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JORNAL

Educação de Jovens e Adultos

Segunda-feira, 20 de Dezembro de 2010

Edição 48

EDITORIAL - Educação de Jovens e Adultos

A Educação de Jovens e Adultos é o tema da 48ª edição do Jornal do Professor. O assunto foi o preferido de 54,57% dos leitores que votaram na enquete colocada em nossa página.

Você vai saber, nesta edição, o que pensam e fazem professores do Acre, Amazonas, Goiás, Pará, e Rio Grande do Sul.

O entrevistado desta edição é o professor Timothy Ireland, responsável pela área de educação de jovens e adultos da Unesco.

Ajude-nos a escolher o tema das próximas edições, votando na enquete colocada em nossa página. E aproveite para colaborar enviando sugestões, críticas, textos e músicas!

Seja bem-vindo!

Paixão por Paulo Freire motiva professora

Alunos do Programa Mova Pará Alfabetizado.

A professora Denilda Maria do Socorro Martins da Silva, 51 anos, viu a sua vida profissional se transformar quando ouviu a história de um dos maiores educadores brasileiros – Paulo Freire. O encantamento pelo criador do revolucionário método de alfabetização, baseado na Pedagogia da Libertação e reconhecido mundialmente, fez com que ela descobrisse o prazer de alfabetizar jovens e adultos.

A transformação da professora de Belém, no Pará, aconteceu há oito anos, após 23 anos alfabetizando crianças. Tudo começou após um convite feito por uma colega para participar do Movimento pela Alfabetização de Jovens e Adultos (Mova), do governo do Estado do Pará. “Quando ouvi como era a forma de ensino, a vida de Paulo Freire, eu fui me interessando, me identificando, me fascinando. Virei uma fã dele e de seu método!”, revela.

Atualmente, Denilda tem 16 alunos, entre 26 anos e 76 anos. São 15 mulheres e um homem. Moradora do bairro Cremação, na periferia de Belém, ela está dando aulas em casa enquanto a escola é construída. A professora conta que com o apoio do Centro Comunitário em Belém e do próprio programa de alfabetização foram instaladas carteiras para os alunos e quadro negro para que as aulas fossem realizadas adequadamente. As aulas são dadas de segunda à quinta, pela manhã. Nos outros dois turnos, Denilda se divide entre aulas particulares de reforço e também ensinando em uma escola particular.

Mas o seu maior prazer está em ensinar jovens e adultos. Denilda explica que para formar novas turmas ela inicia com a chamada pesquisa antropológica (primeira fase do método Paulo Freire). Nesta pesquisa de campo ela identifica os alunos e observa os problemas enfrentados por eles na própria comunidade como falta de saneamento e violência. “Durante as conversas eu retiro frases significativas ou um tema gerador que futuramente será usado nas aulas”, esclarece.

Segunda ela, muitos jovens e adultos que não sabem ler ou sabem pouco não se identificam como analfabetos e, diante disso, é preciso conhecer as pessoas para conseguir atraí-las. “Por exemplo, os carvoeiros têm a prática da matemática, porém precisam do conhecimento de escrita e leitura para ampliar este conhecimento”. O segundo passo é trazer os estudantes para a sala de aula. Denilda complementa que a partir daí começa a apresentar o tema central, que é desenvolvido em uma conversa de roda em que vão sendo inseridos os conteúdos.

De acordo com a professora paraense, que não tem ideia de quantos alunos já formou desde 2002, após a alfabetização eles são encaminhados para uma escola tradicional. Ela manda uma lista com os nomes para a secretaria estadual de educação e indica a escola mais próxima do local de moradia do estudante. Quando o aluno procura a escola, a vaga está garantida.

Cidadania - A coordenadora de Alfabetização e Educação de Jovens e Adultos da Secretaria de Estado do Pará (Seduc), Rafaela Dias Pires, pedagoga com dez anos de experiência em educação de jovens e adultos, complementa que a política do estado estimula uma consecutiva apropriação da cidadania, ao desencadear a mobilização pela conquista da leitura e da escrita. “O Programa Mova Pará Alfabetizado, herdeiro nato do Brasil Alfabetizado, vem ganhando credibilidade e inúmeras adesões a cada exercício desenvolvido e, principalmente, diminuindo os índices de analfabetismo no Pará, mesmo que tenhamos ainda muito o que fazer para diminuir ainda mais esse índice”. Em sua opinião, o maior problema do estado são as dificuldades geográficas, principalmente na área do arquipélago do Marajó, onde estão os mais altos índices de analfabetismo. “Tal dificuldade vem sendo vencida pela flexibilidade que o programa Brasil Alfabetizado oferece em seu modelo”, afirma.

Denilda diz que educar jovens e adultos é um desafio permanente. “É preciso morar e conhecer a comunidade, se interessar pelo dia-a-dia do aluno, pelo conhecimento que ele tem. A gente conversa, se interessa, vê os processos e como formá-lo de uma maneira eficaz”. Como problema, a professora vê a capacitação dos educadores populares. Ela mesma gostaria de poder participar dos programas de formação de professores oferecidos pelos governos federal e estadual. No programa do Mova ela tem encontro de formação todas às sextas-feiras. No entanto, o sonho de Denilda é fazer graduação em história e aprofundar seu conhecimento sobre o método Paulo Freire. “Apesar das dificuldades eu sou muito agradecida pela alfabetização de jovens e adultos ter surgido na minha vida. São pessoas mais velhas que têm problemas de aprendizagem, mas é muito bom ver alguém aprender. Eu tenho uma ex-aluna que agora ensina os netos”, comemora.

(Adriane Cunha)

Programa de rádio movimenta escolas

Estudantes no estúdio de rádio

A necessidade de fazer um projeto como trabalho de encerramento do curso de formação continuada Mídias na Educação, promovido pelo Ministério da Educação, levou três professoras gaúchas a criarem um programa de rádio. Nas ondas da educação foi o programa criado por Cláudia Lourenço da Luz, Ionara Bencke e Joice Gassen, para ser produzido e apresentado por alunos de educação de jovens e adultos de quatro escolas de Venâncio Aires (RS), município a 130 Km de Porto Alegre.

“Professores e alunos se envolveram tanto que o programa continuou inclusive no período das férias escolares, promovendo encontros de alunos e professores nas casas de um e de outro para o planejamento”, relembra Ionara Bencke, que na época trabalhava na secretaria de educação do município. Segundo ela, a repercussão do programa na comunidade, foi tão grande, que provocou um aumento na procura por cursos de educação de jovens e adultos (EJA): porque algumas pessoas ficaram motivadas com os depoimentos de alunos; outras, simplesmente porque também queriam participar do programa de rádio.

Há dois anos no ar, o programa ampliou sua proposta e, hoje, movimenta alunos e professores de ensino fundamental de todas as escolas da rede municipal. Com meia hora de duração, Nas ondas do rádio é transmitido ao vivo, pela rádio Venâncio Aires AM 910, às sextas-feiras, das 20h às 20h30min, sem custos e sem intervalo comercial.

De acordo com Ionara, nem ela nem suas colegas se envolvem mais com a coordenação do programa, mas no início, em 2008, elas acompanhavam desde o planejamento até a apresentação do programa na rádio, embora toda a pauta fosse escolhida e organizada pelos alunos, com orientação de seus professores. “É um projeto que deu certo. Ele saiu do papel, de um mero trabalho de conclusão de curso, para uma situação real de aprendizagem”, destaca.

Formada em letras, atualmente Ionara dá aulas de português, inglês e artes na Escola Municipal de Ensino Fundamental Alfredo Scherer e faz especialização em Mídias na Educação. Também é responsável pelo desenvolvimento dos programas de rádio que são responsabilidade de sua escola: foram três programas em 2010. “Para o primeiro programa, tive que trabalhar com a elaboração e diagramação da pauta radiofônica, com minha turma do 8º ano (7ª série). No segundo e no terceiro, eles já trabalharam com plena autonomia”, ressalta.

(Fátima Schenini)

Identificação com alunos motiva professora do Acre

Professora Mageana, de blusa verde, com alunos de EJA da Escola Djalma Teles.

Apaixonada pelo trabalho que desenvolve com Educação de Jovens e Adultos, Mageana Souza Carvalho diz que sua maior satisfação é observar, a cada etapa cumprida, o brilho nos olhos daqueles que um dia haviam desistido de estudar. Integrante de uma família de professores - mãe, tias, e avó – ela acredita que consegue fazer um bom trabalho por que se identifica com seus alunos.

“Sou sonhadora e gero sonhos, expectativas, vontade de estudar em meus alunos, ‘não porque sou boa’, mas porque sei o valor da educação para o ser humano”, ressalta a professora de Rio Branco (AC), que leciona desde os 17 anos e lutou com dificuldades para conseguir se formar em geografia. Essa vivência fez com que ela se voltasse ao ensino de pessoas que “sofrem pela falta de qualificação profissional, com dificuldades de voltar a estudar devido a problemas sociais e financeiros”.

No magistério há 16 anos, há quatro Mageana trabalha com EJA. “Estou em começo de carreira, mas as minhas experiências, os meus alunos e amigos, a minha educação, e os meus sonhos realizados são minhas maiores ‘competências e habilidades’ até então”, salienta a professora que fez especialização em Educação Profissional Integrada à Educação de Jovens e Adultos (Proeja).

Em 2010, ela trabalhou na Escola Estadual de Ensino Fundamental Zuleide Pereira de Souza, com alunos de EJA do ensino fundamental e do ensino médio, de 20 a 68 anos. O êxito obtido no vestibular, por alguns alunos, leva Mageana a destacar o valor de “vê-los adquirir sua autoestima e se sentirem importantes”. Ela quer, com seu trabalho, dar oportunidades e construir pontes a fim de gerar professores, doutores e outros bons profissionais.

Ela trabalha com projetos, pois acredita que é importante buscar conhecer a realidade do estudante e partir desse pressuposto para criar as ideias necessárias à construção do conhecimento. Entre os projetos que já desenvolveu, destaca o Minha Cidade, Minha História, realizado com alunos do Colégio Serafim Salgado, onde estimulou os estudantes a conhecerem a geografia através das mudanças ocorridas ao longo dos anos. Para isso utilizou um mural fotográfico, realizou passeios turísticos a lugares históricos e também incentivou os alunos a entrevistarem pessoas da própria família, que pudessem contar fatos ocorridos no passado de Rio Branco.

Outro projeto que destaca é: A minha identidade, em que procurou fazer com que os alunos refletissem sobre quem são dentro da família, do bairro, da sociedade. De acordo com ela, foram trabalhados os valores morais, as expectativas para o futuro e cada um enquanto agente em transformação em um mundo competitivo.

(Fátima Schenini)

Ensinar alunos da EJA é compensador e estimulante

Alunos, de pé, na sala de aula.

A maior motivação do professor Aires Pergentino da Silva para trabalhar com educação de jovens e adultos (EJA) é ver a "garra" e a força de vontade dos estudantes em querer aprender, em buscar o conhecimento, em valorizar o professor. Formado em física, com pós-graduação em ensino de astronomia, ele atua há 10 anos no magistério e há seis trabalha com EJA.

“Já trabalhei com ensino fundamental, ensino médio regular, e com pré-vestibular, mas minha paixão é a educação de jovens e adultos”, destaca Aires, que leciona física para alunos de ensino médio de EJA na Escola do Serviço Social do Comércio (Sesc) de Rio Branco (AC). Para ele, que também trabalha na secretaria estadual de educação como técnico curricular de física, o desafio de ensinar na EJA é muito grande, mas ao mesmo tempo compensador e estimulante. “São, na maioria das vezes, profissionais, que entendem o valor do trabalho para a dignidade humana, por isso sabem respeitar e valorizar o professor e qualquer outro profissional”, justifica.

Aires trabalha com EJA na modalidade de ensino a distância. Segundo ele, são oito encontros com os alunos por semestre, quando então são trabalhados e reforçados os conhecimentos das apostilas. “Cada módulo tem um conjunto de disciplinas. Os alunos recebem a apostila dessas disciplinas, direcionada para o estudo em casa, e uma vez por semana têm aula de uma disciplina”, relata.

Ele diz que gosta muito de trabalhar com projetos e, neste ano, desenvolveu dois com seus alunos, que tinham idades entre 22 a 40 anos: Física divertida: Brincando se aprende e Astronomia para todos. Física divertida foi um projeto em que os alunos construíram brinquedos utilizando princípios científicos, que foram depois distribuídos em um orfanato. “No momento da distribuição, os alunos aproveitavam para ensinar física, lógico que com uma linguagem mais acessível”, conta.

O projeto Astronomia para todos teve início com o estudo da Bandeira Nacional e a astronomia envolvida, até chegar nas observações do céu com instrumentos apropriados. “O objetivo geral era compreender melhor nosso planeta e sua relação com outros astros do Sistema Solar e fora dele”, finaliza o professor.

(Fátima Schenini)

Programa de letramento reduz analfabetismo no Amazonas

Indígenas em sala de aula

O Amazonas obteve uma redução no índice de analfabetismo, nos últimos sete anos, de cerca de 15% para 5%. Segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), divulgados em dezembro pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 95% dos jovens e adultos amazonenses são alfabetizados, superando a média nacional que é de 7%.

“Ainda temos muito que trabalhar, pois traçamos metas para chegar a menos que 4%, a exemplo de sete estados, com destaque para o Amapá (1,5%)”, destaca a coordenadora do Programa de Letramento Reescrevendo o Futuro, Nazaré Correa. Implantado no Amazonas em 2003, o programa foi planejado para atender locais de difícil acesso, como áreas rurais e aldeias indígenas. É desenvolvido em parceria entre a Secretaria Estadual de Educação, Universidade do Estado do Amazonas), Ministério da Educação (Programa Brasil Alfabetizado) e prefeituras municipais.

Com aulas diurnas aos sábados, em horário integral, o Programa de Letramento previu pagamento de bolsas aos alunos, duas refeições diárias, e dois alfabetizadores em cada sala de aula. O principal critério para a seleção de alfabetizadores é que sejam estudantes de pedagogia – da universidade federal, estadual ou da rede privada, além de professores da rede pública e educadores populares.

“Diminuímos a evasão, hoje com média de 6% em 7 anos, quando a média por município varia de 20,30 e até 50%, ou seja, promovemos o ingresso e também a permanência dos educandos nos espaços educativos, salienta Nazaré. Em sua opinião, apesar dos bons resultados obtidos, o programa também enfrenta desafios. Entre eles, ela cita a alfabetização em língua materna, uma vez que o Amazonas registra aproximadamente 64 grupos étnicos, falantes de mais ou menos 30 línguas. “Já foram atendidos cerca de 18 mil indígenas de 36 diferentes etnias, em 23 municípios”, esclarece. Outro desafio é a continuidade dos estudos na mesma proporção dos ingressos na alfabetização.

As longas distâncias fazem com que os instrutores se utilizem de aviões, na maioria das vezes, inclusive fretados onde não há linha convencional. Os barcos também são muito usados e, raríssimas vezes, os ônibus, pois apenas cinco municípios são ligados por rodovias no Amazonas. “Antes do deslocamento, faz-se necessário toda uma articulação com representantes locais, para confirmar a presença dos alfabetizadores do campo, da floresta ou mesmo das águas, na sede do município”, explica Nazaré. É a maneira de garantir uma presença de 80% a 97% dos professores.

(Fátima Schenini)

Alunos de EJA devem ter educação de qualidade

Maria Margarida Machado

A educação de jovens e adultos (EJA) concebe seus alunos como sujeitos de direito, que devem ter a sua disposição uma educação de qualidade e não um curso esvaziado e sem sentido para a formação do cidadão. A afirmação é da professora Maria Margarida Machado, da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Goiás (UFG), para quem o objetivo da EJA é sobretudo proporcionar aos jovens e adultos que não tiveram possibilidade de concluir seus estudos, o acesso ao ensino fundamental e médio.

Para Maria Margarida, que já exerceu as funções de vice-diretora e coordenadora de graduação da UFG e de coordenadora pedagógica do Departamento de Educação de Jovens e Adultos da Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade (Secad/MEC), a EJA deve ser também um lugar de encontro e reencontro das pessoas na sua interelação pessoal e nas experiências de ampliação cultural.

“A identidade da EJA é aquela que melhor corresponde à identidade dos sujeitos da EJA, sejam eles jovens, adultos, ou idosos”, destaca. Ela acredita que, hoje, a escolarização voltada para jovens e adultos busca não cometer os mesmos erros do ensino supletivo, onde a oferta de educação era “aligeirada e compensatória”.

Em sua opinião, a psicologia e a linguística, em especial, já demostraram que existem diferenças no aprendizado de pessoas nas mais diversas idades. “Sobretudo o aspecto da experiência de vida e, portanto, de uma formação sócio-cultural mais intensa, faz do aluno jovem e adulto um aprendiz que dialoga frente aos novos conhecimentos a partir do que já sabe”, ressalta a professora.

De acordo com ela, isto é um desafio, pois também significa que a realidade concreta de vida, os condicionantes econômicos e sociais, interferem no processo de aprendizagem e por isto precisam ser levados em conta no processo ensino-aprendizagem. Maria Margarida diz que a forma como o aprendizado no adulto é mobilizado é diferente das crianças, tendo em vista sua trajetória de vida. “Buscar seus interesses imediatos quando volta à escola, é fundamental, mas não se pode ficar no imediatismo. É preciso ajudá-lo a perceber como aprender é importante, fundamental e prazeroso”, salienta.

(Fátima Schenini)

Professora participa de mostra de cinema com seus alunos

Cartaz de divulgação de filme sobre o tema Drogas.

Há 16 anos no magistério, Thaís Soares Fabretti Bozzetto, de Porto Alegre (RS), leciona no Colégio Estadual Francisco Antônio Vieira Caldas Júnior, onde também coordena o laboratório de informática e um grupo de 30 alunos monitores desse laboratório.

Formada em história, ela tem pós-graduação em uso de tecnologias de informação e comunicação (TIC) para promoção da aprendizagem.

“Faço todos os cursos que envolvem informática e educação proporcionados pelo Núcleo de Tecnologia Educacional de Porto Alegre”, diz a professora, que exerce a função de vice diretora da escola no período noturno.

Sua escola promove todos os anos, no segundo semestre, uma mostra de trabalhos – “dá ao professor oportunidade de mostrar a todos os alunos e a comunidade o que está sendo feito no colégio”, destaca Thaís. Em 2010, foi realizada a quinta edição dessa mostra, tendo como tema a saúde: arte, ciência e educação em favor da saúde do indivíduo.

Os assuntos, variados, abordaram temas como exercícios físicos, gravidez na adolescência, drogas, medicina alternativa, doação de órgãos, e transplantes. Entre as atividades realizadas, palestras, oficinas, e salas interativas. O evento teve a participação de alunos desde as séries iniciais do ensino fundamental até o final do ensino médio.

Além da mostra de trabalhos, a escola promove uma mostra de cinema. “São curtas e clips preparados pelos alunos”, adianta Thaís. Este ano, ela apresentou quatro curtas, produzidos em conjunto com colegas e alunos – Amor; Drogas; Gravidez na adolescência; e Releitura de Chapeuzinho Vermelho (pedofilia). O plano de aula sobre a mostra de cinema realizada em 2009, feito por Thaís e outras colegas, pode ser lido na seção Espaço da Aula, no Portal do Professor.

(Fátima Schenini)

Acesse também o blog da escola.

Timothy Ireland: precisamos desenvolver métodos que tratem educandos como adultos e fortaleçam sua auto-estima

Timothy Ireland

Professor Associado da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), atualmente cedido para a Representação da Unesco em Brasília (DF), Timothy Ireland é responsável pela área de Educação de Jovens e Adultos desse órgão internacional.

Natural da Inglaterra, ele é formado em letras, Ph.D. pela Universidade de Manchester, mestre em Educação de Adultos pela mesma instituição, e mestre em letras (língua e literatura inglesas) pela Universidade de Edimburgo.

No Brasil, entre outras atividades, coordenou o Projeto Escola Zé Peão, um projeto educacional para operários da construção civil, em João Pessoa, durante 14 anos. Também foi um dos fundadores do Fórum de Educação de Jovens e Adultos do Estado da Paraíba em 1999, que coordenou até 2004. De 2004 a 2007, foi Diretor Nacional de Educação de Jovens e Adultos na Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade do Ministério da Educação (Secad/MEC).

Em entrevista ao Jornal do Professor, Timothy Ireland salienta que jovens e adultos não podem ser tratados como crianças crescidas, pois possuem uma bagagem de experiências e conhecimentos acumulados. Para o professor, é necessário que se desenvolvam métodos de ensino e aprendizagem que tratem os alunos adultos como adultos e ajudem a fortalecer sua auto-estima.

“Ao partir do que o educando sabe, abrimos a possibilidade de uma nova construção baseada em diálogo e uma relação mais horizontal entre o educador e educando, reconhecendo que em várias áreas de conhecimento o próprio educando possui mais acúmulo que o seu educador”, acredita.

Jornal do Professor – O que diferencia a Educação de Jovens e Adultos do antigo Supletivo? Qual é a identidade da EJA?

Timothy Ireland - O conceito de EJA como uma forma de suplência é antigo no Brasil. Contudo, a forma mais elaborada se encontra na Lei n. 5692/71, que criou os ensinos de 1º e 2º Graus e sistematizou o ensino supletivo, em termos de exames e cursos. Nessa lei de 1971 o ensino supletivo ganhou um capítulo próprio com cinco artigos. Embora o Conselheiro Valnir Chagas tenha previsto no seu parecer 699/72 quatro funções do ensino supletivo – a suplência, o suprimento, a aprendizagem e a qualificação – a sua finalidade mais marcante foi a de “suprir a escolarização regular para os adolescentes e adultos que não a tenham seguido ou concluído na idade própria” num sistema desenvolvido por fora do ensino regular de 1º e 2º graus. O ensino supletivo era um sistema paralelo ao regular em que a aferição de conhecimento e certificação poderia se dar também fora do processo presencial de ensino-aprendizagem, por meio de exames. Os exames supletivos se organizavam nos vários sistemas de acordo com as normas baixadas pelos respectivos Conselhos de Educação.

A educação de jovens e adultos que conhecemos hoje traz as marcas de vários avanços conquistados, primeiramente na Constituição de 1988, em que o ensino fundamental foi estabelecido como direito público subjetivo, inclusive para os que não tiveram oportunidade de cursá-lo ou concluí-lo na ‘idade própria’ e depois na Lei das Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei n. 5694/96), em que se garante a “oferta de educação escolar regular para jovens e adultos, com características e modalidades adequadas às suas necessidades e disponibilidades, garantindo-se aos que forem trabalhadores as condições de acesso e permanência escola”.

Assim, além de ser direito de todo jovem e adulto independentemente de idade, a LDB estabelece a educação de jovens e adultos como uma modalidade da educação básica regular que deve se adequar às necessidades de aprendizagem e disponibilidades dos educandos entendidos predominantemente como trabalhadores.

No parecer (CNE/CEB no 11/2000) que o Conselheiro Jamil Cury elaborou para fundamentar a Resolução do Conselho Nacional de Educação que trata das Diretrizes Curriculares para a Educação de Jovens e Adultos, há uma definição que nos permite entender melhor a natureza e especificidade da EJA. Segundo o relator “A EJA é uma modalidade da educação básica, nas suas etapas fundamental e média. O termo modalidade é diminutivo latino de modus (modo, maneira) e expressa uma medida dentro de uma forma própria de ser. Ela tem, assim, um perfil próprio, uma feição especial diante de um processo considerado como medida de referência. Trata-se, pois, de um modo de existir com característica própria”.

JP – Qual é a função da EJA? Ela deve ocorrer em uma faixa etária determinada ou deve ser um processo contínuo, ao longo da vida?

TI - Nas discussões internacionais desde a década de 70 se tem entendido a educação de adultos como parte de um processo maior que tem sido chamado diferentemente de educação permanente, educação continuada e, mais recentemente, de aprendizagem ao longo da vida. O Marco de Ação de Belém, aprovado durante a Sexta Conferência Internacional de Educação de Adultos – VI Confintea, realizada em Belém do Pará, em dezembro de 2009, deixa claro o sentido amplo da aprendizagem ao longo da vida como “um marco conceitual e um principio organizador de todas as formas de educação, baseada em valores inclusivos, emancipatórios, humanistas e democráticos, sendo abrangente e parte integrante da visão de uma sociedade do conhecimento”. No sentido amplo, o conhecido Relatório Delors, reafirmou quatro funções ou pilares da aprendizagem: aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a ser e aprender a conviver com os outros. Vamos voltar mais tarde, na nossa conversa, para falar dessas funções.

Assim a educação de adultos, ou educação de jovens e adultos como é mais conhecido no Brasil e na América Latina, representa um componente significativo do processo de aprendizagem ao longo da vida que abrange “um vasto leque de conteúdos – aspectos gerais, questões vocacionais, alfabetização e educação da família, cidadania e muitas outras áreas”.

No Brasil, a EJA tem sido vista, de um lado e mais fortemente, como o direito a escolaridade em reconhecimento da grande dívida histórica para com os jovens e adultos não escolarizados. Ainda há 14 milhões de jovens e adultos acima de 15 anos que não sabem ler e escrever e mais de 60 milhões que não concluíram o ensino fundamental. Mas, de outro lado, há um crescente reconhecimento da importância de outros processos de aprendizagem não estritamente escolares em que o jovem e adulto pode ampliar e partilhar conhecimentos e saberes acumulados ao longo da vida em qualquer idade. A EJA precisa ser entendida como um processo que procura desenvolver o potencial e a autonomia de cada jovem e adulto por meio de processos mais formais de escolarização e por meio de outras formas igualmente válidas de aprendizagem ao longo da vida.

JP – O aprendizado de jovens, adultos e crianças ocorre da mesma maneira ou há diferenças?

TI - Talvez a primeira e óbvia diferença que há de apontar é que o jovem ou adulto não pode ser tratado simplesmente como uma criança crescida. O que queremos dizer com isso? Em geral, as crianças, pela sua condição de criança, têm pouca experiência de vida e pouco tempo em que acumular conhecimento e aprendizagem. O adulto ao retornar ao processo de escolarização e aprendizagem sistematizada traz consigo uma bagagem de experiência e de conhecimentos acumulados nos seus distintos campos de atuação e interação: no campo de trabalho, na família, na convivência social, na comunidade, na vida religiosa, na sua vida associativa e sindical e nas lutas cotidianas para sobreviver. Assim, na EJA se tem frisado a importância em termos metodológicos de partir do que o adulto conhece e sabe e não do que não sabe. O jovem e adulto pode ter mais dificuldade inicialmente em aprender novos conhecimentos e processos porque está afastado a tempo de processos mais formais, sistemáticos e organizados de aprendizagem, mas não existe nenhum impedimento neurológico para que continue o seu processo de aprendizagem. Aprender também é uma disciplina que precisa ser aprendida ou re-aprendida e que custa trabalho. Muitos adultos reclamam no começo que o estudo faz a cabeça doer. É igual como quando re-tomamos a atividade física depois de um período sem nos exercitar, o corpo dói!

Assim, precisamos desenvolver métodos de ensino-aprendizagem que levem em consideração a condição de adulto do educando, que lhe tratem como adulto e que ajudem a fortalecer a sua auto-estima, a sua auto-imagem frequentemente fragilizada pela sua condição social. Ao partir do que o educando sabe, abrimos a possibilidade de uma nova construção baseada em diálogo e uma relação mais horizontal entre o educador e educando, reconhecendo que em várias áreas de conhecimento o próprio educando possui mais acúmulo que o seu educador.

JP – Os conteúdos curriculares de EJA são os mesmos desenvolvidos na educação básica? Esses conteúdos são iguais em todo o Brasil?

TI - Como modalidade de ensino fundamental e ensino médio, as Diretrizes Curriculares Nacionais da EJA aprovadas em 2000 estendem para a EJA as Diretrizes Curriculares Nacionais já estabelecidas para o ensino fundamental e médio dois anos antes. Porém, ao mesmo tempo, frisam que dentro da identidade própria da EJA, é fundamental levar em consideração as situações, os perfis e as faixas etárias dos estudantes, se pautando “pelos princípios de equidade, diferença e proporcionalidade na apropriação e contextualização das diretrizes curriculares nacionais e na proposição de uma modelo pedagógico próprio”. O que é que isso significa? Significa, de um lado que as diretrizes nacionais são fundamentais por estabelecerem a garantia de uma base comum nacional inclusive para o efeito da aferição de resultados e do reconhecimento de certificados de conclusão. Há sem dúvida a necessidade de parâmetros comuns. De outro lado, significa que considerando a especificidade da EJA (situações, perfis, faixas etárias) essas mesmas diretrizes não podem ser aplicadas de uma forma inflexível e homogênea. É necessário oferecer respostas diferenciadas para a diversidade que os contextos regionais, culturais e sócio-econômicos exigem. Não há tão pouco como tratar as necessidades de aprendizagem dos distintos grupos e faixas etárias que procuram a EJA, seja no nível fundamental ou médio, de uma maneira igual. É evidente que há grandes diferenças entre o contexto cultural dos estados do sul e os estados do norte, por exemplo, ou entre as necessidades de aprendizagem das populações vivendo no campo e as vivendo nas grandes aglomerações urbanas ou entre as das comunidades quilombolas e as das periferias urbanas. Igualmente, é essencial que a modalidade de EJA, seja fundamental ou médio, reconheça os diferentes tempos e espaços dos seus educandos. Na EJA, precisamos ter clareza sobre quem são os sujeitos do processo de ensino-aprendizagem e quais os seus interesses, necessidades e demandas em termos de tempos e formatos de estudo. Em outras palavras, a EJA precisa de um projeto pedagógico específico pensado a partir da realidade do educando que procura a garantia do seu direito à educação.

Assim, os princípios da contextualização e do reconhecimento de identidades pessoais e das diversidades coletivas constituem-se em diretrizes nacionais dos conteúdos curriculares. A EJA é um espaço importante para a reconstrução das experiências da vida ativa e para ressignificar os conhecimentos adquiridos na ‘escola da vida’ e articulá-los com os saberes aprendidos na escola. Representa uma forma de validar e reconhecer as aprendizagens não-escolares e, ao mesmo tempo, articular escola e vida.

JP – O que é significativo e interessante que os alunos de EJA aprendam?

TI - Parece-me que quem tem que decidir o que é significativo e interessante para os alunos de EJA são os próprios sujeitos do processo de aprendizagem. Nesse sentido, diria que é importante que os conteúdos do processo de aprendizagem sejam socialmente relevantes. Isto é, que contribuem para o jovem ou adulto entender melhor, e criticamente, o contexto em que vive, para melhorar a qualidade da sua vida e a da sua sociedade, para desenvolver o seu potencial como indivíduo (a sua vocação ontológica de ser mais) e para fortalecer a sua autoconfiança e auto-estima. Muitos jovens abandonam a escola regular por não ver nenhuma relevância no que são obrigados a aprender na escola para a sua vida fora da escola. Na EJA (e na escola), a questão da relevância é fundamental.

Do ponto de vista do educador e cidadão, diria também que é fundamental o educando jovem e adulto aprender a ler com prazer na escola. A leitura é a base do processo de aprendizagem ao longo da vida e da autonomia pedagógica. Não há como construir uma sociedade mais democrática, participativa e justa sem cidadãos leitores e críticos. Uma política pública de acesso ao livro e a leitura é parte integrante de uma política de educação de jovens e adultos.

Em terceiro lugar, volto para aquela referência que fiz antes aos quatro pilares de aprendizagem apresentados no relatório da Comissão Internacional do Século XXI (Relatório Delors). A Comissão aponta como fundamental para a EJA o aprender a conhecer, a fazer, a ser e a viver juntos. O aprender a conhecer enfatiza a necessidade de a educação ensinar não tanto um vasto leque de conhecimentos senão “o domínio dos próprios instrumentos do conhecimento”. O aprender a fazer está ligado à questão da formação profissional e como aplicar criticamente os conhecimentos ao mundo de trabalho. O aprender a ser se refere ao desenvolvimento, autônomo e crítico, da pessoa na sua plenitude. Talvez o pilar que mais chama a atenção no dia de hoje é o aprender a viver juntos ou a conviver. Podemos articular isso com o que a Unesco tem chamado de uma cultura da paz. É função de a educação desenvolver a compreensão do outro e a percepção das interdependências, buscarem compreender as diferenças e valorizar a diversidade. A paz é um processo e não um estado que tem que se criado, recriado e alimentado continuamente por meio da compreensão informada.

Seria interessante perguntar aos seus estudantes o que querem da escola.

JP – Quais os principais aspectos que os professores de EJA devem observar para a obtenção de melhores resultados com seus alunos?

TI - Espero ter convencido o leitor que o campo da educação de jovens e adultos é um campo que ganha a sua identidade própria da natureza e características dos sujeitos que freqüentam ou são alunos potenciais da EJA. Por isso exige metodologias, currículos, material didático, tempos e espaços, formas de avaliação e, sobretudo, formação inicial e continuada específicas para os seus profissionais. Na maioria dos casos quem trabalha no campo da EJA recebe no máximo uma formação superficial e curta para trabalhar com jovens e adultos. São poucas as universidades que oferecem uma habilitação específica para a EJA. Às vezes, há uma disciplina que trata mais dos aspectos históricos e políticos da EJA do que das questões teórico-metodológicas. O professor ou educador de EJA requer como qualquer outro profissional, uma formação inicial adequada seguida por formação continuada. Mas também precisa de garantia de emprego no campo em que foi formado. Por isso, há de ter concursos públicos nos municípios e estados especificamente para o campo da EJA.

Da minha experiência no campo da EJA, eu destacaria três aspectos fundamentais para que o professor consiga facilitar a aprendizagem dos seus alunos adultos. Em primeiro lugar (embora não haja para mim hierarquia entre os três aspectos), o professor tem que ter competência técnica. Em outras palavras, precisa ter um bom domínio do conteúdo que está ensinando. O educando descobre muito rapidamente quando o educador está blefando ou inseguro. Segundo, o educador precisa ter competência pedagógica – saber lidar com os jovens e adultos nas suas salas. É necessário conhecer os alunos e suas experiências, descobrir o que sabem e o que querem saber, partir do que sabem e estabelecer um diálogo democrático e produtivo com os alunos. Em terceiro lugar, o educador de adultos precisa desenvolver o que chamo de sensibilidade pedagógica - compreender a importância da escuta pedagógica, tratar o adulto como igual, como co-participe no processo de aprendizagem.

JP – Qual é a situação da EJA no mundo, atualmente? Quais os países que se destacam nesse tipo de ensino?

TI - Em dezembro de 2009, a Unesco juntamente com o Governo Brasileiro organizou a Sexta Conferência Internacional de Educação de Adultos – VI Confintea, em Belém do Pará. Durante a Conferência, a Unesco lançou o primeiro Relatório Global de Aprendizagem e Educação de Adultos (GRALE da sigla em inglês) que apresenta um estado de arte mundial da EJA. Para os interessados recomendo a leitura desse relatório que pode ser baixado do site: http://www.unesco.org/pt/brasilia

O relatório revela, de um lado, a falta ou a precariedade de dados sobre a EJA. O dado quantitativo mais citado é o número de pessoas que ainda não sabem ler e escrever mundialmente, 774 milhões (34 dos quais na América Latina). De outro se identifica uma dualidade conceitual relacionada com a EJA: para os países do sul a EJA ainda é fortemente associada com estratégias, programas e políticas de alfabetização e educação básica dentro de uma abordagem escolar, reparadora e compensatória. Para os países do hemisfério norte embora haja uma base conceitual mais ampla voltada para a aprendizagem ao longo da vida, há também uma preocupação primordial com relação à formação profissional – crescimento econômico: o investimento em recursos humanos para garantir a crescente competitividade da economia européia.

Entre os países emergentes a África do Sul, a Coréia do Sul, Tailândia e China são citados como países que têm investido no campo da EJA na perspectiva da aprendizagem ao longo da vida. Na América Latina, o Brasil tem desempenhado um papel de destaque embora os desafios permaneçam enormes. Na Europa, os países nórdicos como a Suécia, a Noruega e a Dinamarca possuem uma tradição forte de valorização da educação de adultos.

Talvez o que mais preocupa no momento são as consequências dos cortes resultando da crise financeira que atingiu o mundo, e especialmente os países mais industrializados, em 2009. Quando há uma necessidade de reduzir gastos públicos a EJA termina sendo um alvo clássico. Esperamos que isso não seja o caso num campo em que os investimentos (e não gastos) já são insuficientes para o tamanho do desafio.