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JORNAL

Blogs na Educação

Segunda-feira, 8 de Agosto de 2011

Edição 58

EDITORIAL - Blogs na Educação

Por decisão de nossos leitores, o tema da 58ª edição do Jornal do Professor é Blogs na Educação. O assunto foi escolhido por 51,87% dos que votaram na enquete colocada em nossa página.

Nesta edição, apresentamos as experiências com blogs desenvolvidas por quatro professoras de diferentes localidades brasileiras: Elayne Stelmastchuk, de Nova Fátima (PR); Janaína Spolidorio, de São Bernardo do Campo (SP); Juliana Seabra Laudares, de Rolim de Moura (RO); e Suely Aymone, de Uruguaiana (RS).

O professor Simão Pedro Marinho, da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC-Minas), é o entrevistado desta edição. E a professora Stefânia de Magalhães Andrade Barbosa, de Taubaté (SP), participa da seção Espaço do Professor.

Ajude-nos a escolher o tema das próximas edições, votando na enquete colocada em nossa página. E aproveite para colaborar enviando sugestões, críticas, textos e músicas!

Seja bem-vindo!

Professora de Rondônia estimula aprendizado por meio de blogs

Alunos assistem projeção na sala de aula

Temas relacionados à educação e às turmas com as quais trabalha são, basicamente, os assuntos tratados nos blogs da professora Juliana Seabra Laudares, de Rolim de Moura (RO). Pedagoga especializada em alfabetização, ela leciona na rede pública de ensino há 14 anos. Neste ano, Juliana dá aulas em uma turma do 2º ano do ensino fundamental da Escola Estadual Coronel Aluízio Pinheiro Ferreira, mas sua experiência como professora inclui também turmas de ensino infantil e superior.

Seu primeiro blog - http://lindamenina.ju.zip.net (já inexistente) – foi criado em 2007 para que ela aprendesse a lidar com essa ferramenta no contexto escolar. Em 2010, quando começou a fazer especialização em Mídias na Educação, promovida pelo

Programa Nacional de Tecnologia Educacional do Ministério da Educação (Proinfo/MEC), Juliana criou o blog jornal Super Legal, pois uma das atividades do curso era o desenvolvimento de um projeto para aplicação em sala de aula, que utilizasse pelo menos duas mídias. Em seu projeto, que pretendia conhecer o registro histórico e cultural do município por meio de fotografias, jornais, relatos, entrevistas e as produções das crianças, ela utilizou o blog e o jornal.

Como todas as atividades previstas no projeto eram postadas no blog da turma, logo os alunos se interessaram em ter seus próprios blogs. As mães, por sua vez, queriam ser seguidoras do blog da turma. Isso levou à realização de uma oficina para alunos e mães, no laboratório de informática da escola, que não só proporcionou uma maior interação da escola com a família como uma maior autonomia aos alunos que mantinham seus blogs com características próprias. Atualmente, embora Juliana não dê mais aulas para esses estudantes, ela procura incentivá-los a continuarem usando seus blogs. E o blog Jornal Super Legal continua, porém com outra turma e com outros projetos. A professora criou também o blog Ler e escrever, um prazer!, voltado à publicação de artigos sobre educação.

Mudanças - Nesse período em que vem trabalhando com blogs, Juliana tem observado algumas mudanças em seus alunos. Segundo ela, é possível perceber uma maior preocupação dos estudantes ao produzir um texto, ao fazer comentários nos blogs, bem como a articulação das ideias influenciando na leitura e na escrita. Além disso, a possibilidade de que os conteúdos postados possam ser vistos por muitas pessoas ajuda a melhorar a autoestima dos alunos.

“Utilizando o blog como ferramenta pedagógica, os alunos demonstram mais cuidado com a própria escrita, o que favorece a aprendizagem”, acredita. E o contato com as tecnologias estimula os alunos a buscarem outros conhecimentos: fazer planilhas, visualizar mapas, capturar e postar imagens, são alguns deles. Outro ponto levantado por Juliana é a apresentação estética do blog, que envolve questões como imagens, legendas e sons e faz com que o estudante busque outros tipos de conhecimento para tornar sua produção cada vez melhor. “Ao lidarem com as mídias e tecnologias disponíveis, os alunos despertam para as mais variadas possibilidades do uso da leitura e da escrita”, enfatiza.

Cartas que ensinam a ler – De acordo com Juliana, o blog possibilita que ela fique sempre em contato com outros professores, partilhando projetos, sugestões de leituras, imagens ou planos de aula e até mesmo colaborando na elaboração de projetos ou no planejamento de aulas. Em um grupo de discussão virtual, ela conheceu a professora Sintian Schmidt, da Escola Municipal Villa Lobos, de Caxias do Sul (RS). Juntas, elas desenvolveram o projeto Cartas que ensinam a Ler. O projeto foi desenvolvido de março a novembro de 2008, envolvendo 60 alunos do terceiro ano do ensino fundamental.

Cada professora postava no blog de sua turma as atividades desenvolvidas por seus alunos, permitindo acompanhar o desenvolvimento do projeto nos dois estados. Ao final do projeto, mais de 90% dos alunos estavam alfabetizados. “Apesar de realidades e regiões diferentes foi possível fazermos um planejamento comum a partir das informações que trocávamos por meio dos nossos blogs, por e-mail e também pelo MSN”, finaliza Juliana.

(Fátima Schenini)

Blogs de ciências e matemática ajudam no desempenho de alunos

Fotos diversas mostram a professora Elaine e alunos no laboratório de informática

A professora Elayne Stelmastchuk sempre gostou das novas tecnologias e, quando elas chegaram a sua escola, procurou logo se atualizar a fim de utilizá-las na sala de aula. Formada em ciências com habilitação em matemática, com pós-graduação em instrumentalização para o ensino de ciências, ela mantém dois blogs. Também estimula os alunos a criarem os seus, pois acredita que essas ferramentas contribuem para melhorar o ensino-aprendizagem, de forma colaborativa e dinâmica.

Professora há mais de 20 anos, Elayne leciona na Escola Estadual Dr. Aloysio de Barros Tostes, em Nova Fátima, a 328 Km de Curitiba, no norte do Paraná, onde dá aulas de ciências e matemática para turmas do 6º ao 9º ano (5ª a 8ª série) do ensino fundamental. Seu primeiro blog, criado em janeiro de 2010, aborda o tema ciências; o segundo trata de matemática. Os dois foram criados com o mesmo objetivo: proporcionar a inclusão digital dos alunos, melhorar o ensino aprendizagem e ampliar o espaço presencial de aprendizagem para o virtual.

Ela iniciou a implementação do projeto de blog com os estudantes dos sétimos anos. Eles ficaram interessados em participar e utilizaram o blog de ciências da professora para pesquisar, ver vídeos sobre assuntos estudados em sala de aula, enviar dúvidas e sugestões. “Como incentivo, sugeri que cada equipe construísse seu próprio blog dentro de uma temática na disciplina de ciências. Assim, vários blogs foram construídos”, conta Elayne.

Ela diz que utiliza esses blogs durante as aulas no laboratório digital da escola e sempre procura estimular os alunos a acessarem e fazerem pesquisas fora do espaço escolar. “Este projeto contribuiu muito para a aprendizagem. Houve uma melhora significativa e com ele foi possível que os alunos tivessem outra visão sobre o uso desta ferramenta, que para muitos era utilizado apenas para jogos”, salienta. De acordo com a professora, nessas ocasiões ela também abordou assuntos como os cuidados necessários e as regras de comportamento recomendadas para uso na internet - a netiqueta.

(Fátima Schenini)

Docente gaúcha se apaixona pela tecnologia e atrai seguidores

Professora Suely e alunos trabalhando em computadores

Professora de literatura e língua portuguesa, Suely Aymone sempre buscou alternativas que tornassem menos artificiais as práticas de escrita dos alunos. E o blog, com sua capacidade de atrair leitores e colaborar para a interação entre diferentes pessoas, despertou a atenção da professora do Instituto Estadual de Educação Elisa Ferrari Valls, em Uruguaiana (RS). Ela passou a utilizar a ferramenta tecnológica como um espaço de reflexão pessoal sobre o mundo e a vida e também como um suporte de aprendizagem para seus alunos do Curso Normal (formação de professores).

Seu interesse começou no dia em que conheceu um blog criado pela educadora Marly Dagnese Fiorentin – a Blogosfera Marli –, com temas de educação e tecnologia. “Me encantei: era isso que procurava”, conta Suely, que é formada em letras, com especialização em ensino de língua portuguesa e em tecnologias em educação. Daí para a criação de seu primeiro blog foi um passo. Com o Ufa! Bloguei! ela se propôs “ensaiar - descobrir as linguagens dos blogs - para depois estrear.” Em seguida, veio o Espichando a conversa, blog dos estudantes do Curso Normal, como “uma primeira tentativa de uso da web como mediadora de aprendizagem”.

Mas suas experiências não pararam por aí. E ela também criou os blogs Curso Normal – Aproveitamento de Estudos 2009/2010 e o @prender_fazendo, onde os alunos são autores. “Descobri que blogar é uma forma de chegar mais perto da minha utopia: “espalhar que todos podemos (e devemos) ser autores, não só de textos escritos e orais, mas da nossa história, nossa vida”, salienta.

De acordo com ela, o que mais tem observado a partir dessas experiências é a alegria dos estudantes ao terem um texto publicado: “os alunos se sentem valorizados; são lidos por outras pessoas, além do professor”, ressalta. Além disso, avalia, eles passam a manifestar uma preocupação maior com o uso da língua escrita, com a clareza das idéias, o entrelaçamento do texto com imagens, entre outros pontos.

“Há muito o que construir, especialmente, o diálogo, exercitado nos comentários”, diz Suely, que acredita que os estudantes ainda ficam meio inibidos de colocar comentários em blogs que visitam. “Volta e meia refletimos sobre a necessidade de desenvolver uma atitude blogueira; ou seja, publicar, conversar, trocar ideias, interagir com autonomia, pois todos temos coisas para dizer e devemos dizê-las”, destaca a professora, que atua no magistério há cerca de 25 anos.

Grupo de estudos - Responsável pela coordenação do laboratório de informática do Instituto de Educação, desde junho último, Suely tem planos de formar um grupo de estudos voltado ao uso das tecnologias da informação e da comunicação (TIC) na educação. “Pretendo refletir com os colegas sobre a necessidade desses usos, ao mesmo tempo em que faremos experiências com interfaces da web que permitem/facilitam a construção coletiva de conhecimento”, explica.

Para ela, é importante que o professor fomente a ampliação da presença online dos alunos através de blogs, para que eles percebam a web, também, como possibilidade de aprendizagem colaborativa e que utilizem as TIC criticamente, como produtores de conhecimento e não, apenas, como consumidores.

(Fátima Schenini)

Espaço virtual é meio de expressão e aproxima professora paulista de alunos

Apenas o trabalho na sala de aula não supria as necessidades de expressão da professora Janaína Spolidorio, que gosta de escrever e elaborar atividades didáticas, mas depois que ela criou seu blog passou a ter mais motivação e a usar suas ideias exatamente como desejava. Formada em letras, com licenciatura plena em português e inglês e pós-graduação na área de informática, a professora da rede pública de ensino de São Bernardo do Campo (SP), tem 18 anos de magistério. Sua experiência profissional inclui educação infantil, ensino fundamental e médio e escolas de idiomas.

“O blog é um espaço virtual que pode ter a função que você desejar. A experiência que ele proporciona é ímpar e certamente pode trazer uma grande ampliação de conhecimentos para o professor”, avalia Janaína. Para ela, os blogs são parte da vida dos alunos, naturalmente, e podem se tornar parte da vida do professor também, sendo uma excelente ferramenta de trabalho.

Ela conta que percorreu um caminho virtual tortuoso e enfrentou algumas dificuldades até chegar ao blog professora Janaina Spolidorio. Nele são disponibilizadas ideias e atividades prontas para a educação que ela costuma elaborar, inclusive com textos de sua autoria. A maioria dos conteúdos do blog é das áreas de português e de matemática, mas também há materiais para artes, ciências, geografia e história. Segundo Janaína, as atividades não são divididas por ano, para não limitar o professor.

Além desse blog principal, ela mantém mais dois ligados a ele: o blog simplificado, que traz alguns materiais divididos por tema e o pergunte a Janaína Spolidorio, criado para que os leitores possam ter um espaço mais adequado às suas dúvidas. Ela criou ainda um blog destinado a professores de inglês como segunda língua, que foi desativado devido às dificuldades enfrentadas para a manutenção de dois blogs com grande quantidade de postagens.

Como seus alunos são pequenos – turma de alfabetização - quem participa do blog são os pais. “Uma parte do blog – sob a categoria pedagogia –é destinada a ensinar aos pais como ajudar os filhos em casa, como melhorar a aprendizagem dos filhos e outras coisinhas mais”, adianta a professora. Ela diz que gostaria muito de fazer um blog mais voltado aos alunos, mas para isso acredita que eles precisariam ser mais velhos. “Se tivesse assumido uma terceira ou quarta série, tinha planos de fazer um blog participativo orientado, no qual os alunos iriam aprender a gerenciar blogs, escrever artigos, elaborar web episódios, entre outras coisas”, ressalta Janaína, que sonha montar um portal de recursos educacionais abertos (REA), onde colocaria um diretório de indicação de blogs de alguns professores que considera “maravilhosos”.

(Fátima Schenini)

Livro de professora paulista faz sucesso com as crianças

Stefânia Barbosa na Escola Infantil Montessoriana, em Brasília (DF)

Formada em pedagogia, com especialização em educação infantil e em alfabetização, Stefânia de Magalhães Andrade Barbosa é professora da rede pública de Taubaté (SP), desde 2006. Leciona também na Escola Moppe, instituição da rede particular de São José dos Campos (SP), onde reside. Nas duas escolas ela dá aulas no 2° ano do ensino fundamental.

Autora do livro paradidático Melissa, que trata da busca da identidade pessoal da criança e das dúvidas que permeiam o universo infantil, Stefânia salienta que, na sala de aula, ela preza um fator determinante para o aprendizado: o encantamento pelo conhecimento. "É necessário que o aluno se encante pelo saber, pelo aprendizado, pela leitura," acredita.

Em sua opinião, um bom leitor é formado por pais que leem, por ambientes leitores e por professores que não apenas apresentam a ele o mundo encantado da literatura como ainda se preocupam em oferecer diferentes tipos de textos. "É o que procuro fazer", destaca a professora.

Ela acredita que o fato de trabalhar com salas de alfabetização desde o início da carreira fez com que entrasse no que considera o "universo encantador da aquisição da escrita." E foi nesse período que nasceu Melissa, "uma menina meiga e curiosa." Melissa é seu primeiro livro publicado e o primeiro de uma série. O próximo volume já está escrito e deverá ser lançado no início de 2012.

Segundo Stefânia, o livro reflete sua prática docente como alfabetizadora. "Foi escrito em letra de forma maiúscula para autonomia de leitura dos pequenos desde os primeiros contatos com o mundo das letras e com rimas para encantar e facilitar o processo de construção da consciência fonológica," explica.

Feliz com o retorno que vem recebendo das crianças e dos pais, ela diz que a receptividade do livro superou suas expectativas. "Além do blog, que já possui mais de seis mil visualizações e recados carinhosos, nas escolas as crianças vêm me parando para dizer que adoraram o livro, que a Melissa é linda, que querem ler logo outros livros dela", relata, entusiasmada.

(Fátima Schenini)

Simão Pedro Marinho (PUC/MG): blog é espaço para professores e alunos gerarem conteúdos, compartilhando saberes

Professor Simão Pedro Marinho

Líder do grupo de pesquisa Tecnologias Digitais em Educação, do Diretório de Grupos do CNPq e assessor pedagógico do Grupo de Trabalho de Assessoramento ao Projeto Um Computador por Aluno (UCA), da Presidência da República e do MEC, Simão Pedro Marinho é professor titular da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC-MG).

Doutor em educação, graduado em ciências (história natural) e mestre em morfologia, é responsável pela disciplina Informática no Ensino de Ciências e Biologia, do curso de graduação em Ciências Biológicas. Também exerce a coordenação do Programa de Pós-graduação em Educação (mandato 2011-2014).

Em entrevista ao Jornal do Professor, Simão Pedro Marinho conta um pouco de sua experiência com o uso de blogs na educação. Em sua opinião, os blogs são um espaço para professores e alunos gerarem conteúdos, compartilhando saberes. Para ele, uma forma mais rica para a utilização do blog se dá quando ele é um espaço para o exercício da "inteligência coletiva", permitindo uma combinação entre o melhor da reflexão individual com a interação social.

Segundo ele, é essencial que os professores estimulem os alunos à autoria, compartilhando ideias, reflexões sobre a sua realidade, sobre o cotidiano na escola, na família, no seu entorno.

Jornal do Professor – Como o senhor avalia a utilização de blogs na educação?

Simão Pedro Marinho – Eu utilizo com meus alunos no Programa de Pós-graduação em Educação da PUC Minas. Em todas as disciplinas sob minha responsabilidade lançamos mão do blog, esperando que cada aluno contribua, não só com novas postagens, mas ainda com comentários nos posts dos colegas.

Embora eu de maneira geral permita que os alunos continuem como colaboradores nos blogs após o encerramento da disciplina, o que constato é que eles não postam nem comentam mais ali. Fica claro que entendem a colaboração como uma tarefa à qual estão obrigados - como de fato, estão - e, ex-alunos, não se sentem mais obrigados a colaborar.

No ano passado fiz, ainda com alunos de pós-graduação, uma experiência de uso, em sala de aula, do Twitter, que é um microblog. Criei o Twitter da disciplina, que foi fechado a outros interessados por razões óbvias. Permiti apenas aos meus alunos serem seguidores. Com o Twitter da disciplina me tornei seguidor do Twitter de cada um dos alunos. Aliás, quem não tinha Twitter, teve que criar. E foi para eles uma descoberta.

Os alunos "tuitavam" durante as aulas, no debate de questões que ali travávamos. Enquanto isso, um projetor ia exibindo, na parede da sala de aula, o que era publicado no Twitter de todos.

Uma exigência eu fiz: que usassem a forma culta da linguagem, não era permitido o uso do chamado "internetês". Ou seja, tinham que exprimir opiniões completas, concretas, articuladas, no limite dos 140 caracteres, sem abreviaturas.

Foi um desafio? Claro. Mas os estudantes responderam bem. Diria que foi uma experiência com resultados interessantes.

Com o mesmo grupo de mestrandos fiz uma nova experiência do que chamei Twittexto. Iniciei o texto com uma "tuitada". Cada estudante deveria, usando o Twitter, agregar texto ao texto, dando sequência lógica, elaborando um texto coerente. De novo, não se aceitava o "internetês".

Nessa tarefa o envolvimento foi de poucos, não de todos, como na outra atividade. Diria que ficamos muito longe do que eu pretendia. Não diria que foi um fracasso total, porque alguns estudantes participaram, claro que alguns mais do que outros.

Chegará o momento de analisar o que ocorreu, o que não ocorreu e porque e, quem sabe, experimentar de nova esse exercício de escrita colaborativa.

JP – Como está a situação no Brasil e no mundo?

SPM – Há algumas iniciativas de escolas e de professores isoladamente. Alguns estudantes também criam seus blogs. Mas de maneira geral são espaço para notícias, com pouca ou nenhuma colaboração.

Outra questão séria é a relativa descontinuidade de alguns blogs. Os intervalos entre as postagens são muito grandes às vezes. Certamente porque as pessoas têm outras tarefas às quais se dedicar que são prioritárias sobre o blog. Eu mesmo tenho blog cuja atualização não acontece no ritmo que eu desejaria. A vontade de postar é grande, mas as outras tarefas são maiores e não deixam muito tempo.

Contudo, o fato de escolas, professores e estudantes acharem importante criar e manter seu blogs mostra um avanço no uso das interfaces da Web 2.0, o que pode ser entendido como um reconhecimento da importância delas.

Blogs no exterior, notadamente nos EUA, são mais comuns, na escola e fora dela. E muitos de seus autores buscam na verdade ganhar algum dinheiro com eles.

JP – Quais os benefícios que a criação e manutenção de um blog pode trazer ao trabalho de um professor?

SPM – Depende do que se pretende com o blog. Podemos querer muito, querer pouco, apenas querer dar a ideia de que somos modernos e adotamos coisas como o blog.

Se ele é um espaço de comunicação entre o professor e seus alunos - são vários os professores que utilizam blogs para informar os alunos sobre coisas de suas disciplinas, para colocar material à disposição de seus alunos - o benefício existe, mas é restrito. O que, contudo, não tira sua importância.

Se um professor decide criar e manter um blog para levar a outros suas reflexões, para de alguma forma estar levando aos colegas reflexões sobre suas próprias práticas, compartilhando informações que supõe serem úteis, evidentemente que se ampliam os potenciais benefícios. Ganham todos, autor e leitores.

JP – De que maneiras os professores podem utilizar essa ferramenta na sala de aula?

SPM – São muitas. Pode ser a vitrine da disciplina. É bom, mas ainda é pouco.

Uma forma de utilização mais rica se caracterizaria quando o blog fosse espaço para o exercício da chamada "inteligência coletiva", exigindo o pensamento crítico e analítico, estimulando o pensamento criativo, intuitivo, aumentando as possibilidades de acesso à informação de qualidade e, no que é importante, permitindo que se combine o melhor da reflexão individual com a interação social. É espaço para professores e alunos gerarem conteúdos, não apenas os reprisando, como é o usual na escola, compartilhando saberes.

E temos que levar em conta que essa partilha não precisa se restringir a textos. Saberes podem ser demonstrados, através de imagens - estáticas ou em movimento - , de esquemas, gravações de áudio. E os blogs, hoje, permitem que todas essas mídias estejam ali, para o mundo ver.

JP – Os blogs podem ser utilizados em todas as disciplinas? E com alunos de todas as séries escolares?

SPM – Entendo que sim. Não vejo, em princípio, qualquer limitação. Mas é a efetiva prática que dará a resposta para essa questão, prática essa que depende dos contextos que marcam cada realidade escolar.

JP – O senhor acredita que os professores devem estimular os alunos a criarem seus próprios blogs?

SPM – Podem, sim. Mas me parece essencial que os professores os estimulem à autoria, que façam com que compartilhem ideias, reflexões sobre a sua realidade, sobre o cotidiano na escola, na família, no seu entorno.

Embora os blogs tivessem, na sua origem, muito vinculados à ideia de um diário, agora não mais escondido, reservado, mas deixado livre para quem quisesse ler, entendo que esse é exatamente o uso que a escola não precisa ou não deveria estimular.

Os professores podem pensar também em usar o Twitter, que nada mais é do que um microblog. Mas tudo isso tem que vir na perspectiva de um projeto de incorporação curricular de tecnologias digitais de informação e comunicação. Tem sentido se o professor e a escola começam a pensar na perspectiva do “currículo digital”, currículo do novo tempo, que não substituirá o ”currículo do lápis e do papel” mas poderá estar na escola agregando valores na formação dos seus alunos, formando-os não para o mundo, mas no mundo que é, cada vez mais, fortemente marcado pelas tecnologias. São novas artes, se nos lembrarmos da etimologia da palavra “tecnologia”.

JP – Nesse caso, como deve ser feita a correção dos textos a serem postados?

SPM – No caso dos blogs de maneira geral, mas não seria o caso do Twitter, existe sempre a possibilidade de revisão dos posts. Portanto, se o professor concordar com que os alunos postem diretamente, poderia ser um exercício em sala de aula ver o blog - na escola com internet, o professor projetaria o blog - e os alunos, a partir da leitura dos seus posts e dos colegas, poderiam identificar os erros e ali mesmo, o próprio professor talvez, em diálogo com os alunos faria a correção. Ou ela seria uma tarefa para casa, cada um fazendo as correções em suas postagens.

Por outro lado, os blogs permitem que os posts sejam deixados inicialmente na forma de rascunho. Seria então o momento de, com os professores e colegas, fazer a revisão do texto - e não só pelos aspectos ortográficos e gramaticais, antes que os posts de fato se tornem públicos.

JP – Os professores brasileiros de ensino básico estão capacitados para utilizarem blogs na sala de aula?

SPM – Lamentavelmente a maioria dos nossos professores da Educação Básica não teve formação que lhe permita avançar no uso das tecnologias digitais na sala de aula.

Outro dificultador está no fato de que vários professores não têm intimidade com as interfaces da Web 2.0, como os blogs. Temos que convir que para muito professor o computador é uma máquina de escrever moderna, que funciona como telégrafo sem fio e, eventualmente, com o novo retroprojetor. Sem levar em conta que vários professores estão firmemente decididos a não incorporarem as tecnologias digitais em sala de aula. E não é por medo da tecnologia. Se a temessem, não usariam computador, celular, caixa eletrônico em banco, micro-ondas, quem sabe. Portanto, não podemos aceitar o temor como desculpa para a inércia. O problema é que essa incorporação significa, para vários professores, um trabalho a mais, pelo qual, alegam, não serão remunerados. E assim, não estão dispostos a qualquer investimento. Como não estão dispostos a sair da sua zona de conforto.

Incorporar tecnologias digitais na educação implica em uma espécie de reinvenção da aula, do professor. Este, acostumado a "ensinar", agora é desafiado a pensar em atividades de aprendizagem. O professor, aquele que fala sempre na sala de aula, agora é forçado a reconhecer que não é mais a "estrela única" no palco. Isso é difícil para muitos.

O que me preocupa nessa questão é que embora as tecnologias digitais estejam presentes na vida cotidiana de uma parcela significativa dos estudantes da Educação Básica, a escola fecha os olhos para elas. E ao fazê-lo, cria um mundo à parte do mundo. Assim crianças e jovens passam uma parte do seu dia em um “mundo” que se permite como que afirmar que essas tecnologias, que mudaram o mundo, não são necessárias na escola. Depois da aula, os estudantes voltam para o mundo que ´é também da tecnologia. E ali se sentem muito mais satisfeitos. A escola perde uma chance enorme ao não trazer essas tecnologias para o seu interior e, sem querer, cria um rival, o “mundo lá de fora” que é muito mais sedutor e onde as crianças e jovens também aprendem, não é só diversão.

Tudo isso preocupa porque a educação é do aprendiz, não dos professores. E quando professores, alegando que não gostam de computadores e “dessas coisas” se negam a incorporar as tecnologias na formação dos seus alunos, não só ajudam a manter um fosso digital, mas mantêm um “fosso temporal”, obrigando seus alunos, alguns nascidos no século 21, a retrocederem e viverem, ainda que por algumas horas, a escola do século 19.

JP – Em sua opinião os blogs contribuem para estimular a aprendizagem dos estudantes?

SPM – Blogs bem estruturados, nos quais os alunos pudessem ir além da forma mais simples de utilização desse recurso, fazendo o que Will Richardson chama de escrita conectiva (connective writing). Essa forma de escrita exige, ao seu autor, leituras cuidadosas e críticas, clareza e coerência na construção do texto que está ligado/conectado às fontes das ideias expressadas. É fácil fazer isso? Seguramente que não. Mas se os estudantes forem estimulados, no início, a postar links acompanhados de uma análise que traz o significado do conteúdo que foi “linkado", poderão avançar.

Além do mais, no blog os alunos expressam aprendizagem para uma audiência autêntica. Porque o usual, na escola de hoje e de há muito tempo, é que o aluno escreva apenas e tão somente para seu professor, no cumprimento de tarefas de escola. Escreve-se para o professor, claro que esperando que ele leia. No blog, escreve-se para o mundo.

Evidentemente que expor-se, para além dos muros da escola, exigirá mais atenção, mais cuidado. Os estudantes terão que organizar melhor as ideias, cuidar de uma redação adequada. Mas com posts curtos, esse desafio não fica tão assustador.

JP – O senhor mantém um blog? Quando e por que foi criado?

SPM – Tenho vários blogs, além daqueles das minhas disciplinas.

Comecei criando blogs para buscar verificar potenciais na sua utilização na sua escola. Aliás, esse é o meu perfil. Assim que fico sabendo de novidades em termos de tecnologia trato de aprender, geralmente sozinho, o mínimo suficiente para utilizá-las em uma perspectiva educacional, de aprendizagem. Foi assim com blog, wiki, compartilhamento de mídias, até o Second Life. E trato logo de criar uma possibilidade de usá-las com meus alunos, minhas “queridas cobaias”. Arrisco-me. Penso que professor não deve temer ousar, experimentar. Se a coisa der certo, ele fez uma descoberta útil. Se não, tratemos de ver onde erramos, aprendamos como o erro. Algumas das experiências ficaram no passado, como é o caso do Second Life. Não tive competência suficiente para integrá-lo em atividades de aprendizagem dos meus alunos. Outras experiências ficaram porque o resultado foi bom. O blog é uma delas.

Tenho o blog do meu grupo de pesquisa. Criei o blog do Projeto UCA em Minas, sob a nossa responsabilidade, para que ele fosse uma espécie de prestação pública do que fazemos nesse projeto que é público.

Criei blog para expor, à crítica de quem se interesse, as minhas ideias sobre educação e tecnologia. Exponho-me para, na crítica consistente que evidentemente sempre espero, poder refletir novamente. Assim, (re) aprendo com os outros, muitas vezes anônimos que se tornam como “amigos virtuais”, me ajudando a de alguma forma ser melhor.

Criei um blog para mostrar meu lado de “cartunista canhestro, onde brinco com imagens. Lamento não ter tanta criatividade e todo o tempo que esse blog exige.

O blog ao qual mais me dedico é aquele no qual busco levar a professores informações, novidades quanto ao uso da tecnologias digitais de informação e comunicação na perspectiva de sua utilização na escola. Mas às vezes me sinto com aquele sujeito que sai espalhando filhos pelo mundo e depois não tem tempo de dar a cada um a atenção que merece. Confesso que queria, de verdade, ter mais tempo para meus blogs.

JP – Quais as principais ferramentas disponíveis para a criação de blogs? São gratuitas? Como os professores podem ter acesso a elas?

SPM – São muitas, de maneira geral gratuitas. Aliás, para uso pela escola, pelos professores e alunos, blogs pagos, ainda que possam ter mais recursos, não serão atrativos. Cito, abaixo, alguns poucos exemplos, todos gratuitos. Alguns têm menus e ajuda apenas em inglês, o que pode dificultar o uso por parte de alguns professores e alunos.

Blogger - http://www.blogger.com/home

Wordpress - http://wordpress.com/

Blog do Terra - http://blog.terra.com.br/

Bloglines - http://www.bloglines.com/

My Blog Site - http://www.myblogsite.com

Tripod Lycos - http://www.tripod.lycos.com/