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JORNAL

Ações de Reciclagem

Terça-feira, 12 de Junho de 2012

Edição 73

EDITORIAL - Ações de Reciclagem

Na semana que antecede a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20, o Jornal do Professor apresenta experiências de escolas em ações de reciclagem. O tema da 73ª edição foi o escolhido por 44,24% dos leitores que votaram na enquete colocada em nossa página.

Nesta edição, selecionamos práticas desenvolvidas por professores do Colégio Estadual José Elias da Rocha, de Ponta Grossa (PR); Colégio Estadual Leonilda Papen, de Mercedes (PR); Escola Municipal Eladir Skibinski, de Joinville (SC); Escola Municipal de Ensino Fundamental Rafael Pinto Bandeira, de Vila Lângaro (RS); Escola Municipal de Ensino Fundamental Vila Aparecida, de Portão (RS); Escola Municipal Deputado Pedro Fernandes, do Rio de Janeiro, capital; e da Escola Municipal de Educação Infantil Ambaí, de Nova Iguaçu RJ).

No Espaço do Professor, temos a participação da professora formadora Luciana Demery. Consultora da rede municipal de Tamandaré, ela fez o acompanhamento do projeto de Educação Ambiental desenvolvido por quatro professoras da Escola Municipal Padre Enzo Rizzo, na área rural daquele município.

Nossa entrevistada é a professora Thérèse Hofmann Gatti, do Departamento de Artes Visuais do Instituto de Artes da Universidade de Brasília (UnB). Ela detém duas patentes registradas no INPI: Reciclagem de Papel Moeda (1996) e Reciclagem de Bitucas de Cigarro (2003).

Ajude-nos a escolher o tema das próximas edições, votando na enquete colocada em nossa página. E aproveite para colaborar enviando sugestões, críticas, textos e músicas!

Seja bem-vindo!

Professores desafiam alunos a reciclar e a formular ações de cidadania

Alunos em exposição de objetos feitos com material reciclado

Duas escolas do interior paranaense desenvolvem projetos destinados a despertar nos estudantes a consciência ambiental. Em ambas, o lixo é reciclado, reutilizado e reduzido com a participação dos alunos. Mauricéia Aparecida de Castro, professora do Colégio Estadual José Elias da Rocha, de Ponta Grossa, destaca a importância de os professores, como formadores de opinião, incentivarem os alunos a formular ações de cidadania. Ítalo Ariel Zanelato, do Colégio Estadual Leonilda Papen, do município de Mercedes, salienta que cabe à escola incutir nos estudantes a cultura de preservação do meio ambiente.

Formada em ciências biológicas, com 20 anos de magistério, Mauricéia desenvolve, desde 2000, o projeto A Reciclagem como Cultura Ambiental na Escola, destinado a viabilizar a reciclagem de resíduos sólidos durante atividades curriculares. Outra meta é promover a integração com a comunidade local e transmitir valores éticos, atitudes e comportamentos ecologicamente corretos.

Segundo Mauricéia, os alunos gostam das atividades de reaproveitamento de materiais recicláveis. Com jornais velhos, confeccionam vasos de flores e bijuterias; com garrafas plásticas, montam brinquedos e pufes. Potes de vidro são reaproveitados para guardar condimentos, balas e embalagens de leite dão origem a sacolas. Bolsas podem ser feitas com lacres de latinhas de alumínio. Óleo de fritura é destinado à produção de sabão. De acordo com a professora, a autoestima dos estudantes aumenta quando percebem que são capazes de fazer coisas bonitas e úteis.

Mauricéia, que leciona ciências a estudantes do ensino fundamental e biologia aos do ensino médio, cadastrou o colégio em campanha de reciclagem promovida por um fabricante de produtos verdes. Os alunos coletam embalagens diversas e as enviam à empresa via Correios, com porte pago. A atividade recebe uma pontuação e, ao atingir um índice predeterminado, o valor é revertido em dinheiro para a escola.

Formação — No Colégio Leonilda Papen, o grêmio estudantil mobiliza os alunos para a coleta de lixo reciclável na escola, em casa e nas casas de parentes. Esse lixo, segundo o professor Zanelato, é encaminhado a cooperativas de reciclagem. O dinheiro arrecadado é usado na manutenção da horta escolar. “A iniciativa é de fundamental importância, pois coloca os alunos em ação, rompe com a inércia e desenvolve a consciência correta em relação ao uso racional dos resíduos naturais”, avalia o diretor da escola, Carlos Seibert, graduado em educação física e em ciências sociais, professor desde 1988. Em sua opinião, além de contribuir para a formação do aluno, a ação torna-se instrumento de formação de toda a família, multiplicando assim sua abrangência. “Nossa expectativa é que o aluno, além de olhar para a sociedade consumista de forma crítica, possa colocar-se como sujeito da história e entender que ele também é responsável pelo meio ambiente em que vive e pela sua preservação”, destaca.

Os professores também incentivam os alunos a doar o papel de todas as provas e trabalhos feitos para a reciclagem. Segundo Zanelato, estão envolvidos nas atividades estudantes de turmas do sexto ano do ensino fundamental até a terceira série do ensino médio. “É de essencial importância educar nossos alunos para serem cidadãos conscientes, éticos, morais, pensadores e responsáveis por tudo o que produzem, inclusive lixo”, diz Zanelato, formado em filosofia. (Ana Júlia Silva de Souza)

Estudantes transformam papel em arte

Alunos reciclam papel

No município catarinense de Joinville, uma instituição de ensino decidiu criar um ambiente que permitisse aos estudantes desenvolver a consciência ecológica e conhecer técnicas de reciclagem de papel. No Ateliê de Arte em Papel Reciclado da Escola Municipal Eladir Skibinski, os alunos aprendem a preparar o papel descartado para imprimir trabalhos e confeccionar cartões, convites, blocos de recados, porta-retratos e crachás, entre outros itens. “Agindo sobre o meio natural, os jovens podem recriar seu próprio meio, ao transformar lixo em arte, dificuldades em conquistas, esforço em prazer”, diz Valquíria Inês Arther, professora de atividades complementares e responsável pelo ateliê. Formada em educação física, ela trabalha há 20 anos na rede de ensino do município.

Um grupo de 65 estudantes do quarto ano do ensino fundamental participa das atividades desenvolvidas no ateliê, mas todas as turmas visitam o espaço para conhecer o processo de reciclagem. Os participantes reúnem-se duas vezes por semana, em pequenos grupos de 10 a 15 pessoas. São dedicadas três horas semanais à atividade, realizada em sala equipada especificamente para o desenvolvimento das técnicas de reciclagem.

O trabalho é desenvolvido em três etapas. Na primeira, os alunos recebem as primeiras noções de educação ambiental, assistem a vídeos e participam de debates sobre os diferentes meios em que vivem — escola, bairro, cidade, país, mundo. Na segunda, fazem a coleta de papéis descartados nos vários setores da escola e os levam para o ateliê. Por último, executam a reciclagem, que passa por selecionar o material, picar, colocar de molho, bater (em liquidificador), adicionar água e secar. Depois, o papel estará apto a ser usado na confecção dos diferentes produtos.

“Os recursos financeiros oriundos da comercialização do que é produzido são usados para sustentar as oficinas e na promoção de cursos que permitam aos alunos aprender técnicas de aprimoramento da qualidade do papel reciclado”, explica a professora Valquíria.

Valorização — O projeto do ateliê visa ainda a que os participantes reconheçam a importância da coleta seletiva do lixo, valorizem o trabalho em equipe e desempenhem tarefas que beneficiem a todos. Outro propósito é a ampliação do tempo escolar, com atividades agradáveis, de forma a potencializar o processo de ensino e aprendizagem.

De acordo com a pedagoga Nazaré Costa, coordenadora do projeto, a atividade ganhou força no município. A escola tem sede no Parque Joinville, área cuja população é composta por catadores de material reciclado.

O Ateliê de Arte faz parte do programa municipal Saber & Acontecer, que desenvolve atividades artísticas, desportivas e culturais no período posto (contraturno) aos das aulas regulares. (Ana Júlia Silva de Souza)

Consciência começa cedo em escolas fluminenses

Professora e alunos na sala de aula

O reaproveitamento de materiais sempre foi tema de interesse para a professora Cristiane Rocha. “Trabalhando em escola pública, procuro a melhor maneira de reaproveitar os materiais disponíveis”, diz a professora, que neste semestre conclui o curso de licenciatura em pedagogia. Há dez anos no magistério, ela leciona na Escola Municipal Deputado Pedro Fernandes, no Rio de Janeiro, capital, e na Escola Municipal de Educação Infantil Ambaí, no município fluminense de Nova Iguaçu.

Na sala de aula, o assunto surge durante conversa informal com os alunos. Como trabalha com educação infantil, Cristiane usa a construção de brinquedos como elemento de motivação. Por meio de fotos e figuras, ela mostra às crianças o que é possível fazer com o lixo. “Peço aos alunos que tragam tudo o que eles acham que pode ser reutilizado e monto oficinas na sala de aula”, explica. “A cada dia, confeccionamos um brinquedo diferente.”

A professora adota a mesma estratégia para a confecção de presentes para datas comemorativas, como os dias das mães e dos pais. O trabalho com reciclagem na escola sempre começa com a própria turma de Cristiane, mas aos poucos vai envolvendo os colegas. A atividade tem início com um bilhete aos pais para informar o objetivo do trabalho e pedir a doação do material de sucata necessário para a montagem de brinquedos e outros objetos. O que sobra é doado a catadores de material reciclado.

Durante as atividades, os alunos dão sugestões. “No início, tanto as crianças quantos os pais ficam desconfiados com o pedido, mas acabam surpresos com o produto final”, garante Cristiane. “Muitos elogiam e até perguntam como foi feito.”

Blog — Na escola Ambaí, a professora já promoveu exposições dos produtos e oficinas para os pais. Ela mantém um blog, desde 2008, no qual reúne atividades que criou ou que aproveitou após pesquisas em livros, revistas ou internet.

Criado inicialmente apenas como trabalho de faculdade, o espaço, Educação Infantil Criativa, acabou ganhado importância maior. “Hoje, o objetivo principal é mostrar um pouco da minha prática pedagógica e trocar ideias com outros professores”, diz Cristiane. (Fátima Schenini)

Confira o blog da professora

Grupo de avós recicla material para dar apoio à escola

Foto mostra professores e avós

No pequeno município de Portão, na região metropolitana de Porto Alegre, a Escola Municipal de Ensino Fundamental Vila Aparecida destaca-se na área de preservação do meio ambiente. Fundada há 27 anos, a instituição promove aulas de educação ambiental há 13 anos. Com 150 alunos, da educação infantil ao quinto ano, a escola conta com grande participação dos pais.

“Na comunidade está a força e o apoio da escola, em todos os momentos”, destaca a diretora, Elza Aparecida Pereira. A presença da família também é muito valorizada na instituição. Um grupo formado por avós e amigas da escola — De Mãos Dadas com a Vida — reúne-se quinzenalmente. Com material utilizado para forro de calçados, que teria como destino o lixo, recolhido nas indústrias da região, as participantes do grupo confeccionam capas de caderno, sacolas, bonecos e até guirlandas.

A escola também promove a coleta de óleo usado e o repassa a uma empresa de produtos de limpeza. Como contrapartida, recebe detergente para lavagem de louça. “Fizemos uma ação na comunidade, de confecção de sabão com óleo de cozinha usado, que foi um sucesso entre as donas de casa”, revela a diretora. “Elas levaram a receita para casa e também uma amostra do sabão.”

Formada em pedagogia, com habilitação em séries iniciais e educação infantil, Elza faz curso de pós-graduação em gestão escolar. A leitura é outro ponto fundamental na Escola Vila Aparecida. Por meio do Projeto de Leitura, os estudantes maiores leem para os menores e para pessoas da comunidade. Este ano, têm ênfase a leitura oral e apresentações dos estudantes para melhorar a dicção e a oratória e reduzir a inibição. A escola promove atividades de integração com alunos de municípios vizinhos. Em maio último, foi realizado encontro com estudantes do curso de magistério do Instituto de Educação de Sapiranga. As atividades interativas tiveram como tema os personagens do Sítio do Pica-Pau Amarelo. “Nossos alunos estão estudando sobre Monteiro Lobato, e o gosto pela leitura vem se acentuando a cada dia”, ressalta a diretora. (Fátima Schenini)

Confira o blog da escola

Estudantes gaúchos vendem papel e compram livros para biblioteca

Alunos colocam sacos de material reaproveitável em caminhão

Com o projeto As Pequenas Ações Transformam Vidas, alunos da Escola Municipal de Ensino Fundamental Rafael Pinto Bandeira, de Vila Lângaro, município a 327 quilômetros de Porto Alegre, estão cada vez mais comprometidos com a preservação do meio ambiente. Eles desenvolvem várias atividades, como coletar e vender plástico e papel. Com os recursos obtidos, compram livros para a biblioteca da escola.

“O objetivo é tornar o meio ambiente cada vez melhor e os alunos, comprometidos com a vida, a natureza e a melhoria dos ambientes com os quais convivem”, explica a diretora da escola, Ana Cristina Bassegio. Criado em 2009, o projeto é resultado de parceria com a secretaria de Educação do Rio Grande do Sul. Interdisciplinar, tem a participação de estudantes desde a educação infantil até o nono ano (oitava série) do ensino fundamental.

Durante as aulas de matemática, os estudantes aprendem a resolver problemas a partir dos dados obtidos com a pesagem do material coletado. Nas de ciências, a separar o lixo orgânico do seco, pilhas e vidros. E nas de português, produzem textos sobre a importância da preservação do meio ambiente.

Segundo Ana Cristina, a principal finalidade do projeto é contribuir para a formação de cidadãos conscientes, aptos a decidir e a atuar na realidade socioambiental, comprometidos com a vida e o bem-estar de cada um e da sociedade. “A consciência da preservação ambiental traz para a vida dos alunos interações construtivas, justas e ambientalmente sustentáveis para um desenvolvimento de valores, atitudes e posturas éticas”, diz a diretora, que está no cargo há dois anos. Formada em letras, ela tem especialização em interdisciplinaridade.

Conscientização — A escola também promove campanhas de conscientização sobre a necessidade de se preservar o meio ambiente. São propostos temas sobre a questão ambiental em palestras e gincanas culturais, nas quais os estudantes criam brinquedos e jogos pedagógicos com material reciclado. Em 31 de maio último, foi realizado o Dia do Desafio. Professores e estudantes participaram de uma caminhada para recolhimento do lixo no trajeto que dá acesso a escola, na área rural do município. (Ana Júlia Silva de Souza)

Projeto de educação ambiental promove união de esforços entre escola e comunidade

A pedagoga Luciana Demery, de Recife (PE), é consultora da rede municipal de Tamandaré, com atendimento em formação para equipe de coordenação pedagógica e projetos didáticos desenvolvidos nas escolas. Ela também é professora da Faculdade de Formação de Professores da Mata Sul (Famasul), no município pernambucano de Palmares.

Professora formadora, Luciana foi responsável pelo acompanhamento e orientação de um projeto didático de educação ambiental desenvolvido no segundo semestre de 2011, por quatro professoras da Escola Municipal Padre Enzo Rizzo: Creusa Maria da Silva, Estela Benigno Ramo, Marcia Rosário Damaceno Lopes Toledo e Janecleide Vasconcelos dos Santos.

Leia abaixo o projeto.

Escola Ativa: Educando Gerações para Sustentabilidade

Este trabalho é resultado de uma experiência vivenciada em uma escola rural do município de Tamandaré, Pernambuco, com o objetivo de integrar a escola e a comunidade ao compromisso com a educação ambiental e saúde além da sustentabilidade local e da qualidade de vida de todos.

Creusa Maria da Silva

Estela Benigno Ramos

Marcia Rosário Damaceno Lopes Toledo

Janecleide Vasconcelos dos Santos

Professora formadora: Luciana Demery

Introdução

O Projeto de Educação Ambiental foi uma experiência vivenciada por estudantes dos anos iniciais do programa Escola Ativa da Escola Padre Enzo Rizzo, localizada na zona rural do município de Tamandaré, região litorânea do estado de Pernambuco, a partir da análise de diversas publicações de reuniões promovidas por cientistas dos países desenvolvidos, para discutir o consumo e comparar as reservas de recursos naturais não renováveis existentes, ao crescimento da população mundial.

Ficou clarificada aos estudantes, a necessidade urgente de se buscar meios para a conservação dos recursos naturais locais, além de se investir numa mudança radical na mentalidade de consumo. “O homem deve examinar a si próprio, seus objetivos e valores; o ponto essencial não é a sobrevivência da espécie humana, mas a sua possibilidade de sobreviver”.

Os estudantes da escola juntamente com a comunidade não se sentem inseridos no processo de preservação do meio ambiente onde vivem. Vale salientar, que a comunidade onde a escola se encontra busca a sobrevivência através da agricultura e da pesca, está localizada próxima ao mar, de rios e de uma reserva biológica (Reserva Biológica do Saltinho/Ibama). Diante desses fatos, defendem a ideia de que conviver com a poluição, degradação ambiental e mudanças climáticas é o preço que se paga para o progresso.

Métodos:

A metodologia aplicada na sala de aula foi desenvolvida com leituras e elaboração de textos sobre educação ambiental; debates; sessões de vídeos; organização de murais; oficinas para confecção de objetos diversos com material reciclado; desfile na comunidade local em comemoração à semana do meio ambiente; mutirão de limpeza da área externa da escola e gincanas.

Foram realizadas palestras com os pais dos alunos e a comunidade local em geral com o objetivo de informar sobre a importância dos temas preservação e sustentabilidade. Os alunos realizaram visitas à comunidade para registrar em fotografias a situação do meio ambiente em que vivem e confeccionaram estórias em quadrinhos após leitura informativa e pesquisas sobre o tema.

A promoção da relação entre as atividades realizadas pelos alunos em sala de aula e os pais foi o ponto chave para que o projeto se torne uma ação contínua na comunidade e não se esgote no decorrer do tempo de sua implantação.

A pedagogia de projeto é uma metodologia que, de forma geral, sintetiza todas as outras aqui abordadas porque promove a busca da solução dos problemas intrinsecamente ligados ao processo da aprendizagem, fortalece a didática na sala de aula e a interdisciplinaridade, além de incluir a comunidade como sujeito participativo do processo de ensino.

Resultados e Discussão:

O projeto de pesquisa possibilitou à comunidade escolar e à local a oportunidade de refletir sobre os problemas ambientais, causados pelo ser humano e por sua necessidade de consumo ilimitado.

Das discussões em sala de aula surgiu a necessidade de estabelecer parceria com os pais dos alunos para promover a instituição, na escola, do “Conselho Amigo do Meio Ambiente”. Nele, a confecção de bolsas retornáveis para substituir a utilização das sacolas de plástico nas compras, como também a oficina de confecção de sabão com óleo saturado se tornaram iniciativas para o desenvolvimento sustentável da comunidade.

Também foi criado na escola um grupo de alunos intitulado “Escoteiros do Meio Ambiente”, que atuará na comunidade divulgando as atividades escolares e apoiando o Conselho Amigo em suas atividades sustentáveis.

Conclusões:

A educação ambiental é uma das mais importantes exigências educacionais contemporâneas, não só no Brasil, mas em todo o mundo. Considerando que a educação ambiental não é modismo, é uma proposta de extrema importância, com consistência teórica e metodológica, professores e estudantes registram neste projeto resultados positivos na proposta de ensino e na relação entre a família e a escola.

Com relação à vivência das atividades escolares, o projeto apresentou resultados significativos, desde a mudança de postura dos professores em analisar sua prática pedagógica, até o compromisso de todos que fazem a comunidade escolar com os desafios em relação ao meio ambiente em que estão inseridos, tais como: limpeza na área externa à escola, coleta seletiva do lixo, reflexões sobre os temas abordados e fortalecimento do perfil da escola democrática.

Thérèse Hofmann Gatti (UnB): "Quanto mais cedo as crianças aprendem bons hábitos, mais naturais eles se tornam"

Thérèse Hofmann Gatti

Doutora em desenvolvimento sustentável, mestre em arte e tecnologia da imagem e licenciada em educação artística, Thérèse Hofmann Gatti é professora do Departamento de Artes Visuais da Universidade de Brasília (UnB). Exerce as funções de coordenadora do Laboratório de Materiais Expressivos e do Laboratório de Papel Artesanal e ainda coordena o curso de licenciatura de artes visuais a distância.

Com linha de pesquisa em materiais em arte e papel artesanal, Thérèse detém duas patentes registradas no Instituto Nacional da Propriedade Industrial (Inpi). A de reciclagem do papel-moeda e a de reciclagem de bitucas de cigarro.

Em entrevista ao Jornal do Professor, ela considera importante que as escolas participem de ações de reciclagem. Segundo Thérèse, quanto mais cedo as crianças aprendem bons hábitos, “mais naturais e introjetados tais hábitos se tornam”. Ela enfatiza, no entanto, a necessidade de a reciclagem ser uma ação assumida pela direção da escola, acompanhada por todos os professores. A escola deve ter um projeto que integre a reciclagem nas questões de conscientização sobre a racionalização do consumo de água, energia e insumos em geral e que aborde a reutilização dos produtos.

Jornal do ProfessorEm sua opinião, é importante que as escolas participem de ações de reciclagem? Por quê?

Thérèse Hofmann Gatti – Sim. A escola é o local das descobertas, onde o aprendizado deve ser continuado e integrado. É na escola que passamos boa parte do nosso dia durante o período da infância e adolescência. Para as crianças, quanto mais cedo aprenderem bons hábitos, mais naturais e introjetados esses hábitos se tornam. A reciclagem insere-se nas questões de saúde e meio ambiente e também no contexto de hábitos saudáveis.

JP – Que ações de reciclagem podem ser desenvolvidas nas escolas, de maneira geral?

THG – Dentro da especificidade dos parâmetros curriculares nacionais de cada fase do ensino fundamental e médio, a reciclagem deve estar inserida no contexto dos hábitos do dia a dia da comunidade escolar. Sejam alunos, professores ou os servidores das escolas. A reciclagem está inserida na questão da educação ambiental, prevista na Constituição de 1988. É uma temática que pode ser abordada em diversas disciplinas, como ciências, geografia e arte, e no ensino das questões do meio ambiente e saúde, entre outras. Não deve ser abordada só nas comemorações do dia do meio ambiente, mas ter um projeto de escola que a integre nas questões ambientais de conscientização da racionalização do consumo de água, energia e insumos em geral, com abordagem na reutilização dos produtos e diminuição do consumo.

JP – Como devem ser feitas essas ações? Como deve ser a participação dos alunos e da comunidade?

THG – A reciclagem insere-se numa cadeia de oito “erres” — refletir, reduzir, reutilizar, reciclar, respeitar, reparar, responsabilizar-se e repassar. Na escola, devem ser discutidas todas essas ações, a começar por “refletir” o consumo, repensar a necessidade real de ter tantos objetos. As ações são múltiplas e devem estar inseridas na programação anual da escola. Mas também ações básicas como a disponibilidade de coletores diferentes para cada tipo de lixo ou, pelo menos, um para materiais recicláveis e outro para orgânicos. Isso já estimula o descarte correto dos resíduos e mostra de forma clara a intenção da escola. Os hábitos dos professores também são muito observados e copiados pelos alunos. Não adianta o professor falar em preservar o meio ambiente se a cada ida ao bebedouro ele usa um copo descartável diferente. As ações devem ser coerentes. O professor não pode falar uma coisa e fazer outra. A ação deve acompanhar o discurso.

JP – Que tipos de materiais podem ser incluídos em campanhas de reciclagem promovidas nas escolas?

THG – As campanhas devem ser as mais criativas possíveis e contar com a participação ativa dos alunos, sem esquecer que a reciclagem não é a primeira ação ambiental. A primeira preocupação deve ser a questão de repensar o consumo desenfreado, na ordem dos oito “erres” citados. Nesse contexto, pode-se promover gincanas, competições de projetos sobre meio ambiente, execução de músicas, encenação de peças teatrais; confecção de cartazes; coleta de materiais recicláveis pela escola; criação de logomarcas sobre educação ambiental; designação de um dia sem uso de copo descartável etc. É recomendável também mostrar aos adolescentes como fazer sabão com óleo de cozinha usado.

JP – Além da questão de consciência ambiental e social, a escola pode obter algum recurso com a reciclagem?

THG – Sim. Há escolas que promovem campanhas de coleta de materiais e os vendem a empresas recicladoras.

JP – Existem modelos de projetos de reciclagem para que diretores e gestores possam usar como exemplo?

THG – Existem vários projetos. Mas, basicamente, é uma questão de hábito, que tem de fazer parte da cultura das pessoas. Cada escola tem uma realidade, e nem sempre é possível copiar um modelo de sucesso empreendido em outra escola. A questão fundamental é o princípio da ação. O que se deseja fazer? Qual a disponibilidade interna das pessoas da comunidade escolar em desenvolver tais projetos e ações? Não dá para ser o desejo de uma única pessoa. Tem que ser trabalho de equipe. Se não, cai no vazio. Ou fica pejorativo: "Isso é coisa da professora de artes” (para usar a minha área como exemplo). Já recebi vários pedidos de apoio de professores para desenvolver projetos de meio ambiente e reciclagem em escolas. Apesar do empenho desses profissionais, os projetos não vingaram, pois não foram absorvidos pela direção e pelos demais colegas. São ações de médio e longo prazos. Temos culturalmente hábitos de desperdício e de mau uso dos recursos difíceis de serem mudados. A simples separação do lixo já é uma ação positiva. Infelizmente, em vários estados, não há coleta seletiva nas residências. A separação do lixo deve ser uma rotina em nossas casas e nas escolas.

JP – A senhora conhece alguma escola que seja modelo de reciclagem e que tenha isso como filosofia?

THG – Em 2010, no Jardim de Infância da 404 Norte [unidade pública de Brasília], a diretora, professores e servidores estimulavam várias práticas de conscientização do meio ambiente e de hábitos saudáveis de saúde e higiene. Eles organizavam a coleta de material reciclável e enviavam bilhetes aos pais para pedir a doação de papel, papelão, jornais, revistas, caixas de leite e suco, garrafas plásticas, latas de alumínio e até óleo de cozinha usado. Os pequenos levavam isso muito a sério. Varias atividades eram desenvolvidas com as crianças em torno da reciclagem e do reaproveitamento. O material coletado era vendido pela Associação de Pais e Mestres, e os recursos, revertidos para a escola. Com todas as dificuldades de uma escola pública, havia um trabalho integrado, de equipe. Não era só a vontade da diretora, mas de todos.

As escolas têm projetos em diferentes níveis. No Colégio Madre Carmen Sallés, também de Brasília, um professor de química, com o apoio da direção, criou um núcleo de sustentabilidade que envolve alunos do ensino médio. Os estudantes interessados em participar da atividade passam por uma seleção para desenvolver projetos com material descartado e propor ações dentro dos oito “erres”. Em reuniões semanais, fora do horário de aula e sob a orientação de professores, eles discutem a questão ambiental, desenvolvem atividades, confeccionam material de informação e fazem palestras para os demais alunos sobre a importância do meio ambiente e questões da reciclagem. Os alunos que participam não têm pontuação extra nas matérias. A motivação é outra: eles realmente têm consciência de que a ação que desenvolvem pode colaborar para a mudança de atitudes e beneficiar o ambiente de todos.

JP – Quais os reflexos na criança que aprende neste ambiente? Reflete na família?

THG – Quanto mais cedo os hábitos saudáveis e a conscientização da importância de cada um na cadeia de ações em prol de todos forem apreendidos pelas crianças e entendidos como a forma correta de fazer as coisas, mais força haverá para mudar hábitos culturalmente errados dos adultos. As crianças cobram dos pais as ações que aprendem na escola.

Nem todos se incomodam com o destino do lixo. Como diz o repórter e ambientalista André Trigueiro, "quando damos o nó no saco do lixo e o colocamos na porta da nossa casa achamos que o problema já está resolvido”. Muitos não têm a noção do destino desse lixo. Acreditam que isso não diz respeito a eles. Mas a questão diz respeito a todos nós.