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JORNAL

Rádio na Escola

Terça-feira, 6 de Março de 2012

Edição 68

EDITORIAL - Rádio na Escola

Rádio na Escola é o tema da 68ª edição do Jornal do Professor. O assunto foi escolhido por 38,81% dos leitores que votaram na enquete colocada em nossa página.

Trazemos para vocês, neste número, as experiências de rádio na escola desenvolvidas pelos professores Marcos Aurélio Batista de Fortaleza (CE); Siddharta Dias de Almeida Fernandes, do Rio de Janeiro (RJ); e Sérgio Sganzerlla, da Bahia.

Como entrevistados, temos o professor Ismar de Oliveira Soares, da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP) e a professora Zeneida Alves de Assumpção, do Departamento de Comunicação da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG).

Na seção Espaço do Professor, participa a professora Maria do Socorro Braga Reis, da Escola Estadual de Ensino Médio Yolanda Chaves, no município paraense de Bragança.

Ajude-nos a escolher o tema das próximas edições, votando na enquete colocada em nossa página. E aproveite para colaborar enviando sugestões, críticas, textos e músicas!

Seja bem-vindo!

Projeto de rádio surpreende pela qualidade em Fortaleza

Professor Marcos e dois alunos

Um projeto de rádio escolar, desenvolvido com alunos da Escola Municipal de Ensino Infantil e Fundamental Mozart Pinto, em Fortaleza, tem se destacado pela qualidade dos programas e pelos bons resultados obtidos. No final de 2011, um programa sobre o Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) conquistou o primeiro lugar do 5º Prêmio da Secretaria Municipal de Finanças (Sefin), na categoria Comunicação Popular.

“Mesmo concorrendo com emissoras de rádio conduzidas por locutores profissionais, com recursos técnicos muito superiores aos nossos, obtivemos o primeiro lugar”, relata, entusiasmado, o professor Marcos Aurélio da Silva Batista. Instrutor de rádio na Escola Mozart Pinto desde 2010, ele trabalha com estudantes de 9 a 13 anos do ensino fundamental. Formado em história e em inglês e músico profissional, registrado na Ordem dos Músicos do Brasil, Marcos Aurélio está no magistério há 13 anos.

Segundo ele, a proposta de rádio escolar leva um pouco de profissionalismo à atividade, pois as gravações são realizadas na própria instituição de ensino, com o auxílio de programas de computador. “À locução dos alunos juntamos temas musicais, vinhetas, jingles, efeitos sonoros e outros recursos”, revela. “Por fim, realizamos a mixagem e a edição final.” Para isso são usados programas de gravação ou softwares oferecidos gratuitamente pela internet.

O resultado são programas com características de rádio profissional, que têm despertado a admiração até de pessoas da área. “Nonato Albuquerque, da Rádio O Povo/CBN, de Fortaleza, comentou em seu blog que os programas realizados pelos meninos poderiam fazer parte da grade de qualquer emissora educativa”, diz Marcos Aurélio.

De acordo com o professor, as atividades da rádio são realizadas no contraturno (turno oposto ao das aulas regulares). Depois de uma reunião inicial para escolha da pauta ou do tema do programa a ser desenvolvido, os estudantes fazem pesquisas e colhem material para a elaboração do roteiro. As gravações são feitas a seguir, em estúdio estruturado na própria escola. Os próximos passos são a mixagem e a edição final, quando o programa será então convertido em áudio no formato mp3.

Blog — A veiculação inicial do programa é feita na própria escola — em cada sala de aula há uma caixa de som. Depois, no blog da rádio na internet, onde fica disponível a qualquer ouvinte. “O blog já recebeu mais de 13 mil acessos, oriundos dos mais diversos países da Europa, das Américas e da Ásia”, adianta o professor. Ele sonha com a possibilidade de estender o projeto a outras escolas do município.

Os programas da rádio escolar abrangem temas educativos, humorísticos, radionovela, radioteatro e narração de histórias, entre outros. A participação dos alunos é voluntária. Marcos diz que a procura é grande, mas há espaço para todos. Aqueles que não são bons leitores ou locutores, aprendem a arte da mixagem e da edição de som. Entre os bons resultados proporcionados aos participantes estão a melhora significativa no comportamento, participação, desinibição, interesse e companheirismo.

Na visão da diretora da escola, Antonia Eliane Sampaio Lima, o trabalho com rádio é significativo. Além de envolver os alunos, traz inovações práticas de aprendizagem que antes não eram desenvolvidas na instituição. Ela espera que o projeto seja mantido em 2012. “Já fizemos o recadastramento no programa Mais Educação, do MEC, envolvendo a atividade de rádio escolar”, salienta a diretora, que exerce o cargo há 16 anos. Pedagoga, com especialização em pró-gestão e em educação pré-escolar, ela atua no magistério há 30 anos. (Fátima Schenini)

Confira o blog da rádio

Rádio ajuda escolas do Rio a atrair o interesse dos alunos

Alunos gravam programa de rádio

Professor de informática educativa em escolas do Rio de Janeiro desde 1991, Siddharta Dias de Almeida Fernandes deu início, em 1997, a experiências com rádio on-line no ambiente escolar. A primeira delas no Colégio São Bento, quando criou a Rádio Interativa. Os programas, temáticos, estimulavam os estudantes a realizar pesquisas e buscas interdisciplinares.

“Não era somente pôr no ar um programa”, diz Siddharta. “Os alunos tinham de ir a campo para entrevistar professores ou outros alunos, fazer contato com músicos e procurar, na escola, eventos ou fatos que pudessem dar uma pauta.” Isso gerou uma dinâmica ativa de envolvimento dos alunos com a escola e com toda a comunidade escolar. “Para nós, professores, a produção dos programas era a fase mais interessante, o momento de os alunos criarem e transformarem suas ideias em uma linguagem radiofônica”, afirma o professor.

Os temas da programação, como maioridade e direitos e deveres civis dos adolescentes, eram escolhidos pelos alunos. O primeiro programa, sobre bandas alternativas, teve a participação de estudantes da instituição integrantes de grupos musicais. De acordo com o professor, a experiência foi interessante e o envolvimento dos estudantes, o melhor possível.

Cada aluno exercia uma função diferente — repórter, locutor, redator, produtor etc. “A rádio tomou uma dimensão muito grande, e os alunos começaram a receber CDs das gravadoras para pôr no ar”, revela. Eles também eram procurados por integrantes de bandas novas interessados em divulgar o trabalho na rádio.

Siddharta criou rádios também em outras instituições de ensino, como o Colégio Estadual Souza Aguiar. “Apesar de escola pública, com menos recursos, nela os programas ficaram muito interessantes”, salienta. No Colégio Garriga de Menezes, a rádio serviu como instrumento de análise para sua dissertação de mestrado em educação, com ênfase em novas tecnologias.

Autoestima — Outra rádio foi criada no Centro Integrado de Educação Pública (Ciep) Presidente Agostinho Neto. Essa experiência, com a participação de alunos de um grupo de aceleração de estudos, é considerada pelo professor como a mais significativa, por envolver estudantes tidos como problemáticos, com um histórico de reprovações consecutivas. “A autoestima de todos ficou elevada quando viraram radialistas e tiveram de rodar a escola em busca de matérias”, constata. “Não eram mais os alunos-problema: eram os criadores da rádio da escola.”

Siddharta, que hoje leciona nos colégios Pedro II, Andrews e Teresiano — colégio de aplicação da Pontifícia Universidade Católica (PUC) do Rio de Janeiro —, não tem mais desenvolvido projetos de rádio. Ele atua agora na área de produção de vídeos. Com licenciatura em matemática, participa de grupo de pesquisa na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) sobre redes públicas de políticas em educação. (Fátima Schenini)

Material produzido por jovens em rádio escolar é rico para a comunidade

Professor Sérgio Sganzerlla

A experiência obtida no decorrer de sua experiência profissional em São Paulo, Salvador e outras cidades do interior baiano, ao dar palestras, ministrar oficinas e desenvolver projetos com rádios, levou o professor Sergio Sganzerlla a abordar, em seu mestrado em educação na Universidade Federal da Bahia (UFBA), o tema Rádio web e educação: comunicação protagonista na formação do cidadão.

Com licenciatura em artes plásticas, ele é professor de arte-educação e educação e novas tecnologias. Leciona atualmente na Faculdade de Ciências Educacionais (Face), nos municípios de Ituberá, Camamú e Travessão e na Ilha de Itaparica, onde reside. Também dá aula de cibercultura e redes sociais digitais, na pós-graduação em comunicação, marketing e redes sociais da Faculdade Cidade do Salvador, em Salvador.

Durante pesquisa realizada entre 2009 e 2011, para sua dissertação de mestrado, percebeu que os jovens envolvidos no projeto de rádio escolar produziram um material muito rico para a comunidade em que estavam inseridos. “Isto é o principal valor da pesquisa”, destaca Sérgio Sganzerlla. “Como estes meninos e meninas, dentro de suas precariedades, conseguiam, através da tecnologia em mídias, acoplar e divulgar culturas, criando novos conhecimentos, apesar de todas as dificuldades.”

Os dados obtidos pela pesquisa estão disponíveis no Banco de Dissertações e Teses da UFBA. Segundo o professor, eles também estão sendo discutidos e levados adiante, com outras pesquisas relacionadas à sua. “A discussão não para e não pode parar. Estes temas são discutidos em minhas aulas e também em ONGs que trabalham com estas mídias”, revela.

Ele trabalha, atualmente, em um projeto de criação de uma rádio universitária na Faculdade Cidade do Salvador. O objetivo é realizar um trabalho com rádio web que inclua alunos da faculdade e da rede pública da comunidade do entorno da instituição de nível superior. “Estou desenvolvendo, também, um projeto para criar um sistema de rede radiofônica entre as escolas públicas e universidades para desenvolvimento e discussão da mídia radiofônica na educação, com oficinas de capacitação e criações de rádios visando a formação cidadã e geração de dados para futuras pesquisas”, informa o professor.

Criador e coordenador da Juba Rádio Escolar, na Escola Estadual João Ubaldo Ribeiro, em Itaparica, Sérgo Sganzerlla lembra com saudade do projeto que funcionou no período de 2002 a 2005, com a participação de estudantes do ensino médio. “A Juba descobriu uma forma dos jovens se identificarem e vivenciarem valores como a solidariedade social, a realização pessoal, a capacitação crítica, a consciência de seus direitos e deveres, a auto-estima e o respeito”, analisa o professor.

Segundo ele, o desafio dessa proposta foi oferecer aos adolescentes a escolha de suas verdades e seus sonhos de futuro, praticando um processo educativo dentro da sua contemporaneidade e da sua realidade. Sua motivação era no sentido de que, juntos, educadores e estudantes pudessem construir e idealizar valores que permitissem sair da indiferença, da desesperança, da apatia, dos descaminhos, de forma a provocar uma nova atitude, a um olhar crítico da realidade e a uma avaliação de todos os elementos que contribuem para a realização do ser humano e do ser cidadão, ativo e participativo.

Durante o funcionamento da rádio foram desenvolvidas diversas ações, em diferentes linhas e contextos. Um exemplo são as ações de capacitação, quando educadores ou consultores, eram convidados a discutir temas relacionados à rádio, música, educação ou ao universo dos adolescentes, para instrumentalização dos estudantes. Outro exemplo são as ações de multiplicação, os temas discutidos nas ações de capacitação eram multiplicados para outros jovens ou professores. Cidadania, sexualidade, drogas, preconceitos, família, cultura popular, música, discriminação racial, e o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) foram alguns dos conteúdos mais discutidos nas ações de multiplicação.

Na visão de Sérgio Sganzerlla, a Juba Rádio Escolar “favoreceu significativamente a disciplina dos alunos, proporcionando, aos mesmos, o comprometimento nas atividades, a assimilação das regras de convivência em grupo e o prazer pelo trabalho.” Para ele, a rádio proporcionou aos estudantes um “ambiente favorável para a reflexão política, pressuposto fundamental para a construção de uma cidadania jovem, onde a sensibilidade, a solidariedade e a disponibilidade são valores essenciais”. (Fátima Schenini)

Zeneida Alves de Assumpção (UEPG): rádio na escola pode ser um mecanismo de ensino, educação e cultura

Professora Zeneida Alves de Assumpção

Professora do Departamento de Educação da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), no Paraná, Zeneida Alves de Assumpção implantou e coordena a Radioweb da instituição.

Doutora em Comunicação e Semiótica pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, mestre em Comunicação Social pela Universidade Metodista de São Paulo, é graduada em Comunicação Social pela Universidade Federal do Paraná. Jornalista aposentada da Prefeitura Municipal de Curitiba, é pesquisadora em Mídia-Educação e Jornalismo Científico.

Em entrevista ao Jornal do Professor, Zeneida Alves de Assumpção afirma que a utilização do rádio na escola poderá ser um mecanismo de ensino, educação e cultura permanentes e um vetor de incentivo à toda a comunidade escolar. Em sua visão, é uma mídia eletrônica de fácil acesso, que pode ser instalada em qualquer escola, com equipamentos simples e custos pequenos.

Jornal do Professor – Qual a colaboração que a utilização de uma rádio na escola pode trazer para o ensino e a educação?

Zeneida Alves de Assumpção – São muitas. A radioescola poderá contribuir com o ensino e a educação de forma crítica e contextualizada. Ela é um vetor de incentivo para toda a comunidade escolar, do aluno à cantineira/merendeira, que poderá anunciar qual será o cardápio de merenda semanal, por exemplo. O anúncio do novo cardápio poderá, por exemplo, ser feito pelos próprios estudantes através da radioescola. Assim, eles colocarão em prática a oralidade e conhecimentos aprendidos e apreendidos em diversas aulas: língua portuguesa (nesse momento, os alunos poderão colocar em prática a escrita, o falar corretamente), ciência (os conhecimentos sobre alimentos, a saúde, o se alimentar bem, a cultura dos alimentos, etc..), história (a origem dos povos e alimentação); geografia (tipos de alimentos e solos), etc... sem ninguém estar corrigindo-os com “caneta vermelha”. Nesse contexto, a escola deixa de ser o “panóptico” e passa a ser a ser parceira do ensino, da educação e da cultura, tendo a radioescola como aliada, permitindo aos estudantes a livre liberdade de expressão, pensamento, comunicação e construção do próprio conhecimento.

A mídia radiofônica (seja qual for à tecnologia utilizada) necessita tanto da escrita quanto da fala, do conhecimento, da cultura geral. Nesse aspecto, reside a relevância da radioescola no espaço escolar. Ela poderá ser um mecanismo de ensino, educação e cultura. Quando falamos aqui de educação e de cultura, não estamos nos remetendo somente à educação escolar, mas também à educação e cultura permanentes. A rádio (tradicional/hertziana, webradio, radio-online) faz parte do cotidiano de alunos, pais, professores, gestores e funcionários pertencentes à comunidade escolar e divulgam, de alguma forma, cultura. Quando os alunos utilizam a radioescola no espaço escolar orientados por professores, passam também a perceber e questionar a mídia radiofônica externa com outros olhos e ouvidos. Ou seja: com olhos e ouvidos mais aguçados, mais críticos. A radioescola poderá, então, colaborar com o ensino e educação dentro e fora dos muros escolares.

JP – Quais as habilidades que o projeto de uma rádio pode desenvolver com professores e alunos?

ZAA – Os professores precisam entender que as mídias estão presentes na vida e no cotidiano das pessoas, inclusive de seus alunos. O rádio é considerado a primeira mídia eletrônica de fácil acesso e vem contribuindo com a educação escolar e não-formal desde os seus primórdios. A radioescola também é de fácil acesso e qualquer escola poderá instalá-la. Os recursos são de custos pequenos. A radioescola permite o desenvolvimento de determinadas habilidades: a) fluência na leitura de pequenos textos (mensagens) ao microfone; b) interpretação; c) produção de texto; d) espírito de equipe e companheirismo; e) responsabilidade com a programação da radioescola e com os ouvintes; f) síntese de textos; g) pesquisa de temas; h) iniciativa própria de estudantes e professores; i) análise crítica do meio radiofônico e demais mídias; j) eloquência...

JP – De que maneira o professor pode utilizar essa ferramenta na sala de aula? Quais os conteúdos que podem ser desenvolvidos por meio dela? Dê alguns exemplos.

ZAA – A radioescola deve ser utilizada na sala de aula de forma problematizadora e crítica, levando o educando (emissor/receptor) à aquisição do conhecimento sistematizado, à reflexão e a possíveis intervenções no seu cotidiano (seja escolar ou fora dele). Ela deverá possibilitar ao estudante compartilhar, democratizar, com outros colegas, o saber elaborado e novos conhecimentos. Para isso, o estudante e professor deverão conhecer e se familiarizar com a linguagem radiofônica, promover o intercâmbio de informações entre estudantes e comunidade escolar, ter conhecimento técnico e artístico de emissora radiofônica, bem como o conhecimento sobre mensagens elaboradas (por meio da edição).

A radioescola possibilita trabalhar com a maioria dos conteúdos. Dentre eles: geografia, história, ciência, artes, educação física, língua portuguesa, literatura, língua estrangeira. Por exemplo: língua portuguesa (produção e edição de textos; leitura e interpretação de textos mediante notas, notícias, reportagens, entrevistas). Na literatura (peças radiofônicas de contos consagrados de Machado de Assis ou de livros indicados para o vestibular); língua estrangeira (um programa de entrevista com professores das disciplinas de francês, italiano, inglês, espanhol, alemão, etc..., posteriormente questionado em sala de aula); ciência (uma radionovela falando sobre alimentação, nutrição, saúde, meio ambiente....); história (programa de entrevista sobre o Egito antigo ou outro tema). Cabe aqui a criatividade do professor e o direcionamento dele para com os alunos e para com a radioescola. Qualquer produto a ser produzido pelos alunos e veiculado pela radioescola deverá ter o direcionamento pedagógico de forma democrática.

JP – Como inserir o projeto de uma rádio escola no projeto pedagógico da escola? Há sugestões de projetos prontos bem desenvolvidos?

ZAA – Para que a radioescola seja inserida no projeto pedagógico da escola e que dê certo, é primordial que a escola não seja adepta de uma pedagogia tradicional. Qualquer projeto envolvendo mídias jamais terá bons resultados se a comunidade escolar, professores e gestores não forem democráticos e participativos. Em 1994, a Secretaria de Educação Municipal de Curitiba implantou, em várias escolas, o meu projeto Radioescola. Ele permaneceu atuante por seis anos ininterruptos. Atualmente, ele reaparece também numa das escolas municipais de Curitiba. A programação realizada por estudantes sob a coordenação/orientação de professores e jornalistas é veiculada pela Radioweb da Prefeitura de Curitiba.

Outra experiência nesse sentido foi um de meus projetos, intitulado “Pedagogia da comunicação, mídias e ensino: o uso delas na educação”. Esse projeto contemplava a Rádioescola Meneleu. Alunos do ensino médio do Colégio Estadual Professor Meneleu, em Ponta Grossa, participavam desse projeto realizado sob minha coordenação, na UEPG. Nos encontros semanais, os estudantes do ensino fundamental discutiam e produziam a programação, a qual era veiculada pela a Radioweb-UEPG.

JP – Quais os equipamentos básicos necessários para que uma escola possa produzir programas de rádio?

ZAA – Os equipamentos são simples. Com o advento da internet e com a presença dela nas escolas, há mais facilidade hoje dessas instituições instalarem suas próprias webrádios-escolas. Basta ter um computador, uma mesa de áudio de 12 ou 16 canais. Talvez, o pior entrave seja a capacitação docente. Por isso, é necessário que haja políticas educacionais públicas para a inclusão das mídias na sala de aula. Assim, os professores deverão ser capacitados (mídia-radiofônica e informática). Os estudantes aprendem rapidamente a informática básica e as mídias. Eles são “a geração da rede”, na concepção de Juan Luis Cebrian (1999). Porém, precisam do professor capacitado também.

JP – A senhora coordenou o programa Rádio Aluno, em 1995 e 1996, em que jornalistas e estudantes de escolas públicas municipais, estaduais e particulares produziam programas que eram veiculados na Rádio Educativa do Paraná. O que pode nos contar sobre essa experiência? Quais os principais resultados obtidos com os estudantes?

ZAA – As minhas atividades como coordenadora do Programa Rádio-Aluno começaram em abril de 1995 e encerraram-se em setembro de 1996, com 40 programas produzidos por alunos e levados ao ar pela Rádio Educativa do Paraná e demais emissoras do interior paranaense. Nesse período de vigência do Rádio-Aluno, diversas escolas públicas e particulares de Curitiba e interior do Paraná participaram desse programa. A metodologia do projeto funcionava assim: as escolas eram comunicadas sobre a visita de minha equipe. Os alunos escolhiam os temas e os discutiam democraticamente entre eles e com os professores. Os temas eram repassados à minha equipe. De posse dos temas e convidados, a minha equipe se dirigia à escola. Com as externas da Rádio Educativa montada na sala de aula, os alunos faziam entrevista com os convidados sobre o tema em pauta. Por exemplo: tema “Pena de Morte” (os alunos escolheram esse tema e estudaram-no com os professores). A nossa equipe convidou especialistas de diversas áreas: teológica, jurídica, educacional, psicologia, psiquiatria, entre outras, para serem entrevistados pelos estudantes. E, dessa forma, ocorreu com os 40 programas, dentre eles: “Aborto”, “Namoro na Adolescência”; “Mercado de Trabalho”; “Gravidez na Adolescência”; “Brigas de Torcida de Futebol”; “O Jovem e a Religião”; “A televisão”; “Ecologia” e outros. Os temas escolhidos pelos estudantes sempre se relacionaram com temas sociais que os afligiam.

O Programa Rádio-Aluno era constituído por três blocos: 1) “Rádio-Aluno Informa”; 2. “Rádio-Aluno Debate” e 3) Rádio-Aluno integrando o Paraná”. Nos três blocos havia a participação dos estudantes de ensino fundamental. Dentre os principais resultados dessa iniciativa, é de que os alunos ao escolherem democraticamente os temas, os pesquisavam cientificamente mediante ajuda dos professores e procuravam obter mais conhecimentos para poderem questionar e debater com os especialistas convidados. Dessa forma, os estudantes construíam o conhecimento sobre o tema, livremente, sem cobranças de professores. Nesse aspecto, a radioescola é uma grande aliada da educação e do ensino-aprendizagem. O projeto/programa foi encerrado devido a meu retorno à Universidade Estadual de Ponta Grossa e meu ingresso no Programa de Pós-Graduação Sctrito Sensu (doutorado em Comunicação e Semiótica) da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), em 1997.

Acesse o site da UEPG

Acesse o site da Radioweb UEPG

Rádio de alunos informa e diverte na hora do recreio

Uma rádio voltada à divulgação de informações e ao entretenimento da comunidade escolar, na hora do recreio, é a tônica da RadioAção, no Distrito Federal. Com a participação de alunos do ensino fundamental, integrantes do programa Escola Integral, a emissora funcionou no Centro de Ensino nº 03 do Guará (Centrão), no período de 2005 a 2010, com bons resultados.

Em datas comemorativas ou para propagar temas da atualidade, os estudantes produziam programas focados em um ou dois assuntos propostos pela escola para serem explorados em cada bimestre. De acordo com o assistente pedagógico do Centrão, Cláudio Marcos Monteiro Valadares, um dos temas passíveis de serem explorados pelos alunos é o Dia da Consciência Negra, celebrado em 20 de novembro. Segundo ele, a data possibilita uma reflexão sobre a inserção do negro na sociedade brasileira.

Outro tema de interesse seria, por exemplo, despertar uma consciência ambiental entre os estudantes a fim de que se tornem cada vez mais conscientes de seu papel e de suas atitudes para uma maior preservação da natureza e do planeta. “Com os programas de rádio são repassadas informações importantes sobre o tema em pauta”, destaca Cláudio Marcos.

Ao mesmo tempo em que os alunos se aprofundavam nesses temas, aprendiam a exercer as principais funcões existentes em uma rádio, tais como: locutores, repórteres, e produtores. A tarefa de ensinar os alunos a manusear os equipamentos cabia ao professor ou ao coordenador de ensino.

Para participar da rádio era necessário, primeiramente, se candidatar. Uma vez aceitos, os alunos deveriam seguir um roteiro em que estava determinado o tempo para cada entrevista, enquete ou música a ser apresentada. Também era feita uma triagem das músicas para selecionar quais eram adequadas ou não. A apresentação, como um todo, era avaliada pela professora Gilma Ribeiro dos Santos, coordenadora do programa Escola Integral, ao qual os alunos estavam ligados.

Criada pela diretora Zilda de Melo Soares para proporcionar informação e entretenimento, a RadioAção encontra-se parada, atualmente, para manutenção dos equipamentos. O projeto da rádio teve o apoio da Associação de Pais e Mestres e foi ampliado pelo programa Mais Educação, do Ministério da Educação (MEC). Criado em 2007, esse programa aumenta a oferta educativa nas escolas públicas por meio de atividades optativas, que incluem, entre outras, as seguintes áreas: esporte e lazer; cultura digital; educação científica; prevenção e promoção da saúde; cultura e artes; acompanhamento pedagógico. (Ana Júlia Silva de Souza)

Professora e alunos do Pará criam encarte sobre informática

Maria do Socorro e alunos na sala de informática

Há 26 anos no magistério, Maria do Socorro Braga Reis trabalha na Escola Estadual de Ensino Médio Yolanda Chaves, no município paraense de Bragança, a 220 quilômetros de Belém. Pela manhã e à noite, ela dá aulas de língua portuguesa, literatura brasileira e informática educativa. À tarde, desenvolve atividades na sala de informática, onde atende alunos, servidores e membros da comunidade.

Licenciada em letras pela Universidade Federal do Pará, com especialização em Mídias na Educação, ela cursa licenciatura em Computação na Universidade Federal Rural da Amazônia (Ufra) por meio do Plano Nacional de Formação Docente (Parfor).

Um dos resultados práticos do trabalho de Maria do Socorro é o encarte que produziu juntamente com os estudantes, como uma das etapas do projeto Informática Educativa na Construção dos Saberes. Esse encarte, que acaba de ser impresso, será distribuído a professores dos municípios de Bragança e de Augusto Corrêa.

“Como as redes sociais são as preferidas dos alunos, foquei especificamente no Facebook para desenvolver o projeto”, explica Maria do Socorro. Ela conta que criou um grupo chamado Informática Educativa Yolanda Chaves e adicionou os alunos objetivando, principalmente, o uso efetivo das redes sociais no ensino aprendizado e utilizando também as mídias sociais.

“Com o auxilio do projetor, mostrava a minha turma como fazer as pesquisas, testar links, e por último publicar dentro do grupo, depois comentar etc”, relembra a professora. Segundo ela, não foi uma tarefa fácil, pois muitos alunos não tinham email ou não lembravam da senha. “Foi necessário oferecer uma oficina de criação de email”, diz Maria do Socorro.

A segunda etapa do projeto consistia em criar um Facebook para a escola, onde criamos os grupos por disciplinas. Tudo que era encontrado era anotado pelos alunos, com ajuda do editor de textos, para que fizesse parte do encarte. “Esperamos que os professores possam fazer uso da internet ou dos softwares educativos livres como ferramentas de ensino-aprendizagem”, adianta a professora. Sua esperança é de que o projeto possa contribuir para o uso efetivo dos espaços informatizados das escolas. (Fátima Schenini)

Ismar de Oliveira Soares (USP): uso educomunicativo do rádio pode trazer alegria e autoconfiança

Professor Ismar Soares

Professor titular da Universidade de São Paulo (USP), Ismar de Oliveira Soares coordena, desde 1996, o Núcleo de Comunicação e Educação da Escola de Comunicações e Artes. Coordena, também, a implementação da Licenciatura em Educomunicação junto à Escola de Comunicações e Artes da USP. Exerce, ainda, a função de supervisor do Projeto Mídias na Educação do MEC, no Estado de São Paulo.

Mestre e doutor em Ciências da Comunicação pela USP, com pós-doutorado pela Marquette University Milwaukee, WI, USA, é bacharel em geografia e em jornalismo e licenciado em história.

Em entrevista ao Jornal do Professor, Ismar Soares fala sobre os benefícios do rádio na educação. Em sua visão, a implantação de uma rádio na escola pode representar o primeiro passo para uma mudança mais profunda na maneira de educar e ser educado. “O uso educomunicativo do rádio pode trazer para a escola a alegria do pertencimento e a autoconfiança próprio do exercício do protagonismo infanto-juvenil”, defende.

Ele fala, ainda, sobre os equipamentos básicos necessários para a produção de programas de rádio em uma escola, o curso de licenciatura em Educomunicação criado pela Escola de Comunicações e Artes da USP, em 2009 e o Projeto Educom.rádio, em funcionamento, desde 2001, na rede municipal de ensino de São Paulo.

Jornal do Professor – Quais os benefícios que a utilização de uma rádio na escola pode trazer para o ensino e a educação?

Ismar de Oliveira Soares – Os benefícios são de duas ordens: didática e política. Para o processo de aprendizagem, numa perspectiva didática, uma rádio na escola abre a possibilidade de um tratamento diferenciado tanto para as atividades interdisciplinares e extraclasses, quanto para o desenvolvimento dos conteúdos curriculares, permitindo aos alunos lidar com novas linguagens. Favorece, especialmente, as propostas de ensino integral, como se constata pela preferência das escolas vinculadas ao macrocampo “Comunicação e uso de Mídias”, do programa Mais Educação do MEC, pela mídia rádio. Já numa perspectiva mais complexa, sob o ponto de vista da educomunicação, a prática da linguagem radiofônica é um excelente recurso na construção do que definimos como “ecossistema comunicativo aberto e democrático”. Em outras palavras, uma rádio na escola favorece o exercício de relacionamentos igualitários e colaborativos entre todos os membros da comunidade educativa, envolvendo professores e alunos. Isso ocorre, naturalmente, quando os educadores valorizam o trabalho em grupo e não as iniciativas isoladas deste ou daquele pequeno gênio. O grande benefício, no caso, passa a ser de natureza política: os alunos acabam aprendendo que existem outras formas de produzir comunicação, além do modelo clássico, pelo qual o direito de expressão é garantido apenas a indivíduos e grupos privilegiados política ou economicamente.

JP – Quais as habilidades que o projeto de uma rádio pode desenvolver com professores e alunos?

I. O. S. – Mais que desenvolver habilidades específicas, como a da expressão oral, uma prática comunicativa com o uso da linguagem radiofônica, quando assumida e utilizada pelos próprios alunos, pode favorecer o desenvolvimento de um paradigma diferenciado de educação: aquele identificado por Paulo Freire como sendo essencialmente dialógico e participativo. Trata-se de um paradigma que necessita, para ser efetivo, estar claramente explicitado na política político-pedagógica da escola, levando em conta que toda a comunidade, a começar pelo corpo docente, necessita afirmar a intenção de busca por este formato de relacionamento no interior do espaço educativo. No caso, um uso educomunicativo da linguagem radiofônica leva, ao final, ao fortalecimento coletivo de uma grande habilidade: a de ampliar os espaços de expressão nos ambientes de ensino, como propõem, por exemplo, os novos parâmetros para o ensino fundamental de 9 anos.

JP – De que maneira o professor pode utilizar essa ferramenta na sala de aula? Quais os conteúdos que podem ser desenvolvidos por meio dela?

I. O. S. – Podemos falar em “ferramentas” e em “conteúdos” quando pensamos no uso deste recurso no contexto da prática de ensino. No caso, a primeira disciplina a ser beneficiada é a língua portuguesa, favorecendo, por exemplo, a compreensão da diferença entre a língua culta e a linguagem popular. Através da produção de pequenos programas de rádio podem ser experimentadas as várias opções de expressão, do gênero descritivo ao opinativo, em formatos, os mais variados, enriquecidos com a mixagem de linguagens, em que a voz humana é associada aos cenários sonoros oferecidos pela música instrumental e cantada. Outras disciplinas, especialmente as que privilegiam as narrativas, como a história e a geografia, ou mesmo atividades interdisciplinares, como as voltadas para a educação em valores ou a educação ambiental, apresentam-se como espaços naturais para o uso da linguagem radiofônica. No entanto, entendemos que a presença de uma rádio na escola pode representar o primeiro passo para uma mudança mais profunda na maneira de educar e ser educado: a autogestão do conhecimento sobre o próprio processo de comunicação: o uso educomunicativo do rádio pode trazer para a escola a alegria do pertencimento e a autoconfiança próprio do exercício do protagonismo infanto-juvenil.

JP – Como inserir o projeto de uma rádio escolar no projeto pedagógico da escola? Há sugestões de projetos prontos bem desenvolvidos?

I. O. S. – A linguagem radiofônica pode entrar num programa de ensino em diferentes fases, dependendo do entendimento dos gestores ou dos professores sobre a relação entre educação e meios de comunicação: A primeira fase é a da aproximação, mediante oficinas sobre as características da linguagem e do uso dos diferentes equipamentos indispensáveis à produção de spots e de pequenos programas. Os alunos se aproximam desta primeira escala numa perspectiva lúdica: o que querem mesmo é brincar! É preciso levar em conta que, independentemente da idade (alunos do fundamental ou ensino médio), um equipamento de produção radiofônica aproxima o estudante de seu cotidiano e faz vibrar sua imaginação.

A segunda fase é a do uso do rádio como apoio didático, quando a linguagem midiática passa a ser usada para integrar os diferentes processos de ensino/aprendizagem sobre objetos específicos do conhecimento. Nesse momento, o papel do professor é essencial, não apenas para orientar os alunos sobre os conteúdos a serem desenvolvidos, mas também ajudá-los sobre as maneiras de empregar a linguagem radiofônica em seu tratamento. Como os professores, em geral, não têm familiaridade com as linguagens midiáticas, a assessoria de um especialista, como o educomunicador, passa a ser de grande valia, nessa etapa.

Já a terceira fase diz respeito à opção pela prática educomunicativa, quando o uso do rádio se associa ao de outras linguagens, integrando professores e estudantes em projetos interdisciplinares voltados expressamente para melhorar as relações de comunicação no interior no da escola. Em geral, a busca pela construção de ecossistemas comunicativos abertos e criativos se associa ao tratamento de outros objetivos relacionados com a prática da cidadania, como o envolvimento da comunidade com a educação ambiental, a redução ou eliminação do bullying, ou mesmo a promoção do protagonismo infanto-juvenil no desenvolvimento de ações de interesse da comunidade educativa.

Quanto a possíveis sugestões a partir de modelos já aplicados, podemos lembrar a prática educomunicativa nas escolas da rede municipal da cidade de São Paulo, iniciada a partir do curso Educom.rádio, oferecido às escolas públicas pelo Núcleo de Comunicação e Educação da USP, entre 2001 e 2004. Passados dez anos do início do projeto, em aproximadamente 300 escolas desta rede de ensino são encontradas atividades que correspondem às diferentes fases ou etapas de uso do rádio na educação, associando, nesse processo, outras linguagens, todas mediadas pelo computador e pela internet. Especialistas têm sido contratados pela prefeitura, desde 2009, para colaborar na manutenção do processo em todas as escolas que optam pela educomunicação. Informações sobre as ações da prefeitura nessa área podem ser encontradas no blog: http://blogandonasondasdoradio.blogspot.com/

JP – Quais os equipamentos básicos necessários para que uma escola possa produzir programas de rádio?

I. O. S. – Para produzir um programa de rádio, precisamos de poucos recursos: um gravador de mão digital para entrevistas e captação de matérias em externa (alguns telefones celulares vêm com esse recurso); um computador com microfone, para gravar as locuções; e um programa de edição de áudio que possibilite a edição final do programa. Pode-se usar um software livre chamado Audacity para essa atividade. Este software permite a inclusão de fundo musical e efeitos sonoros no programa que está sendo produzido.

O programa pronto pode então ser salvo em um formato de áudio como o MP3. Nesse formato, ele tanto pode ser reproduzido no local, para ser ouvido pela comunidade escolar, para o que será necessário que se tenha à disposição um amplificador e caixas de som, ou mesmo disponibilizado na internet. Para a disponibilização na ciberespaço existem várias alternativas. Uma delas é o Podomatic, um site onde pode ser criada uma página para a rádio, nela disponibilizando todos os programas produzidos.

JP – O senhor se referiu ao Projeto Educom.rádio, implantado em 2001, pela USP, na rede municipal de ensino de São Paulo. O que pode nos contar a respeito dessa experiência?

I. O. S. - É importante lembrar, inicialmente, que o projeto Educomunicação pelas Ondas do Rádio - Educom.rádio - foi desenhado a pedido da Secretaria de Educação como um programa especial, fora da área curricular, destinado a combater a violência nas escolas públicas. Entendiam a Prefeitura e o NCE-USP que, através de uma prática educomunicativa voltada a cultivar relações dialógicas entre professores e alunos, mediante uma gestão compartilhada dos recursos da comunicação, seria possível obter o que outras iniciativas não haviam alcançado.

Para tanto, a formação - oferecida aos sábados, ao longo de 12 semanas, em sete fases, correspondentes a sete semestres sucessivos, entre 2001 e 2004 - buscou atingir 25 pessoas de cada uma das 455 escolas matriculadas (aproximadamente 12 professores, 10 alunos e três colaboradores da comunidade).

Um total de 11 mil membros das comunidades educativas (sendo 6.600 professores, 3.500 alunos e 900 membros das comunidades) foram habilitadas a planejar o uso do rádio para melhorar as relações de comunicação em suas respectivas escolas. As formações ocorriam em polos, nas várias regiões da cidade, reunindo, cada um, entre 80 a 120 pessoas.

O que caracterizou a formação foi o fato de ter sido oferecida conjuntamente a professores e alunos, justamente para facilitar o exercício do convívio e da solução compartilhada dos problemas que afligiam suas respectivas unidades escolares. Um vídeo no Youtube apresenta os detalhes da proposta.

Ainda no final do ano de 2004, o Educom.rádio foi transferido da área dos projetos especiais para a área curricular, a partir do entendimento de que interessava à política da Secretaria de Educação que o tema da gestão da comunicação se convertesse em preocupação central para gestores e docentes.

No dia 12 de dezembro de 2011, a Secretaria de Educação celebrou, no CEU Aricanduva, na Zona Leste da cidade, no dia 12 de dezembro, os dez anos da prática educomunicativa nas escolas públicas do município, fato inédito, somente possível pelo compromisso assumido tanto pelas sucessivas administrações como por professores e alunos no sentido de manter os fundamentos da ação educomunicativa, voltada essencialmente para ampliar as habilidades comunicativas dos professores e alunos, assistidos pelo poder público através de uma coordenação central e de um programa de reforço na capacitação de seus docentes.

É comum encontrar alunos das escolas municipais entrevistando autoridades, intelectuais, especialistas e políticos em eventos como a Campus Party ou a Bienal do Livro, publicando suas produções nas web-rádios de suas escolas. O que mais chama a atenção, no entanto, é o convívio diferenciado nas escolas que optam pelo modelo educomunicativo do uso do rádio.

JP – O senhor coordena a implementação da licenciatura em Educomunicação junto à escola de Comunicações e Artes da USP. Qual é o objetivo básico desse curso? Que tipo de profissional ele irá formar?

I.O. S. – A licenciatura em Educomunicação foi criada, na USP, em novembro de 2009, depois de 10 anos de investigação científica e de assessoria a políticas públicas de educação por parte do Núcleo de Comunicação e Educação da mesma universidade. Foi, na verdade, em 1999, que o NCE concluiu uma pesquisa envolvendo a América Latina sobre a natureza das relações entre a comunicação e a educação, identificando, ao final, que um procedimento diferenciado marcava a prática dos sujeitos sociais que trabalhavam na interface entre a comunicação e a educação. Tais agentes culturais, que vinham trabalhando nessa linha alternativa ao longo de toda a segunda metade do século XX, entendiam que a comunicação, quando implementada de forma democrática e solidária, representava um eixo transversal para todo o processo educativo, transformando-o em seus procedimentos e resultados. Nessa perspectiva, entendiam os mesmos agentes que as tecnologias, mais que suportes ou ferramentas a serviço da educação, poderiam até mesmo influenciar os próprios paradigmas que regiam as práticas educativas. A opção destes agentes culturais foi denominada pelos pesquisadores do NCE-USP como Educomunicação. O termo, em si, já vinha sendo usado desde os anos de 1980 pela Unesco para designar os projetos de educação para os meios (media education). Ao ser ressemantizado pelo NCE-USP, o conceito passou a englobar outras áreas de trabalho, entre as quais as “mediações tecnológicas” a serviço das relações dialógicas nos espaços educativos, alcançada apenas quando a comunicação passa a ser uma ação compartilhada pelos sujeitos vivos do processo educativo, em igualdade de condições. É o que se denomina como “gestão da comunicação nos espaços educativos”, entendida sempre como necessariamente participativa.

O problema que se colocou para o NCE-USP foi o de levar à prática a teoria que havia elaborado a partir de suas pesquisas, provando, primeiramente para a sociedade e depois para a própria universidade, que era viável aplicar o conceito a realidades complexas, como as que se fazem presente em espaços como os representados pelas redes escolares, públicas ou privadas.

Nesse sentido, entre 1999 e 2009, uma série de experiências foram realizadas e documentadas, tanto no âmbito escolar como no âmbito das práticas sociais, envolvendo a educação não-formal. A rapidez com que o conceito se difundiu e o modo como alcançou dialogar com segmentos da sociedade, como os envolvidos com a educação ambiental, a mídia educativa e cultural e os sistemas educativos público e privado, acabou dando sustentação para que a USP aceitasse os argumentos da Escola de Comunicações e Artes e permitisse que um novo curso, em nível de graduação, fosse instalado, em seus campus, no Butantã, na cidade de São Paulo.

A licenciatura em Educomunicação formará, em primeiro lugar, um professor de comunicação para atender as demandas do Ensino Médio. Formará, simultaneamente, um assessor tanto para os sistemas educativos, presenciais e a distância, quanto para os demais segmentos sociais voltados para a relação entre a comunicação e a educação, como o Terceiro Setor e a própria Mídia.

No caso das linguagens da comunicação - como é o caso do rádio - no ensino infantil, fundamental ou médio, o novo profissional prestará consultorias e assessorias que facilitem o trabalho de seus colegas professores e dos próprios alunos, garantindo subsídios teóricos e técnicos que assegurem que a comunidade educativa seja beneficiada, como um todo, pelo emprego compartilhado e democrático destes recursos, colaborando, desta forma, para ampliar o potencial comunicativo dos sujeitos sociais.