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JORNAL

Atividades na Biblioteca

Segunda-feira, 16 de Abril de 2012

Edição 70

EDITORIAL - Atividades na Biblioteca

O tema da 70ª edição do Jornal do Professor é Atividades na Biblioteca. O assunto foi o mais votado na enquete colocada em nossa página, sendo escolhido por 43,54% dos leitores.

Trazemos para vocês, nesta edição, as experiências de professores de quatro instituições de ensino: a Escola de Ensino Fundamental Durmeval Trigueiro Mendes, de João Pessoa (PB); Escola Municipal Professora Edna Umbelina de Sant'Anna da Silva, de Nova Iguaçu (RJ); Escola Municipal Professora Elza Rogério, de Muriaé (MG); e a Escola Municipal Professor Virgílio Alves de Campos, de Campo Grande (MS).

Nossa entrevistada é a professora Bernadete Santos Campello, da Escola de Ciência da Informação da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), que coordena o Grupo de Estudos em Biblioteca Escola (Gebe).

A participante da seção Espaço do Professor é a professora de artes e música Michelle Nasr, da Escola Estadual Professora Inah Werneck , em Cachoeiro do Itapemirim (ES).

Ajude-nos a escolher o tema das próximas edições, votando na enquete colocada em nossa página. E aproveite para colaborar enviando sugestões, críticas, textos e músicas!

Seja bem-vindo!

Atividades atraem os estudantes à biblioteca em escola paraibana

Alunos e professoras na biblioteca

Incentivar estudantes e seus familiares a se envolver com a leitura, de modo lúdico e recreativo, é uma das razões que levaram o professor Enildo da Paixão Rodrigues a promover atividades capazes de atrair os alunos à biblioteca da Escola de Ensino Fundamental Durmeval Trigueiro Mendes, em João Pessoa. Professor de português, ele também é coordenador da biblioteca, que leva o nome do poeta Lúcio Lins (1948-2005), nascido na capital paraibana.

“Todas as escolas deveriam ter bibliotecas, com bom acervo e condições de funcionamento”, afirma Rodrigues. “Isso deveria se dar não apenas nas escolas, mas também nos bairros.”

Para o professor, bibliotecas contribuem para o desenvolvimento da cidadania. “É importante fazer os estudantes compreenderem que é por meio da leitura que cada indivíduo pode se capacitar melhor para vivenciar a sua cidadania e, dessa forma, exigir o cumprimento dos direitos individuais e coletivos”, salienta.

Rodrigues vê a Biblioteca Lúcio Lins como uma espécie de prolongamento da sala de aula e de outros espaços educacionais. Ele explica ali é organizada uma agenda semanal de leitura e de narração de histórias. Para essas atividades, os professores de português levam os alunos à biblioteca uma vez por semana. Lá, os estudantes participam de rodas de leitura, leem jornais e revistas e fazem a leitura e a releitura de elementos iconográficos.

Atividades – Na biblioteca são realizadas palestras, oficinas, mostras de filmes e de vídeos sobre temas diversos, como direitos humanos, sustentabilidade ambiental, cidadania, ações antidrogas, questões de gênero, alimentação saudável, saraus literários, datas históricas e religiosas. Os estudantes têm acesso livre, nos intervalos das aulas, e podem pegar, ao longo do mês, quantos livros emprestados quiserem.

Em datas históricas, durante a semana cultural da escola ou quando é necessário fazer a divulgação de livros ou de material pedagógico, são organizadas exposições. A biblioteca também abriga a realização de atividades interdisciplinares, como música, circo, teatro e dança, com a participação de diversos professores.

Rodrigues constata que as atividades ajudam os estudantes a ganhar desenvoltura na leitura e na formação do discurso, oral ou escrito. “Os alunos passam a vislumbrar a beleza das histórias literárias, aprendem a distinguir realidade de ficção e concluem que a biblioteca é um espaço privilegiado para a aquisição de conhecimentos”, destaca. “Além disso, é um ambiente no qual os estudantes aprendem a ler, a pesquisar e a compor textos de forma autônoma.”

A Biblioteca Lúcio Lins também é um local para a realização de projetos. Um deles, o Viajando Através das Histórias Infanto-Juvenis, criado para desenvolver a capacidade de leitura de alunos com dificuldade de aprendizagem. Outro projeto é o Conhecendo Nossa Comunidade e Escola, destinado a promover visitas a locais próximos à escola e a permitir que os estudantes conheçam projetos voluntários realizados na própria comunidade.

“O objetivo é fazer o aluno participar, na prática, da vida da comunidade e exercer compromisso com a coletividade”, afirma Rodrigues. Com 38 anos de magistério, ele tem graduação em letras e especialização em educação em direitos humanos. (Ana Júlia Silva de Souza)

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Projeto de escola fluminense tenta abranger a comunidade

Três alunos leem livro na biblioteca

A pedagoga Janete Lima Cavalcante, diretora da Escola Municipal Professora Edna Umbelina de Sant’Anna da Silva, no município fluminense de Nova Iguaçu, criou um projeto para incentivar a leitura entre os pais e responsáveis pelos 719 alunos do primeiro ao quinto ano do ensino fundamental matriculados na instituição. Mas ela pretende atingir também a comunidade. O projeto Pare e Repare o Livro tem início este mês, com o empréstimo de exemplares aos interessados.

O projeto contará com especial atuação dos alunos do quinto ano, que terão a tarefa de ler uma obra a cada semana. Depois, falarão sobre ela aos estudantes das outras turmas e aos pais, por meio de apresentações curtas — dramatizações, músicas e jograis, entre outras atividades — relativas a trechos do conteúdo lido. O objetivo, segundo Janete, é deixar a plateia com “água na boca”, curiosa para saber o restante de cada história.

Para os colegas das outras turmas, as apresentações terão como palco as salas de aula; para os pais, serão realizadas 30 minutos antes do horário de saída. “Um grupo de alunos do quinto ano que já tenha finalizado as tarefas ficará na entrada da escola, em uma mesa com livros, para que os pais possam pegar emprestados os títulos que desejarem”, explica a diretora. As atividades serão realizadas às segundas, quartas e sextas-feiras.

Participante do projeto, a professora Renata Câmara Mascarenhas, também espera um aumento do interesse pela leitura. Graduada em pedagogia, ela dá aulas a alunos das turmas iniciais do ensino fundamental.

Para a também professora Roberta Dutra, que leciona a turmas de quarto e quinto ano, o projeto é um convite para o reposicionamento social, uma vez que as famílias são cativadas pela leitura por meio dos filhos e da escola. Com 17 anos de magistério, graduada em letras, ela acredita na leitura como meio de reflexão e ação para valorizar a vida. “Os projetos desenvolvidos nas bibliotecas escolares democratizam a leitura e a escrita, favorecem o diálogo e a compreensão no processo de ensino e aprendizagem”, ressalta.

De acordo com Roberta, valorizar a leitura na escola é um excelente caminho para exercitar as ideias a favor de si e do próximo, de diminuir os receios quanto à escrita, a partir da criatividade, da afetividade e da subjetividade. ”Com textos diversificados, canções e jograis, observamos o quanto as atividades desenvolvidas na biblioteca possibilitam o crescimento de todos, no vocabulário, na oralidade e na sensibilidade para compreender e lidar com a diversidade escolar”, enfatiza. (Fátima Schenini) Republicada com correções.

 

Escola desenvolve projeto de estímulo à leitura em Minas

Alunos manuseiam livros em estante de biblioteca

No início de cada ano letivo, a Escola Municipal Professora Elza Rogério escolhe um autor para ser estudado e homenageado por todas as turmas do ensino fundamental durante a realização do projeto Sarau Poético. O selecionado, este ano, é o poeta Vinícius de Moraes (1913-1980). Em 2011, foi a poetisa Cecília Meireles (1901-1964). A escola está localizada no município de Muriaé, na Zona da Mata mineira, a 300 quilômetros de Belo Horizonte.

De acordo com Vilma Assis Gomes, que dá aulas a alunos do terceiro ano do ensino fundamental, o projeto engloba a realização de diversas atividades, de acordo com a maturidade de cada classe. “Para finalizar, há apresentações de trabalhos de todas as turmas, envolvendo declamação de poesias, dramatizações e danças, dentre outras atividades”, explica a professora, que tem pós-graduação em letras — língua portuguesa e literatura brasileira. Com sete anos de magistério, seis dos quais na escola, ela já lecionou em outras unidades de ensino municipais e estaduais das áreas urbana e rural de Muriaé e do município vizinho de Miradouro.

Outro projeto de estímulo à leitura desenvolvido na escola é o Vai e Vem, criado para despertar o gosto pela leitura e pela literatura, enriquecer o vocabulário e melhorar a escrita. Inicialmente, quando começa o ano letivo, a diretoria da instituição distribui livros de literatura em cada turma, de acordo com a idade e o nível de escolaridade dos alunos. Segundo a diretora, Maria Helena de Andrade, nas turmas do primeiro ao quinto ano, as obras ficam guardadas em sala de aula, sob a responsabilidade dos professores; do sexto ao nono, ficam na biblioteca. Nos dois casos, às sextas-feiras, os estudantes podem escolher os livros que desejam ler. O controle é feito com o auxílio de um caderno, no qual são anotados os nomes dos estudantes e os títulos dos livros emprestados e devolvidos.

“Em geral, os livros são recolhidos na segunda-feira para a redistribuição na sexta-feira seguinte e, assim, dar sequência ao projeto”, explica a professora Vilma. Sempre que possível, os alunos participam de uma roda de apresentação dos livros lidos. “É nítida a empolgação dos alunos no momento da escolha dos títulos”, ressalta. “Um aluno sempre influencia outro colega.”

Vilma deixa claro que a intenção do projeto não é obrigar o aluno a ler, mas permitir que ele tenha contato com o mundo mágico dos livros e que, desse modo, descubra por si mesmo o prazer de ler.

Interesse — “Em minhas aulas de literatura, já faz parte da prática a ida à biblioteca onde funciona o projeto Vai e Vem”, revela Alessandra Braga Breder Peixoto, que leciona em turmas do sexto e do sétimo anos. Periodicamente, ela promove debates com os alunos para que todos possam comentar sobre as obras lidas. “A conversa desperta o interesse da turma pela leitura de um livro que o colega já leu”, relata. “Às vezes, acontece até uma disputa para ler o mesmo livro.”

Para Alessandra, é gratificante observar, nos estudantes que vivem uma realidade difícil, o contato e a leitura de livros de poesia, de invenções ou de aventura. “É bom saber que esse aluno dedicou seu tempo simplesmente à leitura. É o máximo”, diz a professora. Graduada em letras, ela está há 20 anos no magistério. (Fátima Schenini)

Estímulo à leitura é a proposta de projetos de escola de MS

Na Escola Municipal Professor Virgílio Alves de Campos, em Campo Grande, Mato Grosso do Sul, o incentivo à leitura é uma preocupação constante e faz parte de diferentes projetos. A Roda de Leitura, realizada na Biblioteca Pedro José da Silva, é exemplo de projeto programado para estimular o hábito entre os 680 estudantes matriculados na instituição, da educação infantil até o nono ano do ensino fundamental.

De acordo com Analu Roncaglio Fernandes, funcionária da biblioteca, a Roda de Leitura é uma atividade pré-agendada, realizada com uma turma diferente a cada dia. Começa com a narração de uma história. Depois, os estudantes fazem leitura livre e escolhem um livro para ler em casa.

Outro exemplo de projeto é a Roda do Meio Ambiente e Saúde, criada para incentivar a leitura, despertar a consciência ecológica e os cuidados com a saúde e o meio ambiente. Segundo Analu, um setor da biblioteca reúne livros, revistas, gibis e outras publicações sobre esses temas. O material está à disposição dos professores.

A Sacola da Leitura é outro projeto. O nome vem do saco, feito em tecido, usado para acondicionar a obra a ser levada pelo estudante para a leitura em casa. Na sacola vão também orientações para pais e responsáveis. A cada dia, três alunos de cada série podem escolher um livro, que deve ser devolvido à escola depois da leitura.

Gibi — A professora Mônica Inácio de Oliveira Prestes, que leciona nos anos iniciais do ensino fundamental, desenvolveu vários projetos de estímulo à leitura nos 15 anos de atuação no magistério. Atualmente, tem trabalhado com o Projeto Gibi. “Uma vez por semana, os alunos vão à biblioteca, escolhem gibis de um tema único para toda a sala e os levam para ler em casa no fim de semana”, explica Mônica. Depois da leitura, cada estudante deve elaborar de três a cinco perguntas sobre a história para fazer aos colegas na sala de aula, de forma a gerar um debate sobre os temas.

Formada em pedagogia, com licenciatura plena em educação infantil e ensino fundamental e pós-graduação em mídias na educação e psicopedagogia clínica e institucional, Mônica trabalha também com o projeto Ciranda da Leitura. “Os alunos estão lendo, em média, oito livros da roda por mês, com um resultado significativo na melhoria da leitura e da escrita”, revela.

Nesse projeto, cada aluno escolhe duas obras. Depois, as troca com os colegas. Após a leitura, os estudantes relatam, recontam e ilustram o que leram e respondem a perguntas dos colegas. Algumas vezes, os familiares participam das atividades, ao recontar as histórias. (Fátima Schenini)

Trabalho com música contribui para integração do ser

Professoras Michelle e Daniela, com alunas usando fantasias de carnaval

Psicopedagoga, pianista, educadora musical e arte-educadora, Michelle Fonseca Nasr atua na educação há mais de seis anos, sempre na área de artes e música. Com licenciatura em música, ela tem mestrado em música e especialização em arte e cultura barroca, em psicopedagogia (clínica e educacional) e em artes visuais.

Professora do ensino médio e fundamental, Michelle trabalha na Rede Estadual de Ensino do Estado do Espírito Santo, no município de Cachoeiro de Itapemirim. Ela dá aulas na Escola Estadual Professora Inah Werneck, para estudantes do primeiro ao quarto ano do ensino fundamental. No primeiro semestre letivo de 2012, ela desenvolve o projeto Brincando com o Som. O objetivo é trabalhar conteúdos da linguagem musical e, ao mesmo tempo, desenvolver um trabalho de musicalização que possa contribuir para o desenvolvimento da inteligência e a integração do ser.

Segundo Michelle, havendo a necessidade de um trabalho de intervenção que auxilie na leitura, escrita e no aprofundamento do raciocínio lógico, o projeto também contribui com a aprendizagem interdisciplinar entre arte, língua portuguesa e matemática. Ela diz que são enfatizadas algumas sugestões de atividades que desenvolvem o aspecto da gramática musical no contexto social, cultural, artístico e como recurso facilitador da leitura, escrita e do raciocínio lógico. “O projeto remete também à inteligência musical, apontada por Howard Gardner como uma das múltiplas inteligências, e à capacidade que a música tem de influenciar o homem física e mentalmente, podendo contribuir para a harmonia pessoal, facilitando a integração e a inclusão social”, enfatiza.

No início desse ano letivo, ela desenvolveu com seus alunos um trabalho criativo sobre o carnaval, englobando teatro, artes plásticas e música. Nesse trabalho, foram realizadas atividades artísticas que buscavam resgatar a cultura popular. Os estudantes produziram e confeccionaram máscaras, realizaram um estudo sobre a marchinha de carnaval A Jardineira e conheceram variados ritmos carnavalescos e suas coreografias.

O ponto culminante desse trabalho foi o “Grito de Carnaval”, realizado no dia 17 de fevereiro, à tarde, no pátio da escola. As atividades contaram com o apoio das pedagogas e coordenadoras da instituição e com as parcerias da professora de educação física, Daniela Grillo e das professoras de núcleo comum, que trabalharam a cultura e a origem do Carnaval, de forma teórica, nas salas de aula. (Fátima Schenini)

Bernadete Campello (UFMG): trabalho conjunto do bibliotecário com o professor é fundamental

Bernadete Campello

Professora da Escola de Ciência da Informação da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Bernadete dos Santos Campello tem doutorado em ciência da informação e mestrado em biblioteconomia. Autora de diversos livros, ela participa, atualmente, de dois projetos de pesquisa – Documentando o conhecimento sobre biblioteca escolar no Brasil: diagnósticos, pesquisas e legislação e Letramento informacional: desafios para formar pessoas competentes no uso de informações.

Em entrevista ao Jornal do Professor, Bernadete Campello diz que o bibliotecário tem diversos papeis na escola, mas é fundamental que realize um trabalho conjunto com o professor. Em sua opinião, é importante que a biblioteca se dedique a um trabalho planejado, constante e persistente a fim de desenvolver e manter o interesse dos estudantes pela leitura. Além disso, acredita, as novas tecnologias, especialmente a internet, potencializam o papel das bibliotecas escolares.

Jornal do Professor – Qual é a importância que uma biblioteca na escola pode trazer para o aprendizado e a educação dos estudantes?

Bernadete Campello – A biblioteca na escola tem sido tradicionalmente associada à leitura. Eu gosto de pensar a biblioteca como um espaço de aprendizagem onde, além de ler, os estudantes têm oportunidade de aprender com os livros e as informações que ali estão reunidas. Além de aprender os conteúdos curriculares tradicionais, aprendem a desenvolver capacidades para encontrar, escolher e usar adequadamente as inúmeras informações que hoje estão disponíveis em diversos suportes.

JP – Qual é o papel que o (a) bibliotecário (a) deve exercer em uma biblioteca escolar?

BC – O bibliotecário tem diferentes papéis na escola. Na sua dimensão gerencial e técnica ele administra a biblioteca, atuando nos processos de seleção e aquisição de materiais, preparando instrumentos de acesso à informação (catálogos, bases de dados etc.), gerenciando recursos materiais e humanos, enfim, garantindo o bom funcionamento da biblioteca. Na dimensão educativa ele trabalha junto com os professores para fazer da biblioteca um espaço de aprendizagem, ajudando a planejar atividades de leitura e de pesquisa que requeiram o uso de recursos informacionais. Participa dessas atividades, colaborando na aprendizagem de habilidades informacionais que requeiram suas competências específicas de especialista na busca, na seleção e no uso de informações.

Percebe-se, então, que o trabalho conjunto do bibliotecário com o professor é fundamental. O bibliotecário tem uma formação específica, que o capacita para realizar todos os processos inerentes a um espaço complexo como a biblioteca, mas para exercer sua função educativa a parceria com os professores é essencial. Se os professores não integram a biblioteca às suas práticas pedagógicas e se não buscam a parceria com o bibliotecário é muito difícil que ela seja um espaço reconhecido e utilizado plenamente. Considero que a ampliação da colaboração professor/bibliotecário é atualmente o grande desafio para implementar metodologias construtivistas nas escolas.

JP – Que tipo de atividades podem ser realizadas em uma biblioteca a fim de atrair os estudantes e estimular o interesse pela leitura (da educação infantil ao ensino médio)?

BC – Percebo que existe uma preocupação muito grande em dinamizar a biblioteca, realizando atividades para atrair os estudantes para a biblioteca e a leitura. O problema é que muitas vezes são atividades esporádicas, pontuais. Em minha opinião, o importante é que a biblioteca se dedique a um trabalho planejado, constante e persistente a fim de desenvolver e manter o interesse pela leitura. Isso funciona se a escola investe coletiva e persistentemente em projetos de leitura. Essa é a situação ideal. Sem esse envolvimento a biblioteca se fragiliza, se transforma em depósito de livros.

JP – Que tipo de obra não pode faltar no acervo de uma biblioteca escolar?

BC – O acervo da biblioteca deve contemplar a diversidade textual. O acesso à variedade de textos é um pressuposto da educação atualmente, e o acervo da biblioteca reflete essa ideia. Então, além dos livros literários, penso que a biblioteca precisa fornecer boas possibilidades de acesso à internet, facilitando o acesso à riqueza de informações que a rede oferece.

JP – Com o surgimento das novas tecnologias, como fica o papel das bibliotecas?

BC – Entendo que as novas tecnologias, especialmente a internet, potencializam o papel das bibliotecas escolares. Por um lado, o papel continua o mesmo: fornecer acesso aos livros e às informações, ajudando o aluno a usar esses materiais para aprender. Por outro, a internet possibilita o enriquecimento do acervo, ao mesmo tempo em que exige capacidades para lidar com a abundância de informações que oferece. Então o bibliotecário tem um papel importante no desenvolvimento da competência informacional, que permite à pessoa lidar adequadamente com esse acúmulo de informações.

JP – A senhora coordena o Grupo de Estudos em Biblioteca Escolar (Gebe), localizado na Escola de Ciência da Informação da UFMG. Quando o Gebe foi criado, qual seu objetivo e quais os principais resultados obtidos?

BC – O Gebe começou suas atividades em 1998, na Escola de Ciência da Informação da UFMG e desde então vem se dedicando às atividades básicas de uma instituição acadêmica: pesquisa, ensino e extensão. Como professores em um curso de biblioteconomia, o fundamento de nossas ações é a biblioteca escolar como espaço de aprendizagem, isto é, entendemos que a biblioteca é um lugar para aprender com os livros e com as informações. Entendemos também que essa aprendizagem só ocorrerá se houver processos de mediação e que o bibliotecário tem um papel fundamental nessa mediação.

Os resultados se materializam no reconhecimento que temos obtido do trabalho do Gebe. Penso que a realização de pesquisas, a participação em fóruns internacionais, a preocupação em tornar nossas ideias conhecidas (ao publicar livros acessíveis para a comunidade educacional) e, principalmente, o esforço em ampliar a interlocução com professores, tem levado a esse reconhecimento.

JP – Um dos trabalhos realizados pelo Gebe foi a elaboração de parâmetros para as bibliotecas escolares. Qual o objetivo desse trabalho? Quais os principais pontos abordados nesses parâmetros?

BC – Os parâmetros foram resultado de uma parceria do Gebe com o Conselho Federal de Biblioteconomia e constituem um referencial para apoiar a criação e/ou reestruturação de bibliotecas escolares. Na verdade, até então, não tínhamos no Brasil esse tipo de diretriz. Não havia uma definição clara do que seja uma biblioteca. Os parâmetros fazem essa definição, propondo indicadores mínimos para espaço físico, coleção, acesso à internet, organização da coleção, serviços e atividades e pessoal. É um primeiro passo para que o Brasil tenha bibliotecas de qualidade, que atendam às exigências da Lei 12.244, que dispõe sobre a universalização de bibliotecas escolares.

JP – Sabe-se que muitas escolas não dispõem de profissionais especializados atuando nas bibliotecas. Como preparar os professores para exercer essa atividade? As instituições de ensino superior costumam promover cursos de especialização nesse sentido?

BC – Embora existam no Brasil, cerca de trinta cursos de biblioteconomia, que formam bibliotecários em nível de graduação, a grande maioria das bibliotecas escolares não conta com esse profissional. A atuação de professores nas bibliotecas, embora desejável, não contempla toda a gama de atividades necessárias para a constituição completa desse espaço. Eles, os professores, não têm formação para substituir o bibliotecário. Na minha opinião, o professor tem uma atuação importante na biblioteca escolar estimulando e apoiando os estudantes no uso da coleção. Os bibliotecários reconhecem a importância dessa atuação, tanto é que em boas bibliotecas dirigidas por bibliotecários, é comum que haja um professor na equipe.

Quanto aos cursos de especialização, algumas instituições de ensino superior têm oferecido cursos nesse nível, aberto a professores. Tenho conhecimento de cursos dessa modalidade oferecidos na Universidade Estadual de Londrina e nas universidades federais de Santa Catarina, Pará e Rio Grande do Sul.

Acesse o Grupo de Estudos em Biblioteca Escolar