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JORNAL

O Coordenador Pedagógico na Escola

Terça-feira, 1 de Fevereiro de 2011

Edição 50

EDITORIAL - O Coordenador Pedagógico na Escola

O Coordenador Pedagógico na Escola é o tema da 50ª edição do Jornal do Professor. O assunto foi escolhido por 67,38% dos leitores que votaram na enquete colocada em nossa página.

Nesta edição, trazemos para você experiências de coordenadores pedagógicos de Brasília, Porto Alegre, e Venâncio Aires. Na seção Espaço do Professor, apresentamos a professora Isabel Maria de Novaes, de Barra do Piraí (RJ), que busca sempre novas formas para facilitar a aprendizagem de seus alunos, utilizando teatro, música, dança e artes visuais.

Para falar sobre o papel do coordenador pedagógico na escola, atividades, desafios, e formação, entre outros assuntos, convidamos o professor, pesquisador e escritor, Celso dos Santos Vasconcellos.

Ajude-nos a escolher o tema das próximas edições, votando na enquete colocada em nossa página. E aproveite para colaborar enviando sugestões, críticas, textos e músicas!

Seja bem-vindo!

Múltiplas funções desafiam coordenação pedagógica

Vestida de romana, Maria Luiza participa de festa na escola com alunos e professores.

As inúmeras atividades desenvolvidas diariamente pela coordenadora pedagógica Maria Luiza Alves de Moura a deixam muito cansada, mas também realizada. Para ela, a função que exerce é polivalente e muitas vezes engloba, além da parte pedagógica, outras práticas habitualmente desempenhadas por pais e profissionais de diversas áreas. “Procuro fazer o melhor que posso e conto com uma boa equipe de professores e gestores, que fortalecem nosso trabalho num clima familiar, na medida do possível”, assegura Maria Luiza, que trabalha no Centro de Ensino Fundamental (CEF) da 102 Norte. Licenciada em ciências, matemática, e biologia, pós-graduada em psicopedagogia institucional, ela ingressou na carreira do magistério há 32 anos, sempre na rede pública. Desse período, 26 anos foram em regência de classe, como professora de ciências e biologia, e seis como coordenadora pedagógica.

Ela assegura que o principal desafio que tem enfrentado como coordenadora pedagógica é o próprio sistema educacional, seja devido a problemas como falta de professores no início de cada ano letivo ou o grande número de alunos em cada turma. De acordo com Maria Luiza, as crianças hoje atropelam o tempo, pela curiosidade, pelo amadurecimento precoce, pela inversão de valores, pela “sede” de tecnologia em suas vidas, sem contar com a inclusão dos alunos com necessidades educacionais especiais (Anees). Tudo isso, “exige do professor habilidades diversas para atender, a contento, as necessidades dos seus alunos”, acredita. Em sua opinião, se as turmas fossem mais reduzidas, o atendimento teria uma qualidade bem superior.

Outro desafio citado por Maria Luiza é a troca de professores no decorrer do ano letivo, com a substituição de profissionais com contrato temporário por outros com cargos efetivos. Segundo ela, isso provoca inúmeros transtornos de relacionamento e de adaptação dos alunos, bem como mudanças no método de trabalho. “Na maioria das vezes isso acontece ao meio de um bimestre, o que particularmente acho lamentável, pois o aluno é muito prejudicado; percebemos claramente como o rendimento cai e a indisciplina aumenta”, destaca.

O excesso de projetos que “minam” o período letivo é outro fator incômodo, na visão da coordenadora. Ela diz entender que a educação não pode se pautar em pilares estáticos, pois a inovação é importante, mas que tudo precisa ser na medida certa, com base no cotidiano da comunidade e, principalmente, no número de aulas previstas para cada professor. “Ninguém sobrecarregado consegue realizar um bom trabalho”, afirma.

A cada início de ano letivo, o CEF 102 Norte realiza a semana pedagógica: “são revistas todas as metas da proposta pedagógica do ano anterior, refeitas as que não fluíram e reforçadas as que obtiveram sucesso.” Nessa ocasião também é feito o acolhimento dos novos professores, a discussão de sugestões para melhoria do trabalho, e o estabelecimento de um cronograma com os eventos previstos para o decorrer do ano, como datas festivas, reuniões de pais, e conselhos de classe. Os estudantes não são esquecidos e na primeira semana de aulas a escola trabalha a importância da boa convivência na escola. São realizadas oficinas com temas que envolvam valores e é feita a distribuição e leitura do Regimento Escolar.

(Fátima Schenini)

Coordenadora quer fazer a diferença na vida dos alunos

Rosângela Martins sentada entre estudantes.

Apaixonada por seu trabalho, a pedagoga Rosângela Maria Borges Martins, 36 anos de magistério, já deu aulas nos anos iniciais do ensino fundamental, em cursos de formação de professores (o antigo Curso Normal), em cursos de graduação e pós-graduação em pedagogia, e também em cursos de qualificação pedagógica para professores de cursos técnicos e tecnológicos. Além disso, trabalhou como orientadora educacional; supervisora e coordenadora pedagógica em escolas públicas e privadas.

Atualmente, ela atua em duas escolas de Porto Alegre (RS): na Escola Estadual São Francisco de Assis trabalha como orientadora educacional e no Colégio Metodista Americano, como coordenadora pedagógica. Formada em pedagogia com especialização em orientação educacional e mestrado em educação, uma de suas maiores satisfações é participar da vida das crianças, fazendo a diferença. Além disso, sonha poder implementar um projeto pedagógico para a formação de professores especializados na área de pedagogia social, preparando-os para trabalharem com crianças em situação de risco e vulnerabilidade social. Sua idéia é propor e coordenar um curso superior de capacitação, formação continuada e desenvolvimento profissional dos cuidadores diretos das crianças nessa situação: educadores, monitores, mães ou pais sociais.

De acordo com Rosângela, apesar de estar ocorrendo um aumento no número de organizações não governamentais (ONGs) e de espaços educativos não formais por todo o país, a capacitação ou formação inicial para as pessoas que atuam diretamente com crianças e adolescentes não tem sido um pré-requisito considerado. Ela acredita que, embora existam pessoas bem intencionadas, que querem contribuir para melhorar a vida daqueles que foram privados do convívio familiar, existem outras despreparadas, que cumprem suas funções sem considerar a história, os medos, as expectativas, e as necessidades desses garotos.

Desafio - Segundo a pedagoga, seu maior desafio profissional foi o atendimento de 50 crianças da periferia do município de Rio Grande (RS), que não possuíam as condições mínimas necessárias à aprendizagem formal. Eram crianças filhas de pescadores que moravam em casebres sem luz e sem água encanada. Após a aplicação do “teste ABC”, usado na época para determinar pré-requisitos para o ingresso na educação básica, foi diagnosticado que nenhum deles estava apto para o primeiro ano e que alguns deveriam ser encaminhados a escolas especiais. “Trabalhar com essas crianças foi, sem dúvida, meu primeiro desafio. O maior e melhor de todos considerando a vida de cada um, suas possibilidades e dificuldades. Cresci como pessoa, como professora, como cidadã que acredita e “briga” para que todos tenham oportunidades.”

Idealista, Rosângela diz que não adianta dizer que a educação é importante, mas é preciso fazer com que ela seja o que realmente importa: “valorizando professores, implementando políticas públicas de modernização das escolas de formação e qualificação de professores, de fiscalização e controle das verbas destinadas a educação, de seriedade com concursos públicos, de remuneração dos profissionais da educação”, enumera.

(Fátima Schenini)

Abertura para o diálogo é uma das maiores satisfações de pedagoga

Grupo de professores participa de reunião.

Perceber que a maioria dos professores está comprometida com a prática docente e se preocupar em estimular novos projetos é o que mais gratifica a pedagoga Ivonir Silveira da Rosa, de Venâncio Aires (RS), município a cerca de 130 Km de Porto Alegre.

Há mais de dez anos no magistério, ela já trabalhou com educação infantil, séries iniciais do ensino fundamental, supervisão escolar e até mesmo como vice diretora. Com curso de especialização em psicopedagogia institucional, ela atua como coordenadora pedagógica e supervisora escolar na Escola Estadual de Ensino Médio Wolfram Metzler, onde também mantém um blog.

Uma de suas maiores satisfações é quando observa que o espaço é aberto ao diálogo e que, apesar das resistências, é possível avançar e construir novas possibilidades na prática docente. Ou então, quando acontece o reforço de práticas que estão apresentando resultado positivo. “É fundamental perceber que é importante para o professor ter espaço para falar, mas devendo levar a uma mudança de atitude quando se constata que não é a opinião da maioria ou quando não leva a uma melhoria no processo de ensino-aprendizagem”, destaca.

Dificuldades – Entre as maiores dificuldades enfrentadas na coordenação pedagógica, Ivonir cita a troca de professores no decorrer do ano letivo, a resistência a horários para reuniões pedagógicas, e a falta de coerência do plano de trabalho com o plano de estudos. Outros desafios são a falta de recursos pedagógicos de apoio, como laboratórios de ciências e de informática, com profissionais disponíveis para auxiliar o professor. “O professor sozinho não consegue utilizar essas tecnologias no seu trabalho”, avalia. Para ela, no entanto, a maior dificuldade é a impossibilidade de acompanhar tudo o que acontece no âmbito escolar, pois as atividades burocráticas tomam muito tempo.

Ivonir é responsável pela reativação do Grêmio Estudantil, que considera muito importante para a realização de suas próprias atividades: “através dele percebo como está o trabalho em sala de aula, as relações com os colegas e a organização dos estudantes em busca da realização de seus objetivos. Alunos da quarta série do fundamental ao 3º ano do ensino médio (diretoria e colaboradores) participam da agremiação.

(Fátima Schenini)

Para professora fluminense, professor não é o que ensina, mas o que aprende

Professora Isabel Maria de Novaes

A professora Isabel Maria de Novaes, de Barra do Piraí (RJ), sempre procura novas maneiras para facilitar a aprendizagem de seus alunos, utilizando as linguagens artísticas nas suas vertentes – teatro, música, dança e artes visuais. Formada em letras (português e literatura), ela trabalha há 13 anos no Centro Integrado de Educação Pública - Ciep Brizolão 310 Professora Alice Aiex. Ela fez curso de pós-graduação em Teatro e Linguagens e, a partir das atividades vivenciadas, começou a aplicação do uso da linguagem teatral para a motivação e concretização do aprendizado.

“O professor não é aquele que ensina, mas aquele que aprende. Todo o nosso trabalho está pautado na leitura, pesquisa e descobertas, para a valorização do ser humano e conhecimento do patrimônio cultural, a fim de modificar e melhorar a comunidade em que vive”, destaca Isabel, que é natural de Santa Isabel do Rio Preto, também no Rio de Janeiro, mas mora em Barra do Piraí desde 1975.

Ela relembra que no início foi difícil, até fazer amizades e se familiarizar com os novos costumes de uma cidade maior e desconhecida. Mas depois foi muito bom, pois logo fez amizades na escola e se engajou em atividades na igreja: foi catequista e tocava teclado em missas e casamentos. Por quatro anos foi Presidente da Associação de Moradores do Bairro da Química, encaminhando as reinvindicações dos moradores e lutando pela melhoria da comunidade. “Hoje conheço muitas pessoas e várias delas fazem parte da caminhada da minha vida, pessoas que foram imprescindíveis nessa jornada”, ressalta.

Sarau Literário – Em 2008, Isabel idealizou a realização do Primeiro Sarau Literário do Ciep Professora Alice Aiex, intitulado A Arte como Linguagem Interdisciplinar. A iniciativa surgiu por meio da leitura de obras literárias de autores como José de Alencar, Lima Barreto, Graciliano Ramos, e Jorge Amado, tendo como objetivo o desenvolvimento do vocabulário, a concentração, a disciplina, o respeito e a solidariedade. “Um texto ou uma pesquisa não pode prescindir da leitura, que traz um enriquecimento artístico e cultural, ampliando sua visão de mundo”, assegura Isabel.

O sarau foi realizado durante dois dias. Foram montadas salas temáticas sobre assuntos como romantismo e modernismo, além de orientação profissional; cultura afro (resgatando a auto-estima); e cem anos da imigração japonesa. E em um palco montado no refeitório, foram feitas apresentações de peças teatrais baseadas na obra A Moreninha, de Joaquim Manuel de Macedo, e em Romeu e Julieta, de William Shakespeare.

As adaptações teatrais dos dois romances foram feitas pelos próprios alunos do ensino médio que participaram da encenação. Os estudantes do fundamental tomaram parte em atividades de canto e dança e também em uma homenagem às mulheres que fizeram história. O evento foi encerrado com uma confraternização entre pais, alunos e comunidade.

As professoras de educação artística, Sandra Bilheiro da Silva e Cláudia Cristina Cardoso foram parceiras nessa realização, implementando o projeto. Os demais professores também participaram, desenvolvendo os trabalhos a partir dos temas abordados nos livros lidos.

Acesse o blog da professora Isabel e saiba mais sobre o trabalho que realiza.

(Fátima Schenini)

Celso Vasconcellos: coordenador pedagógico deve estar sempre atento à realidade escolar

Professor Celso Vasconcellos

Doutor em Educação pela Universidade de São Paulo (USP) e mestre em história e filosofia da educação pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP), Celso dos Santos Vasconcellos é pedagogo, filósofo, pesquisador, escritor, conferencista, e professor convidado de cursos de graduação e pós-graduação.

Em entrevista ao Jornal do Professor, ele aborda, entre outros temas, o papel do coordenador pedagógico na escola, as principais atividades que realiza, e os maiores desafios que enfrenta. Para ele, a formação do coordenador pedagógico deve incluir, em primeiro lugar, uma boa formação como educador, para acrescentar, depois, uma formação específica para a coordenação pedagógica, com aprofundamento em gestão escolar, planejamento, projeto político-pedagógico, trabalho de grupo, supervisão.

“Se desejamos avançar na conquista de uma educação de qualidade social democrática, temos de investir, com toda a urgência, na formação dos professores em geral e da coordenação pedagógica em particular”, defende.

Jornal do Professor – Qual o papel do coordenador pedagógico na escola?

Celso dos Santos Vasconcellos – O horizonte que vislumbro para o coordenador pedagógico é o do intelectual orgânico, qual seja, aquele que está atento à realidade, que é competente para localizar os temas geradores (questões, contradições, necessidades, desejos) do grupo, organizá-los e devolvê-los como um desafio para o coletivo, ajudando na tomada de consciência e na busca conjunta de formas de enfrentamento. O intelectual orgânico é aquele que tem um projeto assumido conscientemente e, pautado nele, é capaz de despertar, de mobilizar as pessoas para a mudança e fazer junto o percurso. Em grandes linhas cabe ao coordenador fazer com sua “classe” (os seus professores) a mesma linha de mediação que os professores devem fazer em sala: acolher, provocar, subsidiar e interagir.

JP – Quais as principais atividades por ele desenvolvidas?

CSV – Coordenar a elaboração e a realização interativa do projeto político-pedagógico da escola (PPP); elaborar o seu plano setorial, qual seja, o projeto de trabalho da coordenação pedagógica; colaborar com os professores na construção e realização interativa do projeto de ensino-aprendizagem/plano de ensino, assim como dos planos de unidade, sequências didáticas, projetos de trabalho, semanários, planos de aula; coordenar as reuniões pedagógicas semanais (hora-atividade, horário de trabalho pedagógico coletivo); acompanhamento individual dos professores (supervisão não com sentido de controle autoritário, mas de “outra” visão); puxar para o todo (superando o foco muito localizado de cada professor); participar da educação da mantenedora e da comunidade, etc.

Um dispositivo institucional fundamental para favorecer a concretização do PPP e a atividade da coordenação é o trabalho coletivo constante, a hora-atividade, o tempo coletivo dos educadores na escola, com a presença da direção, coordenação e professores. Fica muito difícil o trabalho da coordenação quando não há este espaço coletivo constante, pois é aqui que as coisas são amarradas, as avaliações feitas, as metas estabelecidas (ex.: alfabetização, diminuição da evasão, do insucesso ao fim do ciclo, etc.) monitoradas, as intervenções pensadas coletivamente.

Para mudar a escola —e a sociedade— precisamos de pessoas e estruturas, estruturas e pessoas. Não pode haver dicotomia. O PPP e o trabalho coletivo constante são instrumentos que ajudam as pessoas na tão necessária luta pela melhoria da qualidade da prática pedagógica. Sem este espaço, o coordenador corre um sério risco de virar “bombeiro”, “quebra-galho”, “burocrata”, tendo uma ação fragmentada.

JP – Quais os maiores desafios enfrentados pelos coordenadores pedagógicos na realização de seu trabalho na escola?

CSV – Para mim, o maior desafio que a coordenação pedagógica encontra hoje é o desmonte —objetivo e subjetivo— dos professores (mal-estar docente, burnout – síndrome de desistência do professor, demissão em ação, desânimo). Tal situação é fruto de uma histórica e perversa armadilha muito bem montada para o professor que envolve cinco fatores:

1. Desmonte docial, em particular da família;

2. currículo disciplinar instrucionista e avaliação classificatória e excludente;

3. condições precárias de trabalho;

4. formação frágil;

5. justificativas ideológicas para o fracasso dos alunos que isentam de responsabilidade tanto os professores quanto os mantenedores.

É preciso muita clareza e determinação para ajudar os colegas na tomada de consciência desta situação (que é vivida, mas não compreendida), assim como na tomada de consciência e ocupação da sua Zona de Autonomia Relativa, conceito que desenvolvo no livro Currículo: a Atividade Humana como Princípio Educativo.

JP – Muitas escolas costumam realizar uma semana pedagógica no início de cada ano letivo. Qual a importância da realização dessa atividade?

CSV – Se entendermos o planejamento como um processo, podemos afirmar que estaremos planejando durante todo o ano. Por que, então, o destaque a este momento? Existem algumas peculiaridades:

Início de ano: princípio de processo, onde decisões importantes podem ser tomadas; estabelecer rumos; assumir compromissos; organizar trabalho; ter visão de conjunto. Estamos acostumados a pensar baseados no paradigma cartesiano-newtoniano, de cunho positivista e simplista (determinismo, relação linear de causa e efeito); sabemos que, muito frequentemente, na vida humana concreta não é assim que as coisas funcionam. Precisamos desenvolver outras formas de representação mental, inclusive novas metáforas. Neste sentido, lembro das contribuições da Teoria do Caos: em sistemas turbulentos de alta complexidade (e a educação escolar, embora em outra referência no plano existencial, com certeza é um deles), uma pequena alteração no início do processo pode provocar uma grande mudança na trajetória;

Maior coletivo: possibilidade de reunir um grupo maior de educadores, fato nem sempre possível nas horas-atividades/horário de trabalho pedagógico coletivo no decorrer do ano;

Duração: maior tempo de reunião, em função de não haver atividade com alunos, o que possibilita tanto a abordagem de um leque maior de temas quanto o seu maior aprofundamento.

JP - Em sua opinião, quais os pontos que devem ser abordados durante as semanas pedagógicas?

CSV – Basicamente: retomar o projeto político-pedagógico, isto é, fazer memória do marco referencial (fonte de sentido do trabalho), revisar o diagnóstico e refazer a programação; revisão das normas de convivência da escola; elaboração dos projetos de ensino-aprendizagem/planos de ensino por parte dos professores; distribuição das aulas (sendo que os melhores professores devem ficar com anos iniciais); programação da primeira reunião de pais; preparação das salas de aula para receber com todo carinho os alunos no primeiro dia de aula.

JP - Qual o tipo de formação mais adequada para se preparar um bom coordenador pedagógico?

CSV – Primeiro, uma boa formação como professor, como educador, o que envolve as três grandes dimensões da atividade docente: trabalho com conhecimento, organização da coletividade (construção da disciplina em sala de aula) e relacionamento interpessoal. Depois, a formação específica para a coordenação pedagógica, com aprofundamento em gestão escolar, planejamento, projeto político-pedagógico, trabalho de grupo, supervisão (acolhimento, acompanhamento, orientação, etc).

JP - As instituições de ensino superior conseguem formar bons coordenadores pedagógicos? Ele sai preparado para o exercício de suas atividades ou isso ocorre mesmo é no dia-a-dia?

CSV – Entendo que, de partida, há um gravíssimo problema na formação do professor; além disto, há sérias limitações na formação do coordenador pedagógico. Muitas vezes, tem-se a visão de que o problema da formação docente está na necessidade de atualização: tecnologias da comunicação e informação, inclusão, diversidade, transdisciplinaridade, etc. Não temos a menor dúvida desta demanda. Todavia, antes de mais nada, é preciso a tomada de consciência de que este despreparo passa por um aspecto absolutamente elementar de sua atividade: a didática, o processo de ensino-aprendizagem.

Nas formações continuadas, quando perguntamos aos professores quais as exigências básicas para a aprendizagem dos alunos, são raros os que apontam o conjunto das exigências e, de um modo geral, não sabem justificar o porquê da exigência apresentada (sabem que se trata de um aspecto importante na aprendizagem, porém não sabem justificá-lo).

Se fôssemos aplicar com os professores o mesmo critério que utilizam com alunos (exigir no mínimo 50% de acerto), apenas 20% seriam aprovados, pois, das seis exigências essênciais, na perspectiva interacionista, 80% colocam duas ou menos; há professores que respondem frente e verso e não apontam sequer uma categoria epistemológica; falam da função da escola, da formação da cidadania, etc., só que não é isto que está sendo perguntado!

Nesta mesma direção aponta pesquisa do professor Fernando Becker (A Epistemologia do Professor): o despreparo dos docentes para um dos aspectos nucleares de sua atividade —o processo de conhecimento—, é tal que estranham serem indagados a respeito de como seus alunos conhecem, chegando mesmo um professor a afirmar “Te confesso que nunca tinha pensado nisso”. O que estará fazendo em sala um professor —e sabemos perfeitamente que não é um caso isolado— que sequer compreende como seu aluno aprende? Muito provavelmente não será construção do conhecimento, mas mera transmissão.

Se desejamos avançar na conquista de uma educação de qualidade social democrática, temos de investir, com toda a urgência, na formação dos professores em geral e da coordenação pedagógica em particular.