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JORNAL

Geografia Criativa

Terça-feira, 27 de Março de 2012

Edição 69

EDITORIAL - Geografia Criativa

O tema da 69ª edição do Jornal do Professor é Geografia Criativa. O assunto foi o mais votado na enquete colocada em nossa página, tendo conquistado a preferência de 40,0% dos leitores.

Neste número, apresentamos as experiências dos professores Roberta Althoff Sumar, de São José (SC); Taíse dos Santos Alves, de Serrinha (BA); Valéria Rodrigues Pereira, de Mirandópolis (SP); Vanuzia Lima, de Sobral (CE; e Francisco José Avelino Júnior, de Três Lagoas (MS).

Como entrevistados, temos o professor Nestor André Kaercher, da Faculdade de Educação da UFRGS e a professora Rosângela Menta Mello, assessora técnica junto à Coordenação de Multimeios da Diretoria de Tecnologia Educacional (Ditec) da Secretaria de Educação do Paraná.

Na seção Espaço do Professor, o participante é o professor Luciano Guedes Siebra, da Escola de Ensino Fundamental e Médio Dona Carlota Távora, de Araripe (CE). Ele foi um dos premiados na V Edição do Prêmio Professores do Brasil.

Ajude-nos a escolher o tema das próximas edições, votando na enquete colocada em nossa página. E aproveite para colaborar enviando sugestões, críticas, textos e músicas!

Seja bem-vindo!

Blog de geografia tem mais de um milhão de acessos

Professora Roberta e alunos na sala de aula

Professora na rede pública e privada da Grande Florianópolis desde 2006, Roberta Althoff Sumar leciona geografia para alunos do ensino fundamental e médio do Colégio Gardner, no município catarinense de São José. Também exerce a função de tutora presencial do curso de pedagogia a distância da Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc).

Criativa, Roberta, que tem graduação em licenciatura em geografia e especialização em gestão educacional e metodologia do ensino interdisciplinar, procura variar as atividades desenvolvidas na sala de aula de modo a atrair a atenção dos estudantes para a disciplina. Assim, adota ferramentas tecnológicas, leituras de textos em conjunto com a turma, elaboração de esquemas no quadro, saídas de campo com a professora de ciências e também aulas expositivas.

“Apesar de estar atenta às novas tecnologias e ter recursos tecnológicos à disposição, utilizo muito o quadro e direciono os alunos a anotarem no caderno, com a data e o conteúdo de cada aula”, revela a professora. Ela considera isso fundamental no estudo individual dos alunos em casa.

Para Roberta, a geografia tem a missão de fazer o estudante compreender o mundo e seu papel nele, de modo a se tornar um cidadão critico e participativo. Segundo ela, é difícil mostrar a alunos com situação financeira privilegiada que eles têm responsabilidades com o Brasil. “Tenho dificuldades em fazer com que percebam seu papel na sociedade e o quanto são importantes nas transformações desse lugar”, enfatiza.

Desde 2007, ela mantém o blog Geoprofessora, com atividades de geografia e dicas para estudantes. É usado também como um arquivo pessoal de trabalho. “Gosto de divulgar as práticas de ensino que realizei, entre outras informações geográficas”, salienta.

Roberta recebe mensagens de professores do Brasil inteiro sobre prática de ensino de geografia e trocas de experiências. “O blog, hoje, conta com mais de 1,6 milhão de acessos”, diz, entusiasmada. Em eleição promovida pelo Portal Infoenem, o Geoprofessora ficou em terceiro lugar entre os 10 melhores blogs de geografia do país. “Fiquei muito feliz e com um compromisso ainda maior”.

Desafios - Os estudantes consultam o blog em busca de complemento das aulas e para responder aos desafios propostos. Cada turma tem um link, no qual a professora publica arquivos de aulas e atividades complementares e divulga outros links interessantes. “A cada trimestre, lanço uma questão; os estudantes têm de argumentar e postar a resposta”, explica.

Na visão de Roberta, apesar de os alunos, muitas vezes, minimizarem a relevância da geografia diante de outras disciplinas, eles gostam da matéria e das aulas. “Converso muito com eles sobre isso, até porque a geografia contribui bastante na relação de assuntos, correlação de teoria e prática”, ressalta.

Todos os anos, ela desenvolve projetos sobre a América Latina em conjunto com as professoras Mônica Valéria Serena, de espanhol e Ana Paula Vansuita, de história. Com esse propósito, os estudantes devem elaborar, sobre os países da região, telejornais que mostrem aspectos gerais, localização, fatos históricos marcantes e até mesmo a origem e características do subdesenvolvimento. O registro completo dos trabalhos realizados pode ser conferido em um blog específico – o projeto telejornal .

(Fátima Schenini)

Republicada com correções

Professora pesquisa métodos para facilitar estudos de mapas

Alunos utilizam computadores

Os temas cartografia, tecnologia e internet estão entre os preferidos da professora Taíse dos Santos Alves, em seu trabalho. Há seis anos no magistério, lecionando em escolas municipais, estaduais e particulares de Salvador e de Serrinha, no interior baiano, para alunos do ensino fundamental, ensino médio e da educação de jovens e adultos, ela acredita que a cartografia tem um papel e um poder imprescindíveis para a ciência geográfica.

De acordo com Taíse, os mapas são instrumentos sempre presentes para exemplificar conteúdos geográficos como feições do relevo, urbanização e população. Ou seja, os fenômenos ocorridos no espaço produzido pelo homem. No entanto, observa que o mapa, embora rico nas representações espaciais, tem uma linguagem que os professores de geografia ainda não dominam de maneira satisfatória. Assim, deixa de ser explorado e usado nas aulas como poderia ser. “Essa lacuna impede um contingente de alunos de dominar a leitura e a interpretação dos mapas, e isso fica evidente em minhas andanças docentes”, revela.

A professora diz que começou a se questionar sobre qual tipo de metodologia prática poderia ser empregada para desenvolver nos alunos, pelo menos, noções básicas de orientação espacial. Segundo Taíse, essa articulação foi conseguida a partir do conhecimento que obteve no curso de licenciatura em geografia, com as disciplinas cartografia temática e novas tecnologias. “Nas discussões de ambas atentei para o uso e a aplicabilidade das tecnologias da informação e comunicação articuladas à cartografia”, salienta. Passou, então, a pesquisar o tema na tentativa de criar metodologias e estratégias de aprendizagem para facilitar o entendimento daquela linguagem.

Para os professores, Taíse indica o Google Maps: “É um aplicativo interativo gratuito que possibilita ao aluno um “passeio virtual” por todo o planeta Terra por meio de um mosaico rico de imagens de satélites”, explica. Dentro desse aplicativo, que tem ferramentas como barra de pesquisa (locais a serem pesquisados), informações sobre esses locais (empresas, pontos turísticos etc.), orientação geográfica e escala, é possível conferir as imagens de satélites e mapas, além de mudar para a versão do aplicativo Google Earth. “O uso do mapa pode proporcionar o desenvolvimento dos alunos, respeitando seus interesses, e estimular a pesquisa e a criatividade”, analisa Taíse.

Oficina – Em 2010, a professora realizou a oficina Cartografia Interativa, no Centro Educacional 30 de Junho, em Serrinha, para alunos das turmas do 8º ano do ensino fundamental. O trabalho foi desenvolvida para ajudar os estudantes a compreender o uso e a aplicabilidade da cartografia no cotidiano e a ampliar as noções de orientação e localização no espaço geográfico. “A principal atividade com o aplicativo Google Maps foi a construção de mapas mentais pelos alunos. Constituiu-se o ponto chave da oficina”, revela. Os alunos procuraram identificar a escola, suas casas, bem como as principais ruas e avenidas de Serrinha com base na imagem do município obtida pela internet.

“A oficina foi relevante e prazerosa, pois mostrou, na prática, a aplicabilidade do Google Maps como metodologia de ensino e aprendizagem”, enfatiza Taíse. Em sua visão, foi uma troca de experiência que deu novo significado a sua prática docente: “Essa experiência me fez perceber que buscar alternativas fora do convencional é um desafio e que se permitir tentar, seja errando ou acertando, faz parte do ser de se fazer professor de geografia”, analisa.

Taíse aguarda nomeação na rede estadual de ensino da Bahia, enquanto cursa pedagogia e conclui a pós-graduação em educação de jovens e adultos. (Fátima Schenini)

Republicada com correções

Aulas bem preparadas envolvem alunos no aprendizado

Professora e alunos na sala de aula

Para fazer com que os alunos se sintam mais motivados nas aulas de geografia, a professora Valéria Rodrigues Pereira sempre prepara as aulas com cuidado. Ela organiza os procedimentos, seleciona os materiais e prepara atividades individuais e coletivas, de modo a que os estudantes se envolvam na aprendizagem.

“Acredito que a motivação com as aulas passa por esse processo”, diz Valéria, que leciona na Escola de Ensino Fundamental e Médio Dona Noêmia Dias Perotti, em Mirandópolis, no interior paulista. Seus alunos escutam música para discutir os temas de geografia, elaboram mapas temáticos e cartazes e fazem entrevistas no bairro onde moram para poderem discutir temas de interesse, como a exclusão digital.

Segundo Valéria, cada vez que inicia um novo tema ela pergunta aos estudantes o que já sabem sobre o assunto. Ela, então, registra na lousa algumas informações da turma e, em seguida, coloca algum problema para iniciar uma discussão. É a questão problematizadora, que é apresentada oralmente, utilizando imagens, artigos, mapas ou tabelas.

“Após essa etapa, fazemos um estudo utilizando textos, mapas, e por meio de atividades dirigidas retomamos o que o grupo disse inicialmente, para validar ou refutar com base na fundamentação teórica”, explica a professora. Ela também costuma desenvolver projetos com seus alunos. Atualmente, ela desenvolve um trabalho com o mapa do município “para trabalhar as noções de orientação, localização e uso do sítio urbano.”

A avaliação da aprendizagem é realizada por meio do envolvimento dos alunos nas discussões e na realização de atividades que priorizam a leitura, compreensão, argumentação diante de textos, mapas, gráficos e tabelas. Com licenciatura plena e bacharelado em geografia, Valéria está há 12 anos no magistério. “Escolhi lecionar geografia porque é um campo de conhecimento que permite compreender os lugares, olhando ao mesmo tempo para a relação dinâmica que ocorre entre a sociedade e natureza, onde o fruto dessa relação são as contradições que se manifestam no tempo e no espaço”, finaliza a professora. (Ana Júlia Silva de Souza)

Pesquisas de campo dão mais significado à aprendizagem

Professora Vanuzia Lima

Professora há 14 anos, Vanuzia Lima costuma realizar pesquisas de campo com bastante frequência, principalmente com seus alunos do curso de graduação em geografia, no Instituto de Estudos e Pesquisas do Vale do Acaraú (IVA). “O campo é um laboratório a céu aberto para todas as áreas do conhecimento,” diz a professora do município cearense de Sobral, a cerca de 200 quilômetros de Fortaleza.

Segundo Vanuzia, antes de uma aula de campo ela costuma levar os alunos para a sala de multimeios, para que possam fazer uma viagem virtual. Ela propõe, então, que realizem pesquisas relacionadas aos conteúdos abordados; depois, sugere que tracem um roteiro para uma aula de campo onde possam associar o conhecimento adquirido na teoria. A culminância das atividades é realizada sempre com um debate.

Para ela, “a importância da pesquisa de campo nas aulas de geografia reside em ressignificar os conteúdos a partir do espaço de vivência dos alunos, de modo que os mesmos possam tornar-se mais críticos e participativos na sociedade em que atuam”. Como exemplo, cita a pesquisa de campo que realizou na disciplina de oceanografia, com seus alunos do IVA - todos professores do ensino fundamental e médio de escolas municipais e estaduais.

A atividade foi realizada nos municípios de Hidrolândia, Sobral, Granja e Camocim. Logo após a saída, às 6h, o grupo estudou a fonte de água sulfurosa no centro de Hidrolândia, quando discutiu a importância de sua aplicabilidade para a saúde no município. Em Sobral, foram trabalhados os recursos hídricos a partir do Rio Acaraú (trecho urbano) e em Granja, esses recursos foram trabalhados a partir do Rio Coreaú (trecho rural). Em Camocim, discutiram a dinâmica litorânea e a atividade pesqueira com representantes da comunidade de pescadores.

As atividades foram encerradas com uma peixada na Ilha do Amor, depois de um percurso de barco de cerca de três quilômetros pelo mar. De acordo com Vanuzia, os resultados foram valiosos. “Os estudantes puderam sentir de perto o cotidiano da dinâmica das paisagens litorâneas e o passeio pela interface mar e rio, bem como o encontro das águas doce e salgada“, revela.

Ela também dá aulas para alunos de ensino fundamental e médio. Atualmente leciona na Escola Estadual Ministro Jarbas Passarinho, no Centro de Referência Prefeito José Euclides Ferreira Gomes Jr e na Escola Municipal Netinha Castelo. Com bacharelado e licenciatura em geografia, Vanuzia tem pós-graduação em Desenvolvimento com Meio Ambiente e em Gestão e Coordenação Pedagógica.

Olhar geográfico – Na visão da professora Cristiane Lautenschlager, da Escola de Educação Básica Santos Anjos, no município de Rio das Antas (SC), a aula de campo acaba com o conceito de que a geografia é uma disciplina cansativa. “Essa prática propicia uma orientação de “não ficar preso” à sala de aula, e sim, fomentar a prática do olhar geográfico por meio de aulas no campo“, destaca. Formada em geografia, com pós-graduação na área, a professora leciona há nove anos no ensino fundamental e no ensino médio.

Fascinada pela geografia, Cristiane revela que na maioria das aulas faz leituras e debates pois acredita que, dessa forma, os alunos aproveitam mais. Também costuma trabalhar com filmes - “ajudam a gravar conteúdos“ – e com maquetes, que considera a atividade preferida dos alunos.

(Fatima Schenini)

Criatividade do professor garante interesse nas aulas

Favorável ao uso da criatividade nas aulas de geografia, o professor Francisco José Avelino Júnior diz que, na verdade, com as posturas teóricas e metodologias utilizadas em sala de aula é impossível não ser criativo. Ele costuma utilizar recursos como mapas, livros, artigos científicos, filmes, e apresentações em data-show. Em sua opinião, a motivação dos alunos depende da metodologia utilizada na sala de aula. Ele acredita que esta deve sempre ser criativa para levar o aluno a analisar e compreender como se dá o processo de (re) organização do espaço.

No início de suas aulas, costuma lançar o tema “o que é a geografia”. A partir das respostas, promove um debate sobre o que os estudantes entendem por geografia, qual a visão deles e como o assunto pode ser trabalhado a partir das correntes teórico-metodológicas atuais dessa área.

Para tornar as aulas ainda mais criativas, organiza, a cada semestre, uma viagem de estudos para diferentes partes do país, com seus alunos do curso de mestrado em geografia da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul, campus Três Lagoas. Para ele, as saídas de campo são importantes em todas as áreas da geografia. Em sua opinião, elas enriquecem o ensino e a aprendizagem, pois propiciam a discussão de diversos temas nos vários locais visitados, sejam assentamentos, indústrias, aldeias indígenas, quilombos, cidades, ou rios.

Doutor em geografia humana, com licenciatura e bacharelado em geografia, Francisco José tem 25 anos de magistério. Também é professor na graduação em geografia e orientador de professores de geografia do ensino fundamental e médio de escolas públicas. Atualmente, ele desenvolve com seus alunos um projeto sobre o ensino e a aprendizagem da geografia no ensino fundamental e médio em Três Lagoas. “Busca-se compreender, através das observações, entrevistas, e questionários, as especificidades do professor de geografia em sala de aula”, explica.

Uma das metas desse projeto é descobrir, por exemplo, como os professores utilizam o livro e outros recursos didáticos e quais as fontes bibliográficas que empregam. Outros pontos de interesse envolvem informações sobre estratégias didáticas e temas trabalhados, além de sugestões para a melhoria do ensino e a aprendizagem da geografia escolar.

(Ana Júlia Silva de Souza)

Rosângela Menta Mello (SE/PR): é importante trabalhar vários recursos integrados

Alunos usam computadores

Com 25 anos de magistério na escola pública, onde lecionou diversas disciplinas, Rosângela Menta Mello atua, desde o início deste ano, na Secretaria de Educação do Estado do Paraná, em Curitiba. Ela ocupa o cargo de assessora técnica junto à Coordenação de Multimeios, na Diretoria de Tecnologia Educacional.

Licenciada em pedagogia – habilitação em administração escolar de 1º e 2º graus – e licenciada em estudos sociais, com especialização em Metodologia Didática do Ensino Superior, em Tecnologias da Informação e da Comunicação na Promoção da Aprendizagem, e em Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE), ela trabalhou em diversas instituições ao longo de sua carreira profissional.

Nos últimos anos, Rosângela atuou como professora no Curso de Formação de Docentes para Educação Infantil e Séries Iniciais do Ensino Fundamental na Modalidade Normal, do 1º ao 4º ano, do Colégio Estadual Wolff Klabin, em Telêmaco Borba (PR). Entre as diferentes disciplinas que lecionou está a de metodologia do ensino de geografia.

Em entrevista ao Jornal do Professor, a professora aborda os recursos e ferramentas que o professor de geografia deve utilizar em suas aulas, fala sobre a utilização do GPS (Sistema de Posicionamento Global), imagens de satélites e outros recursos disponíveis pela internet. Em sua opinião, o importante é trabalhar vários recursos integrados. “O professor precisa fazer um diagnóstico das necessidades da turma, como eles aprendem melhor e variar os recursos pedagógicos”, salienta.

Jornal do Professor – O que todo professor de geografia deve fazer ou utilizar em suas aulas? Quais os recursos e ferramentas mais importantes que deve utilizar?

Rosângela Menta Mello – A ementa da disciplina de metodologia do ensino de geografia prevê o estudo das concepções de geografia – A geografia como ciência; a compreensão do espaço produzido pela sociedade (espaço relacional); os aspectos teórico–metodológicos de ensino da geografia e os objetivos e finalidades do ensino da geografia na proposta curricular do curso de formação de docentes da educação infantil e anos iniciais do ensino fundamental, atendendo as especificidades do estado do Paraná (quilombolas, indígenas, campo e ilhas). Diante deste contexto, a futura professora precisa compreender a estrutura desta temática, procurando desenvolver atividades docentes para que o estudante sinta-se um cidadão em nossa sociedade. Sem esta base teórica, o trabalho com a disciplina e o uso das novas tecnologias da informação e comunicação ficaria descontextualizado.

A medida que iniciamos as discussões, buscamos compreender a relação entre conteúdo, método e avaliação. Os estudantes passam a analisar os conteúdos básicos de geografia e sua relação com a história e a ciência na educação infantil e anos iniciais, buscando compreender como evoluiu nas diferentes tendências da geografia, através da bibliografia existente, das experiências de seus antepassados (pais e avós quando estudantes) até a concepção de geografia como ciência.

O trabalho com os recursos didáticos para educação infantil e anos iniciais é desenvolvido de forma prática, nos desdobramentos dos conteúdos. Nós não trabalhamos o conteúdo em si, mas a sua metodologia. Dividimos os conteúdos da disciplina em quatro bimestres e procuramos trabalhar cada período com um recurso didático diferente, ou seja, para que os estudantes do curso passem pelos principais recursos disponíveis na escola pública devem iniciar com a alfabetização cartográfica, um dos primeiros temas da educação infantil e das séries iniciais, trabalhamos a oficina de formas de utilização do mapa como instrumental básico para o estudo da geografia, com meios de orientação, cartografia, maquetes e diversos recursos didáticos, jogos, softwares, estudos de campo.

Uma das atividades realizadas com os estudantes, que teve grande repercussão é a dos meios de orientação:

• Iniciamos com a sua localização na sala de aula, na escola, no município, no estado, no país e no planeta.

• Usamos como ponto de referência o sol, o dia e a noite, a nossa localização em relação com o nosso entorno, sempre utilizando os pontos cardeais e colaterais.

• Como instrumentos iniciamos com o posicionamento correto do nosso corpo em relação ao sol, depois utilizamos o relógio como referência, a bússola (cada dupla de estudantes deve ter uma para poder aprender a usá-la. Atualmente, elas estão disponíveis a preços bem acessíveis. A escola possui 24 bússolas, além das dos professores).

• Com um mapa mudo da escola, a turma inicia a atividade de campo, se localizando, colocando os nomes em cada lugar, escrevendo os graus de azimute de um ponto ao outro, por onde passamos.

• Utilizando os celulares dos estudantes, passamos a observar as posições atuais com o GPS e o Google Maps, à medida que nos movimentamos no entorno da escola.

• No laboratório, vamos acessar o Google Maps, localizar nossa escola, a casa do estudante e verificar como chegar a pé, de ônibus ou de carro, as direções tomadas em relação aos pontos cardeais e colaterais e as distâncias. Observar se o trajeto realizado de casa para a escola é o mesmo que o software sugere, caso contrário, o estudante altera o trajeto e já verifica a sua distância. Utilizamos a visualização de satélite, de mapa, as opções de imagens, vídeos, clima, procurando anotar as modificações que ocorrem em sua comunidade, como era o bairro, que alterações ocorreram na urbanização, existem arroios e rios próximos, quais são os pontos de referência da comunidade em relação à cidade, que infraestrutura possui, vamos diminuindo o zoom e passamos a observar a cidade, o município... até o planeta. Aproveitamos para que observem que não existe em cima e em baixo do planeta, movimentamos o planeta no software, de forma a perceberem a nossa posição em relação ao sol e aos demais astros.

• Paralela a esta atividade abrimos os mapas locais e nacionais e do mundo, para que localizem e percebam as dimensões, a escola, façam leituras de legendas.

• Registrem as atividades realizadas em seu caderno ou blog.

Concluindo:

• O que considero mais importante? A fundamentação teórica do que se faz, senão a atividade fica esvaziada de conteúdo e de sentido para a vida.

• O que todo professor de geografia deve fazer ou utilizar em suas aulas? O estudante precisa perceber o que, por que e para que está trabalhando determinado assunto. Não se trata de ser utilitarista, mas de fundamentar o que se faz em função dos objetivos do curso que leciona. Deve planejar toda a sua ação docente, com propostas para todo o seu período de trabalho, desdobradas conforme a modalidade, seja mensal, bimestral, semestral, variando os recursos em sala de aula, por exemplo, se utilizou uma apresentação, na próxima aula pode utilizar uma webquest, na outra um seminário, na próxima um estudo de campo, por exemplo. Para funcionar bem é necessário que o estudante saiba a sua programação, quais os temas que serão discutidos e estudados durante o mês ou bimestre, tenham em mãos os textos a serem utilizados, para que façam a leitura antecipada, seja programado como será a avaliação, quanto aos prazos de entrega das atividades, o valor de cada proposta, acordado com a turma, de forma que não haja surpresa. O estudante deve possuir responsabilidades e perceber que é valorizado quando é pontual, quando faz contribuições fundamentadas.

• Quais os recursos e ferramentas mais importantes em uma aula de geografia? Depende muito da formação do professor, de seu interesse de uso, por exemplo, a escola pode ter laboratórios de informática com acesso a internet, data show, mapas históricos e novos, lunetas (distribuídas pelo EREA), globos com iluminação interna, GPS, bússolas de precisão, máquinas fotográficas, filmadoras, acervos históricos, jogos, mas se o professor não dominar estes recursos e não perceber sua aplicação no contexto de determinado conteúdo, não resolve o problema, continuará dando aula de forma tradicional com um recurso novo. É a mesma coisa que continuar passando resumos no data show e dando aulas expositivas. Acredito que cada tema da geografia, em cada modalidade de ensino, pode ser trabalhado com um recurso apropriado. Por exemplo: podemos iniciar com maquetes simples no 1º ano até chegarmos ao 5º ano com escalas, desenhos em perspectiva. Fazemos mapas desenhados de trajetos de casa para a escola e a seguir apresentamos o Google Maps para a criança perceber os espaços e se localizar. Paralelamente a essa atividade esticamos o mapa do bairro, do município. O importante é trabalhar vários recursos integrados. O professor precisa fazer um diagnóstico das necessidades da turma, como eles aprendem melhor e variar os recursos pedagógicos. É através do diálogo, das observações, da prática, das orientações pedagógicas e discussões que se constroem o conhecimento, numa perspectiva crítica de sociedade.

JP – Você considera o GPS uma ferramenta importante nas aulas de geografia? Como pode ser utilizado?

RMM – O GPS é um instrumento muito utilizado atualmente, grande parte da população já o possui em seus automóveis, nos celulares, tablets. Pode e deve ser utilizado na escola. Primeiramente deve ser utilizado na sala de aula, com a orientação do professor, posteriormente em estudos de campo até o seu uso independente.

O estudante deve aprender a configurá-lo para utilizar de várias formas:

- Onde estou?

- Para onde pretendo ir?

- Qual a distância?

- Quais os caminhos alternativos?

- Por onde vou passar? Quais os pontos de referência?

- Quanto tempo vai levar?

Podemos associar o Google Maps a mapas impressos, a folders turísticos. O estudante pode aprender a produzir materiais impressos ou para web, mapas, imagens, vídeos utilizando estes recursos.

JP – Como utilizar as imagens de satélites e outros conteúdos disponíveis via computador?

RMM – Considero importante: imagens, ilustrações, vídeos, animações, simuladores, jogos, áudios, entre outros recursos, para o ensino e aprendizagem.

O professor pode produzir um material, com vários recursos, dependendo das necessidades de sua escola. Por exemplo, se possui um laboratório de informática, poderá programar desde o estudo da disciplina, fazendo apresentações para data show, em projetores, retroprojetores; produzir vídeos (TV); gravar sons; para ilustrar uma região a ser construída no formato de maquete, a serem desenhadas, para fazer descrições, comparações, produções textuais impressas, manuais, para web. Propor pesquisas usando a WebQuest, construções de mapas conceituais, fazer web gincanas.

As atividades com o uso do computador complementam o livro didático, mas este não deixa de ser um referencial para o trabalho do professor, um recurso poderoso que todos os estudantes têm acesso, mas que deve ser discutido e analisado.

JP – Os mapas ficaram ultrapassados depois do surgimento do computador e da internet?

RMM – Acredito que as novas tecnologias são importantes e estão construindo um novo cidadão, com novas formas de perceber o mundo. Nossos jovens gostam muito do mundo digital, mas os recursos didáticos impressos não perderam a sua funcionalidade. Nós aprendemos de diversas formas, há os que necessitam estarem em contato com os objetos, outros aprendem mais visualmente ou ouvindo. Podemos comparar o mapa impresso com o livro, os e-books estão entrando no mercado com força, mas não descaracterizam o impresso. Este acesso ao mundo digital ainda não é para todos, infelizmente.

Rui Ribeiro de Campos (PUC/Campinas): "A arte é um recurso pedagógico importante"

Professor Rui Campos

A experiência de mais de 25 anos como professor no ensino médio fez Rui Ribeiro de Campos atentar para a importância de usar filmes e letras de músicas no ensino de conteúdos de geografia. “A arte é um recurso pedagógico importante”, destaca o professor, que leciona na Faculdade de Geografia da Pontifícia Universidade Católica (PUC) de Campinas (SP).

Doutor em geografia pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, mestre em educação pela PUC de Campinas, ele é graduado em filosofia e em geografia e tem licenciatura curta em estudos sociais.

Jornal do Professor – Há assuntos que se adequam mais ao uso de letras de músicas ou há letras para todos os temas de geografia?

Rui Ribeiro de Campos – Não sei se existem letras de músicas para todos os temas. É necessário pegar um tema e pesquisar letras sobre o mesmo. Mas diversos temas têm letras de músicas que podem ser usadas. Para discussão sobre a nação brasileira, por exemplo, temos, entre outras, Kizomba, a Festa da Raça (Rodolpho, Jonas e Luiz Carlos Silva), Positivismo (Orestes Barbosa e Noel Rosa), Bem Brasil (Premeditando o Breque), Querelas do Brasil (Maurício Tapajós e Aldir Blanc) ou Cara do Brasil (Celso Viáfora e Vicente Barreto). Sobre o período da ditadura, Calabouço (Sérgio Ricardo), Sabiá (Tom Jobim e Chico Buarque), Capitão (Joyce e Fernando Brant), Apesar de Você e Deus lhe Pague (Chico Buarque), Cálice (Gilberto Gil e Chico Buarque), Sina de Lampião (Sérgio Ricardo), Pesadelo (Maurício Tapajós e Paulo César Pinheiro), Angélica (Miltinho e Chico Buarque), O Patrão Mandou (Paulinho Soares), Inútil (Roger Moreira), O Bêbado e a Equilibrista (João Bosco e Aldir Blanc) e muitas outras. Em cada região pode ser estimulada a composição de raps pela turma da sala de aula, principalmente para retratar a realidade dos alunos. Sobre a água ou a questão ambiental, desde Medo da Chuva (Raul Seixas), Planeta Água (Guilherme Arantes), Águas de Março (Tom Jobim) até Chuá, Chuá (Pedro Sá Pereira e Ary Pavão) ou Cai Água, Cai Barraco (Álvaro, Bruno, Miguel, Sheik e Coelho). Sobre o Pantanal há Chalana (Mário Zan e Arlindo Pinto), Terra dos Sonhos e Peão (ambas de Almir Sater e Renato Teixeira). A citação seria longa se incluirmos o preconceito (principalmente através de marchinhas de Carnaval), o espaço religioso, a semiaridez do Nordeste brasileiro, a questão da posse da terra no Brasil e outros temas.

JP – O senhor também defende a utilização de filmes ou vídeos nas aulas de geografia. Por quê? Poderia citar alguns exemplos de filmes que podem ser usados, relacionando-os a conteúdos de geografia da educação básica?

RRC – A arte é um recurso pedagógico importante. O ensino pode ser ilustrado ou até melhor compreendido por meio de textos literários, poesias e filmes. O cinema tem a vantagem de poder usar várias formas de linguagem pelas outras artes. Consegue, dessa maneira, comunicar-se com profundidade e envolvimento. Ele se constitui em uma fonte de cultura e informação. Não é o filme um substituto de professores, nem seu uso pode ser aleatório. É algo importante como recurso para a aprendizagem e, por isso, deve-se sempre refletir sobre a sua utilização. Pode ser usado para criar condições de conhecimento maior da realidade e para uma reflexão mais profunda.

A quantidade cada vez maior de filmes documentários e de investigação científica de boa qualidade torna desejável a utilização do filme como um instrumento de complementação e ou substituição do material pedagógico tradicional. Mas é necessário ter critério para usá-lo. Não somente para estar em dia com a modernidade. Não deve ser usado como mais uma ilusão, como algo novo, mas que não diz nada. O filme, quando é o comum, tem um empecilho: é longo. Pode ser mais útil na forma de documentário ou curta de ficção. Pode ser usado de acordo com o conteúdo estudado.

Exemplo: Dersu Uzala (Dersu Uzala, 1975, URSS-Japão; direção: Akira Kurosawa); O Dia Depois de Amanhã (The Day After Tomorrow, 2004, EUA; direção: Roland Emmerich); Queimada! (Quemada! ou Burn!, 1969, Itália-França; direção: Gillo Pontecorvo); Tempos Modernos (Modern Times, 1936, EUA; direção: Charles Chaplin); O Grande Ditador (The Great Dictator, 1940, EUA; direção: Charles Chaplin); Pra Frente Brasil (1983, Brasil; direção: Roberto Farias); Um Dia sem Mexicanos (One Day without Mexicans; 2004, EUA/México/Espanha; direção: Sérgio Arau); GaijinOs Caminhos da Liberdade (1980, Brasil; direção: Tizuka Yamazaki); Amazônia em Chamas (The Burning Season, 1994, EUA; direção: John Frankenheimer); Filhos do Ódio (Children of a Rage, 1977, Israel; direção: Arthur Allan Seidelman); Crianças de Gaza (Children of Gaza, 2010, Grã Bretanha; direção: Jezza Neumann); Conrack (Conrack, 1974, EUA; direção: Martin Ritt); Machuca (Machuca, 2004, Chile-Espanha-Reino Unido-França; direção: Andrés Wood); Vozes inocentes (Voces Inocentes, 2004, México-EUA-Porto Rico; direção: Luis Mandoki) e outros.

JP – O senhor costuma utilizar músicas ou filmes com seus alunos universitários? Como têm sido os resultados?

RRC – Atualmente não tenho usado filmes em sala de aula no ensino universitário. Uso somente um ou outro documentário. A razão é a carência de tempo para ensinar o conteúdo. Normalmente, dou uma pequena lista de filmes e dois ou três devem ser assistidos pelos alunos, que têm que eaborar resenhas. Os resultados têm sido bons porque faço referência aos mesmos durantes as aulas. Escrevo sobre letras de músicas mais em razão de minha experiência por 25 anos no ensino médio, mas pouco as utilizo em sala de aula no ensino superior.

Para professor premiado, o mais importante é a certeza de estar no caminho certo

Professor Luciano Guedes Siebra

Há 14 anos no magistério, Luciano Guedes Siebra trabalha na Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Dona Carlota Távora, no município cearense de Araripe. Graduado em biologia com especialização em ecologia, Luciano leciona biologia nos três anos do ensino médio. Duas vezes ganhador do Prêmio Professores do Brasil, diz que receber essa premiação é uma alegria inexplicável. “É gratificante, é motivo de orgulho”, revela.

Em 2008, ele foi premiado pelo projeto Pesquisar é produzir novos conhecimentos e comunicar os resultados; em 2011, pelo projeto Sustentabilidade no Monitoramento e Controle do Aedes Aegypti: uma alternativa ecossistêmica para uma problemática nacional. Segundo Luciano, depois das premiações, as pessoas que já acreditavam em seu trabalho passaram a vê-lo como uma referência. Para ele, no entanto, o mais importante é a certeza de estar no caminho certo. “Isso fica evidente quando olho meus ex-alunos que participaram dos projetos e que agora estão na faculdade”, analisa.

Luciano revela que não é fácil conciliar a rotina de sala de aula com o desenvolvimento dos projetos. “Precisamos receber mais apoio para esse tipo de trabalho”, ressalta. Em sua opinião, é necessário que os gestores invistam cada vez mais, disponibilizando um tempo maior na carga horário do professor, principalmente quando o projeto é de cunho científico.

Síntese do projeto premiado em 2011 - Sustentabilidade no Monitoramento e Controle do Aedes Aegypti: uma alternativa ecossistêmica para uma problemática nacional

Segundo o Núcleo de Endemias do município de Araripe, o índice de infestação do Aedes aegyptiem no período de 2006 a 2009 foi muito superior ao recomendado pela Fundação Nacional de Saúde. Com base nesses dados, o professor e os alunos resolveram investigar porque isso estava ocorrendo. Observaram, então, que a metodologia tradicional utilizada pelos agentes de endemias poderia não estar produzindo os resultados esperados para o controle do vetor. Isso demonstrava a importância de utilizar sistemas de vigilância alternativo, capazes de detectar precocemente possíveis surtos epidêmicos. Dessa forma resolveram desenvolver um trabalho com a ovitrampa (armadilha artificial) e a Moringa oleifera importantes ferramentas para detecção, monitoramento e controle do mosquito transmissor da dengue. A partir dos índices de infestação do município, fizemos o mapeamento da cidade de Araripe e delimitamos duas áreas para estudo. Então instalamos 20 armadilhas no quarteirão 53 e 16 armadilhas no quarteirão 26 que correspondeu a 32% de cada área.

O cronograma de trabalho incluiu diversas ações educativo-pedagógicas, incluindo, entre outras: oficinas de educação ambiental e de literatura de cordel, mutirões nas áreas monitoradas, gincanas educativas de prevenção à dengue, além de participação dos alunos em programas da rádio municipal. O uso desses métodos e dessas ações alternativas despertou nos alunos o interesse pela vigilância ambiental em saúde e sensibilizou a população para o problema.

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Síntese do projeto premiado em 2008 - Pesquisar é produzir novos conhecimentos e comunicar os resultados

O presente estudo consiste em um trabalho investigativo desenvolvido de março a outubro de 2007, por alunos do 2º e 3º anos do ensino médio da EEFM Dona Carlota Távora, dentro da sua própria comunidade.

Entre os diversos estudos realizados pode-se destacar: o trabalho sobre o potencial turístico do distrito de Brejinho, no próprio município, o estudo da precariedade do sistema de abastecimento de água de Brejinho, a atividade das olarias como fonte de renda e os seus impactos ambientais, os impactos da construção de uma barragem próximo a uma fonte, a mandiocultura na Serra de Luiz Pereira e os impactos da manipueira nas casas de farinha de Araripe.

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Nestor André Kaercher (UFRGS): Fundamental é ter profundo respeito e curiosidade pelos alunos

Professor Nestor André Kaercher

O professor da Faculdade de Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul Nestor, André André Kaercher, mantém contato direto, em suas aulas, com futuros professores de geografia. Com licenciatura em geografia, mestrado em educação e doutorado em geografia humana, ele leciona, entre outras, as disciplinas de prática de ensino em geografia voltadas ao ensino fundamental e ao ensino médio. Também atua na área de estágio de docência em geografia, tanto para o ensino fundamental quanto para o ensino médio.

Sua experiência profissional inclui o ensino de geografia para alunos da educação básica, tanto no ensino regular como no supletivo (Educação de Jovens e Adultos) e a participação em cursos nas áreas de extensão e de pós-graduação.

Em entrevista ao Jornal do Professor, Kaercher diz que a paixão pela docência e o respeito e a curiosidade pelos alunos são qualidades fundamentais de um bom professor. Para ele, o mestre deve manter um diálogo interessado com os estudantes, ouvindo o que eles têm a dizer e fazendo perguntas que despertem seu interesse.

Jornal do Professor – Quais as qualidades necessárias a um bom professor de geografia?

Nestor André Kaercher – Creio que, no geral, são as mesmas dos outros professores: curiosidade, interesse pela disciplina, uma boa dose de paixão e idealismo, pois isso te leva a estudar, a buscar melhorias na tua docência, enfim, mantém tua vivacidade na profissão. Fundamental é ter profundo respeito e curiosidade por teus alunos, gostar e querer ouvi-los, fazê-los, de fato, partícipes da tua aula. O diálogo interessado, com boas perguntas norteadoras pode levar a gente a explorar melhor o potencial deles, que sempre é surpreendente. Claro, poderia listar outras coisas, mais técnicas como planejar a aula, trazer materiais diversificados, etc, mas no fundo, se tu não tiveres paixão pela docência, e, por que não, pelos alunos, só o conhecimento técnico não vai te levar muito longe.

JP – Quais os recursos e ferramentas mais importantes para uma boa aula de geografia?

NAK – Quanto mais recursos, melhor. Complementam, facilitam a vida do professor. Mas, se o professor não tiver boa formação e alguma paixão, não adianta só o recurso material. A aula tende a ser burocrática.

JP – Na sua opinião, atlas e mapas impressos ainda são válidos nesses tempos de internet e conteúdos digitais?

NAK – A internet ajuda, mas ainda não está tão disseminada, vai crescer sempre (ainda bem), mas livro, papel, escrita, reflexão séria (não sisuda), isso é fundamental numa escola, e, por que não, nas nossas casas. A internet é meio, não é fim. Com isso quero dizer: sejam bem vindos computadores e outras novidades midiáticas na escola. Claro. Mas se não tivermos bons professores, com boa formação, motivados (e bem tratados, claro), o computador fica subutilizado. Nunca, mesmo na educação a distância, os professores serão secundários. Um bom professor faz muita (e boa) diferença na educação das pessoas.

JP – O senhor acredita que é importante que os professores de geografia participem de cursos de formação continuada, levando em conta, principalmente, as mudanças tecnológicas que estão ocorrendo?

NAK – Acho que a resposta acima já contempla o que se pergunta. Estudar, ler, trocar ideias em fóruns, encontros, cursos sempre é uma oportunidade de aprimorar conhecimento, e, por que não, reencontrar os pares, pegar deles ideias e energias para mantermos viva a chama, a paixão pela docência e pelos discentes.

JP – Os professores de geografia saem bem preparados das instituições de nível superior? Por quê? (Em caso negativo, o que seria necessário para isso)

NAK – A resposta é Sim e Não. Sabemos das muitas lacunas em nossa formação. Poderíamos listar muitos erros que nós, formadores de professores cometemos na universidade, mas sejamos propositivos e otimistas: a universidade é local para percebermos a fragilidade de nossa formação, a necessidade de uma constante aprendizagem, além de nos fornecer pistas e contatos para continuarmos a buscar sanar estas lacunas. A universidade nunca vai te dar tudo (não existe o 'tudo', o bom professor 'já formado'), mas pode te dar pistas para buscares pontos de partida pra seguir em frente. O que seria necessário? Muita coisa, mas também isso é um processo que não finda. Sempre estaremos necessitando reinventar nossa prática, refletir sobre o que se faz, mas, claro está, não basta conhecimento técnico ou equipamentos.

JP – É importante que o professor de geografia leve seus alunos para visitas in loco e incentive pesquisa de campo? De que forma?

NAK – Claro. Tudo que se puder oferecer ao aluno é ponto positivo. Conhecer in loco os locais é fundamental, mas isso também requer uma preparação (e recursos) que, normalmente, os docentes não têm. Mas, como negar a belezura e o poder de imaginação e “perguntação” de uma saída pra fora da escola, quando o professor sabe estimular o olhar e a interpretação da meninada?

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