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JORNAL

Gestão de Sucesso

Terça-feira, 29 de Novembro de 2011

Edição 63

EDITORIAL - Gestão de Sucesso

O tema da 63ª edição do Jornal do Professor é Gestão de Sucesso. O assunto foi escolhido por 44,17% de nossos leitores, em enquete colocada em nossa página.

O que faz algumas escolas públicas brasileiras se destacarem pela qualidade de educação? Desde a criação, em 2007, do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), têm surgido exemplos de sucesso escolar em diferentes regiões do Brasil.

Nesta edição, o Jornal do Professor traz histórias de diretores, professores e pais de diferentes instituições escolares: Colégio Estadual Casa Jovem II, de Igrapiúna (BA); Escola Estadual Presidente Costa e Silva, de Gurupi (TO); Escola Estadual Tomé Francisco da Silva, de Quixaba (PE); e Escolas Reunidas Oratório Festivo São João Bosco, de Aracaju (SE).

São experiências de gestão escolar premiadas, que têm em comum o planejamento de projetos pedagógicos, a participação das famílias no ambiente escolar e o entusiasmo e comprometimento dos educadores. A união e o entusiasmo das pessoas envolvidas fez melhorar a realidade das escolas, fazendo cair a evasão e a repetência.

As entrevistadas desta edição são as professoras Sandra Aparecida Riscal, da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e Luciana Rosa Marques, da Universidade Federal de Pernambuco.

No Espaço do Professor, temos a participação da professora Andréa Regina Marques Padilha, da Escola Básica Prefeito Alberto Werner, de Itajaí (SC). Junto com um aluno, ela criou um blog especialmente voltado ao atendimento de alunos com algum tipo de deficiência.

Ajude-nos a escolher o tema das próximas edições, votando na enquete colocada em nossa página. E aproveite para colaborar enviando sugestões, críticas, textos e músicas!

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Mais tempo livre na internet incentiva alunos em escola de Tocantins

Alunos usam laptops

A decisão da diretora da Escola Estadual Presidente Costa e Silva de descobrir o motivo das faltas frequentes dos alunos resultou na criação do projeto pedagógico do bônus lan house monitorada. Os alunos que durante o mês todo obtiverem carimbos positivos na agenda, por boa disciplina e cumprimento das tarefas escolares, ganham pontos. E esses pontos podem ser trocados por tempo livre de acesso à internet nos laptops da escola, no contraturno das aulas.

A solução criativa reduziu o número de faltas e fez com que a escola pública de Gurupi, em Tocantins, fosse escolhida a Escola Referência Brasil do Prêmio Nacional de Referência em Gestão Escolar – ano-base 2010, promovido pelo Conselho Nacional de Secretários de Educação (Consed). Como premiação pela boa experiência em gestão escolar, a diretora da escola, Adriana da Costa Pereira Aguiar, viajou para os Estados Unidos, onde conheceu algumas experiências desenvolvidas em escolas públicas.

“Fiquei surpresa ao ver, em duas escolas de lá, projetos parecidos com o nosso, só que num espaço que chamam de cyber café”, conta a diretora. Agora ela resolveu fazer uma enquete virtual para que os alunos da Presidente Costa e Silva escolham um nome para o espaço que será criado na escola. “Envolver os alunos na criação desses espaços e nos debates faz com eles se sintam bem”, avalia.

Tudo começou com a descoberta de que muitos alunos da instituição estavam frequentando lan houses, sem o conhecimento dos pais, para ter acesso às redes sociais. É que o acesso à internet na escola, oferecido aos 300 alunos do 6º ao 9º ano, era restrito apenas a pesquisas e trabalhos escolares, no horário das aulas.

Para dar um fim à mania que começava a crescer entre os estudantes, a direção da escola decidiu contabilizar o número de registros positivos nas agendas individuais. Quanto mais carimbos positivos, mais bônus para tempo livre na internet. “Mas é um acesso controlado, porque os acessos a sites proibidos ficam registrados no computador. Se isso acontecer, eles perdem os bônus”, explica a diretora.

O aluno Edy David Feitoza Lima, de 14 anos, é um dos que costumava trocar as aulas pela lan house, uma vez por semana. “Ficava lá jogando”, conta ele. A mãe ficou surpresa ao ser avisada pela escola das faltas frequentes do aluno. “Eu estava trabalhando muito e fiquei chocada ao saber que meu filho não estava indo à escola”, revela Luzineide Feitoza de Vasconcelos. “Agora, passei a trabalhar menos e vou sempre à escola”, diz a mãe.

O projeto da lan house monitorada não foi a única ação que fez a escola merecer o prêmio de gestão escolar de sucesso. A própria dinâmica diária dos alunos, é bem diferente do modelo tradicional das escolas brasileiras. São os alunos e não os professores, por exemplo, que mudam de sala, onde encontram um ambiente planejado, com recursos específicos para as disciplinas.

“São seis salas ambientes diferentes, mas em todas há um armário com 35 laptops à disposição dos alunos”, explica a coordenadora pedagógica Dalília Arantes. A escola participa do projeto do governo federal, Um Computador por Aluno (UCA). A tecnologia acessível em toda parte, inclusive na sala de reforço e na biblioteca, motiva os alunos. “Damos asas à imaginação mesmo. Os laptops servem desde à pesquisa sobre um novo vírus até para que preencham uma ficha literária virtual após a leitura de um livro, que será avaliada pelo professor”, conta Dalília.

Para que os pais saibam diariamente como foi o dia do filho no colégio, cada aluno tem uma agenda, que vai na mochila todos os dias. Cada professor tem seis carimbos para avaliar o comportamento do aluno. Incluem desde um “Seu filho não trouxe a tarefa” até um carimbo de elogio como “Parabéns, hoje seu filho apresentou as atividades completas e satisfatórias e isso demonstra que sua família tem caminhado junto com a escola na formação de um cidadão para o mundo.”

Outro diferencial é o caderno de ocorrência da turma, em que constam a foto e o nome do aluno e os contatos da família. Nessa espécie de diário da turma, o professor anota tudo que é relativo ao aluno: se está fazendo os deveres, se está com problemas de disciplina. E a escola reserva um horário, todas as quartas-feiras à noite, para que os pais possam conversar com os professores sobre o andamento escolar de seus filhos.

Graças a essas soluções criativas, a escola tem apresentado boa evolução no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), que saltou de 3,7 em 2007, para 5,1 em 2009. E a evasão escolar, que chegou a alcançar o índice de 22%, há três anos se mantém zerada com a frequência monitorada. Se o aluno falta, a orientadora liga para sua casa ou um professor conselheiro procura a família para saber o motivo. Foi assim que se descobriu que os alunos estavam trocando a escola pela lan house.

Novo projeto - A visita da diretora aos Estados Unidos poderá render um projeto em parceria com a Lakeview Centennial High School, no Texas. “Essa escola é muito forte na área de comunicação. Os alunos têm uma rede de TV dentro da própria instituição e que pode ser vista por todos”, conta Adriana da Costa Pereira Aguiar. “Claro que não temos recursos para isso, mas podemos criar um projeto em que os nossos alunos filmem, por exemplo, como resolveram questões complexas, e postem isso no blog da escola”, sugere a diretora. (Rovênia Amorim)

Alunos de Sergipe e Chicago farão intercâmbio virtual em 2012

Alunas participam de apresentação de dança

A diretora das Escolas Reunidas Oratório Festivo São João Bosco, irmã Geni de Marco, voltou entusiasmada dos Estados Unidos. Apesar da realidade escolar de primeiro mundo estar, de acordo com a irmã, ainda bem distante da escolinha de 300 alunas que ela comanda, em Aracaju, Sergipe, ela acredita que é possível importar algumas práticas para melhorar ainda mais a qualidade do ensino e da aprendizagem.

A escolinha da irmã Geni conquistou o primeiro lugar no Prêmio Nacional de Referência em Gestão Escolar 2010, promovido pelo Conselho Nacional de Secretários de Educação (Consed). “Tudo que é desenvolvido aqui é planejado e acho de suma importância trabalhar com professores comprometidos e com a parceria dos pais”, diz a irmã.

O resultado é que, no ano passado, a aprovação escolar foi de 98% e a evasão de 0%. O Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) da escola, que passou de 4,6 em 2005 para 5,2 em 2009, garantiu à escola o primeiro lugar na capital. De acordo com a irmã Geni, apenas mais uma escola de Sergipe obteve esse mesmo índice. “Mas não é por isso que vamos esmorecer, achar que está bom. Agora sinto que o compromisso é maior”, comenta.

Como resultado do prêmio e da viagem, a irmã Geni e a direção da escola anfitriã, Edward Coles Model for Excellence Scholl, em Chicago, nos Estados Unidos, iniciarão um projeto de intercâmbio virtual, no próximo ano letivo. As estudantes do primeiro ano das Escolas Reunidas Oratório Festivo terão aulas virtuais de inglês, uma vez por semana, com os alunos norte-americanos. “Será uma novidade, porque hoje não temos aulas de inglês na escola”, conta a irmã. Ela ainda precisa solicitar mais computadores para as alunas, porque sua escola tem dez desses equipamentos no laboratório. “É muito diferente da realidade das crianças da escola de Chicago, que têm cinco computadores na própria sala de aula.” A ideia é que o intercâmbio virtual acompanhe as crianças brasileiras até que elas estejam no 5º ano do ensino fundamental.

A viagem aos Estados Unidos tem inspirado a irmã Geni para novos desafios. Segundo ela, os professores da escola que visitou trabalham em tempo integral. Preocupados com o que os alunos aprendem, eles acompanham todas as atividades feitas pelos estudantes na sala de aula e em casa. “São professores que leem muito, planejam muito e, o que facilita, é que eles têm todos os recursos tecnológicos”, avalia. Na instituição que dirige, irmã Geni entende que poderá envolver mais as alunas e os professores, trazer os pais para o colégio e fazer parcerias com a sociedade. “Todos devem se unir pela educação”, defende. Para ela, a gestão escolar participativa tem transformado os alunos em participantes ativos na construção do seu próprio conhecimento e criado um clima favorável ao desenvolvimento de práticas educativas inovadoras.

Comitê Comunitário – Mãe das gêmeas Jamile e Janine, de 10 anos, alunas do 4º ano, a cozinheira Auxiliadora Santos Silva é presidente do Comitê Comunitário, que ajuda a buscar recursos e renda para a escola. Assim, nas feiras de ciências, as integrantes do comitê vão atrás de plantas e de sementes; nas festas juninas, armam barracas para vender canjica e outros quitutes típicos. “Sempre gostei de participar de tudo na vida das minhas filhas. Não falto às reuniões e aos eventos porque acho que isso faz toda a diferença. Vejo como elas ficam felizes”, destaca.

A preocupação de Auxiliadora é com o fato da escola da irmã Geni atender somente os anos iniciais do ensino fundamental. “Tenho outra filha que estudou aqui até 2010 e nunca me deu trabalho. Agora, em outra escola, está com notas ruins e problemas de disciplina”, revela. “Os professores não faltam e quando isso acontece são substituídos, para que os alunos não fiquem sem aula”, relata.

As crianças matriculadas nas Escolas Reunidas vêm de comunidades carentes e algumas moram na própria instituição, recebendo assistência jurídica do Juizado da Infância e da Juventude, apoio do Conselho Tutelar e assistência psicológica e social. Apesar dessas diversidades, a escola consegue índices positivos e crescentes no Ideb por ter um projeto pedagógico construído coletivamente para ser cumprido durante o ano letivo. “Fazemos todos os meses uma análise do desempenho pedagógico da escola para que possamos assegurar a melhoria da qualidade do ensino”, informa a diretora. (Rovênia Amorim)

Projetos culturais e agrícolas fazem sucesso em escola baiana

Alunos usam enxadas

No fim de mais um dia de trabalho braçal nos canaviais e demais plantações, os negros se reuniam ao redor de “Zabelinha” para dançar e festejar a lavoura. A tradição que ainda resiste em comunidades quilombolas é revivida por alunos do Colégio Estadual Casa Jovem II, na zona rural de Igrapiúna, a 340 km de Salvador (BA). O projeto cultural da escola é umas das ações que fazem da escola de turno integral exemplo de gestão escolar bem sucedida.

“Eu tenho aplicado na escola o que aprendi no curso de pró-gestão escolar, em 1998”, conta o diretor Francisco Cruz do Nascimento, premiado com o diploma de liderança em gestão escolar. “É preciso estabelecer diálogo com a comunidade, fazer atividades que envolvam alunos e pais e aplicar uma educação com visão regionalizada, contextualizada. Não adianta copiar modelos urbanos”, explica ele. A escola, que atende alunos do 6º ao 9º ano do ensino fundamental e do ensino médio profissionalizante, conquistou, em 2010, o Prêmio Nacional de Referência em Gestão Escolar – ano-base 2009.

Além do resgate da cultura afro com A dança de Zabelinha enrolador, a escola se destacou também com o projeto de cultivo de ervas medicinais. Os pais vão à escola relatar os saberes populares de utilização de plantas como capim-santo, guaco e erva cidreira. Esses saberes são complementados por professores e alunos, que buscam informações científicas para ratificar o uso medicinal das ervas. O próximo passo do projeto é a construção de um laboratório, na própria escola, para a fabricação de óleos com uso farmacêutico.

“A previsão é que esteja pronto no segundo semestre de 2012 e os nossos próprios alunos do curso técnico de agroecologia vão poder trabalhar no laboratório”, entusiasma-se Francisco Cruz. Além da horta com ervas, os alunos também ajudam na produção de hortaliças que são utilizadas na complementação da merenda. Os dois projetos, de resgate da cultura quilombola e do horto medicinal, foram fundamentais para pôr fim à evasão escolar.

A mudança na gestão escolar que envolve a comunidade também procura melhores resultados no rendimento dos alunos. “A nossa média no Ideb, em 2009, foi baixa: 2,9. Estamos nos esforçando ao máximo para alcançar 4,0 agora em 2011”, diz o diretor. Além da Prova Brasil, os alunos participam também de uma avaliação na própria escola para sondar o rendimento escolar.

Segundo o diretor, a maior dificuldade é que são necessários até três anos para a obtenção de um nivelamento das turmas em termos de conhecimento. “Os nossos alunos vêm de classes multisseriadas e quando chegam aqui, no 6º ano, levam um choque grande”, avalia. Aulas complementares e de reforço buscam aumentar a aprendizagem.

Círculo de leitura - O Círculo de Leitura Crítica é um projeto que tem ajudado nesse processo. Clássicos da literatura nacional e universal são lidos e discutidos em sala de aula. Sentados em círculo, os estudantes são incentivados a opinar sobre a obra. E a leitura faz parte da grade curricular, com aula dupla uma vez por semana. A cada ano, pelo menos quatro livros são lidos, discutidos e trabalhados.

Ex-aluna do colégio, Elisângela dos Santos Almeida, 24 anos, é supervisora e multiplicadora do projeto. “Começo a aula recitando uma poesia que tem a ver com o livro que vai ser lido”, diz ela. Por exemplo, se o livro é Fernão Capelo Gaivota, de Richard Bach, Elisângela recorre à poesia Nenhum homem é uma ilha, de John Donne. “Usamos a poesia para despertar a atenção dos alunos e depois faço um resumo dos capítulos que já lemos”, comenta.

“Temos notado rendimento quanto à oralidade, mas precisamos investir agora na linguagem escrita, nos textos”, observa o diretor. O projeto tem ultrapassado os limites da escola porque os alunos se interessam, pegam o livro emprestado e levam para ler em casa para os pais, muitos deles analfabetos.

Além dos projetos consolidados, a coordenadora pedagógica Diana Lícia Guerra experimenta outros junto à comunidade escolar. A feira de ciências e o Meu Brasil Africano foram realizados pela primeira vez, neste ano letivo. “A feira de ciências empolgou os alunos e emocionou os pais que vieram ver os diferentes trabalhos dos filhos, como energia solar e alimentação saudável”, conta Diana.

Em 2012, o projeto será ampliado e incluirá os alunos do ensino médio. “Todos os nossos projetos interdisciplinares são pensados e discutidos de forma coletiva. Assim fica mais fácil envolver toda a comunidade escolar”, adianta a coordenadora. (Rovênia Amorim)

Melhor escola pública pernambucana investe em leitura e já atinge 6,5 no Ideb

Alunos na biblioteca

A Escola Tomé Francisco da Silva fica no povoado de Lagoa da Cruz, em Quixaba, no alto de uma serra no Sertão do Pajeú, em Pernambuco, a 470 km de Recife. O povoado de apenas três mil habitantes é de difícil acesso e seria uma localidade esquecida, não fosse a fama do ensino de qualidade estar atraindo alunos das cidades vizinhas. A escola que tem 800 alunos do primeiro ano do ensino fundamental até o final do ensino médio é destaque no Ideb e no Enem e, em 2009, conquistou o título de melhor escola pública de Pernambuco. No mesmo ano, obteve o segundo lugar no Prêmio Nacional de Referência em Gestão Escolar 2010, promovido pelo Conselho Nacional de Secretários de Educação (Consed).

Só para se ter uma ideia da qualidade do ensino, a escola atingiu nota 6,5 no Ideb – a meta do Ministério da Educação (MEC) é que a média nacional chegue a 6,0 até 2022, o que corresponde ao índice de países desenvolvidos. No Enem 2010, a Tomé Francisco obteve nota 585,33 e ficou em primeiro lugar entre as escolas regulares de Pernambuco.

“Não tem receita pronta para o sucesso de gestão escolar porque cada escola tem sua particularidade”, diz, com entusiasmo na voz, o diretor Ivan José Nunes Francisco. No entanto, ele cita alguns passos para a empreitada: o trabalho coletivo dos educadores, que devem receber formação continuada, a atenção aos projetos pedagógicos e o apoio das famílias dentro da escola.

O incentivo à leitura permeia três projetos que acontecem durante todo o ano. O Prazer de Ler, que existe há uma década e é voltado para alunos do 1º ao 9º ano, motiva os alunos por meio de oficinas de conto, poesia e música. No final, os alunos apresentam uma peça teatral para a comunidade. No ano passado, 120 alunos se uniram para apresentar A menina que odiava livros. “Seguimos em três ônibus para abrir os Jogos Escolares Regionais, no município de Afogados da Ingazeira”, lembra o diretor. Este ano, a encenação de outra peça, A Bela Borboleta, movimenta a escola.

Outro projeto de incentivo à leitura estimula a produção de textos que são postados no blog da escola. “Conseguimos assim utilizar o laboratório de informática, que estava meio parado”, conta o diretor.

Apesar de dois alunos terem conquistado medalha de ouro na Olimpíada de Matemática, um dos próximos projetos que a escola planeja por em prática é na área de exatas. “Em 2012, vamos trabalhar projetos na área de matemática, física e química, sem largar os outros projetos, que têm garantido notas melhores dos nossos alunos em humanas”, adianta a coordenadora dos projetos pedagógicos para os anos iniciais, Josilene Quitute.

Segundo ela, para atingir a meta de melhorar as notas em exatas de todos os alunos, a ideia é de que os cálculos de matemática deixem o quadro de giz e passem para a prática. “Queremos chamar profissionais para explicar como se faz o cálculo de uma área na prática”, explica a coordenadora. (Rovênia Amorim)

Luciana Rosa Marques (UFPE): Gestão escolar deve ser democrática

Professora Luciana Rosa Marques

Professora da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), com atuação no Departamento de Administração Escolar e Planejamento Educacional e no Núcleo de Política Educacional, Planejamento e Gestão da Educação do Programa de Pós Graduação em Educação, Luciana Rosa Marques carrega em seu currículo a realização de pesquisas desenvolvidas em escolas públicas de Recife que alcançaram sucesso na gestão escolar.

Em entrevista ao Jornal do Professor, a professora afirma que a gestão escolar é um tema atual e recorrente de pesquisas acadêmicas. Mas não há, segundo ela, uma fórmula única para uma gestão bem sucedida, porque cada escola tem suas particularidades que devem ser levadas em consideração.

“A gestão escolar democrática não é um caminho fácil, mas deve ser construída com a participação de representantes dos diferentes segmentos da comunidade escolar. Todos devem ser tratados de forma igualitária, com direito à voz”, sustenta Luciana Rosa Marques, que defendeu, no doutorado em sociologia, tese sobre A descentralização da gestão escolar e a formação de uma cultura democrática em escolas públicas.

Jornal do Professor – O que é essencial para uma gestão escolar de sucesso?

Luciana Rosa Marques – Uma gestão pode ser considerada de sucesso se trabalhar na perspectiva da democratização, da participação, da inclusão social. Ou seja, uma gestão que seja participativa, que esteja atenta à diversidade presente na escola, que trabalhe na perspectiva inclusiva e que esteja comprometida com a construção de uma escola justa, acessível a todos.

JP – Qual a formação que um professor deve ter para ser um gestor bem sucedido?

LRM – Hoje a gestão é um dos componentes da formação dos professores nas diretrizes curriculares do curso de pedagogia e das licenciaturas. Essa formação, no entanto, deve acontecer continuamente. É importante que os docentes em cargos de gestão reflitam sempre sobre como construir uma escola de qualidade e socialmente referenciada.

JP – As qualidades pessoais do educador são importantes? O que é preciso para esse profissional promover uma boa experiência de gestão escolar?

LRM – A principal qualidade é estar atento à construção de uma gestão participativa na unidade escolar que dirige. É preciso também saber que uma boa gestão não é construída sem a participação do coletivo da escola.

JP - Como envolver os pais e professores nos projetos da escola?

LRM – Inicialmente, devido à tradição centralizadora da sociedade e da escola brasileira, é preciso chamar os professores e, especialmente, os pais à participação. À medida que a escola consegue envolver os diferentes segmentos em sua gestão, vai construindo uma cultura democrática e os sujeitos começam a perceber os efeitos de sua participação e, com isso, a percebem como importante.

JP – O que é uma gestão democrática descentralizada e por que é importante para a boa gestão escolar?

LRM – A boa gestão tem que ser democrática. A gestão democrática é a que envolve os diferentes segmentos na gestão da escola, particularmente por meio de um conselho escolar atuante, que discute e delibere sobre as questões pedagógicas, administrativas e financeiras. Mas a democratização da gestão escolar não é fácil de ser construída e deve ser entendida como um processo contínuo, que pode ser dar de forma bastante diferenciada em cada escola. As relações democráticas que se constroem nas escolas públicas são contingentes, contextuais e imprevisíveis. Assim, consideramos a democracia como uma construção que se dá não por leis ou normatizações, mas pela ação das pessoas nos diferentes espaços sociais, podendo, portanto, assumir formatos diferenciados. Estudo realizado em escolas de um município na região metropolitana do Recife demonstrou que nas escolas estudadas a democracia se solidifica como prática política, baseada em relações horizontais, o que contribui para a formação política dos sujeitos sociais pertencentes ao espaço escolar. As entrevistas e observações realizadas nas escolas nos demonstraram que efetivamente a gestão se constrói de forma democrática, com a participação dos representantes dos diferentes segmentos da comunidade escolar que são tratados de forma igualitária, com respeito a suas diferenças, que têm direito à voz, e que são, portanto, reconhecidos. Em cada uma das escolas estudadas, a democracia é construída de forma diferenciada, apesar de estarem submetidas à mesma política educacional.

JP – O Brasil avança em políticas públicas que permitem o surgimento de boas experiências em gestão escolar?

LRM – Acredito que sim. No nível da legislação, a gestão democrática da educação é um princípio constitucional, consagrado na Constituição Cidadã de 1988, na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional de 1966 e em numerosos instrumentos legais dos sistemas de ensino do país. O Ministério da Educação tem alguns programas de fortalecimento da gestão democrática, como o Programa de Fortalecimento dos Conselhos Escolares, a Escola de Gestores e o PRADIME. Todas essas iniciativas, certamente, têm contribuído para a construção e o fortalecimento da gestão democrática nas unidades escolares públicas brasileiras. O tema da gestão escolar ocupa um espaço significativo na produção acadêmica da área de educação. Além de vários programas de pós-graduação terem a temática como uma linha de pesquisa, a Associação Nacional de Política e Administração da Educação, que é a entidade mais antiga na área de educação, congrega um grande número de pesquisadores da área. Nos diferentes eventos científicos de educação (congressos, simpósio, reuniões) vemos um aumento expressivo de trabalhos sobre gestão.

Professora e aluno criam blog para estudantes com deficiências

Professora Andréa com aluno

A professora Andréa Regina Marques Padilha e o estudante Jhonathan Willian Pinto, da Escola Básica Prefeito Alberto Werner, em Itajaí (SC), criaram um blog especialmente voltado ao atendimento de alunos com algum tipo de deficiência. A iniciativa de criar um espaço interativo online onde todas as crianças da sala de aula pudessem expressar seu aprendizado partiu do aluno e, pode ser concretizada graças à ajuda da professora.

Formada em pedagogia pré-escolar, com complementação em pedagogia séries iniciais e especialização em educação especial e em práticas lúdicas em educação infantil e séries iniciais, Andréa Regina é responsável pela Sala de Recursos Multifuncionais da escola – um espaço para atendimento das necessidades educacionais especiais dos alunos, com equipamentos de informática, materiais pedagógicos e mobiliários adaptados.

Nesse local, ela realiza um trabalho de cunho pedagógico, com o objetivo de proporcionar avanços nas áreas cognitivas, afetivas, sociais e motoras dos alunos com necessidades educacionais especiais (ANEE). Os estudantes são atendidos no período contrário ao do ensino regular, no período de duas horas, duas vezes por semana, individualmente ou em duplas, dependendo do caso. A professora atende 16 alunos do ensino fundamental, com diagnósticos variados: autismo, deficiência auditiva, deficiência intelectual, dislexia, transtorno de déficit de atenção e hiperatividade, síndrome de Asperger, síndrome de Ossos de Cristal e síndrome de William são alguns deles.

“Nesses atendimentos são realizadas atividades que irão auxiliá-los em um melhor desempenho no ensino formal, bem como a desenvolver maior independência e autonomia na vida diária”, explica. De acordo com ela, essas atividades envolvem linguagem, sensações, percepções, coordenação motora, atenção, concentração, memória, raciocínio lógico, atividades de vida diária e que auxiliem, na sala de aula, a aceitação do outro e a tolerar frustrações.

Andréia Regina desenvolve ainda a comunicação alternativa, a produção de materiais pedagógicos adaptados e a tecnologia assistiva. Dentro desse trabalho, buscando uma tecnologia acessível, a professora começou a desenvolver atividades com o aluno Jhonathan, do oitavo ano (sétima série), a fim de despertar seu interesse, contribuir para melhorar sua atenção, raciocínio e, principalmente, estimular sua criatividade e a capacidade de tomar decisões e de ter iniciativas.

Nesse processo, Jhonathan que apresenta déficit cognitivo leve associado a Transtorno de Déficit de Atenção e Dislexia, manifestou a vontade de criar um blog. E a partir de seu interesse, a professora criou, em agosto de 2011, o espaço virtual Construindo na sala multiespecial. Nesse espaço, os alunos podem pesquisar, ler, escrever comentários, expor suas produções nos atendimentos, opinar sobre o que desejam ampliar de conhecimento...construindo seu aprendizado no blog e tendo acesso às construções dos demais colegas. “O blog logo virou uma febre entre as crianças”, conta a professora.

Os três alunos mais velhos, incluindo Jhonathan, ficaram responsáveis pela digitação dos textos a serem postados no blog. Também aprenderam a postar imagens, documentos, configurar e alterar o design do blog. Para Andréa Regina, essa ação poderá estimular nesses estudantes a importância de itens como: responsabilidade, cumprimento de suas obrigações, organização e atenção ao trabalho que se comprometeu a executar. Segundo ela, algumas mudanças puderam ser constatadas nos alunos, desde que o blog foi criado: elevação da autoestima, melhora na linguagem (processo de leitura e escrita), demonstrações de confiança em si mesmo e na sua capacidade, são algumas delas.

A professora ressalta que esse blog passou a funcionar como uma extensão do processo inclusivo que já havia sido iniciado. Desde maio de 2011, ela movimenta o blog Sala Multiespecial da Andréa, criado com o objetivo de manter a comunidade escolar – direção, professores, pais – informada sobre assuntos como: as questões inclusivas, as dúvidas referentes a legislação em vigor e as atividades apropriadas aos alunos com necessidades educacionais especiais, entre outros. (Fátima Schenini)

Sandra Aparecida Riscal (UFSCar): gestão em escolas públicas passa por transição

Professora Sandra Riscal

Professora de gestão escolar do curso de pedagogia e do programa de pós-graduação em política e gestão da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), Sandra Aparecida Riscal é graduada em pedagogia, com doutorado em educação na área de administração pública.

Para ela, que foi responsável pela elaboração do material didático da Escola de Gestores, um curso de educação a distância do MEC, na UFSCar, para o Estado de São Paulo, as escolas públicas brasileiras passam atualmente por transição na forma em que são administradas.

De acordo com a especialista, os gestores escolares descobrem, pouco a pouco, que a construção da escola pública do século XXI é uma tarefa coletiva que deve envolver toda a comunidade escolar. “A pior coisa que pode acontecer na escola é o diretor impor um modelo de gestão, porque vai colocar a escola numa camisa de força”, afirma. Segundo ela, a gestão escolar deve se impor pela democracia, ou seja, pela capacidade do diretor em motivar professores, funcionários, alunos e pais em torno de projetos pedagógicos definidos de comum acordo.

Jornal do Professor - Como a senhora define gestão escolar?

O termo gestão tem sido muito utilizado na área empresarial para discutir questões de caráter técnico, de revisão orçamentária, de sistematização de processos e de como tornar mais eficiente o próprio processo administrativo. A gestão escolar não seria isso que se faz em gestão empresarial. No caso da escola, a gestão implicaria numa participação maior de todos os membros da escola, como coordenador pedagógico, orientador educacional, diretor, mas também a participação de alunos, professores, funcionários na discussão do que seria a parte de cada um no trabalho da escola. A gestão escolar é muito mais ligada à organização do trabalho da escola, à discussão dos objetivos, dos estudos. Essa discussão coletiva envolveria tanto a parte administrativa, por exemplo, a utilização dos recursos financeiros, quanto a parte pedagógica, ou seja, que tipo de currículo vai se utilizar naquela escola, quais seus objetivos pedagógicos.

JP - O que é essencial para uma gestão escolar de sucesso?

A gestão escolar de sucesso não tem um modelo. Cada escola se organiza de forma diferente, é formada por pessoas com histórias de vida distintas. Uma gestão de sucesso seria aquele em que o gestor reconhece as particularidades da escola, aquilo que faz com que a escola tenha uma cara própria, aquilo que há de melhor e que cada um pode contribuir para a escola. Cada escola terá pessoas com capacidades, com concepções diferentes e vai contribuir de forma diferente para a própria gestão. O gestor tem de compreender a diversidade e como cada um pode contribuir. A pior coisa que pode acontecer na escola é o diretor, que se chama de gestor, impor um modelo de gestão porque vai colocar a escola numa camisa de força. Se ele conseguir compreender o que cada um pode oferecer e conseguir montar uma equipe que possa trabalhar com ele. Para as pessoas que estão na escola aquilo vai ser uma gestão de sucesso porque os pais e os alunos vão compreender o papel da escola e vão se sentir bem lá.

JP- Qual a formação que um professor deve ter para ser um gestor bem sucedido?

A legislação hoje exige que todo o gestor de uma escola tenha formação básica em pedagogia. Isso significa que um professor de matemática, química, física, por exemplo, vai ter de fazer um curso de pedagogia para se transformar em gestor. Mas a formação de um bom gestor exige que ele tenha a experiência de trabalhar com pessoas. Não adianta ter feito cursos se não passou por um processo de compreender o que é democracia. Democracia é o direito das pessoas de serem ouvidas. Todo mundo acha que democracia é o direito de falar. Você pode muito bem falar, mas ninguém ouvir. A formação básica do gestor deveria ser a de democracia.

JP - As qualidades pessoais do educador são importantes? O que é preciso para esse profissional promover uma boa experiência de gestão escolar?

Não há um modelo. Os cursos de gestão escolar vão permitir que o profissional compreenda o que é uma gestão democrática, que é o fundamento da gestão escolar. Antigamente, o modelo de diretor que tínhamos era aquele de linha dura, o representante do estado, do governo dentro da escola. Hoje temos uma inversão. O gestor é o representante da escola para o governo. Essa formação pessoal deveria ser voltada para a democracia, ligadas às pessoas da própria comunidade. Um dos grandes problemas que temos hoje em São Paulo é que boa parte dos gestores vem de outras bairros e regiões e não têm uma ligação direta com a comunidade. O gestor deve estar aberto a ter um vínculo, inclusive, afetivo com a comunidade. O gestor não é apenas aquela pessoa que segue normas e tem competência administrativa. Ele precisa ter afinidade com as pessoas da escola e se identificar com os projetos.

JP - Como envolver os pais e professores nos projetos da escola?

O próprio diretor tem de ter o desejo de fazer isso. E ele não pode querer impor um projeto pessoal dele à escola. A gestão democrática é exatamente permitir que a comunidade escolar tenha palavra e consiga debater e discutir o seu próprio projeto de escola. O diretor vai fracassar se tentar por em prática o projeto que ele tem na cabeça porque muito dificilmente as pessoas vão ter em mente o mesmo projeto dele. Uma metáfora que consigo fazer uso é do gestor como um arquiteto. A comunidade escolar às vezes não tem muito claro como vai fazer aquilo que tem em mente para a escola, mas todo pai sabe porque é importante a criança ir para a escola. A partir do que o diretor ouviu é que se começa a se discutir um projeto para a escola. A comunidade sabe dizer o que ela quer da escola, mas ela não saber fazer. A partir dos desejos das pessoas, se elabora os projetos políticos pedagógicos da escola. É uma discussão e isso funciona porque os diretores reúnem a comunidade e as pessoas se sentem parte da escola. Essa visão do diretor como administrador está mudando. Muitos pais que não participam da escola estão acostumados a serem chamados na escola para ganhar bronca porque o filho está com nota baixa. Os pais têm de perceber que podem construir a educação dos seus filhos.

JP - O que é uma gestão democrática descentralizada e por que é importante para a boa gestão escolar?

A escola tem autonomia para debater aquilo que ela deseja como projeto político pedagógico. Algumas escolas trabalham com blogs e murais, e aos poucos os pais vão participando porque vão percebendo que a escola também é deles. Durante muito tempo a escola foi estatal e não pública. Existe uma diferença. Uma coisa é a escola ser comandada pelo estado e outra é a comunidade se apropriar da escola, que ela compreenda com um espaço público do qual pode participar e ajudar a construir.

JP - A prática da gestão escolar deve ser preocupação da política educacional?

Aparece desde a Constituição de 1988, na Lei de Diretrizes e Bases. E desde os últimos governos, a prática da gestão escolar tem sido incentivada, pelo MEC e pelos estados, por meio de cursos de formação de gestores. Mas implementar a gestão democrática é um processo demorado, justamente por não ser algo que se impõe por lei.

JP - O Brasil avança em políticas públicas que permitem o surgimento de boas experiências em gestão escolar?

Não se tem uma gestão democrática nas escolas públicas de uma hora para outra. Nós estamos plantando sementes. No futuro, os alunos atuais quando se transformarem em diretores de escola terão uma mente mais aberta porque estão estudando em escolas mais democráticas. Os professores e diretores atuais têm mais dificuldade em fazer gestão democrática porque estão acostumados com um modelo de escola em que estudaram. Eles questionam, por exemplo, em como fazer uma gestão democrática numa escola em que eles não são respeitados. Nós confundimos autoridade com autoritarismo, ainda mais quando o Brasil tem uma origem autoritária. Antigamente, o diretor era uma autoridade. Há ainda a visão de que a pessoa que tem cargo, tem poder e manda. É assim com o cargo de diretor e visão de que as pessoas vão respeitá-lo porque é o diretor. Autoridade é algo conquistado exatamente pela relação de respeito com as pessoas. Se você respeitar os outros, será respeitado. Hoje em dia estamos justamente na fase de transição porque estamos mudando essa concepção de autoridade. A autoridade de um diretor na gestão democrática não será mais resultado de um cargo, mas do tipo de trabalho que ele faz e do respeito com que trata as pessoas. Acontece o mesmo com o educador que entra na sala de aula e acha que os alunos devem ficar em silêncio porque ele é o professor. Gradualmente, esse professor percebe que ele deve mudar a relação com o aluno. A autoridade que ele vai ter dependerá do respeito que ele tem pelos seus alunos e não do cargo. Mas ao conquistar esse respeito, ele não perde. E, por meio da gestão democrática, estamos tentando estabelecer uma escola que respeite a diversidade, em termos culturais e raciais. Uma escola que saiba respeitar e compreender que a síntese de uma cultura distinta, onde cada um tem o direito de ter opinião diversa.