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JORNAL

Alfabetização

Quinta-feira, 22 de Setembro de 2011

Edição 60

EDITORIAL - Alfabetização

A 60ª edição do Jornal do Professor trata do tema alfabetização, que foi o preferido por 67,93% dos leitores que votaram em nossa enquete.

Trazemos para vocês diferentes experiências de alfabetização colocadas em prática por professoras da Escola Municipal Hermann Muller, de Joinville, em Santa Catarina; da Escola Municipal de Ensino Fundamental Deputado Caio Prado Junior, de Barueri, São Paulo; e da Escola Municipal David Canabarro, de Canoas, no Rio Grande do Sul.

A entrevistada desta edição é a professora Sara Mourão Monteiro, vice-diretora do Centro de Alfabetização, Leitura e Escrita (Ceale) da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Na seção Espaço do Professor, a participante é a professora Ângela Loss Machado, do Colégio Estadual Santa Maria, de Ponta Grossa, Paraná.

Ajude-nos a escolher o tema das próximas edições, votando na enquete colocada em nossa página. E aproveite para colaborar enviando sugestões, críticas, textos e músicas!

Seja bem-vindo!

Flores e poesia são aliadas de professora na alfabetização

Menino em canteiro de flores

Em um pequeno jardim, com flores de A a Z, estudantes entram em contato com a natureza e também com as palavras e as letras. Esse despertar para o aprendizado da leitura e da escrita tem início com o plantio das mudas, pelos próprios alunos da Escola Municipal Hermann Müller, no distrito de Pirabeiraba, área rural de Joinville (SC). No local, plaquinhas de madeira exibem poesias de Roseana Murray, autora de obras infantis.

“Do A, de alamanda, ao Z, de zínia, para olhar, cheirar, comer e sentir as diferentes texturas, com mudas a partir de sementes trazidas pelas crianças e pais, e uma plaquinha identificando a letra e a espécie.” Assim é o jardim encantado, criado pela pedagoga Silvane Aparecida da Silva. Há oito anos ela dirige a escola, que tem 64 estudantes matriculados em turmas do primeiro ao sexto ano do ensino fundamental.

Pós-graduada em ecologia e em gestão escolar, Silvane foi a responsável pela revitalização da escola, que encontrou “definhando, triste e desarticulada”, com apenas 26 alunos. Após uma série de medidas, que tiveram início com a retirada do lixo e a colocação de grama e canteiros onde antes havia pedras, ela conseguiu que os alunos passassem a viver, na prática, o conceito de “comunidade de vida”.

Uma delicada colmeia, bem ao lado da porta principal da escola, pouco acima do chão, serve de exemplo. Os alunos passam todos os dias pelo local, mas sempre guardam distância segura. “Eles observam, admiram, contornam e seguem; em que outro lugar que concentre crianças tal cena duraria?”, avalia a diretora.

Entre as árvores do bosque de leitura ao ar livre, os alunos podem ler, sentados em bancos sob as árvores frutíferas que eles mesmos plantaram. Ali ficam os chamados restaurantes da canção. São casas com comida para os pássaros, livres. “Tem aluno que vai para casa e solta os passarinhos das gaiolas, ou que sai de um rodeio chorando”, diz Silvane. “Eles sabem que nós somos só um fio da teia.”

Vantagem — Como a escola é pequena, os alunos são agrupados do primeiro ao terceiro ano e do quarto ao sexto, em turmas multisseriadas. Assim, a professora alfabetizadora Marciane Seefeld Gonçalves atende, além de alunos do primeiro ano, os de segundo e do terceiro. Pedagoga, com pós-graduação em séries iniciais - educação infantil e gestão escolar, ela considera possível conseguir bons índices de aprendizado em turmas que reúnem estudantes de diversas idades e níveis de conhecimento. “Organizando o tempo didático, propondo atividades coletivas, a interação entre alunos de diferentes níveis, antes considerada um obstáculo, transformou-se em vantagem pedagógica”, destaca.

A escola tem ainda sala de leitura, com livros atualizados, especialmente de poesia, e almofadas para os alunos lerem no chão. Todos os anos, em novembro, a escola promove o evento Café, Flor e Poesia. Em 2010, o encontro teve a participação de Roseana Murray, que pode ver seus poemas espalhados pelo jardim. (Fátima Schenini)

Confira o blog da Escola Municipal Hermann Müller

 

Professora gaúcha cria histórias para cada letra do alfabeto

Professora Bernadete com um grupo de alunos usando fantasias

Desde que começou a lecionar, há 30 anos, a professora Maria Bernadete Souza da Silva usa a literatura como recurso para auxiliar o aprendizado da leitura e da escrita entre os alunos. Ao observar o gosto das crianças pelas histórias e o fato de que elas já conheciam quase todas, a educadora resolveu inovar nas narrativas.

A cada ano, com base em cada letra do alfabeto, ela modifica as histórias, inventa outras ou acrescenta fatos, de acordo com o interesse da turma. “É uma prática que tem dado certo, pois as crianças associam as letras às histórias que ouvem; a alfabetização acontece naturalmente”, explica Maria Bernadete, que leciona na Escola Municipal de Ensino Fundamental David Canabarro, em Canoas (RS), na região metropolitana de Porto Alegre.

Formada em pedagogia, a professora explica que as aulas são organizadas como se fossem um grande livro de histórias, as quais são contadas uma a uma. “Dessa forma, os alunos sentem necessidade de saber qual será a próxima, pois são despertados neles a curiosidade e o prazer pela leitura”, ressalta.

Outro recurso usado é a dramatização. “Como conto histórias dramatizando cada passagem, acabo por transformar a aula em um grande teatro”, destaca Maria Bernadete. “A cada hora, um aluno tem a possibilidade de ser o protagonista de uma história.”

Esses recursos, salienta a professora, são os melhores para a obtenção de um grande número de alunos alfabetizados no fim de um ano letivo. Por meio deles, Maria Bernadete sempre conseguiu bons resultados. Ela enfatiza, no entanto, que o mais importante é a alegria e o prazer que as crianças demonstram em estar na escola. Os estudantes evitam faltar às aulas para não perder a próxima história.

Coletânea — Quando os alunos começam a dominar a leitura, a ida à biblioteca e a retirada de livros fica mais frequente. “Sendo eu uma contadora de histórias, acabo por plantar neles também o gosto de ouvir e contar”, avalia a educadora. Para o fim do ano, ela prepara uma coletânea das melhores histórias da turma.

Com 700 alunos em classes do primeiro ao sexto ano do ensino fundamental, a escola Davi Canabarro tem cinco turmas de alfabetização. “Enquanto escola, temos muita preocupação com a alfabetização e o letramento”, salienta a diretora Sílvia Letícia de Senna. “Contamos com profissionais que sempre buscam novidades e mostram disposição de usar o lúdico como ingrediente especial para o processo de construção da escrita e da leitura”, salienta a diretora. Sílvia é formada em pedagogia, com habilitação em supervisão escolar, e tem pós-graduação em informática educativa.

Cada professora da escola pode usar a metodologia que melhor domina e com a qual se sente mais à vontade. Segundo Sílvia, é possível observar diferenças nos resultados obtidos entre as diferentes turmas. Ela destaca as que adotam práticas lúdicas, com o uso de histórias. “Percebe-se um número maior de alunos que alcançam a alfabetização e também o tempo menor dos estudantes para concluir essa trajetória.” (Fátima Schenini)

Música estimula a aprendizagem em escola do interior paulista

Aluno Natanael toca saxofone na sala de aula

Um projeto criado para que os estudantes se interessem pela música e percebam as diferentes linguagens usadas na produção das obras musicais movimenta as aulas do primeiro ano da Escola Municipal de Ensino Fundamental Deputado Caio Prado Júnior, em Barueri (SP). A iniciativa, da professora Ana Lúcia Pereira Lima, surgiu para estimular os alunos, que não demonstravam interesse em participar das diferentes atividades oferecidas.

“Estudos já comprovaram que a música desenvolve a inteligência, contribui para a organização e o desenvolvimento da criança”, diz a professora. “Sabendo disso, não podemos descartar nenhuma possibilidade de obter sucesso com nossos educandos.”

Formada em pedagogia, Ana Lúcia atua no magistério há 19 anos, 11 dos quais com alunos da educação infantil. Segundo ela, as crianças ficaram entusiasmadas com o projeto, que recebeu o nome de Musicalizando e Aprendendo. Dividida em três etapas, a proposta da professora apresenta, em primeiro lugar, a música com sons da natureza, como os da chuva, do vento e dos animais. Depois, vem a apresentação do primeiro instrumento inventado pelo homem — a flauta. No terceiro momento, as crianças são estimuladas a estabelecer a relação da música com as diferentes linguagens envolvidas — de textos, visual e instrumental — e a perceber que a música não ocorre num único momento nem apenas com uma única pessoa.

Durante a realização do projeto, Ana Lúcia leva diversos instrumentos para os estudantes conhecerem. Sempre que possível, convida músicos para tocar na sala de aula. “A música é um despertar para aprender a aprender”, diz a professora.

Além de conversarem informalmente sobre as atividades realizadas, os estudantes registram ideias e sentimentos de várias formas, bem como as experiências vivenciadas, por meio de ilustrações, lista coletiva ou escrita espontânea. Surge assim o portfólio dos alunos.

Ana Lúcia considera fundamental usar diferentes linguagens para despertar o interesse do aluno em aprender e, assim, alcançar o maior número possível de crianças. “Sabemos que os educandos têm diferentes maneiras de aprender; não podemos nos limitar a uma única forma, pois assim estaríamos prejudicando uma parcela dos aprendizes”, analisa.

Todos os alunos da classe participam das atividades propostas, seja a gravação de canções ou a execução de dramatizações e coreografias. “Enfatizando o que eles já desenvolveram no projeto, com músicas do universo infantil, valorizando suas produções, pretendo mostrar a importância da escrita e da poesia na produção musical”, revela a educadora. Ela ressalta que todo o trabalho ocorre atrelado ao processo de alfabetização. No fim do projeto, os alunos recebem cópia de todas as atividades das quais participam ao longo do ano, com as dramatizações, coreografias e músicas executadas por eles, além do portfólio.

O projeto de Ana Lúcia, que concorre ao prêmio Professor Giz de Ouro, da prefeitura de Barueri, surgiu por iniciativa da própria professora, mas conta com o apoio da instituição de ensino. “Procuramos, enquanto gestão, motivar os professores a buscar estratégias diferenciadas de ensino, para que a aprendizagem ocorra de forma prazerosa e eficaz”, salienta a diretora, Fátima da Conceição Manso. Para ela, o trabalho de Ana Lúcia condiz com a proposta pedagógica da escola, pois estimula práticas inovadoras por parte dos professores. (Fátima Schenini)

A não violência é tema de projeto de professora do Paraná

Professora Ângela com um grupo de alunas

Há 25 anos no magistério, Ângela Loss Machado sempre gostou de ensinar e sua experiência inclui ensino fundamental, médio e superior. Formada em letras e em educação física, com pós-graduação em Educação de Jovens e Adultos e em Processo Ensino-Aprendizagem, atualmente ela dá aulas de português e inglês no Colégio Estadual Santa Maria, na Colônia Dona Luiza, em Ponta Grossa (PR), para alunos das séries finais do fundamental (6º ao 9ºano).

Seu amor ao magistério começou quando ainda era era muito jovem e cursava o antigo ginásio em um colégio interno. “Quando ia para a casa de meus pais, numa localidade chamada Lagoa Seca, próximo a Guarapuava, resolvi dar aulas”. Então, seu pai, que era gerente de uma serraria, arrumou uma casa desocupada com bancos e mesas simulando uma sala de aula. Também providenciou tudo o que era necessário, como quadro-negro, giz, cadernos e lápis.

Durante os períodos de férias, Ângela e sua irmã davam aulas para os filhos dos empregados da serraria e não se esqueciam de oferecer a merenda escolar. Eram bolachas e balas que compravam na conta do pai. “Chegamos a alfabetizar algumas crianças que tinham a mesma idade ou eram maiores que nós”, relembra.

Professora apaixonada pelo seu trabalho, Ângela desenvolveu, recentemente, o projeto multidisciplinar Um jeito diferente de educar, tendo como objetivo principal estimular a cultura da não violência além de proporcionar uma atividade recreativa aos alunos.

A ideia foi levar os alunos ao cinema, já que muitos deles nunca tinham ido assistir a um filme. Foram, então, assistir Capitão América, por ser um filme de ação e aventura. Como tarefa, comentaram sobre a carência de heróis em um mundo tão conturbado.

“Propomos a seguinte pergunta: Se você fosse herói o que combateria? E o que defenderia?”, conta Ângela, que ficou surpresa com as respostas interessantes que surgiram: defenderia a Lei Maria da Penha, a escola pública, os idosos,a igualdade... e combateria a corrupção, a pedofilia, a imoralidade, a prostituição, as drogas...

“Fiquei surpresa e ao mesmo tempo triste ao ver como que essas crianças e adolescentes convivem e se preocupam”, diz a professora. Ela enviou seu projeto para compartilhar com os leitores do Jornal do Professor. Leia abaixo.

Colégio Estadual Santa Maria

Ensino Fundamental e Médio

Rua Corruíra, s/n – Colônia Dona Luiza - colsanta@ig.com.br

1. Projeto Pedagógico Extra Classe: Um jeito diferente de educar

2. Local: Cine Lumiere

3. Data: 15/08/2011 – Segunda-feira

4. Horário e local: Saída: 7h30min (Em frente ao Colégio Estadual Santa Maria)

Previsão de retorno: 11h30min

5. Disciplina: Multidisciplinar

6. Justificativa:

Ultimamente, a frequência de episódios de violência na escola tem chamado a atenção dos governos e da sociedade. É um tema muito debatido entre os que estão mais diretamente envolvidos com o mundo da educação. A violência na escola caracteriza-se por atos de indisciplina, brigas, agressões, intimidações, depredações do patrimônio, etc.

Por isso, as escolas necessitam constantemente de inovações para complementar o trabalho pedagógico e tentar minimizar essa questão tão lamentável envolvendo os jovens e adolescentes.

Desta forma está sendo proposta esta aula passeio que englobará diversas disciplinas como língua portuguesa, inglês, história, ciências, sociologia, artes, filosofia entre outras, pois serão realizadas várias atividades sobre o filme em questão, a partir do qual muitas curiosidades e atitudes poderão ser exploradas.

7. Objetivos

Oferecer aos educandos subsídios para explorar diferentes atitudes, analisando de forma crítica e reflexiva, a ação de combater / defender.

Fortalecer a necessidade de mudanças de atitudes na forma de perceber, comunicar e agir diante das dificuldades.

Entender a violência, sua causa, suas consequências e os fatores que a mantêm.

Perceber que a não-violência é um processo de pequenas e contínuas transformações que se integram as nossas experiências e aprendizagens anteriores.

Observar que, muitas vezes, movidos por um desejo, por um desafio, pela busca de significados para a nossa existência, pela necessidade de crescimento e de reconhecimento, agimos involuntariamente com violência.

Esclarecer que a raiva e os sentimentos negativos são sinalizadores importantes de que a mudança é necessária, pois o desequilíbrio nos leva a atitudes e comportamentos agressivos.

Estimular o desenvolvimento da solidariedade com ações úteis e benéficas para nossas vidas.

Produzir ações reais em prol da cultura da não violência.

Utilizar a leitura cinematográfica e debater temas relacionados à educação, violência, liderança, relações humanas.

Mobilizar um maior envolvimento dos alunos nas atividades em defesa da construção de uma cultura da Paz, que é o foco principal discutido a partir deste clássico do cinema.

7. Público Alvo

Alunos do Ensino Fundamental e Médio do Colégio Estadual Santa Maria.

8. Avaliação

Será feita através de trabalhos como discussões com registros escritos, desenhos, colagem e também repasse àqueles que não tiveram oportunidade de participar da aula passeio.

Sara Mourão Monteiro (Ceale/UFMG): professor alfabetizador deve ter uma formação sólida

Sara Mourão Monteiro

Pedagoga, com mestrado e doutorado em educação, Sara Mourão Monteiro é professora da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Ela é vice-diretora do Centro de Alfabetização, Leitura e Escrita (Ceale), órgão da Faculdade de Educação da UFMG que tem o objetivo de integrar grupos interinstitucionais de pesquisa, ação e documentação na área de alfabetização e ensino de português.

Em entrevista ao Jornal do Professor, Sara Mourão Monteiro diz que, atualmente, no Brasil, existem vários métodos de alfabetização e os professores podem adotar aquele que preferirem.

Em sua opinião, para trabalhar com alfabetização, o professor necessita ter uma formação sólida e específica para a área, pois esse processo é muito complexo e necessita de diferentes competências.

Jornal do Professor - Quais são os principais métodos de alfabetização existentes no Brasil e quais os pontos fortes e fracos de cada um?

Sara Mourão Monteiro – No Brasil, nós tivemos um grande período em que predominou um debate sobre qual seria a melhor forma de ensinar os alunos. O debate era sobre qual era o melhor método de alfabetização. Então, primeiro se tinha um método da linha sintética, que partia do menor para o maior unidade linguística, partia das letras ou dos sons para palavras e textos. Depois, neste debate predominaram os métodos na linha analítica, que são os métodos que partem da unidade maior – textos ou frases - para as unidades menores, com letras e sons.

A partir dos anos 80 tivemos uma ruptura com esses métodos de alfabetização, quando nós professores, alfabetizadores, passamos a descobrir e a debater a aprendizagem: como é que as crianças aprendiam e não só qual a melhor maneira de ensinar. Mas era preciso descobrir como que a criança aprende para aí pensar em estratégias de ensino. E a partir então dos anos 80 é esse contexto metodológico da alfabetização que vem predominando em nosso país.

JP - Quer dizer que não existe um método apenas, atualmente, que seja o mais recomendado?

SMM – Quer dizer que nós temos hoje vários métodos de alfabetização, várias possibilidades práticas de ensino e que os professores ora adotam uma ora outra a partir de suas condições de trabalho, de formação, a partir do conhecimento que os alunos têm.

JP – Na sua opinião, os professores que se dedicam à alfabetização devem ter uma preparação especial para essa tarefa?

SMM – Sem dúvida. A alfabetização é um processo muito complexo. E ela demanda o desenvolvimento de competências muito distintas, que faz com que esse processo seja muito complexo. E o professor, para poder orientar os seus alunos, precisa conhecer muitas especificidades desse processo: o conhecimento na área da linguística, da sociolinguística, no campo de conhecimento sobre leitura. São conhecimentos que devem fazer parte da formação do professor, sem os quais ele pode cair em equívocos metodológicos.

JP – Um bom professor alfabetizador tem um perfil específico?

SMM – Primeiro ele precisa ter uma boa formação, sólida, específica na área de alfabetização. Não é qualquer um que pode chegar e alfabetizar. Ele tem que conhecer linguística, psicolinguística, tem que ter fundamentos teóricos para alfabetizar. Em segundo lugar, ele precisa ser um professor muito atento ao processo, ele precisa ser um professor que dê conta de interagir com muita facilidade com a criança porque ele precisa ser um observador do processo da criança e a partir dessa observação fazer encaminhamentos. O perfil do professor e alfabetizador hoje, no país, é de uma pessoa que tem uma formação sólida, está em constante formação e muito atento às crianças.

JP – Quais as atividades que não podem faltar em classes de alfabetização?

SMM – Atividades que levem a criança a aprender o sistema de escrita - atividades que abordam o código, o sistema de escrita; atividades que façam com que a criança desenvolva habilidades de leitura e de produção de textos – a criança precisa de atividades que trabalhem em nível de palavras, em nível de letras e no nível de sons, atividades que trabalhem em nível de textos. Além dessas atividades, o professor precisa planejar vivências, práticas de leitura e escrita. Aquelas atividades que mobilizem a criança para ler e escrever um texto. São basicamente três tipos de atividades que hoje precisam estar contempladas no planejamento do professor.

JP – Qual é o trabalho desenvolvido pelo Ceale - Centro de Alfabetização, Leitura e Escrita da Faculdade de Educação da UFMG?

SMM – O Ceale vem atuando, há 20 anos, em três linhas. A primeira delas é a pesquisa. O Ceale é ligado à linha de pós-graduação da Faculdade de Educação, que é Linguagem e Educação. Nessa linha são desenvolvidas pesquisas que nos fazem compreender esse processo complexo que é a aquisição da língua escrita. Uma segunda linha de atuação do Ceale são as ações de formação. O Ceale, hoje, promove formação de professores e atua em área de avaliação, tanto de material didático quanto de níveis de alfabetização dos alunos. E uma terceira linha – pesquisa, ação e documentação – há um espaço no Ceale no qual procuramos ampliar documentos que dizem respeito ao ensino da língua escrita para que sirva de material de pesquisa. Então, toda ação que o Ceale promova ou participe em parceria com outras universidades e com o próprio MEC, torna-se documento. Temos um centro de documentação bem amplo que dá condições de novas pesquisas, novas reflexões na área da alfabetização.

Nós temos atuado focados especificamente em algumas coisas, como por exemplo, a formação do professor. Temos tentado oferecer ao professor diretrizes metodológicas e pedagógicas para que ele tenha o suporte na sua prática de sala de aula. Temos elaborado e proposto material que orienta o professor em capacidades a serem desenvolvidas pelos alunos, discutindo com o professor formas de planejar a rotina escolar, a avaliação do desempenho. Nossa atuação é bem focada na prática do professor.