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JORNAL

Educação Profissional e Tecnológica

Terça-feira, 5 de Abril de 2011

Edição 53

EDITORIAL - Educação Profissional e Tecnológica

Por escolha de 50,62% dos leitores que votaram na enquete colocada em nossa página, o tema da 53ª edição do Jornal do Professor é Educação Profissional e Tecnológica.

Você vai conhecer as experiências de professores do Instituto Federal de Rondônia, no campus de Ji-Paraná; do Instituto Federal Fluminense (IFF), campus Centro, no município de Campos; e do Instituto Federal de Goiânia, campus Goiânia. Nosso entrevistado é o presidente do Conselho Nacional das Instituições da Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica (Conif), professor Cláudio Ricardo Gomes de Lima, reitor do Instituto Federal do Ceará.

Na seção Espaço do Professor, apresentamos a professora Fátima de Benedictis Delphino, do Instituto Federal de São Paulo, que publicou o livro A Educação Profissional – contraponto entre as políticas educacionais e o contexto do mundo produtivo.

Ajude-nos a escolher o tema das próximas edições, votando na enquete colocada em nossa página. E aproveite para colaborar enviando sugestões, críticas, textos e músicas!

Seja bem-vindo!

Aulas de campo apresentam a realidade em cursos na região amazônica

Alunos e professor no campo.

A curiosidade pela Amazônia levou Rodrigo Diego Quoos a sair do Rio Grande do Sul, onde cursava engenharia florestal, para fazer seu estágio profissional obrigatório em uma associação de Rondônia, voltada para a área de agroindústria e agroecologia. “Fiquei fascinado,” conta Rodrigo, que resolveu morar na região amazônica depois que concluiu sua graduação.

Em 2008, durante o mestrado em Desenvolvimento Rural, ele fez um estudo sobre os agricultores que havia conhecido em seu estágio. Logo em seguida participou de concurso para a antiga Escola Técnica Federal (ETF) de Rondônia, atual Instituto Federal de Rondônia (IFRO), campus de Ji-Paraná, onde leciona, há dois anos, as seguintes disciplinas: incêndios florestais, política e legislação florestal e extensão rural. "O envolvimento com a comunidade e os movimentos sociais me aproximaram do contexto da educação”, explica Rodrigo. Segundo ele, a partir da experiência como monitor de uma Escola Família Agrícola, pode perceber que a oportunidade de ser um educador e professor conseguia satisfazer seus anseios de transformação social.

Ele diz que sempre trabalhou de maneira interativa e participativa, pois prefere aulas dinâmicas, onde o aluno interage e expõe suas ideias. “Trabalho muito com saídas técnicas e aulas práticas em campo, tentando aproximar a realidade do campo com a sala de aula”, justifica. De acordo com o professor, alguns municípios da região central de Rondônia chegam a ter 90% de sua área desmatada. Por essa razão, ele procura levar os estudantes a uma das maiores reservas biológicas da Amazônia, a Rebio Jarú, localizada no próprio município de Ji-Paraná. Também visitam instituições de pesquisa e pequenos agricultores que trabalham com sistemas agroflorestais e de agroecologia, entre outros.

Na visão de Rodrigo, a profissionalização de jovens requer muita dedicação, pois nesta idade muitas opções e descobertas aparecem ao mesmo tempo, sem falar nas redes sociais. Ele se preocupa, então, em abrir os horizontes profissionais dos estudantes. “Sempre é preciso destacar o futuro próximo, as condições do mercado de trabalho, as opções profissionais”, ressalta.

Cursos - Em funcionamento desde 2009, o campus de Ji-Paraná do IFRO tem, atualmente, 954 alunos matriculados. São ofertados três cursos técnicos: florestas, móveis e informática. A instituição também oferece licenciatura em química e especialização em informática na educação e em Programa Nacional de Integração da Educação Profissional com a Educação Básica na Modalidade de Educação Jovens e Adultos (PROEJA).

(Fátima Schenini)

Curso forma instrumentistas com foco no mercado de trabalho

Alunas cantando.

Licenciado em música e mestre em regência coral, Vinícius Inácio Carneiro atua no magistério há mais de dez anos. Professor no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Goiás (IFG) – campus Goiânia – há cerca de dois anos, ele dá aulas de canto coral, teoria musical, e fundamentos da regência, para alunos do curso de Técnico em Instrumento Musical. O curso é oferecido na modalidade integrada, onde o aluno faz o ensino médio e o ensino técnico, simultaneamente.

“O envolvimento dos alunos em relação às disciplinas práticas do curso é intenso. Além de integrar o coral, cada aluno estuda um instrumento obrigatório nos quatro anos, e outro (ou outros) como complementar – a critério pessoal”, explica Vinícius. Os estudantes também participam de uma banda sinfônica. “Mesmo alunos que têm o canto ou violão como instrumento ‘oficial’ no curso participam dela, tocando seu instrumento opcional”, adianta o professor. Ele diz que os alunos também demonstram interesse em aprender os conteúdos teóricos, pois sabem que serão necessários para uma boa prática musical.

Vinícius, que já lecionou também no ensino médio regular, sem ligação com o ensino profissional, destaca algumas diferenças no comportamento dos alunos das duas modalidades. “Em relação à área musical, existe um comprometimento maior do aluno no ensino profissionalizante, que vislumbra as possibilidades de atuação já durante o curso”, acredita o professor. De acordo com ele, no ensino médio não vinculado ao profissional, é possível observar, quase sempre, indecisão do aluno quanto à escolha da carreira. “Nessa modalidade, o aluno pode fazer sua escolha no último ano do curso. Já no profissionalizante, a escolha é feita desde o início, e isso o direciona a um alvo”, salienta. Alguns de seus atuais alunos do IFG já atuam profissionalmente, cantando ou tocando em casamentos, ou como integrantes de coros profissionais.

As disciplinas que leciona atualmente são quase cem por cento práticas. Na disciplina canto coral, por exemplo, o conteúdo é desenvolvido de forma semelhante ao que acontece em um coro de empresa ou um coro religioso. “Há um aquecimento vocal e relaxamento corporal – preparatórios ao início da atividade. Os cantores solfejam a partitura, fazem contextualização histórica e estilística do repertório, trabalham postura em cena etc”, esclarece o professor. A diferença básica está na forma de abordar o conteúdo. “As aulas de teoria musical são divididas entre exposição dialogada e prática. É a natureza da aula”.

(Fátima Schenini)

Licenciaturas do Instituto Federal Fluminense atraem estudantes

Alunos na sala de aula

A procura pelos cursos de licenciatura tem aumentado no campus Centro do Instituto Federal Fluminense (IFF), no município de Campos. “De 2008 a 2011, a relação candidato por vaga dos cursos de ciências da natureza, geografia e matemática aumentou em torno de 60%, 53% e 78%, respectivamente”, diz o professor Carlos Márcio Viana Lima, diretor de ensino superior das licenciaturas na instituição. Para ele, isso demonstra o acerto do governo federal em optar pela interiorização de cursos de formação de professores, com a garantia dos 20% na oferta de vagas para cursos de formação de professores.

“A introdução de licenciaturas no currículo da IFF foi uma ousadia dos gestores, que compreenderam a importância da formação de professores para a qualidade da educação brasileira”, acredita Carlos Márcio, 14 anos de magistério, cinco dos quais no instituto. O campus Centro do IFF oferece as licenciaturas em geografia, matemática, e em ciências da natureza, com habilitação em biologia, física e química, além de 12 cursos técnicos, cinco cursos de tecnólogos, três de bacharelado, sete de especialização, e um de mestrado.

“Nossa instituição tem patrocinado uma revolução da sala de aula, implementando uma discussão sobre tecnologia, comunicação e educação e facultando a nós, professores, o efetivo uso das novas tecnologias, que potencializam nossas aulas”, ressalta Carlos Márcio. Bacharel e licenciado em filosofia, com mestrado em ciência da religião, ele leciona as disciplinas de gestão do conhecimento e filosofia e produção, no curso de Geografia. Também dá aulas de filosofia e ciência no curso de ciências da natureza e de filosofia e arquitetura no curso de arquitetura.

Em sua opinião, é preciso desmistificar a ideia de que, em geral, os estudantes não querem aprender ou são desinteressados. De acordo com ele, pode-se dizer que os alunos estão na trilha do aprendizado quando percebem a vocação de seus professores pelo saber, pela pesquisa e pela docência e compreendem os caminhos mais que só os conteúdos, quando são estimulados a tomarem posições críticas e autônomas, bem como quando encontram pontos de intercessão com seus professores, como as novas tecnologias.

Na visão do professor Synthio Vieira de Almeida, do curso de licenciatura em geografia, há grande participação e interesse dos alunos. “Percebo que a maioria tem interesse em seguir carreira profissional na sua área de formação”, destaca o professor, que está no magistério há 26 anos, com passagem pelas redes pública e privada de ensino (municipal e estadual). Na rede federal, Synthio atua desde 1996, tendo começado na antiga Escola Técnica Federal de Campos. Além de atuar na licenciatura, dando aulas de ciência política, estudos afro-asiáticos, e geopolítica e conflitos do mundo contemporâneo, ele também leciona no ensino médio e coordena a implantação dos cursos técnicos na modalidade a distância pelo programa e-Tec Brasil.

(Fátima Schenini)

Educação profissional é tema de livro de professora do Instituto Federal de São Paulo

Fátima Delphino

A professora Fátima Beatriz de Benedictis Delphino, diretora de Formação Geral do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo (IFSP), lançou, em novembro de 2010, o livro A Educação Profissional – contraponto entre as políticas educacionais e o contexto do mundo produtivo.

A obra é uma síntese do relatório de pós-doutorado em educação da professora, que é formada em letras (português), com mestrado e doutorado em linguística aplicada e estudos da linguagem. Segundo a autora, o livro apresenta um estudo sobre as políticas públicas desenvolvidas nos últimos quarenta anos no Brasil e na Argentina, focalizando a relação entre planos econômicos e projetos educacionais para a educação profissional pública.

“Trata-se de um estudo de educação comparada, área de estudos escolhida porque muitos problemas e soluções da América Latina são comuns a vários países”, explica Fátima. Ela diz que os pontos de discussão escolhidos como relevantes para a educação profissional foram: a globalização e a industrialização; a atuação do Bird na América Latina; o contraponto entre ditadura e democracia; e as políticas neo-liberais.

Para ela, as conclusões do trabalho mostram uma contradição entre as metas propostas pelos planos de governo e as ações reais na educação. “Os sistemas educacionais brasileiros e argentinos, ao longo de sua história, sempre se mostraram incapazes de oferecer os recursos humanos que a expansão econômica necessitava, não contribuindo de forma significativa para a mobilidade social esperada”, destaca a professora. Ela, acredita, no entanto, que os dois sistemas empreendem várias tentativas de colocar o Estado como Ator, em detrimento do Estado Desertor.

Professora desde 1983, Fátima Delphino trabalhou em várias instituições de ensino médio e superior de São Paulo, como o Colégio de Santa Inês, Bandeirantes, Universidade São Francisco, Universidade Anhembi Morumbi e Faculdades Integradas Cantareira, no período de 1996 a 2000. A partir de 1994 começou a trabalhar em cursos de educação profissional. Além de lecionar, exerceu cargos de gerente e diretora de Ensino do antigo Centro Federal de Educação Tecnológica de São Paulo (Cefet/SP), hoje IFSP. Também foi coordenadora do Projeto Escola de Fábrica de Guarulhos.

(Fátima Schenini)

"O maior mérito do crescimento da educação profissional e tecnológica é a democratização"

Cláudio Lima

Presidente do Conselho Nacional das Instituições da Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica (Conif), o reitor e professor titular do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE), Cláudio Ricardo Gomes de Lima, defende que a rede federal pode crescer e beneficiar muitos estudantes e formar profissionais para o futuro do país.

Técnico em química pela antiga Escola Técnica Federal do Ceará, graduado em química industrial, com mestrado em engenharia civil pela Universidade Federal do Ceará, o professor também tem licenciatura plena para graduação de professores. Atualmente, faz doutorado em geografia pela Universidade Estadual Paulista (Unesp).

Em entrevista ao Jornal do Professor, Cláudio Lima fala sobre a importância da educação profissional e tecnológica, que considera estatégica no processo de desenvolvimento do país. "A educação tecnológica e profissional permite a formação verticalizada e transversal, perpassando os dois grandes níveis de educação: o básico e o superior,” salienta.

Para ele, o crescimento da rede federal de educação profissional, científica e tecnológica tem sido espetacular, nos últimos oito anos, tendo passado de 140 instituições para 354, em 2011. Em sua opinião, o maior mérito desse crescimento é a democratização do espaço da educação profissional e tecnológica, antes restrito aos grandes centros urbanos. “Atualmente, centenas de jovens e adultos têm acesso a essa modalidade de ensino, sem precisar deixar a sua cidade”, destaca o presidente do Conif, que acredita que ainda há espaço para o crescimento da rede, devido ao tamanho e às necessidades do Brasil.

Jornal do Professor – Qual a importância da educação profissional e tecnológica na educação brasileira?

Cláudio Lima - A educação profissional e tecnológica é estratégica no processo de desenvolvimento econômico, principalmente considerando a dinamicidade da economia brasileira. Nós caminhamos para a quinta posição no ranking mundial das economias. Esse modelo econômico não deve ocorrer descolado do aumento da escolaridade e da qualificação dos trabalhadores. Não temos estoque de mão-de-obra como a China ou a Índia. Temos que agregar valor aos produtos e serviços, o que só se consegue com a melhoria da qualificação. Não há dúvida de que a qualificação profissional assume relevância no cenário econômico, considerando o novo perfil demográfico da população brasileira, hoje, com o maior número de pessoas na economia ativa. Um dado importante para a reflexão acerca disso é que, em 2010, éramos 69,4 milhões de pessoas entre 29 e 39 anos, ou seja, economicamente ativas. Entretanto, segundo dados do IPEA, de 2008, no Brasil, há 53 milhões de pessoas pobres, do total da população. Esse cenário enseja grandes desafios, sobretudo se conseguirmos a implementação de um modelo de desenvolvimento econômico que descentralize a renda e caminhe na direção do bem-estar da população. Diante disso, consideramos que temos grande contribuição a dar ao processo de erradicação da pobreza e da melhoria da renda, já que a educação profissional e tecnológica desempenha papel relacionado à preparação para a vida e para o mundo do trabalho. Com efeito, a educação profissional e tecnológica permite a formação verticalizada e transversal, perpassando os dois grandes níveis de educação: o básico e o superior. Assim, eu diria ser esta modalidade educacional o caminho para a integralidade humana, uma vez que prepara para a vida e, como tal, não prescinde da preparação para o trabalho.

JP – Como o senhor avalia o crescimento da rede federal de educação profissional e tecnológica?

CL – Avalio como espetacular. Ao longo dos últimos oito anos, chegamos a crescimento de 153%. É importante ressaltar que esse crescimento veio com sustentabilidade, com investimentos de capital, de custeio e de pessoal, embora ainda faltem alguns pontos para consolidação total do processo. O mérito maior se deu na democratização do espaço da educação profissional e tecnológica, que estava restrito aos grandes centros urbanos. Atualmente, centenas de jovens e adultos têm acesso a essa modalidade de ensino, sem precisar deixar a sua cidade. Essa nova distribuição espacial das instituições federais de educação profissional contribui para preencher alguns vazios presentes nos estados, inclusive no Distrito Federal. É importante destacar, ainda, considerando o tamanho e as necessidades do Brasil, que ainda há espaço para o crescimento da rede. A sinalização da garantia de continuidade, da consolidação e da expansão da rede já existe. A nossa avaliação é de que chegaremos a uma situação ideal como a universalização da oferta, com mil unidades, dentro de 10 anos, conforme preconiza o Plano Nacional de Educação.

JP – Como é feita a definição e escolha de novos cursos a serem oferecidos pelas instituições da rede? Há vocações definidas para diferentes regiões?

CL – Procuramos contemplar as vocações regionais, ouvindo a sociedade civil, sem perder de vista a importância do papel indutivo do desenvolvimento econômico, pois a qualificação dos trabalhadores constitui um aspecto de grande relevância no momento em que novas empresas definem a localização de sua matriz ou de suas filiais.

JP – Há alguma mudança no foco dos novos cursos ofertados?

CL – A rede tem procurado acompanhar a evolução tecnológica, buscando atentar para as áreas de carência de mão-de-obra qualificada e ou estratégicas – mineração, logística, petróleo e gás, energias limpas e para outras em que não se tinha oferta pública de cursos, por exemplo, a aviação. Outro foco importante da educação profissional é o nosso compromisso com as áreas das ciências, grande carência no Brasil. Além disso, precisamos formar os formadores, melhorar a qualificação dos professores e divulgar a ciência e tecnologia em todos os níveis.

JP As escolas da rede federal sempre se destacaram pelo alto nível do ensino oferecido. Com o aumento do número de instituições essa qualidade poderá ser mantida?

CL – Uma das principais preocupações dos gestores tem sido a garantia da qualidade. Crescer é importante, mas nós temos lutado para manter os investimentos em laboratórios, salas equipamentos e, principalmente, em recursos humanos, com especial atenção para os docentes. Crescer não significa a perda da qualidade, pois ela está relacionada a outros elementos, como a manutenção de investimentos compatível com a formação de qualidade. Cabe ainda destacar o fato de que temos nos preocupado em manter o equilíbrio entre a teoria e a prática, garantindo aos cursos forte carga de aulas práticas em laboratório, professores com mestrado e doutorado, o que resulta na formação integral dos nossos alunos, não só no aspecto científico e tecnológico, mas também no que tange à prontidão para o exercício da cidadania.

JP – Como é feita a seleção de novos professores para as instituições da rede? O que é necessário para ser professor da rede?

CL – O ingresso dos professores se dá por concurso público, por meio de seleção de provas e títulos e desempenho didático. Hoje, o perfil dos professores que ingressam na rede é bastante elevado. Além da graduação, há a exigência de grande percentual de docentes com mestrado e doutorado. Tendo em vista a consolidação da terceira etapa da expansão, aguardamos o anúncio de novos concursos para este ano.

JP – Como a pesquisa é realizada na rede?

CL – A pesquisa é recente e o nosso viés é a pesquisa aplicada, ou seja, focada em resolver os problemas por meio do conhecimento a serviço da comunidade. Isso requer, cada vez mais, aproximação com os empresários, especialmente das pequenas e microempresas, em geral, fadadas à mortalidade pela falta de capacidade de inovar e por não dispor de mão-de-obra qualificada.

JP – A rede tem conseguido transformar produtos desenvolvidos pelos estudantes e professores em escala comercial? E esses produtos têm ido para o mercado?

CL – Sim, esse é um objetivo a ser ampliado. Já podemos destacar na rede vários produtos desenvolvidos em parceria com empresas e instituições, utilizando recursos da Lei de Informática, de Inovação e Lei do Bem. Como exemplos, desenvolvemos no Ceará e já disponibilizamos ao público um sistema de detecção de roubos e furtos de cabos de eletricidade, em parceria com a Coelce; com a Chesf, um robô que detecta fissuras nas paredes das represas das hidrelétricas e também um mototaxímetro, já em fase final, praticamente pronto para ser lançado no mercado. No caso da pesquisa, é fundamental desenvolver ainda mais as tecnologias sociais.

JP – Como o senhor vê a possibilidade de as instituições da rede oferecerem a pós-graduação?

CL – As ofertas já vêm acontecendo. Várias instituições já oferecem cursos stricto sensu. É importante ressaltar que os órgãos que regulamentam a pesquisa e a pós-graduação no Brasil precisam enxergar melhor o potencial dos projetos da rede, onde sobressaem ideias direcionadas à aplicabilidade do conhecimento, muitas vezes incompreendidas pela universidade tradicional. Dessa maneira, é importante que esses órgãos entendam a particularidade da rede e permitam o alargamento desses espaços, a fim de que possamos, efetivamente, contribuir com a ciência, tecnologia e arte e, por conseguinte, com o nosso país. Na minha opinião, os mestrados profissionais, que representam mais a aproximação entre a formação acadêmica e o mundo do trabalho, têm nas instituições da rede um locus bastante favorável e fértil.