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JORNAL

Escola Aberta

Terça-feira, 24 de Maio de 2011

Edição 55

EDITORIAL - Escola Aberta

A 55ª edição do Jornal do Professor aborda o tema Escola Aberta, escolhido por 37,35% dos leitores. Apresentamos experiências desenvolvidas na Escola Municipal de Educação Fundamental Cândida Santos de Souza, em Ananindeua (PA), na Escola Estadual Doutor Hector Acosta, em Santana do Livramento (RS) e na Escola Estadual Márcia Meccia, em Salvador (BA).

Você vai ficar sabendo, também, sobre o livro lançado em Vitória (ES), contendo experiências de sucesso do programa Escola Aberta.

Nossa entrevistada é a professora e pesquisadora Ana Lúcia Hazin Alencar, da Fundação Joaquim Nabuco, em Recife (PE). Para ela, abrir as portas da escola para a comunidade ajuda a minimizar o problema da violência, sobretudo a relacionada aos jovens. Ela acredita que os alunos se sentem inseridos e valorizados quando têm oportunidade de integrar grupos de dança, oficinas de teatro ou participar de outras práticas oferecidas pela escola.

No Espaço do Professor, temos a participação de Rosângela Souza de Jesus, cooordenadora da área de tecnologias, linguagens e suas tecnologias, no Centro Educacional de Tempo Integral (Ceti), no município de Parintins (AM).

Ajude-nos a escolher o tema das próximas edições, votando na enquete colocada em nossa página. E aproveite para colaborar enviando sugestões, críticas, textos e músicas!

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Escola Aberta traz bons resultados no interior do Pará

Jovens pintam unhas

Atividades educativas, culturais, artísticas e esportivas são constantes nos finais de semana da Escola Municipal de Ensino Fundamental Cândida Santos de Souza, no Pará. Por meio delas, a instituição localizada no município de Ananindeua, na região metropolitana de Belém, contribui para melhorar a qualidade de vida da comunidade, ao mesmo tempo em que ajuda a transformar o colégio em um espaço de cidadania e convivência social.

Com cerca de 1.500 alunos matriculados no ensino fundamental e na educação de jovens e adultos (EJA), a instituição está localizada no Distrito Industrial, um local incluído pela polícia na chamada “zona vermelha”, por ser considerado perigoso. O projeto Escola Aberta Educação e Cidadania, iniciado em 2009, oferece diversas ações educativas e de recreação. Estudantes, pais e servidores da instituição, além de moradores do bairro e do entorno, podem participar das atividades, que são oferecidas aos sábados, pela manhã e à tarde.

“O projeto veio ajudar a comunidade, oferecendo um espaço socializador, capaz de promover mudanças e oportunizar ações acolhedoras”, salienta o diretor da Escola Cândida, Belmiro Campelo Neto. Além disso, informa, o projeto favorece a extensão do processo educacional nos seus variados aspectos e possibilita aos participantes das oficinas uma oportunidade de aumento da rede familiar, por meio da criação de objetos artesanais.

Crochê, pintura em tecido, bombons de chocolate e bijuterias são algumas das atividades ensinadas nas oficinas. O projeto também oferece a prática e o aprendizado de diferentes jogos, sejam de tabuleiro, como xadrez, dominó, trilha e futebol de botão; ou jogos de campo, como vôlei e futsal. Os instrutores, mais conhecidos como “oficineiros”, são recrutados na própria comunidade, geralmente a partir de indicações de professores, alunos ou servidores da escola. Algumas vezes, os próprios interessados procuram a escola oferecendo seus serviços. Os instrutores podem ser voluntários ou receber pagamento pelas aulas dadas, pois o projeto conta com recursos para esse fim. O diretor esclarece que os professores da própria escola também podem participar como instrutores, pois o projeto é oferecido à comunidade fora das atividades normais da escola.

“Sábado é um dia de amizade – ‘o dia da brincadeira’ – e a família vem se divertir na escola. É muito legal”, diz o professor de educação física da Escola Cândida, Jesus dos Santos Cruz, que também desenvolve atividades esportivas no Escola Aberta. Segundo ele, os alunos são informados, no decorrer da semana, sobre os jogos que serão realizados no sábado, para que possam convidar seus amigos. “A procura é grande e em algumas oficinas é preciso fazer inscrição: o futebol é o mais procurado”, conta Jesus. Com um salário fixo pelo trabalho que desenvolve na escola, ele também recebe pelas horas que dedica ao projeto no final de semana.

Comportamento - De acordo com o diretor, o projeto provocou uma diminuição nas brigas e atritos estudantis. Como exemplo, cita a melhora ocorrida no comportamento de alguns alunos que, antes do Escola Aberta, chegaram a ser encaminhados ao Conselho Tutelar e à Divisão de Atendimento ao Adolescente (Data) da Polícia Civil. “Eles não dizem mais tantos palavrões, sabem resolver suas diferenças e não criam confusões”, explica Belmiro Campelo Neto. Esses estudantes também ajudam a resolver desavenças surgidas entre colegas, o que representa um grande avanço, na visão do diretor. Pedagogo com especialização em gestão escolar, há 27 anos no magistério, ele acredita que o projeto oferece muito mais do que só diminuir a violência: “ele orienta a comunidade na busca por melhorias para sua vida e promove a cidadania”, ressalta.

A coordenadora do projeto Escola Aberta na Escola Cândida é a pedagoga Alcilene Costa Magalhães. Com 15 anos de magistério, ela também exerce a função de coordenadora pedagógica na escola e desenvolve inúmeras ações de cidadania por meio de projetos, cursos, oficinas e ciclos de palestras. Um de seus projetos é Cultura de Paz na Escola, premiado pelo Instituto Cidadania Brasil, em 2010, com o Prêmio Construindo a Nação 2010/2011. “Acreditamos que desenvolvendo uma cultura de paz na escola é possível diminuir a violência na comunidade”, ressalta.

(Fátima Schenini)

Passar final de semana na escola melhora comportamento dos alunos

Estudantes participam de atividades teatrais.

Desde que o projeto Escola Aberta para a Cidadania entrou em funcionamento na Escola Estadual de Ensino Médio Doutor Hector Acosta, há cerca de um ano, muitos avanços e benefícios ocorreram. Além de provocar melhorias no comportamento dos alunos, a ação tem colaborado para integrar as famílias dos estudantes do colégio, localizado no município de Santana do Livramento, na fronteira do Rio Grande do Sul com o Uruguai.

Oficinas de informática, esportes, artesanato, dança, e instrumentos musicais, curso de manicure, pedicure, e culinária, além de aulas de reforço, são algumas das atividades oferecidas à comunidade, durante os finais de semana. Totalmente gratuitas, são abertas à participação de todos os interessados.

“O projeto é de grande importância para a comunidade e o entorno escolar”, destaca a diretora da instituição, Giovana Chagas Cantareli. Segundo ela, como os moradores da comunidade são, basicamente, pessoas de baixa renda ou carentes, sem recursos para pagar um clube ou sociedade, não dispunham de um local onde pudessem ir aos sábados e domingos. Isso fazia com que, muitas vezes, ficassem em esquinas ou lugares inadequados, usando drogas ou praticando outras ações não recomendáveis.

A adoção do projeto Escola Aberta também contribuiu para acabar com a ocorrência de casos em que alunos tentavam entrar no colégio, aos finais de semana, sem serem vistos, para depredar ou até roubar. “Hoje fazem parte de um time de futebol ou de outra oficina e ajudam na preservação da escola, pois sabem que são bem vindos para aprender e também para atividades de lazer e esportes”, ressalta Giovana, formada em magistério e em ciências físicas e biológicas, que está há 20 anos no magistério.

De acordo com ela, que está há quatro anos na direção da escola, a integração de alunos de séries e idades diferentes ajudou a diminuir a violência escolar. Além disso, revela, “estudantes que tinham problemas sérios de indisciplina e evasão passaram a ser amigos da escola, participando e ajudando sempre que seja necessário.” A avaliação positiva é compartilhada com a vice-diretora da instituição, Marta Helena Correa Vieira, responsável pela coordenação do projeto em 2010. Ela diz que pode sentir de perto as mudanças que ocorreram, principalmente com relação à violência, depredação do prédio e relacionamentos na comunidade.

(Fátima Schenini)

Fanfarra é destaque em Escola Aberta de Salvador

Fanfarra da Escola Márcia Meccia participa de desfile.

A oficina de fanfarra é uma das atividades mais importantes do programa Escola Aberta que é realizado na Escola Estadual Márcia Meccia, em Salvador. A atividade tem sido, inclusive, motivo de destaque para a escola, pois os integrantes da fanfarra já foram premiados em competições de que participaram.

Em funcionamento desde 2007, o programa tem recebido, a cada ano, uma maior adesão da comunidade de Mata Escura, onde a escola está situada, interessada em participar das atividades oferecidas, que incluem aulas de inglês e oficinas de informática, artesanato, teatro e futsal, entre outras.

“O programa Escola Aberta é mais uma oportunidade para que as pessoas da comunidade e os estudantes possam desenvolver a autoestima, aprender uma profissão, vivenciar momentos de lazer e de socialização”, acredita a diretora da instituição, Laura Souza Silva. Em sua opinião, a escola precisa ser atrativa e proporcionar meios de transformar a educação. “Não podemos perder nossas crianças, nossos jovens, para os prazeres da rua”, salienta.

Na visão da professora Joselita Barbosa da Silva, coordenadora do programa no Márcia Meccia desde 2009, ele é muito importante, tanto para os estudantes quanto para a comunidade. “Ao participarem das oficinas, os alunos aprendem a fazer atividades em grupo, socializando-se e respeitando um ao outro. Aprendem a aprender e, com certeza, saem das ruas, onde a violência ainda prevalece”, justifica. Segundo Joselita, os cursos profissionalizantes oferecidos possibilitam que os moradores do bairro adquiram uma profissão e possam contribuir para a renda familiar.

Joselita é responsável, juntamente com a educadora comunitária Simone dos Santos, pela aquisição de materiais para as oficinas, pela frequência dos participantes e pela coordenação da execução das atividades dos responsáveis pela realização das oficinas – os oficineiros. “Também incentivamos a participação da comunidade no programa”, diz Joselita.

De acordo com a diretora, que tem 23 anos de magistério, 13 dos quais como gestora escolar, o fato da escola estar aberta para a comunidade faz com que seja mais respeitada e valorizada. “Quando existe parceria com a comunidade, a escola não é depredada. Ela é valorizada, pois cumpre seu papel social – formar cidadãos”, ressalta.

Para Laura, o Escola Aberta representa um novo desenho educacional. “As pessoas dialogam, se aproximam, há um melhor relacionamento entre a escola e a comunidade e redução no índice de violência”, destaca. “Como seria bom se todas as comunidades oferecessem oficinas gratuitas de cunho social, profissional, cultural, e esportivo para crianças, jovens e adultos”, imagina Laura, que é graduada em letras vernáculas e está concluindo curso de especialização em gestão escolar.

(Fátima Schenini)

Livro relata experiências de sucesso do Escola Aberta no ES

Jovens praticam capoeira

Escola Aberta – A experiência formativa do programa Escola Aberta no Espírito Santo – 2010 é o título da obra que reúne os trabalhos de conclusão de 13 alunos do curso de especialização em educação comunitária, realizado na Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) por meio de parceria com o MEC e secretarias municipais e estadual de educação.

Uma das autoras é Fátima Rodrigues Burzlaff, coordenadora do Escola Aberta na Secretaria Municipal de Educação de Vitória (ES). Ela escreveu um artigo sobre relações de gênero no contexto do programa. “Acreditando que o Escola Aberta é um espaço educativo, de formação e informação, busquei estudar e planejar, com os voluntários do programa, ações que promovessem o debate desta temática com os participantes”, explica.

Segundo ela, que é pedagoga com 17 anos de experiência como professora das séries iniciais do ensino fundamental, relações de gênero é um tema relevante para ser debatido nas escolas, pois segundo as estatísticas brasileiras, a maioria das mulheres ainda não tem o exercício pleno dos seus direitos.

De acordo com Fátima Burzlaff, foi feita uma parceria entre o programa e a Escola Superior de Ciências da Santa Casa de Misericórdia de Vitória, por meio do curso de serviço social, a fim de promover formação para os voluntários na área de relações de gênero. O projeto de extensão intitulado Discutindo gênero, violência e saúde no programa Escola Aberta teve início em 2010, com 186 voluntários. “Neste ano de 2011 ampliamos a temática da formação discutindo também gênero e racismo, sexualidade e gravidez na adolescência e homofobia”, relata. A partir do segundo semestre, esses temas serão debatidos com os participantes do programa, por meio de diversas oficinas.

Na visão da coordenadora, o programa aproxima a comunidade da escola, oferece oportunidades de trocas de conhecimentos, promove vivências esportivas, culturais e educativas, além de contribuir com a formação para o trabalho. “Por meio das atividades desenvolvidas, são trabalhados os valores de cooperação, solidariedade e respeito, o que vem contribuindo para a diminuição da violência entre crianças e adolescentes”, salienta.

Além disso, Fátima Burzlaff destaca que o programa possibilita a descoberta de pessoas talentosas, que são incentivadas a compartilhar seus saberes e, desse modo, melhoram sua autoestima. Ela conta que, em uma das escolas municipais de Vitória, a realização de uma oficina de teatro possibilitou que vários participantes despertassem o interesse por literatura e artes cênicas. “Com o passar do tempo, alguns desses participantes tornaram-se voluntários, socializando o que aprenderam com outras escolas e buscaram ampliar seus estudos na universidade”, adianta.

(Fátima Schenini)

Professora divulga atividades realizadas em escola de Parintins

Alunos escrevendo

Professora da rede estadual do Amazonas, onde leciona as disciplinas de língua portuguesa, literatura brasileira e língua inglesa no ensino fundamental e médio, Rosângela Souza de Jesus está no magistério há vinte anos. Formada em letras – língua portuguesa e língua inglesa –, ela coordena a área de tecnologias, linguagens e suas tecnologias no Centro Educacional de Tempo Integral (Ceti), no município de Parintins.

Em mensagem encaminhada ao Jornal do Professor, ela conta que a equipe de professores do Ceti está desenvolvendo várias atividades interdisciplinares, o que proporciona uma imensa motivação e “torna o trabalho significativo, dinâmico e prazeroso para alunos e professores.”

Segundo Rosângela, a escola desenvolveu, no período de 10 a 26 de março, uma ação pedagógica intitulada Todos contra a Dengue, com o objetivo de sensibilizar os alunos e a comunidade sobre o perigo da proliferação do mosquito aedes egipti. O projeto envolveu as disciplinas de língua portuguesa, língua inglesa, ciências naturais, educação física, geografia, história, biologia, matemática, física, química, ensino religioso e artes.

A ação teve início com a projeção de um vídeo ilustrativo, em todas as turmas, como forma de orientar o trabalho que seria realizado. A seguir, foram feitas diversas atividades, tais como: debates, coleta de dados, elaboração de cartazes, charges e paródias, além de dramatizações. No último dia do projeto, escolhido como o Dia D de combate à dengue, os alunos distribuíram à comunidade, panfletos sobre a dengue.

“Temos muito prazer em divulgar o trabalho que foi realizado por quem é o nosso maior foco: o aluno”, destaca a professora Rosângela.

(Fátima Schenini)

Ana Lúcia Hazin (Fundaj): abrir as portas da escola para a comunidade ajuda a minimizar o problema da violência

Ana Lúcia Hazin

Cultura, lazer e entretenimento são os principais temas estudados pela pesquisadora Ana Lúcia Hazin Alencar, da Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj), em Recife (PE). Ex-professora da Universidade Católica de Pernambuco, ela é formada em filosofia, com mestrado e doutorado em sociologia.

Ana Lúcia Hazin participou da pesquisa “Programa Escola Aberta: alternativa de lazer e cultura para a comunidade?”, coordenada por Cleide Galiza, também da Fundaj. Para o estudo, realizado no período de 2007 a 2009, foram ouvidos 490 participantes do programa, distribuídos em 32 escolas.

Jornal do Professor - Em sua opinião, qual é a importância do programa Escola Aberta para as escolas, alunos e para a comunidade?

Ana Lúcia Hazin - O programa Escola Aberta (PEA) é direcionado, sobretudo, aos adolescentes e jovens em situação de vulnerabilidade social. Em geral, esses usuários pertencem a famílias de baixa renda e suas casas estão localizadas em bairros que apresentam graves deficiências ou até mesmo inexistência de infraestutura, serviços e lazer. Daí a importância do “Escola Aberta”.

A escola que abre suas portas nos finais de semana disponibiliza um espaço que passa a ser apropriado e ressignificado pelos seus frequentadores. Ao oferecer os diversos tipos de oficinas, a escola está dando continuidade ao processo de formação integral do indivíduo que participa de atividades culturais, esportivas ou de lazer.

Os alunos, por sua vez, ao terem oportunidade de fazer parte de grupos de dança, oficinas de teatro, grafitagem ou de experienciar outras práticas oferecidas pela escola, sentem-se inseridos e valorizados. Alguns deles, inclusive, após algum tempo de participação e aprendizado, passam a colaborar com o programa na condição de oficineiros.

O programa Escola Aberta beneficia também a comunidade, já que as consequências da carência de equipamentos culturais e de lazer são amenizados, pois os jovens passam grande parte do seu fim de semana na escola. Os pais, em especial, sentem que seus filhos estão em um lugar seguro, diferente da rua que é relacionada à insegurança, à violência e ao medo.

JP – Que tipo de atividades devem ser oferecidas pelo programa?

ALH – As atividades oferecidas nas escolas devem responder aos anseios dos jovens e contribuir para seu desenvolvimento oferecendo atividades lúdico-recreativas-formativas. São exemplos os cursos de informática, oficinas de capoeira e artesanato, aulas de atividades circenses, dança popular, moderna e futebol. Não se pode esquecer que um aspecto determinante na escolha das atividades a serem oferecidas é a disponibilidade de espaço na escola e a existência de pessoal (oficineiros e voluntários) que marque presença e atue junto aos usuários do PEA nos finais de semana.

JP – Qual o papel do programa no lazer e na socialização? Sabe-se que os moradores de comunidades carentes não dispõem de recursos para esse fim.

ALH – O PEA cumpre um importante papel nas comunidades ao fomentar o direito dos cidadãos ao lazer e à cultura, estimulando-os a repensarem suas práticas e a utilizarem seu tempo livre de forma criativa. Nesse contexto, as oficinas oferecidas, por sua própria natureza, possibilitam o encontro com o outro, uma vez que agregam pessoas em torno de diferentes atividades desenvolvidas nos espaços escolares nos fins de semana.

JP – Quais os principais benefícios gerados pelo programa?

ALH – Em que pese algumas deficiências técnico-estruturais o programa vem gerando, em graus diferenciados, a sociabilidade lúdica que o lazer permite estabelecer: há em geral um aumento do círculo de amizades e uma melhoria no convívio social com familiares, colegas e professores. Também possibilita o aprendizado de novas atividades, o que pode resultar em oportunidades de inserção no mercado e o despertar de talentos não revelados na escola regular.

JP – A sociedade enfrenta uma série de problemas que se refletem diretamente na escola, como a violência, por exemplo. Abrir as portas da escola para a comunidade pode contribuir para minimizar ou resolver estes problemas? Ou pelo contrário: abrir as portas da escola pode aumentar a vulnerabilidade dessas instituições?

ALH – Na minha concepção, abrir as portas da escola para a comunidade ajuda a minimizar o problema da violência, sobretudo a relacionada aos jovens que têm sido seu alvo principal. Quando se leva em conta as condições de moradia das famílias de baixa renda, observa-se um processo de expulsão progressiva, muitas vezes percebido como “natural”. Os moradores, especialmente o segmento infanto-juvenil, expropriados de espaços em suas próprias residências, assumem a rua como local de convivência social, ainda que inadequado. O “Escola Aberta” passa então a ser um “porto seguro”, lugar propício para se ocupar o tempo e a mente.

JP – A senhora participou de uma pesquisa que avaliou o trabalho do programa Escola Aberta em escolas de Recife. Quais as principais conclusões obtidas?

ALH – A pesquisa a que se refere denomina-se “Programa Escola Aberta: alternativa de lazer e cultura para a comunidade?” e foi desenvolvida por Cleide Galiza (coordenadora) e por mim, ambas pesquisadoras da Fundação Joaquim Nabuco, no Recife. Foram entrevistados 490 participantes do Programa Escola Aberta, distribuídos em 32 escolas visitadas.

A investigação, realizada para verificar as interferências do programa no cotidiano dos beneficiários, apresentou resultados que apontam mudanças no comportamento e um olhar crítico sobre o desenvolvimento do referido programa.

· Ao frequentarem as oficinas, os beneficiários têm a oportunidade de ampliar conhecimentos e conhecer novas profissões ligadas à arte cênica, como teatro e dança, ao áudio visual e à informática;

· Conhecer pessoas, ampliar as relações sociais são situações proporcionadas pela função integrativa do lazer;

· Oportunidade de sair da rua;

· Democratização do acesso à cultura propicia a “cidadania cultural”.