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JORNAL

Gestão Escolar

Sexta-feira, 19 de Setembro de 2008

Edição 5

EDITORIAL - Gestão escolar

Atendendo às solicitações dos leitores, a quinta edição do Jornal do Professor aborda o tema Gestão Escolar. O assunto foi o mais votado na enquete colocada em nossa página.

Você vai ler sobre as estratégias de gestão adotadas em duas escolas que apresentaram melhorias nos índices do Ideb: uma em Petrópolis (RJ) e outra em Altamira do Paraná; uma escola de Maracanaú, no Ceará, que adota a gestão democrática; e os bons resultados obtidos pelos conselhos escolares de uma escola em Natal (RN) e outra em Teresina (PI).

A escola de Rio Branco (AC) que reduziu os problemas de violência e uso de drogas graças à gestão participativa; a Escola de Gestores do MEC; e um panorama geral da administração que é feita nas escolas brasileiras são outros assuntos desta edição.

Aproveite para escolher o tema das próximas edições. E aproveite para colaborar enviando sugestões, críticas, textos e músicas!

Seja bem-vindo!

Boa gestão escolar contribui para melhoria do Ideb

Município de Altamira do Paraná (PR)

A Escola Municipal Dr. Augustinho Kauling, em Altamira do Paraná, pequeno município a 550 Km de Curitiba, já alcançou sua meta do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) prevista para 2012. De 3,7 em 2005, a instituição passou para 4,6 em 2007, superando a expectativa que era de chegar a 3,8.

 

O acompanhamento, a cobrança, e o estímulo à capacitação dos professores são o forte da estratégia de gestão da escola, que tem um total de 430 alunos matriculados no ensino fundamental. Diretora da instituição desde março de 2007, Maria das Neves Andrade acompanha tudo o que está sendo feito na escola, vai às salas de aulas, faz cobranças dos pais e dos professores. “Se um estudante está com problemas, vamos atrás da família para conversar e resolver”, diz. Outra estratégia que ela utiliza é a colocação de professores mais antigos e experientes nas séries iniciais do ensino fundamental, a fim de garantir uma boa base na aprendizagem dos alunos.

 

Antes da gestão da atual diretora, nos anos de 2005 e 2006, a cobrança do cumprimento dos planos e metas também era forte, bem como o incentivo à capacitação dos professores. Atualmente, todos os professores da escola têm curso superior e somente dois ainda não têm pós-graduação.

 

Na Escola Municipal Bataillard , em Petrópolis (RJ), o Ideb referente aos anos iniciais do ensino fundamental (1º ao 5º ano) que era de 3,6 em 2005, alcançou em 2007 o índice proposto para 2009: 4,2. Nos anos finais (6º ao 9º ano), o Ideb, que era de 2,9 atingiu o índice previsto para 2015: 4,2. Mesmo com este avanço, a diretora da instituição, Sandra Luzia Ferreira Reis, acredita que esta média está muito longe da média que querem atingir, que é de 6,0.

 

Avanço – Para ela, a gestão escolar é fundamental para o bom funcionamento da escola. Desde que assumiu a direção, em 1993, sua prioridade era transformar uma pequena e desconhecida escola de bairro (quatro turmas em 1993 e vinte e oito turmas em 2008) em uma escola de porte médio que atendesse alunos da educação infantil até ao final do ensino fundamental. “Muito foi realizado nestes anos, mas o grande avanço se deu em 2005, quando implementamos o Programa de Gestão do Programa Qualidade Rio, baseado nos fundamentos e nos critérios da Excelência”, diz.

 

A diretora explica que esse programa sistematizou as práticas adotadas na escola. Passaram a realizar planejamento estratégico; planos de ação com metas de curto, médio e longo prazo; pesquisas de opinião com alunos, professores, funcionários, pais ou responsáveis; avaliação institucional, avaliação de desempenho (da direção, professores e funcionários) e auto-avaliação para os alunos. “Com estas práticas, aperfeiçoamos os nossos padrões de trabalho e conseguimos alcançar alguns bons resultados”, salienta.

 

Ao participarem do curso de formação do Programa Qualidade Rio, tomaram conhecimento do Prêmio Nacional de Referência em Gestão Escolar. “Nos interessamos em participar, pois percebemos que tanto o programa quanto o prêmio indicavam o mesmo caminho: a melhoria da qualidade na escola”, conta a diretora. Na visão de Sandra Reis, todo o trabalho pedagógico foi afetado diretamente, pois com a sistematização dos resultados por meio da elaboração de indicadores e de gráficos, tornou-se mais fácil analisar os resultados e detectar onde estavam os problemas.”

 

Colocaram em prática, então, diversas ações de melhoria, como estimulo à capacitação continuada dos professores, orientadores e direção da escola, redução do número de alunos nas turmas das séries iniciais, estimulo à participação da família em todas as ações realizadas na escola, implementação de projetos de leitura e produção de textos, além de atividades extraclasse de arte e cultura.

 

Com a elevação de seus próprios Idebs, essas duas instituições entram para o grupo das escolas que contribuíram para a elevação da média nacional desse índice, no que refere aos primeiros anos do ensino fundamental: de 3,8 em 2005 passou para 4,2 em 2007, ultrapassando a previsão para 2007, que era de 3,9. O Ideb foi elaborado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep /MEC), para medir a qualidade de ensino no Brasil, numa escala de zero a dez. (Fátima Schenini)

Gestão democrática melhora desempenho dos alunos

Computadores e televisores utilizam apenas a luz solar como fonte de energia

Defensor da gestão democrática nas escolas, Paulo Freire cunhou a seguinte frase quando era o secretário municipal de educação de São Paulo: “participação popular para nós não é um slogan, mas a expressão e, ao mesmo tempo, o caminho da realização democrática”. Mas, como funciona esse modelo de gestão? O que o caracteriza?

 

Prevista na Constituição Federal de 1988 e na Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), a gestão democrática da escola é aquela que permite a participação dos professores, funcionários, pais, alunos e comunidade local. “Todos devem estar envolvidos nos processos de planejamento, criação, decisão, execução e avaliação”, afirma o professor João Ferreira de Oliveira, da Universidade Federal de Goiás.

 

Segundo Oliveira, a organização do trabalho na escola não pode ser uma tarefa exclusiva do dirigente escolar. “Instâncias de participação como conselho escolar, conselho de classe e grêmio estudantil, podem ajudar a equipe gestora da escola a construir uma maior autonomia, sobretudo no que se refere ao pedagógico, ao financeiro e até ao administrativo”, defende. Além disso, outro fator fundamental para trazer a legitimidade necessária à condução do trabalho no âmbito da escola é a eleição dos dirigentes escolares.

 

Localizado a 20 quilômetros de Fortaleza (CE), o município de Maracanaú se destaca como pólo industrial. Com aproximadamente 200 mil habitantes, a cidade é a segunda maior exportadora do estado, perdendo apenas para a capital cearense. Neste cenário, se encontra o Colégio Estadual Liceu de Maracanaú, que há três anos adotou a gestão democrática como modelo de administração. Com a participação massiva da comunidade, a escola conseguiu elevar a nota no Exame Nacional de Ensino Médio (ENEM) de 3,8 para 5,3.

 

Fábrica de projetos – A comunidade tem papel fundamental na melhoria da infra-estrutura e do ensino do colégio. Projetos de ciência e tecnologia financiados pelo pólo industrial da cidade inovam com plásticos feitos de leite e bio-combustíveis de algas. O controle de entradas e saídas de alunos é digitalizado e 90% do serviço da escola é informatizado. O colégio dispõe ainda de sala ecologicamente correta com computadores e televisores que utilizam unicamente a luz solar como fonte de energia. “Somos uma fábrica de projetos”, comemora o diretor pedagógico da escola, Plácido Cavalcante.

 

Cerca de 900 pais trabalham junto com a escola, auxiliando na jardinagem, pintura de paredes e controle de freqüência dos alunos. “Para que uma escola seja de qualidade é necessário incluir a sociedade. O financiamento e a confiança são maiores quando a comunidade está presente no dia-a-dia da instituição”, defende Cavalcante. Segundo ele, com o envolvimento da comunidade foi possível reduzir a violência e o vandalismo dentro da escola. “Não temos mais esse problema, porque conseguimos trazer a comunidade para o cotidiano escolar”, afirma.

 

Saiba mais sobre gestão democrática assistindo ao programa Salto para o Futuro, produzido pela TV Escola. Disponível no Domínio Público, basta baixar o arquivo.

1. A gestão democrática do projeto político-pedagógico. (parte 1) Veja aqui

2. A gestão democrática do projeto político-pedagógico. (parte 2) Veja aqui

3. A gestão democrática do projeto político-pedagógico. (parte 3) Veja aqui

 

(Renata Chamarelli)

Conselhos escolares trazem bons resultados

Presidente da Associação Pais e Alunos do Piauí e do Conselho Mun. de Educação de Teresina

A Escola Estadual União do Povo, no bairro de Cidade Nova, em Natal (RN), é um exemplo de bom funcionamento de conselho escolar. Sempre que ocorrem problemas ou surgem necessidades na escola, o conselho se reúne, avalia e toma as decisões. Criada em 1984, por reivindicação da comunidade, a escola atende cerca de 1.400 alunos, distribuídos em três turnos, com aulas de ensino fundamental, ensino médio, e Educação de Jovens e Adultos (EJA).

 

Criado em 1996, o conselho escolar da União do Povo é composto por 12 integrantes, com representantes dos professores, funcionários, alunos, e pais, dos três turnos de horários. De acordo com o presidente, professor Francesco de Araújo Lopes, a riqueza de opinião do grupo representado no conselho “democratiza e oferece mais transparência e participação dos diversos atores da comunidade escolar”. Integrante do conselho da União do Povo desde sua criação, Francesco Lopes também participa do conselho da Escola Municipal Professor Waldson José Bastos Pinheiro, como suplente do representante docente do turno noturno. Para ele, “a democracia, a transparência e a participação ativa do conselho escolar são as maiores virtudes e conquistas de sua existência”.

 

Francesco Lopes explica que, no início do período letivo, discutem assuntos como o projeto administrativo e pedagógico e as melhorias sugeridas no ano anterior, para reparar ou evitar possíveis falhas; durante o ano, tratam de temas relativos ao funcionamento escolar, professores, funcionários e alunos; e no final do ano fazem uma análise do trabalho proposto e do realizado (acertos e falhas) e propõem melhorias para o ano seguinte.

 

“Ainda temos um pouco de dificuldade com a disponibilidade dos pais para se candidatar ao conselho. Porém, a cada eleição, fazemos uma explanação da importância da participação no colegiado, quais são suas responsabilidades e explicamos que o horário das reuniões são flexíveis, assim conseguimos sempre candidatos”, destaca.

 

O diretor da União do Povo, Berginaldo Ribeiro Alves, é o presidente honorário do conselho. Professor de educação física na instituição, desde 1992, e em seu segundo mandato como diretor, Berginaldo relembra um dos inúmeros casos que passaram pelo conselho, com bons resultados. Foi quando a mãe de um aluno considerado “problema” contou que o menino havia presenciado a morte violenta do pai. Os conselheiros compreenderam que aquele comportamento era devido ao sofrimento e à revolta e decidiram dar uma nova oportunidade a ele. Berginaldo relata que aquele foi um momento muito importante. “O garoto está até hoje na escola, sem nenhum problema. Eu senti o amadurecimento da turma em tentar compreender o aluno”.

 

Para a presidente da Associação de Pais e Alunos do Piauí e do Conselho Municipal de Educação de Teresina, Antonia Firmina de Oliveira Neta, a participação dos pais nos conselhos escolares contribui para fortalecer, tanto a gestão quanto a qualidade do ensino. “Nas escolas onde os conselhos escolares realmente estão atuando, a qualidade do ensino tem melhorado, bem como a questão da segurança das crianças.”

 

Mãe de aluno da Escola Municipal Deputado Antonio Gayoso, em Teresina, Antonia Firmina acredita que o salto no Ideb obtido pela escola - passou de 3,2 para 4,5 - deve-se à participação dos pais no conselho escolar. “Foi um salto bem relevante. E agora estamos almejando chegar pelo menos a 5. Mas isso é um trabalho árduo, em que vamos ter que cobrar dos professores, fazer críticas construtivas, além de apresentar sugestões”.

 

Programa nacional – As escolas que quiserem criar seu próprio conselho escolar podem procurar o Programa Nacional de Fortalecimento dos Conselhos Escolares, da Secretaria de Educação Básica do Ministério da Educação (SEB/MEC). Além de prestar esclarecimentos sobre o assunto, o programa também promove encontros para formação de conselheiros escolares, técnicos e dirigentes das secretarias de educação, e disponibiliza material técnico-pedagógico para auxiliar na capacitação de conselheiros.

 

Saiba mais sobre a atuação dos Conselhos Escolares assistindo ao programa Salto para o Futuro, produzido pela TV Escola. Disponível no Domínio Público, basta baixar o arquivo.

1. Conselhos escolares, eleição de diretores e descentralização financeira em questão. (Parte 1) Veja aqui

2. Conselhos escolares, eleição de diretores e descentralização financeira em questão. (Parte 2) Veja aqui

3. Conselhos escolares, eleição de diretores e descentralização financeira em questão. (Parte 3) Veja aqui

 

(Fátima Schenini)

Prêmios revelam gestões inovadoras

Escola Serafim Salgado - Rio Branco (AC)

Redução da violência e do uso de drogas. Este é o mérito da Escola Serafim Salgado, localizada na cidade de Rio Branco (AC). Com a implementação de projetos culturais, a escola fez com que os alunos e os funcionários trocassem as droga e a violência por cursos e leitura. A receita, segundo a diretora Lúcia de Oliveira de Melo, foi apostar na gestão participativa, desenvolvendo atividades que integrassem não só alunos e professores, como toda a comunidade local.

 

Implementadas desde 2004, as ações transformaram a escola, que venceu o Prêmio Estadual de Referência em Gestão Escolar 2008. Projetos como o Pára Leitura, realizado a cada segunda quinzena do mês, abriram as portas da escola para a leitura. “Colocamos mais 100 livros e cartilhas feitas pelos próprios alunos à disposição da comunidade. Quem não sabe ler é auxiliado pelos alunos e amigos da escola”, conta a diretora. O projeto inclui ainda a apresentação de poesias e leitura em voz alta.

 

Outro projeto importante para reduzir os casos de violência e o uso de drogas foi a criação de palestras ministradas nas dependências da escola. Aos finais de semana, também são oferecidos cursos profissionalizantes para a comunidade. Há ainda cursos de artesanato com papéis reciclados, bijuterias de garrafas pet e a horta, que é cultivada por jovens que cumprem penas alternativas.

 

Para a diretora, a troca é benéfica para ambos os lados, já que a escola ajuda a comunidade a crescer e, em troca, a comunidade colabora para o crescimento da escola com pintura de paredes, decorações para salas de aula e fundos para os projetos. “Antes a comunidade era descrente com a escola, tinha muita briga e utilizavam drogas dentro da sala de aula. Hoje eles já enxergam uma esperança de melhorar de vida dentro da instituição”, afirma Lúcia de Oliveira.

 

Premiação – Depois de vencer a etapa estadual, a Serafim Salgado está agora entre as finalistas da edição nacional do prêmio, que será realizada em novembro. O Prêmio Nacional de Referência em Gestão Escolar é uma iniciativa conjunta do Conselho Nacional de Secretários de Educação (Consed), da União Nacional de Secretários de Educação (Undime), da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e a Cultura (Unesco) e Fundação Roberto Marinho.

 

A primeira escola de cada Estado ou do Distrito Federal que seja selecionada pelo Comitê Nacional de Avaliação recebe, além do diploma Escola Referência Nacional em Gestão Escolar, a importância de R$ 2.000,00 e uma coletânea de vídeos educativos. Os diretores dessas escolas são contemplados com o diploma Liderança em Gestão Escolar e recebem como prêmio a participação em viagem de intercâmbio no Brasil ou exterior. Dentre essas escolas, a que for selecionada para o primeiro lugar recebe o prêmio de R$ 10.000,00, e também o diploma Destaque Brasil.

 

Além do Prêmio Nacional de Referência em Gestão Escolar, há ainda outras premiações ocorrendo por todo país. Realizado pelo Instituto Nacional de Estudos, o Prêmio Inovação está na sua segunda edição e concederá 100 mil reais aos dez municípios com experimentos que alcançaram resultados significativos para a qualidade da educação a partir de mudanças na gestão de suas redes de ensino. A verba deverá ser investida no desenvolvimento, ampliação e avaliação das experiências premiadas.

 

Concedido a cada dois anos, o prêmio tem como objetivo incentivar os municípios a tornarem públicas suas experiências inovadoras em Gestão Educacional que contribuam para o alcance das metas do PNE (Plano Nacional de Educação) e do Compromisso Todos pela Educação.

 

Além dos experimentos premiados, todas as iniciativas aprovadas já pertencem ao Banco de Experiências do Laboratório de Experiências Inovadoras em Gestão Educacional, para serem divulgadas a fim de contribuir com os dirigentes educacionais na elaboração de políticas de gerenciamento de seus sistemas e elevar a qualidade da Educação Básica. O Banco já conta com 187 experiências cadastradas que podem ser acessadas pela página do Laboratório. (Renata Chamarelli)

Escola de Gestores colabora para a melhoria da qualidade

O Programa Nacional Escola de Gestores da Educação Básica, do Ministério da Educação, pode prestar uma enorme contribuição para a melhoria da qualidade da educação no Brasil. A opinião é da professora do Departamento de Metodologia de Ensino, do Centro de Ciências da Educação da Universidade Federal de Santa Catarina, Roselane Fátima Campos.

 

A professora integrou, em 2006, a comissão nacional que desenvolveu o projeto do Curso de Especialização em Gestão Escolar, no âmbito da Escola de Gestores e, em 2007, participou na implementação do curso em Santa Catarina, coordenando a Sala Ambiente Projeto Vivencial. “É um curso que alia deste o seu início a teoria e a prática, dentro dos princípios da gestão democrática”, salienta.

 

Segundo Roselane, além de tomar como princípios básicos o direito à educação e a gestão democrática da escola, a especialização em Gestão Escolar associa aos conteúdos de estudo o desenvolvimento de um projeto de intervenção que tem como objeto a própria escola em que atua o diretor.

 

Ela relata que os depoimentos dos diretores que já participaram são significativos na medida em que evidenciam, em diferentes níveis, a importância do curso, das atividades que realizaram, dos conteúdos que aprenderam para o seu trabalho como diretor de escola. “Não se trata portanto, de formar em massa, mas de formar com cuidado e bem aqueles que dirigem as escolas”, destaca.

 

Gestores escolares – Segundo dados do Censo Escolar de 2004, do total de dirigentes escolares no Brasil, 69,79% possuem formação superior e 29,32% possuem apenas formação em nível médio. O percentual dos que possuem curso de pós-graduação em nível de especialização (lato sensu) é de 22,96%.

 

A Escola de Gestores do MEC tem como objetivo formar gestores escolares das escolas públicas da educação básica em cursos de especialização e de atualização em gestão escolar, na perspectiva da gestão democrática e da efetivação do direito à educação escolar com qualidade social. É aberta à participação de profissionais que integram a equipe gestora da escola: diretor e vice-diretor, totalizando, no máximo, dois participantes por escola. A prioridade de atendimento é para gestores de escolas com baixo Ideb. (Fátima Schenini)

O despertar da poesia

Professora de língua portuguesa na Escola Estadual de Ensino Fundamental Almirante Álvaro Alberto da Motta e Silva e na Fundação de Atendimento Sócio Educativa, em Porto Alegre (RS), Eloisa Menezes Pereira atua nas séries finais do ensino fundamental. Ela lecionou também nas séries iniciais, mas já se aposentou.

 

Eloísa despertou para a poesia há seis anos. Nesse período participou de oito antologias poéticas e publicou também nos jornais Diário Gaúcho e Zero Hora. “Manifestava minhas emoções e sensibilidade através da palavra. Hoje sou mais cuidadosa na manipulação dos sentimentos,” diz.

 

Na sala de aula, utiliza poesias como interpretação, expressão de sentimentos e emoções, rimas, construção de novas poesias através de versos metafóricos, etc.

 

ESSÊNCIA DA CONQUISTA

Eloisa Menezes Pereira

 

Na magia da vida

Sonha a beleza

Embalando nas oportunidades

A esperança acolhida

 

O dançar das emoções

Identifica a ausência

Encantando a natureza

Silencia a razão

 

A imaginação reanima

Fazendo a diferença

No encontro da felicidade

Sobrevive da igualdade.

Heloísa Lück: "A escola tem a cara de seu diretor"

Professora e pesquisadora avalia gestão escolar

Em entrevista ao Jornal do Professor, a professora Heloísa Lück traça um panorama da administração praticada nas escolas brasileiras, ressaltando a importância dos diretores para o desempenho escolar dos alunos.

Segundo ela, que é consultora do Conselho Nacional de Secretários de Educação (Consed), o mote “a escola tem a cara de seu diretor” descreve bem o que se passa nas escolas. “O diretor escolar é o responsável pela liderança, organização, monitoramento e avaliação de tudo que acontece na escola”, acredita.

Com vasta experiência em administração de sistemas educacionais, Lück se dedica a estudar o assunto há mais de 25 anos. Possui mestrado em Educação e em Humanidades pela Universidade de Columbia, além de doutorado em Educação na mesma instituição.

 

JP. Como a senhora avalia a gestão praticada nas escolas brasileiras hoje em dia?

HL- As práticas de gestão nas escolas que apresentam a melhoria dos resultados educacionais têm sido realizada mediante grande empenho, criatividade e liderança de seus gestores, em especial de seus diretores. Há nessas escolas um esforço no sentido de promover consenso e direcionamento centrado na realização de objetivos educacionais claramente compreendidos, há envolvimento dos pais na gestão da escola e seu acompanhamento à escolaridade dos filhos, assim como também a abertura da escola para a comunidade. Mas, sobretudo, a participação efetiva dos diretores escolares no acompanhamento do processo ensino aprendizagem, observação da sua efetivação na sala de aula, acompanhados de feedback, de modo a promover as mudanças necessárias para que os alunos aprendam mais.

No entanto, apesar desses aspectos altamente animadores, somos obrigados a reconhecer que, em geral, faltam aos gestores visão de conjunto, articulação entre os vários segmentos de atuação da escola e o empenho em enfrentar os desafios da gestão de comunidades escolares que apresentam, naturalmente, tensões, conflitos, dificuldades e limitações. Infelizmente, somos obrigados a reconhecer que falta profissionalização dos diretores escolares. Por profissionalização, entendemos o desenvolvimento gradual e contínuo de competências (conhecimentos, habilidades e atitudes), necessários para assumir responsabilidades de um trabalho específico e complexo, e a sua aplicação efetiva nesse trabalho. Temos muito que caminhar para que as nossas escolas públicas tenham uma cultura de gestão escolar efetiva, baseada em critérios de competência tanto da gestão, como de todos os segmentos de atuação da escola, promovida por essa gestão. Precisamos assentar a gestão da escola sobre a definição de planos consistentes de ação, com respectivos parâmetros de qualidade a serem continuamente monitorados e avaliados.

 

2.De que maneira os diretores escolares podem contribuir para a melhoria da qualidade da educação?

HL- A qualidade da educação é resultado de um conjunto de fatores internos e externos à escola. Não podemos deixar de considerar que os elementos externos, como por exemplo, as intervenções dos sistemas ou redes de ensino correspondentes exercem uma influência significativa sobre o estabelecimento de ensino, e nem sempre de caráter produtivo. Dentre os fatores internos, é de significativa importância a atuação do diretor escolar, uma vez que esse profissional é o responsável pela liderança, organização, monitoramento e avaliação de tudo que acontece na escola e muitas vezes até, à revelia, ou desconsiderando o que foi determinado pela rede ou sistema de ensino a que se subordina. O mote comumente repetido de que “a escola tem a cara de seu diretor” é corroborado por pesquisas que revelam como uma escola muda seu modo de ser e de fazer, de um ano para outro, a partir da mudança de sua direção. A partir dessa condição se conclui que não bastam outras alterações na escola, se elas não passarem pela melhoria da atuação do diretor. O diretor escolar é, por assim dizer a cabeça que filtra as estimulações externas da escola e por sua liderança imprime um modo de ser e de fazer na escola. Portanto, cabe ao diretor escolar, ao assumir as responsabilidades pela gestão da escola, preparar-se para esse exercício e, durante o mesmo, estar atento às oportunidades diárias de sistematização de conhecimentos específicos desse trabalho e desenvolvimento de competências.

 

3.Quais os principais fatores que devem nortear o trabalho de diretores escolares?

HL- Quem assume os desafios de gestão escolar, como diretor, avoca a si responsabilidades especiais. Resumir aqui os principais fatores é temerário, pois as perspectivas dessa abordagem são múltiplas. Porém, podemos indicar algumas questões cruciais. Em primeiro lugar, o entendimento de que enfrentar problemas é a questão mais natural do trabalho educacional com pessoas, pois educação pressupõe desenvolvimento, mudança e esforço nesse sentido. Lamentar que eles existam representa negá-los e, dessa forma apresentar uma reação negativa em relação a eles. Aceitá-los, assumi-los, estar atentos à sua ocorrência e trabalhar para superá-los constituem condição do trabalho da gestão. Atuar com essa perspectiva representa promover processo educacional de qualidade e também desenvolver competências de gestão. Em segundo lugar apontaríamos a sensibilidade para o modo como as pessoas percebem e interpretam a escola, o processo educacional em todos os seus desdobramentos, e o seu papel pessoal no conjunto e as especificidades desse processo. Isso porque as pessoas atuam a partir dessa interpretação. Como gestão pressupõe um processo de mudança, esta apenas se processa a partir da mudança dessas interpretações. Outro aspecto importante diz respeito à clareza do foco do trabalho que é a aprendizagem e formação dos alunos, para cuja promoção tudo o que se realiza na escola deve estar voltado. Vale dizer que, de todas as dimensões da gestão escolar, a pedagógica deve ser a central, para a qual todas as demais devem convergir. Outro fator é o processo contínuo de organização da escola, monitoramento e avaliação contínuos de seu plano de ação, de modo a promover seu aprimoramento contínuo. Tudo realizado com elevado espírito de comprometimento e liderança.

 

4.A gestão democrática das escolas, citada na LDB e na Constituição Federal, é sempre muito debatida. O que caracteriza este modelo de administração?

HL- A gestão democrática constitui-se em determinação explicitada tanto na Constituição Federal, como na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Ela pressupõe uma escola participativa, marcada pelos princípios de inclusão e de qualidade para todos. Podemos dizer que ainda estamos aprendendo democracia e que temos uma visão insuficiente e até mesmo distorcida a respeito desse importante componente político dos processos sociais em nossas instituições (não apenas nas escolares). Cremos, limitadamente, que democracia se faz, sobretudo, com eleição de representantes e não com a participação de todos para a construção de um projeto comum. Democracia na escola constitui o seu fortalecimento institucional como unidade social capaz de assumir suas responsabilidades, de forma compartilhada e participativa, com transparência e orientação para que todos cresçam como cidadãos nesse processo. É esse foco da gestão democrática, e é fazendo isso que a escola constrói e conquista a sua autonomia. Observamos, no entanto que,em nome da gestão democrática, entendida inadequadamente, pratica-se na escola a falta de organização de ordem, de sentido comum, de cumprimento das responsabilidades sociais da escola. É bom lembrar que democracia pressupõe ordem e organização e é o seu estabelecimento no interior da escola, voltado para a formação da cidadania e aprendizagem que é o foco do trabalho do diretor escolar.

 

5.Qual a importância de se criar um projeto político-pedagógico para a escola? Ele deve ser revisado todo ano?

HL- O projeto político-pedagógico da escola, produzido de forma compartilhada por todos os participantes da comunidade escolar, constitui-se em um mecanismo em torno do qual três importantes vertentes emergem: i) são construídos consensos, unidade de ação e compromissos, fundamentados por valores, princípios e diretrizes sólidos. ii) é definido um instrumento de trabalho, a partir do qual são especificados os ritmos constantes de ação, a sua natureza e os seus resultados respectivos; e iii) são estabelecidos os critérios de verificação da efetividade do trabalho realizado. O projeto político pedagógico é, portanto, fundamental para nortear o trabalho da escola, dando-lhe unidade, direcionamento e consistência. A partir dele a atuação de todos os profissionais da escola é balizada. Esse projeto, que incorpora o currículo a que os alunos devem ser expostos, deve ter uma característica dinâmica, e ser delineado e revisado continuamente, levando em consideração o estudo aprofundado dos fundamentos, disposições legais e metodologias apropriadas à organização educacional para a formação e aprendizagem dos alunos; a evolução do mundo contemporâneo, mediato e imediato; as características histórico-culturais da comunidade em que a escola está inserida, e da própria escola em seu trabalho sócio-educacional; as características e necessidades de desenvolvimento dos alunos dentre outros aspectos.

 

6.A gestão escolar perpassa três esferas administrativas: a financeira, a pessoal e a pedagógica. De que maneira os diretores escolares podem conciliar a gestão das três áreas.

HL - Deve-se reconhecer que sem essa conciliação, não se realiza a gestão. Isso porque a gestão pressupõe a articulação de todos os componentes que interferem na realização do trabalho educacional. Aliás, é bom lembrar que o trabalho isolado e até mesmo desarticulado em cada uma dessas dimensões caracteriza um ativismo fragmentado da promoção de resultados e, em conseqüência, que representa enorme prejuízo educacional, com gastos de tempo, esforços e recursos, sem melhoria da qualidade do ensino. É bom lembrar que a gestão financeira e a gestão de pessoas devem convergir para a gestão pedagógica que focaliza diretamente os objetivos educacionais de formação e aprendizagem dos alunos. Essa conciliação é feita mediante a adoção de uma ótica interativa superadora do valor em si de cada dimensão da gestão, tal como apresentado em um livro que escrevi sobre a questão: “Gestão educacional: uma questão paradigmática”, publicado pela Editora Vozes.

 

7.Qual a função dos conselhos escolares na gestão de um colégio?

HL- O conselho escolar é um órgão colegiado e um mecanismo de gestão democrática. A gestão colegiada se realiza formalmente na escola a partir de órgãos colegiados, como os conselhos escolares, as associações de pais e mestres, os grêmios estudantis, que se constituem em espaços efetivos de participação da comunidade escolar na gestão da escola. Essa participação constitui-se em condição fundamental no sentido de tornar a escola uma efetiva unidade social de promoção da educação, apenas plenamente possível mediante a participação da comunidade, segundo o princípio de que é necessária toda uma comunidade para educar uma criança. Originariamente, na introdução de colegiados escolares, nas escolas públicas brasileiras, as associações de pais e mestres (APMs) e das caixas escolares foram as mais praticadas, tendo apenas recentemente ganho reforço a instituição de conselhos escolares, a partir de política do MEC, que preparou uma material muito bom para orientar esse trabalho. Embora sejam reconhecidas as contribuições dessas entidades à gestão escolar, reconhece-se também a necessidade de avanços no processo participativo, particularmente no sentido de uma nova concepção da escola como unidade básica pedagógica, gestora e financeira, gerida colegiadamente, mediante a participação de professores, pais e comunidade. Cabe destacar que a participação na gestão da escola implica no poder real dos participantes da comunidade escolar, de tomar parte ativa no processo educacional. No entanto, essa participação se expressa para além da participação nos órgãos colegiados, pois ela pode dar-se a partir de um leque variado de possibilidades, e em inúmeras atividades cotidianas do fazer pedagógico da escola.

(Renata Chamarelli)