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JORNAL

Especial Dia do Professor

Quarta-feira, 15 de Outubro de 2008

Edição 7

EDITORIAL - Especial Dia do Professor

Em sua sétima edição, o Jornal do Professor aproveita a passagem do Dia do Professor, no dia 15 de outubro, para fazer uma homenagem aos educadores.

 

Nesta edição especial você vai conhecer uma professora aposentada que fala sobre o início de sua carreira, há cerca de 70 anos; três jovens estudantes de pedagogia e suas expectativas para o futuro; a história da professora que já teve três projetos premiados nacionalmente; além de saber qual é a importância da capacitação dos professores para a melhoria do ensino.

 

Ainda nesta edição, uma entrevista com o presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Educação, Roberto Franklin de Leão.

 

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Respeito e gratidão ajudavam a superar dificuldades da profissão

Professora Jandyra Leal Diehl, de Porto Alegre (RS).

Com água de poço e à luz de velas. Assim era o cotidiano dos professores que trabalhavam em áreas rurais, onde não existia luz elétrica nem água encanada, há cerca de 70 anos. Esta realidade foi vivida de perto pela professora Jandyra Leal Diehl, 93 anos, de Porto Alegre, quando foi lecionar em Linha Oito, pequena localidade de colonização polonesa, no interior de Ijuí, noroeste do Rio Grande do Sul.

Formada pelo Colégio Bom Conselho, em 1932, com o título de bacharelanda complementarista, Jandyra deu aulas de química em escola particular durante alguns anos até que, em 1937, fez o primeiro concurso para professores promovido no Estado. Foi classificada em 68º lugar entre os 1.800 aprovados. Naquela época, o professor tinha que fazer dois anos de estágio no interior, antes de ser nomeado. A localidade era designada de acordo com a classificação obtida no concurso e procurava levar em conta a proximidade da família. Apesar da excelente colocação, Jandyra foi mandada para Linha Oito, cerca de 400 quilômetros distante da capital, devido a um erro ocorrido na publicação dos resultados.

Ao terminar o primeiro ano do estágio, o professor podia escolher outra localidade, mas Jandyra preferiu permanecer no mesmo local, onde dava aulas para o antigo 5º ano primário. O pequeno vilarejo, com apenas uma rua, e três casas de alvenaria, dispunha de uma casinha de madeira para cada educador, mas ela preferiu morar na própria escola, junto com as demais professoras, para ficar acompanhada e ter mais segurança.

No final do segundo ano, os professores eram enfim nomeados, embora devessem fazer mais um ano de estágio em uma cidade de sua própria escolha. Jandyra preferiu então ir para São Gabriel, no sudoeste do Estado, onde vivia seu noivo. “Depois de poucos meses, a diretora da escola em que eu trabalhava entrou de licença para ganhar bebê e assumi a direção. Fui a escolhida entre as 18 professoras da instituição, que já trabalhavam lá há mais tempo”, conta. Quando a antiga diretora retornou, relembra Jandyra, não quis mais exercer a função, preferindo ficar mais tempo em casa com o filho. “Aí permaneci no cargo, por cerca de sete anos”.

Para acompanhar o marido, que precisou mudar de cidade por exigência do trabalho em uma instituição bancária, Jandyra também trabalhou em Rio Grande e em Porto Alegre. Naquele tempo, destaca, ser professora era o único emprego considerado aceitável para moças “de família”. Além disso, a profissão era conceituada, as professoras muito respeitadas, tanto pelos estudantes como por seus pais, e o salário, era muito bom.

Lembrada, até hoje, por inúmeros alunos, Jandyra diz que “antigamente, os alunos tratavam suas professoras de uma maneira bastante respeitosa e correta”. Ela cita, com carinho, Luiz Odorizzi, que seguidamente a visita. “Era um aluno querido, que veio de uma cidade da colônia italiana para trabalhar e estudar em Porto Alegre. Sabia a gramática, porém sua pronúncia não era adequada. Prontifiquei-me voluntariamente a corrigi-lo e hoje é com grande satisfação que vejo sua inesquecível gratidão. Como possui uma confeitaria, seguidamente me presenteia com tortas.” (Fátima Schenini)

Carreira de magistério ainda atrai

José R.Tavares, estudante da Univ.Cat.de Brasília

Aluno do sexto semestre de pedagogia na Universidade Católica de Brasília (UCB), na cidade satélite de Taguatinga (DF), José Reinaldo Oliveira, 22 anos, acredita que a área do magistério é "maravilhosa", apesar de a profissão de professor ainda ser pouco valorizada e não ter o reconhecimento que deveria. “Não podemos abandonar a profissão só por causa do salário”, salienta o jovem, matriculado na habilitação em séries iniciais (1º ao 5º ano da educação básica).

Entusiasmado, além da faculdade, à noite, Reinaldo faz um estágio pela manhã, na área de educação a distância e outro à tarde, na área de educação ambiental. Mesmo considerando muito importante que o pedagogo mantenha contato com a criança, para que possa saber como funciona realmente a escola, ele não pretende atuar apenas na sala de aula. Suas metas são mais amplas e incluem uma especialização em serviço social ou uma graduação em ciência política, além de um mestrado em educação.

“A satisfação de fazer algo de que se gosta é o que realmente interessa. Trabalhar em algo só pelo dinheiro não me atrai”, diz Daniela Lobato, 20 anos, colega de Reinaldo na mesma faculdade. Ela acredita que seu interesse pela profissão começou cedo, pois desde pequena era colocada como monitora na sala de aula. “Sempre gostei de ler, de estudar, e de estar em contato com os professores e comecei a me identificar com a profissão. Quando iniciei o curso de pedagogia, me identifiquei totalmente”, salienta. Desde fevereiro de 2008, Daniela atua como professora auxiliar em uma turma de 1º ano (alfabetização) do Serviço Social do Comércio (Sesc), também em Taguatinga. Fazer especialização em educação infantil está entre as suas metas.

Lecionar e dar continuidade aos trabalhos com projetos sociais na área da educação que realiza em comunidades carentes são as metas de Nádia Cristina Gonçalves, 24 anos, estudante do oitavo semestre de pedagogia, na Universidade de Brasília (UnB). “Ao perceber que me sentia realizada quando participava, em minha igreja, de aulas com crianças e de projetos sociais ligados à educação decidi conhecer mais sobre educação e buscar uma formação para a docência,” explica. Ela pretende fazer concursos públicos para professor de educação básica e na área de pedagogia. Quer, ainda, fazer especialização ou mestrado. O retorno financeiro da profissão não a preocupa. “O profissional de pedagogia, qualificado, tem espaço de atuação em diversas áreas. Descobri um campo muito amplo em que posso atuar e com salários satisfatórios”, destaca Nádia. Ela acredita no caminho da formação de qualidade para a prática em sala de aula e na escola como espaço de transformação social. (Fátima Schenini)

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Professora coleciona prêmios nacionais

Apresentação da banda dos alunos da professora Maria Auxiliadora.

Nascida no município de Várzea Grande (MT), localizado há seis quilômetros de Cuiabá, Maria Auxiliadora de Oliveira é professora há 23 anos. Na família, além dela, suas três irmãs também dedicaram a carreira à educação. “Lá em casa é assim: todas as mulheres são professoras. Minha mãe, apesar de não ser professora, fez questão que fizéssemos Pedagogia”, contou. Segundo Maria Auxiliadora, quando tem almoço de família, a casa se transforma numa sala dos professores, onde elas trocam experiências e discutem projetos e metodologias.

Apaixonada pela profissão, ela carrega na bagagem três prêmios nacionais, entre eles o Prêmio Professores do Brasil de 2007. “Cada ano procuramos inovar, trazendo um projeto diferente. Já estamos inscritas no concurso deste ano”, disse ao ressaltar que sem a ajuda da professora Isabel Cristina Corrêa Ribeiro, com quem realiza os projetos há mais de 10 anos, não teria conseguido.

Para Maria Auxiliadora, trabalhar com projetos é a melhor forma de envolver alunos, pais e a comunidade escolar. “Já chegamos a um patamar em que as próprias crianças propõem as atividades”, contou. Ela ressaltou ainda que os projetos ajudam as crianças a desenvolver seu senso crítico e a ter opinião própria.

Ela acredita que o segredo para tanto sucesso é simples: basta associar brincadeiras ao processo de ensino e aprendizagem. Em Cuiabá, na Escola Municipal de Educação Básica Marechal Cândido Mariano da Silva Rondon, onde leciona há 14 anos, ela desenvolveu o projeto “Cor e Som: Há vida em suas mãos”. Aproximadamente 40 crianças de sete anos de idade foram alfabetizadas com música. “Nosso objetivo era estimular o interesse e a curiosidade das crianças, ampliando seu conhecimento e as situações de aprendizagem. Com os gêneros musicais refletimos sobre as relações de respeito, amizade, auto-estima e propiciamos às crianças o desenvolvimento cognitivo, afetivo e social”, explicou.

Tendo como base o projeto político pedagógico da escola, que prima pela interdisciplinaridade, Maria Auxiliadora elaborou inúmeras atividades. Os alunos produziram um CD e um DVD com músicas para o Dia das Mães; conheceram danças de diferentes épocas; trabalharam com as letras de músicas de vários estilos; passearam pelo centro cultural da UFMT e ao Sesc Arsenal para conhecer um pouco sobre música e os instrumentos musicais; pesquisaram sobre a evolução da música (LP, compact disc, fita K7, fita de vídeo, CD, DVD, etc.); entre várias outras.

Além do prêmio do ano passado, os projetos da professora mato-grossense renderam prêmios nacionais em 2004 e 2001. Para ela, ganhar os prêmios significa que está trabalhando na direção certa. “É gostoso saber que estamos caminhando no rumo certo. Se queremos mudar o mundo precisamos trabalhar com as crianças”, afirmou. (Renata Chamarelli)

Professor precisa recuperar o reconhecimento social

Roberto Franklin de Leão, presidente da CNTE

O Jornal do Professor ouviu o presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE), Roberto Franklin de Leão. Ele faz uma análise da profissão de professor hoje no Brasil, compara a situação atual com a de décadas anteriores, e diz que o educador, principalmente da educação básica pública, ainda não alcançou seu reconhecimento social.

A entidade, que congrega 1,8 milhão de professores, defende a adoção do piso salarial profissional nacional do magistério público da educação básica.

JP – Quantos professores existem hoje no Brasil (ou cadastrados na CNTE)?

RFL – A CNTE estima uma base de 2,8 milhões de trabalhadores em exercício nas redes públicas de ensino básico, dos quais 1,8 milhão está lotado no magistério. A Confederação possui 1 milhão de associados e tem reivindicado junto ao MEC a execução de um censo dos profissionais da educação, a fim de mapear não só o número exato de trabalhadores, mas também suas relações de trabalho, jornada, salário, formação, dentre outras variáveis.

JP – Que análise o senhor faz da profissão de professor hoje no Brasil?

RFL – A descentralização da oferta no nível básico causa muitas desigualdades entre as regiões, e mesmo entre estados e municípios de uma mesma base territorial. No que concerne aos profissionais do magistério, os salários e a carreira sofrem distorções que prejudicam, sobretudo, a qualidade da educação pública. A diferença salarial entre os entes federativos ultrapassa 400% em alguns casos. A solução para este problema consiste na implementação de políticas eqüitativas coordenadas pela União. O Fundo da Educação Básica (Fundeb), o sistema nacional de formação de professores, as diretrizes nacionais de carreira e o piso nacional do magistério são exemplos de políticas cooperativas necessárias para concretizar os desígnios da igualdade educacional presente na Constituição brasileira.

JP – É uma profissão valorizada? O que pode ser melhorado?

RFL – O professor, principalmente da educação básica pública, ainda está longe de alcançar seu merecido reconhecimento social. Os salários, as condições de trabalho e a carreira, os critérios de formação e o acesso na rede pública – muitas vezes sem concurso público – revelam o descaso que muitos gestores insistem em manter na área educacional, embora os discursos dos palanques sejam diametralmente opostos. O país precisa introduzir a educação em seu projeto de desenvolvimento, sem o qual tanto o professor quanto a educação pública continuarão relegados frente a obras públicas, por exemplo, que servem melhor como marketing eleitoral.

JP – Comparando com décadas anteriores, a situação do professor no Brasil melhorou ou piorou?

RFL – O fato de o país estar vivenciando um período de crescimento econômico tem contribuído para a categoria dos profissionais da educação, a exemplo de outros trabalhadores, alcançar um melhor padrão de vida. Porém, em termos de ações específicas para o magistério, o Brasil ainda está em fase de construção das políticas de valorização desses profissionais. É preciso, acima de tudo, que não deixemos de implementar o que atualmente está sendo formulado nesta área para que em alguns anos possamos auferir os resultados.

JP – Como a CNTE tem contribuido para melhorar a carreira do professor?

RFL – A CNTE espera contar com o apoio incondicional do Ministério da Educação para fazer com que todos os entes federados implementem o piso salarial profissional nacional do magistério público da educação básica, pois acreditamos que ele vai se tornar o início de uma efetiva valorização dos docentes em todo país. A CNTE também pretende manter parceria com o Ministério em políticas às quais os trabalhadores têm sido protagônicos e que se voltam para a ampliação do direito à educação de qualidade, como financiamento, gestão democrática e valorização profissional. (Fátima Schenini)

Professor não pode envelhecer

Professora Genir Genaro está sempre em busca de novos conhecimentos

“O professor não pode envelhecer nunca!” A opinião é defendida pela professora da Pontifícia Católica de São Paulo (PUCSP) e pesquisadora da Fundação Carlos Chagas (SP), Clarilza Prado de Souza. Segunda ela, o professor precisa se atualizar sobre conhecimentos tecnológicos, políticos, pedagógicos, éticos, e de relacionamentos que surgem com a evolução da sociedade. “É uma das únicas profissões que exige renovação a cada momento. Precisamos estar sempre jovens”, afirma a professora, que acredita que o acúmulo de conhecimento e a atualização são desafios permanentes na vida dos educadores.

Clarilza coordena 31 grupos de pesquisa brasileiros, portugueses, argentinos e gregos. Eles estudam de que forma se dá o processo de mudança da subjetividade do professor e como isso afeta a sua transformação em um bom profissional. A idéia é fazer pesquisas e trabalhar os dados para implantar nas faculdades de educação. “Temos que considerar as condições subjetivas, o que o professor conhece, necessita. Não podemos mudar uma técnica sem conhecer quem são eles, qual a sua realidade”, explica.

Genir Genaro Lemos, de Campo Grande, Mato Grosso do Sul, é uma professora que está sempre em busca de novos conhecimentos. Com 37 anos dedicados ao magistério, ela acredita que os educadores devem estar sempre se atualizando, a fim de se adequarem ao rápido avanço da tecnologia. Em sua opinião, os professores devem estar preparados para lidar com alunos que possuem grande quantidade de conhecimentos, devido às facilidades que existem para buscar novas informações. “Os alunos sabem muito, em alguns casos até mais do que o professor”, afirma Genir, que já lecionou em cinco escolas estaduais e é graduada em letras e pós-graduada em metodologia de ensino.

A professora destaca também a importância do elo professor-aluno. “A falta de informação por parte dos educadores atrapalha o vínculo com os estudantes. Ao buscar informações novas, fica mais fácil atrair os alunos e estimular a participação e interação dentro de sala”, diz Genir.

Diante da carga horária do educador, a pesquisadora Clarilza enfatiza que é fundamental que o professor tenha uma organização para também se dedicar a seu trabalho, treinamento, programas de capacitação. “Uma das frustrações é que muitas vezes ele se capacita e não consegue aplicar na escola, no seu dia-a-dia”, afirma.

Em Boa Vista, no Estado de Roraima, Antônia Zélia Araújo Santos, 38 anos, conseguiu superar a agenda apertada. Há 16 trabalhando com educação, atua hoje como professora multiplicadora. Além de se interessar por cursos e buscar por novas capacitações, ela estimula e aplica cursos a outros docentes. Antônia fez curso de pós-graduação a distância em Tecnologia da Educação, na Universidade do Rio de Janeiro. Para ela, o professor que busca a capacitação é mais dinâmico e sempre tem novidades para expor aos colegas e aos alunos. “Quem não se atualiza acaba tornando as aulas rotineiras e sem grandes atrativos,” defende Antônia. Segundo ela, “a capacitação beneficia principalmente os professores, mas também os alunos”.

Já Viviam Cristine Soder e Gomes, de Morrinhos, Goiás, sempre teve medo de expor suas idéias e colocá-las no papel, com receio de ser criticada por não ter um grau de formação maior. Concursada há muitos anos, como assistente de ensino, ficou feliz quando foi convidada para trabalhar como professora do pré-escolar, na Escola Municipal Modelo 14 de Maio, mas também preocupada, pois não tinha experiência. Atualmente, cursando o Programa de Formação Inicial para Professores em Exercício na Educação Infantil (Proinfantil), está mais segura e confiante. “Sei que já posso entrar em uma sala de aula e ensinar às crianças, sem medo de errar. Com os conhecimentos adquiridos no curso, posso dizer com clareza: vale a pena acreditar e ir em busca de nossos ideais”, afirma. (Assessoria de Comunicação da Seed/MEC)

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Cãozinho de pelúcia estimula crianças a ler

Profª Maria da Conceição de Freitas Carneiro, da Escola Estadual Gabriela Mistral, em São Paulo (SP).

Buscar conhecimento, criar situações de aprendizagem, este é meu desafio”.

Maria da Conceição de Freitas Carneiro

 

A professora Maria da Conceição de Freitas Carneiro, da Escola Estadual Gabriela Mistral, em São Paulo (SP), acredita que o sucesso de seus alunos também depende de seu empenho. Por isso, ao identificar dificuldades de escrita e leitura em seus alunos de 3º ano (2ª série), pensou em fazer algo diferente. Surgiu assim o projeto Lupi.

Lupi é um cãozinho de pelúcia que gosta de receber todos os cuidados necessários, aprecia ouvir histórias, e também fica satisfeito de receber convites para passar o dia na casa de um aluno. Neste caso, ele exige que a criança registre, em um diário, todas as atividades que foram realizadas no decorrer do dia, bem como de que forma foi recebido pela família do aluno.

“Percebo que esta atividade faz a diferença entre meus alunos, estimulando a leitura e escrita de forma prazerosa”, diz Conceição. Ela explica que até aqueles que encontram dificuldade na aprendizagem parece que ficam mais dispostos a receber informações e dedicar-se, pois para receber o cãozinho, a primeira tarefa é escrever o convite, que deverá ser lido, em seguida, em voz alta, para todos os colegas. “Hoje os alunos fazem questão que o cãozinho participe da nossa roda de leitura”, destaca.

Trabalhando como professora há 20 anos, Conceição é graduada em pedagogia, tendo participado de capacitações e de cursos de formação de alfabetizadores. Antes de iniciar o projeto, ela faz um trabalho com os alunos sobre "posse responsável" e os cuidados que devemos ter com os animais. (Fátima Schenini)

"Sistema de formação e piso salarial são avanços importantes", diz diretor geral da Unesco

Representante da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) no Brasil, Vincent Defourny

Representante da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) no Brasil, Vincent Defourny, traça um panorama da profissão de educador tanto no Brasil quanto em outros países. Assumiu a Direção Interina do Escritório da UNESCO no Brasil em maio de 2006, sendo confirmado no posto pelo diretor geral, em 22 de agosto de 2007.

Nasceu na Bélgica, na cidade de Liège, em 30 de outubro de 1959. Tem doutorado em Comunicação pela Universidade Católica de Louvain, na Bélgica, licenciatura em Comunicação Social pela mesma universidade, diploma para o ensino de Ciências Sociais e formação universitária de base em Ciências Econômicas, Política e Sociais.

JP - No dia 5 de outubro é celebrado o Dia Mundial do Professor e no dia 15 de outubro celebramos o Dia do Professor no Brasil. Há o que comemorar?

VD - No âmbito da UNESCO, sempre que se aproxima o Dia do Professor, duas questões emergem naturalmente. A primeira refere-se ao reconhecimento a uma das profissões mais importantes do mundo sobre a qual pesa a responsabilidade pela educação de crianças, jovens e adultos. A segunda, que decorre da primeira, é que devido à grande responsabilidade e dimensão ética dessa profissão há a necessidade de se refletir em que medida os países estão atendendo as orientações da Recomendação UNESCO-OIT sobre a Situação do Pessoal Docente, aprovada há mais de 40 anos (1966) e que estabeleceu os princípios e diretrizes que devem reger a profissão docente, para que, de fato, ela viesse a ser dotada das condições necessárias para assegurar às crianças, jovens e adultos o direito a uma educação de qualidade e profundamente humana. No caso do Brasil, em que pese o quadro crítico dessa profissão que se arrasta há decênios, surgem na atualidade duas perspectivas promissoras que são a aprovação da Lei do Piso Salarial e a criação do Sistema Nacional de Formação de Professores. Ambas, a médio e longo prazo, poderão concorrer para a solução de um dos maiores desafios da política educacional brasileira, saldando desta forma, uma dívida histórica.

JP - De forma geral, qual o cenário global da profissão de professor?

VD - O cenário global não é promissor. Há um enorme percurso a ser feito. O processo de expansão da escolaridade não está sendo acompanhado por medidas que assegurem a qualidade. Esta, por sua vez, vincula-se diretamente à qualidade da formação do magistério e às condições de trabalho proporcionadas pelos sistemas de educação. Em suma, sem professores bem formados e condignamente remunerados não se pode esperar resultados satisfatórios. O mais grave desse quadro é o de aumentar a distância dos mais pobres com relação aos bens civilizatórios que poderiam ser colocados à disposição de todos. Não se pode perder de vista que estamos em uma sociedade do conhecimento e só uma escola pública de qualidade universal pode promover uma inclusão qualificada.

JP - A UNESCO estima que mais 18 milhões de professores sejam necessários para que a meta de Educação Primária Universal (EPU) seja atingida até 2015. O que precisa ser feito para atingir essa meta?

VD - Para atingir a meta de 2015 há a necessidade, por um lado, de aumentos progressivos dos investimentos em educação e, por outro, não menos importante, da aplicação dos recursos de forma competente, com base em critérios éticos e de responsabilidade pública. Todavia, para que isso aconteça, há a necessidade de ampla e permanente mobilização da sociedade de forma a mostrar o grande valor agregado da educação e seus retornos assegurados tanto para a melhoria de vida das pessoas quanto para a construção de cenários sociais pautados pelos valores da modernidade.

JP - O Brasil está conseguindo fazer a sua parte no sentido de alcançar esta meta?

VD - O lançamento do Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE) e seus desdobramentos indicam uma nova direção da educação brasileira. O estabelecimento de metas para os estados, Distrito Federal, municípios e escolas, seguido de planos e repasses de recursos para o cumprimento das metas estabelecidas, constitui o caminho para um novo capítulo na história educacional do país. É certo que não se pode comemorar antes, até porque, em matéria de política educacional, os resultados não surgem por milagre. O único milagre possível é o de um trabalho continuado e permanentemente monitorado por vários anos com ampliação crescente dos recursos. Os desafios são enormes. Torna-se imperativo uma visão de longo prazo, não apenas dos dirigentes e dos políticos, mas de toda a sociedade.

JP - Em relação a outros países, em que patamar se encontram os professores do Brasil?

VD - Com a aprovação da Lei do Piso e a criação do Sistema Nacional de Formação, as perspectivas se ampliaram. Alguns estados e municípios já estão procurando oferecer condições melhores de salários e condições de trabalho. A postura do MEC, inclusive mais recentemente, colocando experiência da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) no circuito da política educacional, significa que o Ministério está procurando mobilizar novos mecanismos para enfrentar o desafio. Destaque-se nessa direção o papel que passam a ter as universidades públicas, sobretudo as federais, que estão recebendo recursos para ampliar os cursos de licenciatura e oferecer programas permanentes de aperfeiçoamento docente. Além disso, observa-se hoje maior lucidez política de segmentos importantes para tornar a educação uma das principais prioridades do país, como o movimento Todos pela Educação, e também os meios de comunicação que estão disponibilizando espaços importantes com vistas a mostrar a relevância da educação para o país.

JP - Quais as perspectivas de futuro para quem está entrando na carreira?

VD - Nesse cenário, e por essas novas condições e perspectivas para a formação do professor no Brasil e para um melhor desempenho de suas funções na sociedade, é que as perspectivas para um jovem egresso do ensino médio que optar pela carreira docente são bem mais promissoras. Com a valorização da carreira no âmbito governamental e a reconquista do respeito e reconhecimento que a profissão já teve no Brasil, em passado recente, acredito que haverá um futuro digno para os professores que se dedicarem a dar a sua contribuição para uma educação de qualidade. (Renata Chamarelli)