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JORNAL

Libras na Escola

Terça-feira, 22 de Fevereiro de 2011

Edição 51

EDITORIAL - Libras na Escola

O tema da 51ª edição do Jornal do Professor é Libras na Escola. O assunto foi escolhido por 45,2% dos leitores que votaram na enquete colocada em nossa página.

Nesta edição, você vai conhecer as experiências das professoras Roberta Dutra, da Escola Municipal Professora Edna Umbelina de Sant’Anna da Silva, em Nova Iguaçu (RJ), e Sandra de Miranda Nunes, da Escola Estadual Itagiba Laureano Dornelles, em Aparecida de Goiânia (GO), que conseguiram bons resultados com o ensino da língua brasileira de sinais (libras) na sala de aula.

Também apresentamos a experiência da Escola Municipal Padre Antônio Henrique, em Recife (PE), uma instituição bastante sensível à questão da inclusão, contada pela gestora Maria de Fátima Ferraz.

A fonoaudióloga e pedagoga Neiva de Aquino Albres, doutoranda em educação especial, é outra participante desta edição. Familiarizada com a língua brasileira de sinais, desde a infância, ela acredita que é necessário ampliar o tempo dedicado ao ensino de libras.

Na seção Espaço do Professor, você vai conhecer a secretária de escola que tem alma de educadora. Nancy Oliveira Santana trabalha na Escola Estadual Gercina Borges Teixeira, em Jussara (GO), e apresenta aos leitores do Jornal do Professor o projeto que criou para estimular a leitura e a escrita entre os estudantes.

Nossa entrevistada é a pedagoga Mirlene Ferreira Macedo Damazio. Pesquisadora e diretora da Fundação Conviver para Ser, ela diz que o ensino de libras nas escolas deve incluir todos que nela estão.

Ajude-nos a escolher o tema das próximas edições, votando na enquete colocada em nossa página. E aproveite para colaborar enviando sugestões, críticas, textos e músicas!

Seja bem-vindo!

Aulas de libras mudam comportamento de alunos ouvintes

Professora Roberta e alunos

Preocupada com as dificuldades de convívio de seus alunos na sala de aula, que incluíam brigas e desentendimentos e dificultavam o aprendizado, a professora Roberta Dutra, de Nova Iguaçu (RJ), buscava uma solução que fosse diferente, importante e marcasse a vida dos estudantes para sempre. Formada em letras, com especialização em educação inclusiva, ela decidiu, então, ensinar a língua brasileira de sinais (libras) aos estudantes do quarto ano do ensino fundamental da Escola Municipal Professora Edna Umbelina de Sant’Anna da Silva.

“Eu queria um outro movimento a favor da vida e que fosse ao encontro da educação inclusiva, a fim de mostrar que as diferenças nos constituem como seres humanos e que não somos melhores e nem piores por conta delas”, explica Roberta, que há quatro anos desenvolve o projeto Libras para Todos, em turmas regulares. Além de lecionar as disciplinas que compõem o currículo escolar, ela dedica de cinco a dez minutos por dia ao ensino de libras.

A novidade foi bem recebida pelos alunos (nenhum com problema de audição), apoiada pelos dirigentes da escola e também pelos pais dos estudantes. As atividades começaram com o ensino do alfabeto, dos numerais e das cores, por meio de recursos lúdicos, como: dominó, jogo da memória, gravuras expressivas e até dramatizações em libras. Com o passar do tempo, novos conteúdos foram acrescentados: verbos, frutas, meses do ano, objetos escolares, membros da família e meios de transportes.

“Fui conquistando, pouco a pouco, a atenção das crianças e elas foram percebendo o quanto a libras é uma língua rica em detalhes, mas que estava ao alcance delas”, conta a professora. Segundo ela, a percepção das diferenças trouxe o reconhecimento e a valorização da diversidade em sala de aula, melhorando o relacionamento da turma pelo exercício do respeito.

No festival literário realizado pela escola no final de 2007, primeiro ano de implantação do projeto, uma aluna fez uma interpretação em libras enquanto Roberta lia uma história. “Simplesmente lindo e emocionante, pois as outras crianças que assistiam, não tiravam os olhos dela e de toda a expressividade que marcava aquela história”, salienta a professora, que atualmente faz pós-graduação em atendimento educacional especializado.

Ela diz que fica feliz em ter duas histórias para contar sobre sua carreira no magistério: uma, anterior e outra, posterior ao ensino da língua brasileira de sinais. “Que alegria olhar para os meus alunos e vê-los começando uma história de vida diferente, selada pelo gosto da inclusão social com arte, envolvimento e ação”, destaca a professora.

(Fátima Schenini)

Língua de sinais ajuda escola a melhorar rendimento de estudantes

Professora Sandra e alunos do 4° ano

Mesmo sem ter alunos surdos matriculados, uma escola de Aparecida de Goiânia, na região metropolitana da capital de Goiás, desenvolveu um projeto para o ensino da língua brasileira de sinais (libras) que trouxe mais rendimento ao processo de ensino-aprendizagem. Língua em Libras: um novo jeito de aprender a ler e escrever foi realizado na Escola Estadual Itagiba Laureano Dornelles, em 2008, com alunos do ensino fundamental, médio e da educação de jovens e adultos (EJA).

A responsável pelo projeto foi a professora Sandra de Miranda Nunes, pedagoga e licenciada em filosofia, que na época lecionava no quarto ano do ensino fundamental. Como ela estava terminando um curso de libras, aproveitava os intervalos das aulas na escola para treinar a língua de sinais. Isso acabou despertando a curiosidade de alguns alunos, que pediram que ela ensinasse essa forma de comunicação.

“Os resultados foram os melhores possíveis”, diz a atual diretora da escola, Suely Gonçalves Santos, que ajudou Sandra a estender as aulas de libras a todas as turmas e turnos da instituição. “Vimos que alguns estudantes com outras deficiências tiveram mais facilidade de aprendizagem através da libras”, relembra. Como exemplo, cita alunos com alguma deficiência mental, que obtiveram melhorias na sala de aula depois que aprenderam a língua de sinais. “Com isso, resolvemos ampliar o projeto para toda a escola”, explica Suely, que é formada em história, com especialização em educação especial.

De acordo com Sandra, os resultados obtidos foram excelentes, tanto com as turmas em geral quanto especificamente com alunos que apresentavam déficit de atenção ou eram portadores de síndrome de Down e que, anteriormente, não haviam apresentado resultados satisfatórios na aprendizagem. A professora destaca, ainda, a repercussão do projeto junto às famílias, lembrando que alguns pais relatavam as mudanças de comportamentos de seus filhos com relação à motivação e avanços na aprendizagem.

Sandra trabalha, atualmente, no Centro Municipal de Educação Infantil Colemar Natal e Silva, como professora regente de berçário. Também dá aula de artes na Escola Interação: “no planejamento anual está incluída a libras”, salienta. Todo o projeto está no blog Arte que Ensina, de autoria da professora.

(Fátima Schenini)

Escola de Recife atrai estudantes excluídos

Aluna lê dicionário de libras

Criada em 1994 com a ideia inicial de atender os surdos que viviam na rua e estavam evadidos do sistema de ensino, a Escola Municipal Padre Antônio Henrique, em Recife (PE), é uma escola inclusiva que atende a todos os tipos de estudantes, entre eles alunos com síndrome de Down, paralisia cerebral, e baixa visão.

“Temos 300 estudantes, dos quais 72 são surdos ou com outras deficiências. É uma escola que tem sensibilidade para esse público”, assegura a diretora, Maria de Fátima Ribeiro Ferraz. De acordo com a diretora, a instituição tinha cerca de 170 alunos surdos em 2009, reduzindo esse número devido ao processo de inclusão. “Os surdos foram conquistando outros espaços”, esclarece. Outro motivo, segundo ela, é que muitos dos estudantes surdos saíram da escola depois que concluíram o ensino fundamental.

De acordo com Maria de Fátima, a instituição sempre trabalhou com projetos de leitura e sempre pensou na importância de um espaço específico de pesquisa e leitura. Por essa razão, participou, em 2006, de um concurso para a implementação de bibliotecas nas escolas municipais, promovido pela Gerência de Biblioteca e Formação de Leitores, da Secretaria Municipal de Educação, Esporte e Lazer do Recife. O projeto que apresentaram foi classificado e a escola recebeu uma verba para a instalação da biblioteca.

“É uma biblioteca comum, com recursos variados, de acordo com as especificidades da escola”, diz a diretora. Além de obras literárias tradicionais, possui CDs em libras, livros em braille e jogos pedagógicos. “É pequenininha, mas é muito equipada”, destaca. Ela explica que apesar de não terem uma bibliotecária, contam com o apoio da professora de língua portuguesa, que contribui na organização e no trabalho com os estudantes. Além disso, possuem estagiários que trabalham como mediadores de leitura.

O acervo vem sendo adquirido de várias maneiras, que incluem o envio de obras pelo Ministério da Educação (MEC), a aquisição com verbas do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE/MEC), parcerias com empresas privadas, entre outras. A próxima meta de Maria de Fátima é montar uma sala de atendimento especializado, com equipamentos e jogos que possam contribuir para a melhoria do aprendizado e a inclusão dos alunos com diferentes deficiências e necessidades.

(Fátima Schenini)

Educadora defende mais tempo para o ensino de libras

Neiva de Aquino Albres

A língua brasileira de sinais (libras) é essencial para o desenvolvimento educacional dos surdos, diz a fonoaudióloga e pedagoga Neiva de Aquino Albres, doutoranda em educação especial pela Universidade de São Carlos (UFSCar). Mestre em educação e especialista em psicopedagogia clínica, Neiva sabe o que diz, pois como a surdez é congênita na sua família, ela conviveu, desde a infância, com a libras e com a língua portuguesa, tornando-se bilíngue.

Reconhecida oficialmente como meio legal de comunicação e expressão em 2002, pela Lei n° 10.436, a libras foi regulamentada em 2005, pelo Decreto no 5.626, que inclui, entre outros pontos, a formação de professores para o ensino dessa língua, bem como de tradutores e intérpretes de libras e língua portuguesa. “A disciplina de libras tem sido implementada pelas instituições de ensino superior. Mas a pequena carga horária destinada a ela e a diversa ementa oferecida, por vezes, não proporcionam de fato uma proficiência na língua”, ressalta Neiva.

Em sua opinião, “os professores se formam com um conhecimento básico e incipiente para educar uma criança surda”. Ela defende a necessidade de que sejam estudadas formas da disciplina ter uma progressão, duração de mais de um semestre, ou que as secretarias de educação, estaduais ou municipais, ofereçam aulas de libras em cursos de formação continuada em serviço. “O aprendizado de uma segunda língua não se completa em quatro meses”, salienta.

De acordo com Neiva, que é tradutora de português/libras de livros infantis, autora de livros didáticos de libras pela Federação Nacional de Educação e Integração dos Surdos, regional de São Paulo (Feneis/SP), e também tem experiência em formação de professores de libras, um grande desafio na promoção de uma educação de surdos com qualidade é o desenvolvimento de um programa de ensino bilíngue, simultaneamente a uma proposta de educação inclusiva. Para ela, outros desafios a serem enfrentados são a produção de material didático para ensino de libras e para ensino de português para surdos e a tradução de livros didáticos dos diferentes componentes curriculares para a língua de sinais.

Ela acredita que as pesquisas desenvolvidas sobre a libras nas áreas de linguística e educação têm muito a contribuir para a vida das pessoas surdas. Na linguística, assinala, “deve-se avançar o conhecimento sobre a gramática e uso da língua de sinais brasileira, os processos de aquisição, ensino e aprendizagem da língua de sinais para ouvintes e do português como segunda língua para surdos.” Na educação, defende a realização de pesquisas sobre a implementação de metodologias de ensino em educação bilíngue, estudos sobre as políticas públicas, e análise de interação em sala de aula sobre os papeis de diferentes profissionais na qual for inserido um aluno surdo – o professor, o intérprete de língua de sinais, os alunos ouvintes, entre outros. A professora tem um blog, junto com Vânia de Aquino, com músicas e histórias em libras, e outras informações - O mundo encantado em libras.

(Fátima Schenini)

Exame para certificação recebe inscrições a partir de março

No dia 1º de março serão abertas as inscrições para a quinta edição do exame nacional para certificação de proficiência no uso e no ensino de língua brasileira de sinais (libras) e para certificação de proficiência na tradução e interpretação de libras-português-libras (Prolibras). O Prolibras certificará pessoas surdas ou ouvintes fluentes nessa linguagem que já concluíram o ensino superior ou ensino médio.

Os certificados obtidos por meio desse exame poderão ser aceitos por instituições superiores ou de educação básica, como títulos que comprovem a competência no uso e no ensino de libras ou na tradução e interpretação da língua.

O exame é promovido pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep) e desenvolvido por instituições federais de ensino superior, selecionadas por chamadas públicas. As inscrições deverão ser feitas até o dia 31 de março, pela internet. As provas serão realizadas nos dias 1º e 3 de maio.

Para participar do exame, é necessário acessar a página do Prolibras na internet, preencher integralmente o formulário de inscrição, imprimir o comprovante de requerimento de inscrição e o boleto bancário no valor de R$ 30,00, e pagá-lo até o dia 1º de abril.

A isenção da taxa poderá ser solicitada no ato da inscrição, até o dia 20 de março. Podem pedir o benefício as pessoas assistidas pelo Cadastro Único para Programas Sociais do Governo Federal (CadÚnico) e amparadas pelo Decreto n° 6.135. O deferimento ou não do pedido de isenção será divulgado a partir do dia 25 de março, também na página do Prolibras. O requerente que não conseguir a isenção deverá efetuar o pagamento da taxa para validar a participação no Prolibras. A confirmação da inscrição, com o local de aplicação da prova e os dados do participante, estará disponível para consulta na página do Prolibras ou da Comissão Permanente do Vestibular (Coperve) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), a partir de 20 de abril.

Ainda na inscrição, o participante deverá informar em qual município fará a prova. O exame será aplicado em instituições de ensino das seguintes cidades: Belém, Belo Horizonte, Boa Vista, Brasília, Campo Grande, Cuiabá, Curitiba, Florianópolis, Fortaleza, Goiânia, João Pessoa, Macapá, Maceió, Manaus, Maringá (PR), Natal, Palmas, Porto Alegre, Porto Velho, Recife, Rio Branco, Rio de Janeiro, Salvador, Santa Maria (RS), São Carlos (SP), São Cristóvão (SE), Niterói (RJ), São Luís, São Paulo, Teresina, Uberlândia (MG) e Vitória.

O Prolibras é realizado em duas etapas: uma prova objetiva e uma prova prática. A primeira é composta por 20 questões de múltipla escolha sobre a compreensão da linguagem de Libras, e ocorrerá às 15h (horário de Brasília), do dia 1º de maio, com duração de duas horas. Os participantes com pontuação igual ou superior a 12 pontos na prova objetiva estarão habilitados a participar da última etapa do processo.

A prova prática será realizada às 14h (horário de Brasília), do dia 3 de maio, com duração de 15 minutos para cada participante. O resultado da prova objetiva e o cronograma para a realização da prova prática serão divulgados no local de realização da prova objetiva e pela internet, às 14h do dia 2 de maio.

Será certificado o candidato que alcançar a média mínima 6,00 na prova prática, que vai de zero a dez, tiver concluído os ensinos médio ou superior, dependendo do nível da certificação, e que tiver entregado todos os documentos solicitados no dia da prova prática. O diploma de certificação será expedido pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).

(Assessoria de Imprensa do Inep)

Acesse o edital de abertura das inscrições do Prolibras 2011.

Secretária com alma de educadora cria projeto para estimular leitura e escrita

Crianças mostram cartas recebidas.

Nancy Oliveira Santana trabalha na Escola Estadual Gercina Borges Teixeira, de Jussara (GO). Com licenciatura plena em letras – português/inglês – e formação técnica em gestão escolar, ela ocupa o cargo de secretária geral da escola. E embora não exerça a função de professora, ela não deixa de se sentir uma educadora e de participar das atividades pedagógicas da instituição.

“Estou sempre criando e desenvolvendo projetos e dando sugestões à coordenação, uma vez que, entre uma folga e outra, navego em sites educativos, em busca de novidades que auxiliem as escolas”, diz Nancy, que está iniciando, neste semestre, curso de especialização em Mídias na Educação.

Ela explica que não consegue ficar parada em meio a tantos desafios educacionais. “Os desafios me estimulam, dando-me ânimo e inspirações novas”, salienta. Segundo Nancy, ela vê muitas situações em que as pessoas se limitam a fazer apenas o que é de sua função e, mesmo que tenham capacidade, não vão além. “Parecem ter medo de assumirem novas responsabilidades. Eu, definitivamente, não sou assim e, peço a Deus, que nunca venha a ser”, destaca.

Em 2010 ela criou o projeto O Carteiro Chegou, com o objetivo de estimular a prática da leitura e da escrita entre os estudantes, que teve a participação de mais de 200 pessoas, entre alunos, professores e funcionários da escola, funcionários do Correio, membros da comunidade virtual e do site de relacionamento Orkut, entre outros. De acordo com Nancy, os alunos ficaram entusiasmados com o projeto e todas as vezes que o carteiro chegava, “era uma festa”.

Entre as lições que ela acredita que pode tirar dessa experiência estão: educar é uma responsabilidade social e contínua, portanto, vai além dos muros das escolas; educar é um processo dinâmico, que requer inovação e aperfeiçoamento sempre; com persistência e objetivos coerentes, boas ações são realizadas e o sucesso é possível; todos somos educadores; toda escola precisa de bons e comprometidos parceiros.

“Os ganhos foram coletivos e o sucesso de todos. Valeu a pena. Foi surpreendente,” finaliza.

 

Projeto: O Carteiro Chegou!

Público Alvo: Alunos do 3º ano A e B; do 4º ano A, do 5º ano A e B e do Correção de Fluxo da Escola Estadual Gercina Borges Teixeira.

Criação e Coordenação: Nancy Oliveira Santana

Colaboradora: Rosa Maria Santana

Justificativa: Este projeto tem como público alvo o corpo discente da Escola Estadual Gercina Borges Teixeira, de Jussara (GO), tão carentes no que se refere à prática da leitura e da escrita.Sanar essas deficiências é um esforço constante de todo o corpo docente da escola. Como uma das ferramentas a mais é que o projeto foi pensado: buscando, através da internet, voluntários para o envio de correspondências para auxiliar, assim, a prática docente e, também, ser auxiliado por ela, vez que, os bons frutos serão colhidos, apenas, se houver a resposta das cartas, por parte dos alunos do 3º, 4º, 5º e Correção de Fluxo, da referida Escola.

Objetivos:

Estimular, nos educandos a prática da leitura e da escrita;

Propiciar a troca de correspondências (recebimento e envio de cartas);

Trabalhar com cartas, telegramas, cartões postais (textos epistolares);

Elevar a autoestima das crianças, através das correspondências e, ainda, explorar a interdisciplinaridade, quando isto for possível.

Metodologia: encontrar membros de uma comunidade de leitores, do Orkut, na Cidade de Goiás.

Apresentar o projeto; estabelecer parceria com membros do site de relacionamentos, o Orkut, como voluntários esparsos; criar a comunidade “O Carteiro Chegou!”; visitar o Correio para apresentar o projeto e estabelecer as metas com o carteiro – Rogério de Sousa; solicitar material de apoio no Correio (amostras de formulários de telegrama, cartão postal e manual de como se preenche um envelope); elaborar sequência didática sobre textos epistolares, sendo: carta, cartão postal e telegrama e, também, a forma de se preencher o envelope; estudar, com os alunos tudo sobre o profissional - carteiro e seu dia-a-dia; programar uma recepção festiva com poemas e músicas para recepcionar o carteiro, que entregará as cartas aos seus respectivos destinatários, na escola Gercina; efetivar a recepção; cuidar para que o aluno responda sua carta e, assim, receba outras; trabalhar a grafia e a ortografia; observar a coesão e coerência dos textos.

Cronograma: início em setembro e término em dezembro de 2010.

Recursos: computador; internet (e-mail e Orkut); comunidade; voluntários do Orkut; fichas de alunos (arquivo da secretaria da escola); material de apoio do correio; máquina digital; papel para carta; caneta, selos e envelopes.

Avaliação: a avaliação será de forma processual e gradativa, uma vez que acontecerá a partir da chegada das cartas, no momento em que o educador for trabalhando a leitura e a produção escrita com seu aluno, ou seja, a resposta da carta para, então, observar os avanços ocorridos na leitura e escrita.

Considerações Finais: As boas expectativas, o entusiasmo e os elogios, de todos os envolvidos, dão a certeza de que este projeto será favorável ao objetivo proposto e tomará uma dimensão surpreendente. Sensações como: surpresa, excitação, curiosidade farão com que o educando se interesse por ler e escrever sua carta. Há que se considerar, também, que este trabalho irá além da sala de aula, pois aquele que preferir pode escrever sua cartinha em casa e trazê-la para revisão, em sala de aula. Com isso, o aluno que se interessar poderá continuar no processo de correspondência, mesmo nas férias e também depois com o final do projeto.

Mirlene Damazio: o ensino de libras deve ser para todos que estão na escola

Mirlene Ferreira Macedo Damazio

Para a doutora em educação pela Universidade de Campinas (Unicamp), Mirlene Ferreira Macedo Damazio, que defendeu a tese – Educação escolar de pessoa com surdez: uma proposta inclusiva, os surdos devem conviver e interagir nos mais diferentes contextos sociais, desde a mais tenra idade, a fim de favorecer suas possibilidades de desenvolvimento.

A pedagoga, que é pesquisadora e diretora da Fundação Conviver para Ser, diz que o ensino de libras nas escolas deve incluir todos que nela estão, docentes e discentes. “Se estabelecermos uma cultura de valorização dessa língua e despertar nas pessoas a importância e o interesse em aprender libras, este será o centro da questão e favorecerá as ações inclusivas”, acredita.

Com mestrado em educação pela Universidade Federal de Uberlândia e mestrado em educação para a diversidade humana pela Universidade de Salamanca, ela tem especialização em pedagogia clínica e em educação especial. Professora pesquisadora bolsista da Universidade Aberta do Brasil, é conteudista e coordenadora da área de surdez do Projeto de Formação Continuada a Distância de Professores para o Atendimento Educacional Especializado do Programa Educação Inclusiva: Direito à Diversidade, do Ministério da Educação (MEC) e Universidade Federal do Ceará.

Jornal do Professor - O que é necessário para uma boa inclusão de alunos com surdez nas escolas regulares?

Mirlene Ferreira Macedo Damázio - Falar de inclusão é falar do potencial das pessoas, do que elas têm de melhor. Sendo assim, pensar a pessoa com surdez inserida em uma escola comum na sala de aula regular é pensar em uma pessoa com muito potencial, que é capaz de interagir, agir e se estabelecer com seus pares.

A política de educação no Brasil vem tecendo fios direcionais numa perspectiva de inclusão de todos na escola comum, com destaque para as pessoas com deficiência. Nesta perspectiva inclusiva, os olhares acolhedores para as pessoas com surdez têm se evidenciado no ambiente escolar. Porém, por mais que as políticas estejam canalizando esforços para este fim, muitas propostas, principalmente no espaço escolar, precisam ser revistas e algumas tomadas de posição e bases epistemológicas precisam ficar mais claras, para que, realmente, as práticas de ensino e aprendizagem na escola comum apresentem caminhos consistentes e produtivos para a educação de pessoas com surdez.

Sabemos que diante do exposto, nos dispositivos legais do Decreto 5.626 de 5 de dezembro de 2005, que determina o direito de uma educação que garanta a formação da pessoa com surdez, em que a língua brasileira de sinais e a língua portuguesa, preferencialmente na sua modalidade escrita, constituam línguas de instrução, e que o acesso às duas línguas ocorra de forma simultânea no ambiente escolar, colaborando para o desenvolvimento de todo o processo educativo numa abordagem bilingue. Neste contexto, nos preocupamos com a organização da escola em seu todo, desde os aspectos estruturais, bem como atitudinais.

Nos aspectos estruturais, entendemos que o fracasso escolar das pessoas com surdez é um problema da qualidade das práticas pedagógicas e não um problema somente focado nessa ou naquela língua, ou mesmo numa diferença cultural, envolvendo outra cultura, uma comunidade com identidades surdas próprias. É preciso construir um campo de comunicação e interação amplo, possibilitando que as línguas tenham o seu lugar de destaque, mas que não sejam o centro de tudo o que acontece nesse processo. Aí, deve-se discutir a presença obrigatória de quem age, produz sentido e interage: a pessoa com surdez. Isso nos faz pensar num sujeito com surdez não reduzido ao chamado mundo surdo, com a identidade e a cultura surda, mas numa pessoa com potencial a ser estimulado e desenvolvido nos aspectos cognitivos, culturais, sociais e linguísticos. Sendo assim, precisamos estabelecer um ambiente educacional rico de solicitações e acessibilidade em ambas as línguas e práticas pedagógicas que colaborem com as construções conceituais.

Enfim, pensar e construir uma prática pedagógica que se volte para o desenvolvimento das potencialidades das pessoas com surdez, na escola, é fazer com que essa instituição esteja imersa nesse emaranhado de redes sociais, culturais e de saberes, no qual o atendimento educacional especializado (AEE) irá contribuir com seu movimento complementar, envolvendo para a pessoa com surdez três momentos importantes, são eles: o AEE em libras, de libras e par ao ensino de língua portuguesa.

Nos aspectos atitudinais nossa intenção é interpretar as pessoas com surdez tendo a certeza de que os processos perceptivos, linguísticos e cognitivos poderão ser estimulados e desenvolvidos, tornando-as sujeitos capazes, produtivos e constituídos de várias linguagens, com potencialidade para adquirir e desenvolver não somente os processos visuais-gestuais, mas também ler e escrever as línguas em seus entornos e, se desejar, também falar.

JP - A partir de que idade deve ser feita essa inclusão?

MFMD - Desde a mais tenra idade, a pessoa com surdez deverá estar convivendo e interagindo nos mais diferentes contextos sociais. Isso favorecerá amplas possibilidades para ela desenvolver. Um aspecto importante é estabelecer o campo de comunicação e interação social. A comunicação deverá ser estabelecida de forma bilíngue, ou seja, a libras e a língua portuguesa. As duas línguas deverão ser colocadas nos ambientes educacionais. Estes ambientes envolvem inicialmente a família e a escola de educação infantil. Nestes ambientes serão organizadas vivências e experiências em ambas as línguas, expondo a criança cotidianamente ao contato essencial para a aquisição desses processos comunicacionais. É importantes assinalar, que em ambas às línguas precisamos ter a presença de profissionais especializados, ora atuando diretamente com a criança, ora orientando os familiares.

JP - Os professores estão preparados para desenvolver o ambiente de aprendizagem para os alunos com surdez em escolas regulares? O que é necessário para isso?

MFMD - Infelizmente ainda temos muitos problemas com a formação e a construção dos ambientes educacionais nas escolas. Estes processos estão sendo estabelecidos nas políticas públicas e os programas de formação continuada de professores estão sendo estabelecidos e/ou redirecionados para atender as solicitações desta escola aberta às diferenças de todos, inclusive das pessoas com surdez. A escola precisa estabelecer em primeiro lugar acessibilidade, ou seja, a presença de intérpretes de libras, principalmente do ensino fundamental em diante para colaborar com o trabalho na classe comum. Os professores deverão ser orientados de que os ambientes de aprendizagem deverão ser ricos em estímulos escritos e pistas visuais. O cotidiano da sala de aula deverá favorecer a interação e comunicação entre os alunos ouvintes e com surdez. Uma prática usual tem sido o ensino de libras nas classes comum. Isso em muito tem contribuído para melhorar a convivência humana entre essas pessoas com línguas diferentes.

JP - Qual é a importância do ensino da língua brasileira de sinais na escola?

MFMD - O ensino de libras nas escolas é de relevada importância, pois favorecerá a construção do ambiente comunicacional e de interação entre os ouvintes e as pessoas com surdez, bem como, irá enriquecer o processo de desenvolvimento humano e a aprendizagem de todos os alunos.

JP - Em sua opinião, o ensino de Libras deve ser uma atividade voltada apenas para alunos surdos ou deve incluir todos os alunos? Na segunda hipótese, de que forma seria essa inclusão: com aulas opcionais ou obrigatórias, incluídas no currículo?

MFMD - O ensino de libras deve acontecer nas escolas para todos que nela estão - docentes e discentes. Em várias regiões do País temos visto acontecer de forma obrigatória e opcional. Nosso ponto de vista é que seja uma ação sistemática, seja ela opcional ou obrigatória no plano curricular. Se estabelecermos uma cultura de valorização dessa língua e despertar nas pessoas a importância e o interesse em aprender libras, este será o centro da questão e favorecerá as ações inclusivas.

JP - A partir de que idade deve ser iniciado o ensino de libras?

MFMD - O ensino da libras deve ser introduzido desde a tenra idade para as crianças com surdez. Este ensino requer um ambiente adequado e que as crianças com surdez tenham contato com adultos com surdez, isso favorecerá uma aprendizagem contextualizada e significativa da língua.

JP - Quais as principais dificuldades de integrar alunos ouvintes e surdos? Só a aprendizagem da libras é suficiente?

MFMD - Não. A educação de alunos com surdez, do nível básico ao superior de ensino, constitui um dos desafios que mais tem marcado os caminhos traçados para a adoção de uma escola para todos no Brasil. São muitos os entraves e de diferentes naturezas. Na história da escolarização desses alunos, a exclusão foi e continua sendo um destaque. Apesar dos esforços que, atualmente, estão sendo envidados para que esses alunos estejam com os demais colegas ouvintes nas mesmas turmas das escolas comuns, são em grande parte os próprios alunos com surdez que se negam a estudar em ambientes escolares inclusivos. Isto tem dificultado o processo. As escolas brasileiras têm procurado aplicar os dispositivos legais de acessibilidade, ou seja, intérpretes em salas de aula, principalmente no ensino fundamental, médio e superior. A implantação da libras por si só não é garantia de acesso, permanência e sucesso da pessoa com surdez na vida acadêmica escolar. Estes alunos precisam do atendimento educacional especializado em libras, de libras e ensino de língua portuguesa no contra-turno das aulas. A libras e a língua portuguesa são línguas de instrução e comunicação, ambas devem estar presentes na cotidiano escolar destes alunos.

JP - Quais os principais problemas de aprendizagem dos alunos surdos? São semelhantes aos dos ouvintes?

MFMD - A principal dificuldade que a pessoa com surdez enfrenta em seu processo de escolarização é o aprendizado da língua portuguesa. Essa dificuldade não é semelhante a dos alunos ouvintes em virtude do canal de comunicação ser diferente. Nas pessoas com surdez o canal natural é o visual-gestual e nas pessoas ouvintes o canal natural é o auditivo-oral. Os alunos com surdez necessitam de AEE no contra turno para conseguirem aprender a língua portuguesa, em virtude do trabalho da classe comum não assegurar plenamente este aprendizado.