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JORNAL

Prêmio Professores do Brasil - 2011

Terça-feira, 20 de Dezembro de 2011

Edição 64

EDITORIAL - Prêmio Professores do Brasil - 2011

O Jornal do Professor traz um assunto especial: a 5ª edição do Prêmio Professores do Brasil. A premiação foi realizada no dia 14 de dezembro, no auditório do Ministério da Educação, em Brasília (DF).

Dos 39 professores vencedores, seis falam sobre seus projetos e compartilham suas experiências com nossos leitores:

Alcilene Costa de Magalhães, de Ananindeua (PA), do ensino fundamental II; Alessandra Franzen Klein, de Horizontina (RS), da educação infantil; Andréia Silva Brito, de Presidente Médici (RO), do ensino fundamental II; Guilherme Erwin Hartung, de Petrópolis (RJ), do ensino médio; Cristina Freire dos Santos, de Cristalina (GO), do ensino fundamental I; Marta de Moura Nunes Dias, de Curitiba (PR), do ensino infantil. Todos os projetos premiados estão publicados no Portal do Professor.

Na seção Espaço do Professor, temos a participação da professora Clenilda Maria S. Silva, da Escola Estadual Tobias Barreto, de Aracaju (SE).

Nossa entrevistada é a professora Lucia Maria Gonçalves de Resende, da Universidade Federal do Paraná, que aborda, entre outros pontos, os benefícios do trabalho com projetos e as maneiras de usar essa metodologia na sala de aula.

Ajude-nos a escolher o tema das próximas edições, votando na enquete colocada em nossa página. E aproveite para colaborar enviando sugestões, críticas, textos e músicas!

Seja bem-vindo!

Crianças aprendem a língua de sinais para interagir com colega

Ministro Haddad entrega prêmio à professora Alessandra

Ao receber na sala de aula uma criança surda, a professora Alessandra Franzen Klein, da Escola Municipal de Educação Infantil Paraíso da Criança, em Horizontina (RS), não se intimidou. Com formação específica na língua brasileira de sinais (libras), ela estava preparada para se comunicar e ensinar o conteúdo curricular da pré-escola à estudante novata. No entanto, foi além. Preparou projeto de educação bilíngue português-libras e ensinou as crianças de 4 e 5 anos da classe a usar as mãozinhas para reproduzir o alfabeto gestual e, assim, interagir com a coleguinha.

“Elas já têm coordenação motora suficiente e mais facilidade do que os adultos. Aprendem rapidamente”, constata a professora. “Hoje, já têm certa fluência e são capazes de formar frases complexas e até contar historinhas em libras.”

A criança surda aprende o português escrito como uma segunda língua; os colegas, a libras. “A turma aprendeu a língua de sinais para interagir com ela”, ressalta. “Todas as atividades são realizadas nas duas línguas.”

Com o projeto, uma das tarefas da professora foi a elaboração do material didático. “Um trabalho desafiador, que exigiu muita pesquisa e produção de material porque todo o conteúdo teve de ser dado nas duas línguas”, afirma. Segundo ela, há poucas histórias infantis em libras. Além dos clássicos, como a Cinderela Surda, a professora criou textos alternativos, como a Porquinha Surda, As Luvas Mágicas do Papai Noel e As Estrelinhas Surdas. “Fui criando histórias e vídeos com as crianças de acordo com a necessidade de trabalho em sala de aula e até participamos do Festival Brasileiro de Cultura Surda, em Porto Alegre”, salienta.

Apoio — O município de Horizontina, com 18,3 mil habitantes, a 496 quilômetros de Porto Alegre, não tem escola específica para surdos. Assim, toda comunidade escolar foi informada sobre a importância do projeto. “Os pais viram que as crianças estavam aprendendo uma língua a mais e apoiaram a ideia”, ressalta Alessandra. A proposta da educação bilíngue foi estendida a professores, direção e funcionários para que todos se comunicassem com a aluna. No fim do ano letivo de 2010, as crianças emocionaram pais e professores ao apresentar o clássico natalino Noite Feliz, num coral, com a linguagem de sinais.

“Quando minha filha foi matriculada, eu estava preparada para as dificuldades de inclusão, mas foi tudo ao contrário”, lembra Dione Nascimento, mãe de Bruna, 6 anos. “A professora preparou a turma para receber a nova colega, e ela de maneira alguma ficou isolada. Hoje, quer participar de tudo na escola.”

Em 2012, a menina vai cursar o primeiro ano do ensino fundamental em outro colégio público. “O projeto terá continuidade. Como muitos pais fizeram questão de matricular os filhos na mesma escola da Bruna, ela não ficará isolada e fará também novos amigos” afirma Dione. “Ela é uma criança feliz, que aprende rápido.” Bruna conhece todas as letras do alfabeto e já lê algumas palavras. (Rovênia Amorim)

Alunos do ensino médio criam cinema 3D em escola fluminense

Professor Guilherme recebe prêmio do ministro Fernando Haddad

Diante do interesse dos estudantes pelas imagens tridimensionais do filme Avatar, de James Cameron, o professor de matemática Guilherme Erwin Hartung, do Colégio Estadual Embaixador José Bonifácio, em Petrópolis (RJ), escreveu o projeto O Fantástico Mundo 3D para explicar a tecnologia para os alunos do ensino médio. Após pesquisas, entrevistas com especialistas e oficinas, os 20 alunos que participaram do projeto conseguiram criar um cineminha de imagem tridimensional (3D) na escola.

“Desde 2009, o cinema 3D virou moda entre a garotada do ensino médio, e eles queriam muito entender essa tecnologia, ainda mais porque não há cinema 3D em Petrópolis”, conta Hartung. O primeiro passo foi colocar os alunos interessados no assunto em um ônibus até Duque de Caxias, a cidade mais próxima em que há cinema 3D.

Na prática, eles participaram de oficinas para aprender a produzir fotos e imagens tridimensionais usando óculos com lentes nas cores cíano (azul puro) e vermelha. Também visitaram centros de pesquisa tecnológica e discutiram óptica e efeitos da luz e da polarização nos diferentes tipos de óculos para criar um cinema 3D de baixo custo — cerca de R$ 300. O dinheiro foi gasto na aquisição do tecido da tela, de dois filtros de polarização de luz e de 30 óculos. Dois projetores da escola foram adaptados para exibir as imagens.

A participação dos alunos foi voluntária, sem valer nota, mas os ajudou a ganhar conhecimento em matérias curriculares do ensino médio, como biologia, física e matemática. “Sistema de visão humana binocular, que permite enxergar em profundidade, evolução darwiniana e ótica geométrica para calcular a distância necessária para qualidade da imagem em 3D”, exemplifica Hartung. Não só os alunos aprenderam. Também o professor, que buscou informações para as aulas práticas com docentes e pesquisadores universitários.

As aulas do projeto ocorriam no turno oposto ao dos estudos (contraturno). “Seria impossível fazer um projeto com esse detalhamento durante as aulas normais, mas os alunos participaram devido à paixão pela tecnologia e aprenderam mais sobre as matérias curriculares”, afirma Hartung. “É importante nos dias de hoje, com essa mudança de paradigma, trazer a tecnologia para a escola e atrair os alunos para o conhecimento.”

O professor conseguiu ainda o contato dos alunos, por videoconferência, com o brasileiro João Roberto de Oliveira Sita, que trabalha no estúdio Rodeo FX, do Canadá, e participou da produção de Avatar.

Prêmio — Além de O Fantástico Mundo 3D, incluído entre os ganhadores da quinta edição do Prêmio Professores do Brasil, outros projetos educativos de Hartung já foram premiados. Um deles é o de jogos educacionais para alunos, que valeu uma visita à Universidade Politécnica de Madri. Ele mantém um blog com dicas e novidades sobre tecnologia aplicada à educação para alunos e professores. Também é colaborador da seção Sugestões de Aulas do Portal do Professor. (Rovênia Amorim)

Projeto em escola goiana ajuda alunos a estabelecer objetivos

Professora Cristina Freire dos Santos e ministro Fernando Haddad

Lecionar em um bairro extremamente carente, com alto índice de marginalidade, além de uso e tráfico de drogas, fez a professora Cristina Freire dos Santos perceber a necessidade de desenvolver um trabalho de conscientização com seus alunos. Ela resolveu, então, criar um projeto capaz de contribuir para melhorar as expectativas das crianças com relação ao futuro. Nascia, assim, o Profissões – Semeando Sonhos para a Transformação de um Bairro.

O trabalho colocou a professora do pequeno município goiano de Cristalina, no Entorno do Distrito Federal — 130 quilômetros ao sul de Brasília —, entre os agraciados na quinta edição do Prêmio Professores do Brasil. Com pós-graduação em pedagogia empresarial, Cristina dá aulas na Escola Municipal Cilineu Peixoto dos Santos desde 2009, quando ingressou na rede de ensino do município. ”Adoro trabalhar com projetos”, diz a professora, que dá aulas a uma turma do quarto ano do ensino fundamental. “Esse tipo de prática pedagógica deixa os objetivos mais claros.”

O projeto premiado, com duração de um ano, envolveu uma turma também do quarto ano, formada por 30 estudantes com idades entre 9 e 15 anos. “Eles precisavam compreender a importância da escola e como o estudo pode mudar suas vidas”, salienta Cristina.

Interdisciplinar e dinâmico, o projeto Profissões procurou mostrar a diversidade de profissionais envolvidos em uma sociedade organizada, bem como a importância de cada um. Além de participarem de passeios a diferentes locais de Brasília, como órgãos dos Três Poderes, agências do Banco do Brasil e de turismo e o Jardim Zoológico, os estudantes receberam visitas de profissionais — médico, advogado e policial militar — convidados para compartilhar um pouco da história pessoal e trajetória profissional.

Segundo a professora, a participação no projeto deixou os alunos com mais motivação para acordar cedo e ir à escola, principalmente nos dias em que receberiam visitas. “A pessoa que não faz planos para a vida dificilmente consegue realizar seus desejos”, enfatiza Cristina. “Por isso, é preciso sonhar grande e lutar para a realização desses sonhos.”

Para a professora, trabalhar com metas, além de possibilitar o diagnóstico de possíveis falhas e obstáculos no processo de ensino-aprendizagem, aumenta a qualidade dos resultados. Para 2012, ela está finalizando um novo projeto. “Ele será desenvolvido em toda a escola”, adianta. (Fátima Schenini)

Experiências inovadoras premiam professores de 18 estados brasileiros

Ministro Haddad, ao microfone e professores no auditório

Um grupo de 39 professores da educação básica pública de 18 estados recebeu o prêmio Professores do Brasil, na quarta-feira, 14, no auditório do MEC, em Brasília. A premiação consiste em R$ 5 mil para cada autor de trabalho vencedor e equipamentos audiovisuais ou de multimídia no valor de R$ 2 mil para a escola na qual o professor desenvolve o projeto.

Nesta quinta edição, à qual concorreram 1,6 mil trabalhos, o prêmio conta com educadores de cinco estados da região Norte (Amazonas, Rondônia, Pará, Tocantins e Acre); cinco do Nordeste (Bahia, Paraíba, Rio Grande do Norte, Alagoas e Ceará); dois do Centro-Oeste (Goiás e Mato Grosso do Sul); dois do Sul (Paraná e Rio Grande do Sul) e os quatro do Sudeste (Espírito Santo, São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro).

Entre os estados com maior número de experiências vencedoras aparecem Goiás, com seis trabalhos, São Paulo e Paraná, com quatro cada um, e Amazonas, com três.

Os municípios de Catalão (GO) e São Miguel do Iguaçu (PR) tiveram mais de uma escola premiada. Catalão, com 86,6 mil habitantes, a 255 quilômetros de Goiânia, recebeu dois prêmios por trabalhos desenvolvidos na Escola Municipal Nilda Margon Vaz e no Colégio Estadual Dona Iayá. São Miguel do Iguaçu, com 25,7 mil habitantes, no oeste paranaense, a 599 quilômetros de Curitiba, também teve dois professores premiados por experiências na Escola Serafim Machado de Souza e no Colégio Estadual Pedro Viriato Parigot de Souza.

As mulheres são maioria nesta edição. As 34 vencedoras receberam todos os prêmios nas etapas de educação infantil, anos iniciais e anos finais do ensino fundamental. Entre os homens, os cinco ganhadores desenvolveram projetos com estudantes do ensino médio nas áreas de arte e cultura, educação ambiental, educação indígena e informática.

Para o diretor de formulação de conteúdos educacionais da Secretaria da Educação Básica (SEB) do MEC, Sérgio Gotti, o prêmio é um reconhecimento do Ministério da Educação aos professores e uma forma de valorização das atividades desenvolvidas por eles nas escolas.

Para o ministro Fernando Haddad, a proposta básica do prêmio é não só valorizar o magistério. É, sobretudo, promover o intercâmbio de ideias e a criatividade, além de enriquecer o trabalho em sala de aula. “O papel do MEC é jogar luz sobre essas experiências e procurar disseminá-las por todas as escolas”, disse.

Edições — Em 2011, o Prêmio Professores do Brasil foi realizado pelo MEC em parceria com o Conselho Nacional dos Secretários de Educação (Consed), União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime), Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura (Unesco) e Organização dos Estados Ibero-Americanos para Educação, Ciência e Cultura (OEI). A Fundação SM, Intel Brasil, Instituto Votorantim e Associação Brasileira de Editores de Livros (Abrelivros) são os patrocinadores.

As duas primeiras edições, em 2005 e 2007, tiveram a participação de professores da educação infantil e dos anos iniciais do ensino fundamental. Em cada ano foram premiados 20 projetos. A partir de 2008, o prêmio foi estendido a toda a educação básica, incluídos os anos finais do ensino fundamental e o ensino médio. Naquele ano, foram selecionados 31 projetos; em 2009, 35.

No conjunto das quatro edições, concorreram ao prêmio 4.394 trabalhos. Foram 1.135 em 2005; 1.457 em 2007; 779 em 2008 e 1.027 em 2009. Até agora, 106 educadores receberam prêmios, que somam R$ 530 mil.

Todos os trabalhos premiados estão publicados no Portal do Professor. (Ionice Lorenzoni)

Projeto de matemática rende prêmio a professora de Rondônia

Professora Andréia Silva Brito

Trabalho desenvolvido na área de matemática deu à professora Andréia Silva Brito um lugar entre os 39 ganhadores da quinta edição do Prêmio Professores do Brasil. O projeto Polígonos: Construindo Propriedades, Relações e Conceitos foi realizado em outubro e novembro de 2010 com alunos do sexto ano da Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Carlos Drummond de Andrade, no município de Presidente Médici, em Rondônia. Voltado inicialmente para uma turma de 36 alunos, o projeto teve o atendimento ampliado e chegou a envolver 96 estudantes.

“A grande vantagem no trabalho com projetos é o genuíno envolvimento dos alunos, o que aumenta as possibilidades de sucesso na aprendizagem”, destaca Andréia. Acostumada a trabalhar com projetos, ela observa que eles permitem o desenvolvimento dos conteúdos em rede, de forma articulada. Formada em matemática, com especialização em educação matemática, Andréia é natural de Umuarama (PR) e mora em Rondônia desde 1985. Em 1998, passou a integrar a rede estadual de ensino.

Os resultados obtidos com o projeto corresponderam às expectativas da professora. Ao avaliar os registros dos alunos, ela constatou que todos aprenderam a diferenciar polígonos de não polígonos e a identificar e conceituar lados e ângulos em polígonos. Outros resultados computados mostraram que 94% dos estudantes aplicam o conceito de ângulo na identificação de semelhanças e diferenças entre polígonos, 83% classificam polígonos quanto ao número de lados e 75% classificam quadriláteros quanto ao paralelismo e ao perpendicularismo dos lados.

Andréia deixa claro que esses resultados, embora levantados durante a realização do projeto, não se limitam a tal período. “Eles ainda se fazem e se farão sentir no ambiente escolar, visto que planejo a retomada e a ampliação desses conhecimentos nos próximos anos letivos”, adianta. Em 2011, ela deu continuidade ao projeto por meio de um trabalho com as medidas dos ângulos dos polígonos regulares e a utilização de simetrias axiais e de rotação na construção dessas figuras. (Fátima Schenini)

Projeto premiado ajuda alunos a alcançar o autoconhecimento

Professora Marta de Moura Nunes Dias

A professora Marta de Moura Nunes Dias, da Escola Municipal Professora Maria Ienkot Zeglin, em Curitiba, é uma entusiasta do uso de projetos em sala de aula. Principalmente pela possibilidade que eles oferecem de integrar diversos conteúdos em atividades apreciadas pelas crianças e que contribuem para a formação do caráter. Com graduação em curso normal superior e pós-graduação em educação infantil, Marta trabalha na rede pública de ensino de Curitiba desde 1999; na escola atual, desde 2007.

Com o projeto Eu Sei Quem Eu Sou, de Onde Eu Venho, para Onde Eu Vou, um dos ganhadores da quinta edição do Prêmio Professores do Brasil, Marta quis proporcionar o autoconhecimento a cada criança de sua turma de educação infantil. Uma forma de elas descobrirem seus pontos positivos, limitações e preferências. Segundo a professora, quando uma pessoa se conhece, passa a respeitar melhor a si mesma e, por consequência, o outro. Ao mesmo tempo, não se deixa explorar, pois sabe até onde vão seus direitos.

Iniciado no primeiro semestre de 2010, apenas com os alunos de Marta, o projeto logo ampliou o atendimento a outras duas turmas, num total de 70 alunos na faixa etária de 4 a 5 anos. Uma câmera fotográfica ficou à disposição das crianças para ser usada tanto nas atividades realizadas na sala de aula quanto em casa.

Na primeira das três partes do projeto, cada aluno teve a oportunidade de ouvir da família informações sobre seu nascimento, como foi importante e a história de seu nome. Ainda nessa etapa inicial, participou de várias atividades a fim de compartilhar as preferências com os colegas. Ao mesmo tempo, pode refletir sobre si mesmo, seus brinquedos preferidos, comidas prediletas, de forma a ampliar o conhecimento sobre o próprio corpo, desde o número do calçado até a altura. Em cada atividade, comparava as diferenças, buscava explicações próprias para as preferências e aprendia a valorizar a si mesmo, do jeito que é.

Na segunda etapa, relativa à família, cada um teve a oportunidade de apresentar os familiares aos colegas, por meio de fotografias. “Ao final, todos puderam perceber que, independentemente da diversidade, todas as famílias são importantes”, explica Marta. As crianças aprenderam a respeitar as diversas estruturas familiares por meio da análise e do conhecimento.

Na terceira e última etapa, foi abordado o lugar de moradia — casa, nome da rua, endereço em si —, com ênfase para o fato de que cada um tem seu espaço, independentemente de ser maior ou menor. “Não importa a diferença: cada um deve valorizar o que possui e respeitar a forma de vida do outro”, salienta a professora. No final, trabalhos foram expostos no saguão da escola para que os alunos participantes do projeto compartilhassem com os demais colegas o que tinham aprendido.

De acordo com Marta, a maioria dos estudantes continuou na escola em 2011 e ainda comentava sobre o que aprendeu no ano passado. “Eles valorizam sua história e, ainda que tenham pequenos conflitos em relação à identidade, já conseguem sobrepor a isso a autovalorização e também a valorização dos colegas”, destaca a professora. (Fátima Schenini)

Escola paraense aponta soluções para comunidade reduzir o lixo

Professora Alcilene Costa de Magalhães

O projeto Consumo Consciente: Agir e Viver por um Mundo Melhor foi criado para mostrar como deve ser feito o manejo do lixo, não apenas na Escola Municipal de Ensino Fundamental Cândida Santos de Souza, mas também no bairro Distrito Industrial, onde a instituição está situada, em Ananindeua, Pará, na região metropolitana de Belém. Desenvolvido pela pedagoga Alcilene Costa de Magalhães, professora de informática educativa, o projeto busca soluções para diminuir o acúmulo de lixo na cidade.

O trabalho é feito por meio de campanhas educativas e oficinas de reciclagem para o manejo adequado dos detritos. “As campanhas e oficinas têm o objetivo de sensibilizar a comunidade para a importância de cuidar do lixo e dar a ele um local apropriado, além de praticar ações de consumo consciente, dizendo não ao desperdício”, explica Alcilene. Há 15 anos no magistério, a professora já trabalhou com alunos da educação infantil e do ensino fundamental em instituições de ensino particulares de Belém. Também foi coordenadora pedagógica da educação de jovens e adultos durante dez anos em escola da rede estadual.

A fim de mostrar à comunidade as boas iniciativas de combate à degradação do meio ambiente, os envolvidos no projeto executaram diferentes atividades. Uma delas, o manejo do lixo no bairro, sob o lema Diga Não ao Desperdício. Outra, a proposta Vamos Cuidar do Nosso Lixo, de prevenção contra os resíduos jogados no chão. Foi feito ainda um apelo por mudanças de comportamento entre as pessoas.

De acordo com Alcilene, nas ações de combate ao acúmulo do lixo na comunidade os estudantes chamaram a atenção do público para a preservação do meio ambiente. Eles destacaram a importância de conservar a escola como patrimônio público e o lugar no qual vivem. “Com esse trabalho de informação e sensibilização na comunidade, executamos as propostas de cuidar do meio ambiente”, afirma. “E cuidando do meio ambiente estamos cuidando de nós mesmos.”

Cidadania — O projeto abrangeu iniciativas de cidadania voltadas para a informação e a sensibilização da comunidade escolar, executadas no decorrer do ano letivo. No primeiro semestre, foram realizadas ações interdisciplinares para discutir o tema lixo no bairro. Entre elas, reuniões, sessões de vídeo e passeios para visualização dos problemas ocasionados pelo acúmulo de lixo. Professores e alunos executaram tarefas de diversas disciplinas — português, história, geografia, inglês, ciências e educação física. Os alunos da quinta à oitava série do ensino fundamental visitaram a comunidade em torno da escola e conversaram com os moradores para explicar o problema e indicar formas de melhorar o manejo do lixo no bairro.

No segundo semestre, foram realizadas ações de combate ao acúmulo de detritos. “Os alunos da sexta e da sétima séries informaram à comunidade sobre os prejuízos causados pelo lixo em nossa vida e como podemos colaborar para que todos vivam em paz com o manejo e a coleta seletiva”, ressalta Alcilene.

O projeto é executado desde 2009. A cada ano, ganha novas ações. Segundo Alcilene, ele se fortaleceu em 2011. “Na ação Plante uma Árvore, realizada no fim deste ano, conseguimos 250 mudas de plantas ornamentais e frutíferas”, destaca. Na gincana ambiental, promovida em setembro, foram recolhidas cinco mil garrafas plásticas. “A coleta ultrapassou nossa expectativa.”

Na visão da professora, trabalhar com projetos ajuda na evolução do aluno e a alcançar as metas. “Educamos para a cidadania e para a prática do consumo consciente”, diz. “Os resultados estão sendo gratificantes.” (Fátima Schenini)

Confira o blog da escola

Remanejada para a biblioteca, professora estimula a leitura entre os alunos

Clenilda e estudantes na biblioteca

Professora da rede de ensino do Estado de Sergipe, há 13 anos, Clenilda Maria Silva foi remanejada para a biblioteca da escola, há cerca de um ano, após o surgimento de problemas em sua voz. Na ocasião, a pedagoga que trabalha na Escola Estadual Tobias Barreto, em Aracaju, fez cirurgia em uma das pregas vocais e tratamento com uma fonoaudióloga. A escola atende cerca de 1.500 alunos, a partir do sexto ano do ensino fundamental até o terceiro ano do ensino médio.

Atenta e interessada, Clenilda conta que sempre participou de cursos de capacitação, principalmente na área de alfabetização e leitura. E agora, em seu novo local de trabalho, na Biblioteca Leite Neto, onde fica das 8h às 13hs, de segunda a sexta-feira, ela aproveita para estimular os estudantes a usarem mais o local para estudar, pesquisar e também para pegar livros emprestados. Sua principal meta, para 2012, é levar para a biblioteca aqueles alunos que ainda não estão lendo.

Ela conversou com alguns alunos que frequentam o local, com o objetivo de coletar depoimentos referentes ao uso dos livros da biblioteca, que incluem desde obras didáticas até clássicos da literatura mundial. Alguns dos resultados que obteve, foram encaminhados ao Jornal do Professor para serem compartilhados com nossos leitores.

Depoimentos

· Aluno 8º ano utiliza os livros da biblioteca da escola porque melhora a leitura, a escrita, aprende palavras novas e sempre procura o significado de novas palavras no dicionário.

· Aluna 8º ano leu um livro de Monteiro Lobato e falou que a leitura serviu para acalmá-la.

· Um aluno diz que lê para conhecer novas culturas.

· Um aluno relata que ao ler um clássico da literatura brasileira compreendeu com perfeição a mensagem do autor.

· Um dos alunos descobriu em um livro da biblioteca como era a vida e a luta dos povos primitivos.

· Alguns alunos utilizam os livros didáticos como fonte de pesquisa para estudar para prova e como resultado obtêm excelentes notas.

· Ao ler um livro de Jorge Amado, aluno compreendeu a mensagem do autor sobre amar as diferenças.

· Diversos alunos relatam que além de ter encontrado um gênero literário que apreciam, já conseguem interpretar perfeitamente os livros lidos.

· Alunos do 6º ano falam sobre as virtudes e sobre a superação de problemas que aprendem lendo os livros da biblioteca.

· Aluno do 7º ano compreendeu, através da leitura, a importância da inclusão.

· Aluno do 7º ano comenta que teve contato com a ciência ao ler um romance.

· Aluna do 3º ano aprendeu a valorizar-se ao ler A Ditadura da Beleza, escrito pelo psiquiatra Augusto Cury, e deseja ter contato com um profissional dessa área.

· Aluna do 8º ano conseguiu reconhecer figuras de linguagem empregadas pelo autor em livro de poesia, lembrando que diversos alunos utilizam estes livros para melhorar a escrita e também a leitura.

· Alunas do 3º ano relatam que ao ler livros sobre histórias conseguem retirar lições para a vida. Além disso, acreditam que sem a biblioteca escolar não conseguiriam ler a quantidade de livros que vêm lendo.

· Aluno do 8º ano fala que após ler contos sobre o período da escravidão no Brasil passou a entender a colonização em nosso país.

· Diversos alunos relatam que gostam da biblioteca da escola por tornar acessível o contato com os livros, pois cada livro é uma relíquia, além de afirmar que esta biblioteca é de grande valor para a escola.

Ou seja, ler ajuda a:

· Melhorar a leitura;

· Permite a interpretação e a compreensão dos textos;

· É prazeroso;

· Incentiva a imaginação e a criatividade;

· Permite ao leitor o contato com culturas diferentes;

· Ensina valores e virtudes;

· Melhora a autoestima;

· Auxilia na resolução de problemas;

Exercita o cérebro, tornando o leitor mais inteligente.

Lúcia M.G. Resende (UFPR): uso de metodologia por projetos não deve ser um ato isolado

Professora Lúcia Maria Gonçalves Resende

Doutora em educação brasileira pela Universidade Estadual de São Paulo (USP) e pós-doutora em educação pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), a pedagoga Lúcia Maria de Gonçalves Resende é professora da Universidade Federal do Paraná (UFPR). Já lecionou também na Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), no período de 1981 a 1997, e na Universidade de Brasília (UnB), de 1997 a 2008.

Para ela, que é especialista em metodologia do ensino superior, orientação educacional e em educação não formal, com vários livros publicados, a opção de trabalhar com uma metodologia por projetos não deve ser um ato isolado, mas consequência do entendimento de que o processo educativo desenvolvido com esses projetos é resultado de construção, investigação, problematização coletiva.

A professora ressalta a importância da divulgação de matérias sobre o tema Projetos, para mostrar aos professores que é possível construir, ousar e desenvolver propostas utilizando essa metodologia, independente do nível em que a docência seja exercida.

Entre os benefícios trazidos pelo utilização de projetos, destaca: o desenvolvimento da inter e transdisciplinaridade, envolvendo diversas áreas de conhecimento, bem como o fortalecimento da importância do trabalho coletivo entre professores, alunos e comunidade escolar.

Jornal do Professor – Quais os principais benefícios que o desenvolvimento de projetos na sala de aula pode trazer para a escola, professores e alunos?

Lúcia Maria de Gonçalves Resende – Inicialmente é importante frisar que a opção de trabalhar com uma metodologia por projetos não deve ocorrer como um ato isolado, mas porque é consequência do entendimento de que o processo educativo desenvolvido com esses projetos é resultado de construção, investigação, problematização coletiva. Dessa maneira, a conhecida linearidade guiada por currículos pouco flexíveis não comportam o trabalho por projeto. É importante também que exista coerência na ação pedagógica, que se desencadeia a partir do projeto político-pedagógico da escola. O que temos observado é que, quando inexiste esta coerência, mesmo projetos bem intencionados e desenvolvidos, mas isolados, acabam perdendo força no conjunto da escola.

Alunos e professores precisam perceber que posturas baseadas nas certezas, nas ações modelares e reprodutoras podem minar projetos, mesmo que eles estejam registrados de maneira burocraticamente aceitável. Muitas vezes esses registros são fruto de imposições e modismos, não revertendo positivamente nos processos educativos. O grande salto qualitativo está em aceitar o desafio de desinstalar-se, criando coragem para abandonar um porto seguro e aventurar-se em espaços ainda pouco conhecidos. Associado à coragem está o compromisso e a responsabilidade, tendo como fio condutor um projeto, que funcione como orientador de ações e celeiro de acolhimento de alunos e professores, interessados no protagonismo do processo educativo, o que pode oportunizar o sentimento de pertença dos envolvidos.

Que benefícios esse movimento poderia trazer? Basicamente os envolvidos poderão tornar-se sujeitos de seu processo educativo, libertando-se da condição de meros depositários de informações, para tornarem-se investigadores da e na realidade. E isso somente ocorre quando se avança da informação para o processo de significação pessoal dos conhecimentos, chegando a construí-los.

A partir daí podemos citar benefícios, como

· Ampliação das possibilidades de construção de conhecimento de forma mais global e coletiva, tendo como eixo a aprendizagem significativa.

· Fortalecimento do diálogo com a realidade.

· Desenvolvimento da inter e transdisciplinaridade, envolvendo diversas áreas de conhecimento.

· Fortalecimento da importância do trabalho coletivo entre professores, alunos e comunidade escolar.

· Desencadeamento de avaliação processual no desenvolvimento dos envolvidos.

· Incentivo à reflexão constante da prática pedagógica, pois esta estratégia não se apóia em normas e regras rígidas, previamente definidas.

· Protagonismo dos envolvidos na construção do processo de aprendizagem, buscando aprofundamentos e resignificações.

JP – Como este tipo de metodologia pode ser utilizado em sala de aula?

LMGR – O trabalho por projeto, como metodologia, pode utilizar diferentes caminhos, contudo, alguns passos podem contribuir com o processo. Alguns deles são:

· Inicialmente, estabelecer elementos disparadores ou desencadeadores do processo, que advêm de temáticas do interesse dos participantes, demandando estudos e aprofundamentos. Com frequência, novos elementos podem ser agregados ao longo do processo, podendo inclusive promover revisões no mesmo.

· Desencadear a problematização daquilo que se definiu para ser estudado e organizado, a partir de conhecimentos e vivências, definindo objetivos, mesmo que provisórios.

· Promover o desenvolvimento de atividades, envolvendo pesquisas do e no coletivo em diferentes fontes, locais e grupos sociais.

· Em vários momentos desse desenvolvimento é importante criar espaços de sistematização e registro de conhecimentos. Assim, os envolvidos terão a oportunidade de produzir sínteses e organizar os achados teóricos e práticos. Os registros podem ter diferentes formatos, como escritos analíticos em portifólios, com textos, fotos, gravações em áudio e vídeo etc.

· Reforçar a avaliação processual, não episódica, oportunizando revisões e gerando enriquecimentos. O sentido da avaliação é a aprendizagem, afastando-se da possibilidade de simples medição de conhecimentos. Daí o porquê de a auto-avaliação tornar-se indispensável.

JP – Quais os aspectos desta metodologia que devem ser observados e levados em consideração na hora de elaborar um projeto como os que participam do Prêmio Professores do Brasil?

LMGR – O profissional que opta por esse modo de trabalho possui um olhar diferente na leitura da realidade e, consequentemente, para sua docência. Isso porque se trata de um investimento pessoal, que é traduzido por posturas que transformam a docência qualitativamente, tornando-a foco de compartilhamento de saberes, vivências e construções de conhecimentos.

Esse profissional, ao elaborar o projeto, deverá promover:

· o desenvolvimento de ações que valorizem o sujeito aluno, proporcionando-lhe meios para um trabalho criativo, coletivo, solidário e intenso de aprendizagem. O projeto não pode ser do professor ou de um pequeno grupo que o protagoniza;

· a valorização da capacidade de análise, reflexão e crítica. O trabalho por projeto pode desenvolver essas capacidades, que são inerentes ao processo e devem estar destacadas e definidas em ações promotoras;

· a valorização de vivências, pesquisas e sistematizações, em articulação a aquisições anteriores e posteriores ao projeto. Os projetos assentam-se nos sujeitos concretos, que vão tecer/construir uma malha de conhecimentos que se amparam naqueles já existentes, podendo superá-los e/ou fortalecê-los, permitindo que outros também componham esta malha, porque significantes para o sujeito.

JP – Os projetos podem ajudar no crescimento pessoal e profissional dos professores?

LMGR – Creio que um dos importantes combustíveis que pode manter os professores motivados e instigados a criar novas alternativas e desafios para a docência está na capacidade de reinventar-se cotidianamente. Esta não é uma tarefa simples, ao contrário, requer disciplina, compromisso, preparo profissional e muita esperança na capacidade de si e do outro.

Certamente, professores vivenciam inseguranças, dúvidas, temores quando assumem a direção, encaminhamento e o produto de processos educativos. Mas a opção pela metodologia de projetos pode contribuir na perspectiva de que as construções são fundamentalmente do coletivo. O professor não precisa revestir-se de poder e domínio, mas pode despir-se deles para orientar e mediar ações, mesmo que sem prescindir de preparo. Esse é um importante aprendizado, que ganha mais significado no cotidiano da docência. As possibilidades de crescimento pessoal e profissional ampliam-se na proporção de que esse professor se identifica como aquele que também aprende, ao longo de todo o processo.

JP – Os cursos de licenciatura preparam os futuros professores para trabalhar com projetos?

LMGR – Com frequência, os cursos de licenciatura discutem superficialmente princípios pedagógicos. Normalmente, eles ocupam um espaço da formação mais como apêndices na organização curricular. Os conteúdos específicos da área são mais valorizados e os futuros professores adentram as salas de aula pautados em muitos “achismos”, ou mesmo modelos, exacerbando inseguranças e ansiosos por fórmulas milagrosas, que melhor os fundamentem na docência. Por outro lado, as licenciaturas não deveriam preparar para o trabalho por projeto, mas já trabalhar por projetos, o que é bastante distinto. Temos assistido professores da área pedagógica, dizendo o como fazer sem, contudo, fazê-lo. A melhor forma de ensinar o trabalho por projeto é permitir que os licenciandos o vivam em sua formação.

Tenho tido a oportunidade de vivenciar essa realidade em um projeto inovador em um setor da Universidade Federal do Paraná. Nesse projeto, as organizações curriculares das licenciaturas deixam de ser “grades”, para flexibilizarem, criarem e resignificarem conteúdos e processos. Temos tido problemas porque professores e alunos necessitam rever conceitos, rotinas e princípios, mas os ganhos pedagógicos são estruturantes. Para aqueles que tiverem interesse, seria interessante conhecer o Projeto Político-pedagógico desse setor: http://www.litoral.ufpr.br/