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JORNAL

Formação de Professores

Terça-feira, 3 de Maio de 2011

Edição 54

EDITORIAL - Formação de Professores

A 54ª edição do Jornal do Professor trata do tema Formação de Professores, escolhido por nós devido a sua grande importância.

Nesta edição, mostramos algumas das ações oferecidas pelo Ministério da Educação para a formação dos professores, como a Universidade Aberta do Brasil, o Plano Nacional de Formação de Professores da Educação Básica (Parfor), e o Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (Pibid).

Também apresentamos as experiências vividas por uma diretora de escola da área rural do Rio Grande do Sul, aluna da UAB, e pela coordenadora do Polo Universitário de Santo Antônio, que atende mais de 1.200 alunos. Outras experiências aqui mostradas são de alunos de cursos de licenciatura de instituições brasileiras que participam do Programa de Licenciaturas Internacionais, na Universidade de Coimbra.

Nossa entrevistada é a professora Leda Scheibe, da Universidade do Oeste de Santa Catarina e da Universidade Federal de Santa Catarina.

No Espaço do Professor, temos a participação da professora Santina Procópio, que atua como bibliotecária no Colégio Estadual Bernardo Sayão, em Uruaçu, no interior de Goiás.

Ajude-nos a escolher o tema das próximas edições, votando na enquete colocada em nossa página. E aproveite para colaborar enviando sugestões, críticas, textos e músicas!

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Futuros professores brasileiros têm experiência no exterior

Anelise Sandri

Aluna do curso de educação física da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), em Porto Alegre, Anelise Sandri está na Universidade de Coimbra, em Portugal , desde setembro de 2010. Ela faz parte do grupo de 178 estudantes de diversas instituições brasileiras, participantes do Programa de Licenciaturas Internacionais (PLI). Desenvolvido pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior do Ministério da Educação (Capes/MEC), em parceria com a Universidade de Coimbra, em Portugal, o programa pretende melhorar o ensino dos cursos de licenciatura e a formação dos professores.

O PLI possibilita que universitários brasileiros de cursos de licenciatura estudem em Coimbra pelo período de dois anos, na modalidade conhecida como graduação sanduíche. Para isso, contam com bolsas da Capes no valor de 600 euros mensais, além de passagem aérea, seguro-saúde, e auxílio instalação.

“A experiência é a melhor possível, pois além de estar estudando em uma universidade tão conceituada, estou vivendo em meio a outra cultura, totalmente diferente da brasileira”, ressalta Anelise. Para ela, além de abrir portas, a oportunidade de fazer parte da graduação em Coimbra poderá lhe proporcionar outra visão do ensino da educação física.

Outra aluna da UFRGS que está em Portugal é Luciane Führ, que faz licenciatura em matemática. Em sua opinião, a experiência de viver fora do país representa, acima de tudo, um grande crescimento e amadurecimento pessoal, sem contar a formação acadêmica. “A vivência de outras culturas, o conhecimento de novas pessoas e lugares nos faz expandir horizontes e buscar cada vez mais novas experiências para nossa vida”, diz Luciane, que já lecionou nas séries iniciais do ensino fundamental quando fez o ensino médio profissionalizante, modalidade Normal.

Ela diz que estudar na Universidade de Coimbra está sendo ótimo e que sua formação está realmente sendo complementada. No aspecto pessoal, acredita que a aprendizagem é grande. “Assumir maiores responsabilidades, administrar a saudade, fazer novos contatos, conhecer novos países, novas cidades é algo que não tem preço e marca profundamente nossa vida”, salienta. Quanto ao aspecto profissional, ressalta que o período no exterior também será de grande valia. “Além de enriquecer o currículo, o contato com professores pesquisadores nas mais diversas áreas da matemática e a oportunidade de cursar disciplinas aqui somente favorece o futuro profissional”, destaca a estudante.

Na visão do aluno de letras da Universidade Federal de Uberlândia, César Donizette, que também está em Coimbra, o fato de participar desse programa será um diferencial em seu currículo. Segundo ele, além de poder conhecer uma nova cultura, nesse período ainda poderá cursar outras disciplinas que irão complementar seu currículo.

Os três estudantes brasileiros foram selecionados na primeira edição do PLI, lançada em junho de 2010. A edição deste ano teve as inscrições encerradas no fim de abril.

(Fátima Schenini)

Retomar estudos reacende prazer de ensinar

Gláudio Renato de Lima

Há 20 anos lecionando nas séries iniciais do ensino fundamental do município de Londrina, no norte do Paraná, o professor Gláudio Renato de Lima busca agora novos conhecimentos que lhe permitam impulsionar sua carreira. Ele cursa pedagogia na Universidade Estadual de Londrina (UEL), onde ingressou no segundo semestre de 2009, aproveitando as oportunidades oferecidas pela criação do Plano Nacional de Formação de Professores da Educação Básica (Parfor).

“Ter voltado a estudar reacendeu o prazer de ensinar. Cada novo conteúdo na universidade nos leva a melhorar nossa prática cotidiana, fazendo com que ela seja mais reflexiva e dinâmica”, salienta Gláudio de Lima, que dá aulas na Escola Municipal Norman Prochet. Segundo ele, que faz agora sua primeira licenciatura, é muito motivador estudar e conhecer coisas novas. “Estudar nos instiga a melhorar e a ver nosso papel de forma mais crítica”, acredita.

Com relação à experiência de estudar e trabalhar ao mesmo tempo, ressalta que, apesar de cansativa, oferece condições para uma reflexão contínua entre a teoria e a prática. “E se nossa prática enriquece os debates em sala, na universidade, o conhecimento teórico nos oportuniza aperfeiçoarmos nossas práticas na escola”, destaca Gláudio de Lima. Ele diz que inúmeros professores da rede de ensino de seu município estão fazendo cursos por meio do Parfor. “No começo, alguns não acreditaram, mas quando perceberam que era para valer e não um programa passageiro, vários optaram pelo retorno aos estudos”, esclarece.

Ação conjunta do Ministério da Educação (MEC), instituições públicas de educação superior e secretarias de educação estaduais e municipais, o Parfor possibilita acesso a cursos superiores de licenciatura, gratuitamente, a professores das redes públicas de ensino sem formação adequada à Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), de dezembro de 1996. O programa oferece todas as licenciaturas das áreas de conhecimento da educação básica, nas modalidades presencial e a distância. Há cursos de primeira licenciatura para professores sem graduação, de segunda licenciatura para licenciados que atuam fora de sua área de formação, e de formação pedagógica, para bacharéis sem licenciatura. O programa é coordenado pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes/MEC), responsável pela indução, fomento e avaliação dos cursos oferecidos.

A coordenadora geral do Parfor na Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR) é a professora Sonia Ana Leszczynski, que trabalha na instituição desde 1985, quando ainda era Centro Federal de Educação Tecnológica (Cefet-PR). De acordo com ela, a UTFPR atende, atualmente, especificamente na modalidade de formação pedagógica, 19 professores dos municípios de Pato Branco, Dois Vizinhos e Francisco Beltrão, mas há um grande número de interessados na fila de espera.

“São cerca de 220 professores do quadro efetivo do Estado do Paraná aguardando para fazer o curso de formação pedagógica”, adianta Sônia Ana. Ela explica que apesar da grande procura pelo curso, a homologação dos nomes foi baixa devido a alguns problemas ocorridos durante a pré-inscrição dos candidatos no sistema informatizado criado pelo MEC para que os professores escolham o curso que desejam fazer - a Plataforma Paulo Freire. Um deles, de acordo com ela, é que não há um correto entendimento do que é o curso de formação pedagógica e algumas pessoas entendem como sendo pedagogia. Outra questão que levanta é o fato do Parfor só oferecer vagas para professores das redes públicas em efetivo exercício. Na visão de Sônia Ana, que é graduada em psicologia, com Masters of Arts e PhD em educação pela Universidade de Iowa (EUA), se as vagas remanescentes pudessem ser ofertadas para professores com vínculo temporário, as turmas seriam preenchidas com mais facilidade.

(Fátima Schenini)

Cursos da UAB ajudam a concretizar sonhos

Alunos de pedagogia

Concluir um curso superior era uma aspiração antiga da professora Carmem Patricia Mattos dos Santos, do interior do Rio Grande do Sul. Com 23 anos de magistério, 21 deles como professora e diretora na Escola Estadual de Ensino Fundamental Abentulino Ramos, na zona rural do município de Santo Antônio da Patrulha, no litoral norte do estado, ela agora é aluna do curso de licenciatura em educação do campo oferecido pela Universidade Aberta do Brasil (UAB), por meio da Universidade Federal de Pelotas (UFPel).

“A experiência do curso a distância está sendo extremamente positiva; exige estudo, empenho, organização e dedicação”, diz Carmem Patrícia, inscrita no Polo Universitário Santo Antonio, que atende 64 municípios. Surpreendida com a qualidade e o ritmo intenso das atividades propostas, ela acredita que participar desse curso representa uma oportunidade de qualificar seu trabalho pedagógico e dar significado a um projeto educacional identificado com a realidade da comunidade.

Segundo ela, o conhecimento adquirido através da licenciatura em educação do campo irá contribuir, de forma efetiva, para o fortalecimento de uma postura mais autêntica e positiva na promoção de uma educação voltada à diversidade social, econômica e cultural. “Daqui a alguns anos, pretendo estar em plena atividade, trabalhando muito em uma escola que ajuda a construir autonomia, cidadania e autoestima em seus alunos e sua comunidade”, salienta Carmem Patrícia, que já está aplicando seus novos conhecimentos na Escola Abentulino Ramos.

Com 1.285 alunos, o Polo Universitário Santo Antonio atende 64 municípios e participa de mais de vinte cursos da UAB oferecidos por meio da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Universidade Federal do Rio Grande (FURG), Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), além da UfPel. Há cursos de licenciatura, bacharelado, especialização, aperfeiçoamento, e de tecnólogo. Quando entrou em funcionamento, em 2007, o total de cursos chegava a seis.

“Os cursos mais procurados são as licenciaturas em pedagogia e em educação do campo, ou seja, a formação de professores para os anos iniciais do ensino fundamental”, explica a coordenadora do polo, Dilce Gil Vicente, que está no magistério há 32 anos. De acordo com ela, as aulas são programadas para módulos de dois meses e, nesse período, os estudantes participam de dois a três encontros presenciais, por disciplina.

“Os encontros presenciais são momentos indispensáveis, pois estamos construindo uma educação a distância e não distante dos estudantes”, enfatiza a coordenadora, que tem licenciatura plena em biologia e cursos de especialização em gestão educacional e em informática na educação. Os encontros são realizados, geralmente, nas noites de sexta-feira ou aos sábados e domingos durante o dia.

De acordo com Dilce, o Polo Santo Antônio criou um programa de intercâmbio entre o Brasil e a França, que representa uma inovação na área de educação a distância. Em 2010, o aluno José Samuel da Silva Santos, do curso de tecnólogo em planejamento e gestão rural permaneceu um mês naquele país, participando de atividades em áreas rurais. Este ano, além de receber um agricultor francês, o polo abriu inscrições para os alunos interessados em participar de uma nova edição do intercâmbio em setembro próximo.

(Fátima Schenini)

Formação e piso são ações para valorizar carreira docente

A valorização dos profissionais da educação é defendida de forma permanente pelo Ministério da Educação e faz parte das diretrizes do projeto de lei do novo Plano Nacional de Educação (PNE 2011-2010), que tramita no Congresso Nacional desde dezembro de 2010.

O Plano Nacional de Formação de Professores da Educação Básica (Parfor) é uma das ações do MEC com objetivo de valorizar os professores. Por meio do Parfor, professores em exercício em escolas públicas que não possuam formação adequada à Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB/1996) têm acesso a cursos superiores gratuitos que incluem todas as licenciaturas das áreas de conhecimento da educação básica, nas modalidades presencial e a distância.

Coordenado pela Capes, o Parfor oferece cursos de primeira licenciatura para professores sem graduação, de segunda licenciatura para licenciados que atuam fora de sua área de formação, e de formação pedagógica, para bacharéis sem licenciatura. O plano é realizado em parceria com secretarias de educação estaduais e municipais e instituições públicas de educação superior, que recebem recursos adicionais do MEC, para esse fim.

O Programa de Consolidação das Licenciaturas (Prodocência) é outra medida adotada pelo MEC que contribui para o reconhecimento do trabalhador do magistério. Voltado a instituições federais, estaduais e municipais de ensino superior que possuam cursos de licenciatura, o programa da Capes contribui para a elevação da qualidade dos cursos de licenciatura, por meio de fomento a projetos institucionais no sentido de valorizar a formação e reconhecer a relevância social dos profissionais do magistério da educação básica.

Já o Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (Pibid), também da Capes, oferece bolsas de iniciação à docência a alunos de licenciatura, para que desenvolvam projetos em escolas de educação básica. O Pibid também oferece bolsas a coordenadores e supervisores responsáveis pelo programa nas instituições.

Outra iniciativa voltada ao fortalecimento do magistério é a concessão de bolsas de mestrado profissional a distância para professores da educação básica de escolas públicas. As bolsas são concedidas pela Capes, no âmbito da Universidade Aberta do Brasil (UAB).

Piso salarial - Para o Ministério da Educação a valorização do professor passa fundamentalmente pela adoção de um piso salarial nacional adequado à carreira docente. No dia 6 de abril, o Supremo Tribunal Federal (STF) considerou constitucional o piso salarial nacional do magistério, atualmente no valor de R$ 1.187,14. A decisão do STF decorre da análise da Ação Direta de Inconstitucionalidade nº 4.167, ajuizada em outubro de 2008 pelos governos do Mato Grosso do Sul, Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Ceará. Por oito votos a um, o Supremo considerou a constitucionalidade da lei e manteve o entendimento de que o valor deve ser considerado como vencimento básico. A Lei nº 11.738, de 16 de julho de 2008 (Lei do Piso), prevê a adaptação gradual de estados e municípios à remuneração do professores, além de suplementação da União, em caso de necessidade.

A chamada Lei do Piso (nº 11.738/2008) prevê a adaptação gradual de estados e municípios à remuneração do professores. A legislação prevê, ainda, que a União suplemente os recursos, quando necessário. O estabelecimento do piso nacional do magistério é uma das conquistas dos professores.

(Assessoria de Comunicação do MEC)

Capes abre pré-inscrições em licenciaturas presenciais para professores da rede pública

Os professores em exercício na rede pública de educação básica já podem realizar, no período de 2 a 22 de maio de 2011, as pré-inscrições em cursos de licenciatura presenciais ofertados no âmbito do Plano Nacional de Formação dos Professores da Educação Básica (Parfor Presencial).

O Parfor Presencial é uma ação organizada e financiada pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) para atender os objetivos da Política Nacional de Formação dos Profissionais do Magistério da Educação Básica, instituída pelo Decreto 6.755, de 29 de janeiro de 2009.

O objetivo principal do Parfor Presencial é garantir aos professores em exercício na rede pública uma formação acadêmica, exigida pela Lei de Diretrizes e bases da Educação Nacional (LDBEN/1996), bem como promover a melhoria da qualidade da educação básica.

Os cursos ofertados no âmbito do Parfor Presencial são os seguintes: primeira licenciatura, para professores sem formação superior, em exercício na rede pública; segunda licenciatura, para professores em exercício na rede pública da educação básica há pelo menos três anos, em área distinta da sua formação inicial; formação pedagógica, para professores graduados, mas não licenciados, em exercício na rede pública.

Os professores interessados podem acessar a Plataforma Freire, sistema informatizado do MEC para gestão da formação, onde também poderão obter outras informações sobre as instituições de ensino superior, cursos e número de vagas. No mesmo sistema poderão realizar a pré-inscrição. Aqueles que nunca acessaram a plataforma devem primeiro cadastrar seus currículos.

As inscrições deverão ser validadas pela secretaria de educação estadual ou municipal à qual o professor em exercício estiver vinculado, no período de 23 de maio a 10 de junho de 2011.

Em caso de dúvidas, devem ligar para 0800 616161, opção 7, acessar o Fale Conosco ou enviar mensagem eletrônica para parfor@capes.gov.br (Assessoria de Imprensa da Capes)

 

Professora de Goiás incentiva a leitura entre pais e alunos

Professora Santina na biblioteca

A viagem fantástica aos livros é o título do projeto criado em 2010, pela professora Santina Procópio, do município de Uruaçu, no interior de Goiás, que atua como bibliotecária no Colégio Estadual Bernardo Sayão. Sua motivação surgiu após participar do curso Introdução à Educação Digital, promovido pelo Núcleo de Tecnologia Educacional (NTE) do município.

Por meio de um blog, o projeto explora as linguagens das Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC), a fim de disseminar o gosto pela leitura, bem como a interpretação e produção de textos. “Percebi que o blog foi um incentivo maravilhoso, pois juntou o computador e a internet que eles já gostavam, com o universo dos livros que eles estavam aprendendo a gostar”, ressalta a professora.

O projeto estimulou os alunos a frequentarem a biblioteca na hora do recreio, para que pudessem criar o hábito da leitura. No início, eles apenas exploravam os livros e faziam leituras sem compromisso, mas com o passar do tempo, o interesse foi aumentando e proporcionou um crescimento no empréstimo de livros. Os estudantes também foram incentivados a produzirem textos sobre as leituras realizadas, para serem postados no blog, com fotos autorizadas pelos pais.

Também foram postados no blog os trabalhos literários realizados pelos alunos, como o livro construído a partir do filme O Menino da Porteira, e fichas literárias de livros diversos. A professora Santina também incentivou os estudantes a escreverem poesias para participarem do Sarau de Literatura promovido pela escola.

“É muito empolgante ver o interesse dos alunos e saber que tudo começou com uma iniciativa simples, estimulando cada aluno de forma individual e depois dois, três... e sempre mais alunos”, diz Santina. Para ela, trata-se de acreditar no potencial dos alunos, acreditar que sempre é possível fazer a diferença através de um trabalho bem planejado, prazeroso e afetivo.

Sabendo que uma turma de alunos gostava muito de música, Santina apresentou o livro Brinque-Book Canta e Dança, de Suzana Sanson Graça Lima, acompanhado de CD. Os alunos logo passaram a fazer empréstimo da obra e aprenderam a tocar e cantar a música La Bamba. E três alunos das turmas A e B dos oitavos anos do turno matutino escolheram essa música para apresentar no Sarau de Poesia.

O projeto A viagem fantástica aos livros tem feito a professora Santina se destacar e receber elogios, não só de seus colegas como também de profissionais da educação de outras cidades. Ela, inclusive, tem prestado assessoria a gestoras de escolas estaduais e municipais, orientando professores e bibliotecários. “O projeto de Santina tem incentivado várias escolas e professores a dinamizarem o processo de leitura, interpretação e produção de textos”, salienta Rúbia Rosa Guerra Marques, professora formadora do NTE/Uruaçu.

Em 2011, o projeto foi ampliado e inclui uma parceria com as professoras de artes e português. Outras das ações introduzidas são: um concurso de poesia feitas pelos próprios alunos, contação de histórias, e participação da família, que poderá contar sua história no blog. Os alunos e seus familiares poderão produzir em conjunto os textos a serem postados, além de selecionarem as fotos e outros elementos que queiram postar.

(Fátima Schenini)

Leda Scheibe: universalização da formação superior dos professores é tendência mundial

Professora Leda Scheibe

Com mestrado e doutorado em educação e pós-doutorado na área de formação de professores no ensino superior, Leda Scheibe é professora da Universidade do Oeste de Santa Catarina (Unoesc). Vice-presidente da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação (Anped) e membro do Conselho Técnico Científico da Educação Básica da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), ela é aposentada pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), onde continua a trabalhar como professora titular voluntária.

Em entrevista ao Jornal do Professor, Leda Scheibe fala sobre a importância da formação superior para os professores da educação básica e diz que a exigência de uma escolaridade maior e melhor tem aumentado. “A universalização da formação superior dos professores é uma tendência mundial e cada vez mais se justifica frente aos desafios educacionais”, ressalta.

Ela acredita que, neste momento, é preciso investir no processo de discussão e aprovação do Plano Nacional de Educação para a década 2011 – 2020. Em sua opinião, o Plano Nacional de Educação é o instrumento disponível para, efetivamente, apontar estratégias que induzam estados e municípios a investir em planos de carreira e no pagamento de salários dignos aos professores.

Jornal do Professor - Qual é a importância da formação superior para os professores? Um professor com curso superior tem mais condições de ensinar do que um que tenha apenas o curso Normal?

Leda Scheibe - A FORMAÇÃO INICIAL é um momento chave da construção de uma socialização e de uma identidade profissional. A formação dos professores para a escola básica, hoje, não pode mais prescindir de uma formação em curso superior como base para sua atuação docente. Tal requisito tem fundamento na compreensão de que a valorização do professor, tão cantada em prosa e verso, depende não apenas, mas também, de uma formação aprimorada, valorizada pela profundidade dos estudos e mesmo pelo tempo de formação.

O professor é um profissional que lida com formação de crianças, jovens e mesmo de adultos, e que tem como principal conteúdo para o seu trabalho, o conhecimento. Isto não é pouca coisa - sua tarefa é socializar o conhecimento sistematizado, fazer a mediação entre a cultura e o educando, formar indivíduos críticos... Cada vez mais as pessoas precisam para sua sobrevivência, dominar o conhecimento que se amplia dia a dia... Mais e melhor escolaridade é, portanto, uma exigência que só tem se ampliado. O professor está no centro deste movimento que incorpora cada vez mais informações e necessita cada vez mais, para isto, uma formação sólida e cultural, que extrapola a que diz respeito unicamente à disciplina na qual será docente, e o conteúdo pedagógico.

Profissionais cada vez mais qualificados e permanentemente atualizados são exigências do trabalho docente que se complexifica e requer do professor um papel de intelectual no sentido que lhe deu Gramsci. O panorama atual revela que é de se esperar que mais e maiores cobranças recaiam sobre os professores, exigindo deste uma compreensão ampliada do mundo, do trabalho, da ciência, da cultura... A educação pouco pode avançar se o professor não tiver este perfil de pessoa com uma compreensão da cultura, para além dos conhecimentos específicos da sua área de trabalho.

A universalização da formação superior dos professores é uma tendência mundial e cada vez mais se justifica frente aos desafios educacionais.

JP - Como a senhora avalia a formação dos professores, de maneira geral? As instituições de ensino estão preparadas para formar bons professores?

LS - A formação de professores no Brasil é um desafio para seus governantes e para as instituições de ensino que abrigam os cursos que ofertam esta formação. Há instituições preparadas para um bom ensino e no qual os profissionais podem ser bem formados. Mas o que caracteriza, de uma maneira geral, esta oferta, é a condição desigual que temos hoje nos processos de formação de professores: presencial, a distância, três ou quatro anos para a realização dos cursos, ensino diurno e noturno, instituições públicas e privadas etc. Cinco formatos institucionais dão hoje abrigo aos cursos de formação de professores: escolas normais de nível médio; universidades que oferecem os cursos de licenciatura; instituições de ensino superior (IES) em geral, ou seja, centros universitários, faculdades integradas ou faculdades isoladas que oferecem licenciaturas em geral; institutos superiores de educação, criados pela LDB/1996, para funcionar no interior das IES e para assumir toda a formação inicial e continuada de professores; institutos federais de educação tecnológica (IFETS) que podem ofertar tanto as licenciaturas tradicionais com licenciaturas específicas para a educação profissional.

A desigualdade nos processos de formação é preocupante por incorporar desigualdade na qualidade da formação. É um desafio para o país, portanto, romper com o processo histórico de desvalorização social do professor, e caminhar no sentido de uma qualidade de formação mais igualitária.

A formação de professores é sobretudo um problema político: é atravessada pela concepção de sociedade e de projeto de futuro para uma país. Por isso, é preciso destacar que os currículos de formação dos docentes passam por definições nas quais os projetos societários de nação estão presentes de alguma forma, e, portanto, concepções em disputa atravessam os projetos de formação. Como encarar nos projetos de formação dos nossos quadros docentes os novos quadros teóricos, os novos aportes do desenvolvimento científico, os novos equacionamentos dos tempos e dos espaços que requer a virtualidade frente à prática pedagógica? São desafios postos...

Há que apostar, portanto, em processos formativos de docentes cada vez mais inseridos nas novas exigências da atualidade, sem deixar de levar em conta, ao lado da preparação técnica e conteudista dos professores, das necessidades de mudança social , a perspectiva da inclusão escolar, do direito à educação, das necessidades coletivas se sobrepondo ao individualismo, da multidisciplinaridade etc.

JP - Dados do Censo da Educação Básica de 2010 revelam que do total de dois milhões de professores, 1,4 milhão têm idade entre 33 e mais de 50 anos. Como a senhora avalia isso?

LS - Com preocupação. Os dados oficiais também têm revelado que a procura pelos cursos de licenciatura tem decaído nos últimos anos, mesmo que haja oferta de vagas no mercado de trabalho. Isto revela o quanto a carreira docente não é uma profissão atrativa para os jovens.

JP - O que é necessário fazer para atrair para as carreiras docentes os jovens que estão ingressando nas universidades?

LS - Sabe-se que esta questão passa pelo salário dos professores, pela falta de carreira docente na maior parte dos sistemas de ensino no país, pelas condições concretas de trabalho, nas escolas, e também pelo cuidado com sua formação na graduação. No momento, certamente cabem medidas tais como bolsas de estudo para ingressantes nas licenciaturas, não apenas para que possam desenvolver a sua formação com tempo para estudar e manter-se como estudante, sem precisar trabalhar e necessitar apelar para curso noturno. Mas também para que sejam atraídos para os cursos de licenciatura.

JP - Como senhora vê a avaliação de professores?

LS - Esta é uma questão que está em pauta, por diversas razões. Por um lado, pela efetiva necessidade de avaliar o trabalho docente para detectar suas necessidades, rever as posturas dos docentes, sentir o que falta em termos didático-pedagógicos e também de conhecimento curricular... Enfim, pela importância diagnóstica que tem a avaliação, como um elemento de promoção do trabalho docente e das condições de ensino.

Por outro lado, há hoje uma insistência avaliativa no sentido daquilo que está sendo denominado de responsabilização do professor pelos resultados da aprendizagem dos alunos, e sua culpabilização por fatores relacionados com a falta de condições educacionais.

Garantir a qualidade da educação nas escolas e promover a educação profissional dos professores é uma necessidade. Promover o crescimento profissional do professor. Mas usar, por exemplo, o desempenho dos alunos em testes específicos para avaliar as habilidades do professor pode representar equívocos que passam por fatores que vão além do controle do professor.

Penso ser necessário rever a ascensão da avaliação de resultados e fazer da avaliação um elemento da formação humana e não da exclusão (segregação das camadas mais pobres em guetos escolares, desestruturação profissional do magistério, ansiedade dos atores educacionais, ranqueamento das escolas etc). Considero necessária a avaliação do estágio probatório dos professores como um exemplo da avaliação como elemento de formação. No sentido de um acompanhamento do trabalho de quem se inicia na carreira profissional. O estágio probatório é um momento privilegiado de aprendizagem para o profissional docente. Mas seria necessária a participação de professores experientes neste processo de avaliação, como orientadores do trabalho. Sabemos que, mesmo constituídos como exigência pela Constituição brasileira e por leis estaduais, os estágios probatórios não estão sendo efetivamente implementados.

JP - O que os professores podem fazer para enfrentar os desafios da carreira?

LS - Ações de diversas naturezas podem ser feitas para enfrentar os desafios da carreira pelos professores. Professores são pessoas com idéias, com experiências, com imaginação, com ideais. Mas principalmente são uma categoria profissional, o que exige deles/delas ações integradas. Seja na escola, no sindicato ou em outras associações vinculadas ao trabalho docente. Movimentos de solidariedade para com as necessidades coletivas. Formar equipes multidisciplinares nas escolas para ampliar o seu olhar. Construir com os outros profissionais da educação, no sindicato dos professores, instrumento de avaliação dos professores. Socializar bons planos de aula na internet. Lutar para ampliar o tempo de convivência na escola e por mais tempo para planejar suas atividades. Novas tecnologias da comunicação requerem mudanças.

JP - O Ministro da Educação defende a valorização do magistério e entende que o piso salarial e a carreira não devem ser dissociados. Como fazer com que estados e municípios invistam em planos de carreira e paguem o piso salarial do professor?

LS - Neste momento é preciso investir no processo de discussão e aprovação do Plano Nacional de Educação para a década 2011 – 2020. É importante ter clareza sobre a indissociabilidade entre questões de formação, condições de trabalho, salário e carreira para a valorização do magistério. O Plano Nacional de Educação é, no momento, o instrumento que temos para efetivamente apontar estratégias que induzam os estados e municípios a investir em planos de carreira e no pagamento de salários dignos para os seus professores. Recentemente a Conferência Brasileira de Educação (Conae) discutiu à exaustão a necessidade de criação de um Sistema Nacional de Educação para que a nação não fique refém de políticas educacionais setorizadas que desconsideram a necessidade de dar prioridade à educação. Como o Brasil é um país federativo, a adesão às políticas que têm sido discutidas e definidas nacionalmente como fundamentais para o crescimento educacional fica à mercê de determinadas coações... Mas é preciso pelo menos cumprir a lei, neste país. E a lei determina a existência de um piso salarial mínimo e a existência de planos de carreira em todos os sistemas de ensino....