomuceno, que é professora de dança há mais de 20 anos e, atualmente, faz doutorado em arte na Universidade de Brasília (UnB).

A professora revela que a nova licenciatura tem foco nas danças contemporâneas e brasileiras, mas que os alunos também estudam as danças clássicas e folclóricas. Durante oito semestres, que incluem aulas práticas e teóricas, os estudantes aprendem sobre a fisiologia do corpo humano, estudam os movimentos e os fundamentos da dança.

O Instituto Federal de Brasília integra a Rede Federal de Educação Profissional e Tecnológica, que comemorou 100 anos em 2009 e oferece cursos de ensino, pesquisa e extensão. O IFB possui cinco campi espalhados pelo Distrito Federal, com mais de dez cursos técnicos e de licenciaturas.

(Sara Scaringi)

Jornal escolar deixou saudade em seu criador

Foto do professor Valdomiro com Vó Minda.

O poeta e educador Valdomiro Vieira, de Pernambuco, lembra com saudade do jornal que produzia na Escola Municipal Adélia Carneiro Pedrosa, no município de Goiana, juntamente com seus alunos: o 100% Notícias do Adélia. “Infelizmente acabou! Era um veículo de aprendizagem precioso para os nossos alunos e para a comunidade”, diz Valdomiro, que é graduado em letras, com habilitação em inglês e pós-graduado em literatura brasileira.

O professor, que é concursado da rede estadual de Pernambuco e da rede de ensino do município de Goiana (PE), explica que sua experiência com edição de jornal escolar surgiu com o projeto Primeiras Letras. O objetivo era a construção de uma escola produtora de comunicação, valorizando a escrita, a leitura, a dinâmica em sala de aula, e a formação de crianças e adolescentes para a cidadania.

“O mais interessante era fazer fluir nos alunos o gosto pela leitura e a escrita tendo como base as matérias do jornal produzidas por eles mesmos, com o nosso apoio”, destaca o professor. Segundo ele, os estudantes ficavam ansiosos para verem seus trabalhos publicados no jornal da escola, que chegava mensalmente.

Morador de Paulista, na região metropolitana de Recife, Waldomiro faz, atualmente, o curso de Tecnologias Assistivas (a distância) promovido pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (Unesp).

(Fátima Schenini)

Isaac Roitman: a ciência é o melhor caminho para se entender o mundo

Foto de Isaac Roitman

O professor e pesquisador Isaac Roitman, coordenador do Grupo de Trabalho de Educação, da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), acredita que a ciência é o melhor caminho para se entender o mundo. Para ele, o conhecimento científico é o capital mais importante do mundo civilizado e investir nesse conhecimento irá contribuir para que os seus resultados estejam ao alcance de todos.

“É fundamental que o ensino de ciências seja feito de modo agradável e divertido”, defende Isaac Roitman, que já exerceu atividades como professor e gestor em diversas instituições de ensino e pesquisa. Graduado em odontologia e doutor em ciências (microbiologia), fez pós-doutoramento na Pace University, em Nova Iorque, nos Estados Unidos; Hebrew University, em Jerusalém, Israel; University of Kent at Canterbury, em Canterbury, no Reino Unido; e na University of Sussex, em Brighton, também no Reino Unido.

Membro Titular da Academia Brasileira de Ciência, foi diretor de Avaliação da Capes/MEC; assessor da Presidência do CNPq e presidente da Comissão Nacional de Avaliação de Iniciação Científica (Conaic/CNPq). Também foi diretor do Centro de Biociências e Biotecnologia da Universidade Estadual do Norte Fluminense; reitor, pró-reitor acadêmico e diretor de Pesquisa e Pós-Graduação da Universidade de Mogi das Cruzes; e professor titular e decano de Pesquisa e Pós-Graduação da Universidade de Brasília, entre outras funções. Exerce, atualmente, a função de coordenador de Comunicação Institucional da UnB.

Jornal do Professor – Qual é a importância da ciência e tecnologia na escola?

Isaac Roitman – A educação científica em conjunto com a alfabetização das letras e dos números são os três pilares de uma educação de qualidade. A ciência é o melhor caminho para se entender o mundo. O conhecimento científico é o capital mais importante do mundo civilizado. A educação científica desenvolve habilidades, define conceitos e conhecimentos, estimulando a criança a observar, questionar, investigar e entender de maneira lógica os seres vivos, o meio em que vivem e os eventos do dia a dia. Além disso, estimula a curiosidade e imaginação e o entendimento do processo de construção do conhecimento. Investir no conhecimento científico contribuirá para que os seus resultados estejam ao alcance de todos. É fundamental para que a sociedade possa compreender a importância da ciência no cotidiano. Ela também representa o primeiro degrau da formação de recursos humanos para as atividades de pesquisa científica e tecnológica. É preciso considerar que o analfabetismo científico aumentará as desigualdades, marginalizando do mercado de trabalho as maiorias que hoje já são excluídas.

JP – Como despertar o interesse das crianças e jovens pela ciência e tecnologia?

IR – No Brasil, com mais de 60 milhões de estudantes, ainda falta muito que fazer para que a educação científica tenha seu merecido destaque no currículo escolar. O desafio é criar um sistema educacional que explore a curiosidade das crianças e mantenha a sua motivação para aprender através da vida. As escolas precisam se constituir em ambientes estimulantes. Experiências recentes têm estimulado o interesse das crianças e jovens pela ciência e tecnologia. Um deles é o Projeto Mão na Massa, introduzido no Brasil pela Academia Brasileira de Ciências. Esse projeto faz uso de atividades experimentais, estimulando o desenvolvimento da linguagem oral e escrita e investindo na formação de docentes. Outra experiência de sucesso está sendo conduzida em Natal, Macaíba (RN) e Serrinha (BA). As crianças frequentam uma escola de ciências nos horários opostos ao horário escolar formal. Os ambientes de aprendizagem (laboratórios, oficinas, etc.) são desenhados e equipados especialmente para despertar o interesse pela ciência nos estudantes do ensino fundamenal.

JP – Qual a melhor forma para os estudantes aprenderem conteúdos de Ciência e Tecnologia?

IR – A célebre frase de Paulo Freire: “A leitura do mundo precede a leitura da palavra” aponta a importância da educação científica para as crianças que, de posse de um conjunto de conhecimentos, facilitam a realização da leitura do mundo onde vivem. A visão do mundo é construída a partir da infância, na família, e tem o seu ponto de inflexão na escola. Já há cerca de 800 anos Roger Bacon em seu Opus Maius – tratado sobre ciências –, dizia: “Sem um experimento nada pode ser conhecido adequadamente. Um argumento prova sob o ponto de vista teórico, mas não leva a necessária certeza para remover todas às dúvidas”. Diante das novas necessidades da educação em ciências no século XXI, a escola deve ser percebida como tendo um potencial riquíssimo de encontro humano, desperdiçado pela repetição secular de uma pedagogia tradicional. Através de uma nova educação científica no ensino fundamental poderemos mudar esse nível de ensino, preparando jovens que não vão aceitar um ensino médio ou superior de baixa qualidade. Nessa nova pedagogia, a experimentação deverá ser o principal instrumento de estímulo e da aprendizagem da ciência. Os recursos modernos de comunicação através de mídias digitais - vídeos, interação via TV digital e internet, etc - deverão ter um papel importante no ensino de ciências para nossos jovens.

JP – Qual a contribuição da Semana Nacional de Ciência e Tecnologia na difusão e popularização da ciência no Brasil?

IR – A institucionalização da Semana Nacional de Ciência e Tecnologia (SNCT) pode ser considerada como uma das mais importantes iniciativas desta década para a difusão e popularização da ciência no Brasil. A cada ano, essa semana consegue a adesão de um número maior de entidades. O balanço da edição de 2009 relata 24.972 atividades, desenvolvidas por 718 instituições em 472 municípios. Durante essa semana, as instituições de ensino e os institutos de pesquisas abrem as suas portas a toda a população, quebrando os muros de isolamento entre a ciência e a sociedade. A SNCT certamente estimulará atividades de divulgação científica durante todo o ano.

JP - De que forma a Academia pode contribuir para a disseminação de conhecimentos científicos entre professores do ensino básico e a população em geral?

IR – A comunidade acadêmica sempre reconheceu a importância da educação científica e muito tem feito para colaborar, no sentido de que sejam ampliadas as oportunidades para a formação e treinamento nessa área. Um exemplo que se destaca são as reuniões anuais da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, que introduziu há vários anos a SBPC Jovem com ampla participação de estudantes e professores do ensino básico. Outras sociedades como a Sociedade Brasileira de Física, a Sociedade Brasileira de Química e a Sociedade Brasileira de Genética introduziram atividades relacionadas ao ensino de ciências. Em adição, a Associação Brasileira para Pesquisa em Ensino de Ciências e a Sociedade Brasileira para o Ensino da Biologia reúnem centenas de professores do ensino fundamental, médio e superior para discutir problemas, apresentar trabalhos e atualizar informações.

A preocupação de formação de recursos humanos em nível de pós-graduação para o ensino de ciências e matemática mostra o comprometimento da comunidade acadêmica com o ensino de ciências e matemática. Atualmente existem 58 cursos de pós-graduação de ensino de ciências e matemática com a seguinte distribuição: 26 mestrados profissionais, 23 mestrados acadêmicos e nove doutorados. A Academia tem participado ativamente de uma série de atividades importantes no ensino e na difusão da ciência e tecnologia, tais como: clubes de ciência, feiras de ciências, olimpíadas, museus e outros espaços de aprendizagem.

JP - É importante que os professores participem de cursos ou oficinas para reciclagem de conhecimentos ou aprendizado de novas técnicas para o ensino de disciplinas das áreas de ciência e tecnologia?

IR – Infelizmente, os professores de ensino básico durante a sua formação não tiveram a oportunidade de ter um preparo adequado para o ensino de ciências. É importante que, na formação dos futuros professores, os mesmos tenham um preparo tanto sob a dimensão de conteúdo como de pedagogia e metodologia contemporâneas. É fundamental que os professores que já estão atuando no ensino básico tenham a oportunidade de incorporar as informações do desenvolvimento científico e tecnológico e tenham treinamento, principalmente no que se refere às atividades de experimentação. É importante, também, estimular e proporcionar condições para que os professores participem de congressos e eventos relacionados com a ciência e tecnologia.

JP – É possível ensinar ciências de modo fácil e divertido? Que conselhos o senhor daria aos professores?

IR – É fundamental que o ensino de ciências seja feito de modo agradável e divertido. Os professores deveriam ter em mente que o ensino de ciências deva ser prazeroso. Há alguns meses o Presidente Lula visitou a escola de ciências de Natal, mencionada anteriormente. Nessa ocasião, perguntou a uma estudante de dez anos o seguinte: “Você gosta dessa escola de ciências?”. A aluna respondeu: “Isso não é escola de ciências, isso é um parque de diversões”. A resposta é auto-explicativa.

JP – O senhor poderia destacar experiências do passado que são importantes na educação científica do Brasil?

IR – Há 60 anos, o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) implantou o Programa de Iniciação Científica, que permitia ao estudante universitário de graduação a vivência em um ambiente científico. Hoje esse programa tem a participação de cerca de 80 mil estudantes universitários em todo o Brasil, sendo que aproximadamente 40 mil são contemplados com bolsas. Em 2003 o CNPq lançou o Programa de Iniciação Científica Junior, nos moldes do programa já existente, que permite o treinamento científico de estudantes do ensino médio e profissional. Esse programa tem atualmente oito mil bolsistas. Recentemente, o CNPq lançou o Programa Institucional de Bolsas de Iniciação em Desenvolvimento Tecnológico e Inovação (PIBIT), que conta atualmente com três mil bolsas.

Outra experiência que merece destaque é a da implantação de um projeto voltado ao ensino de ciências, pela Fundação Brasileira para o Desenvolvimento de Ensino de Ciência (Funbec). Além da produção de material didático para o ensino da ciência, a Funbec produzia também equipamentos médico-eletrônicos. O lucro da venda desses equipamentos era revertido para a produção de material para o ensino da ciência. Essa iniciativa floresceu na década de 70, com a introdução de laboratórios portáteis de física, química e biologia, e da coleção Cientistas com parceria da editora Abril, que consistia de 50 kits contendo a biografia do cientista, um manual de instrução e material para a realização de experimentos. Nos anos em que o projeto sobreviveu foram vendidos cerca de três milhões de kits. A partir de 1980 as atividades foram gradativamente reduzidas. O último suspiro do empreendimento foi à criação da Revista de Ensino de Ciências, hoje extinta. Recentemente, uma iniciativa tenta reabilitar o projeto que teria um novo nome: Aventuras na Ciência.

Outra iniciativa que foi implantada há mais de 20 anos e continua até o presente é o Programa de Vocações Científicas (Provoc) do Instituto Oswaldo Cruz (Fiocruz) que tem estimulado vocações na área biomédica, em centenas de jovens.