Logo Portal do Professor

JORNAL

Reforço Escolar

Terça-feira, 24 de Julho de 2012

Edição 75

EDITORIAL - Reforço Escolar

Em sua 75ª edição, o Jornal do Professor aborda o tema Reforço Escolar. O assunto foi o escolhido por 63,3% dos leitores que votaram na enquete colocada em nossa página.

As experiências mostradas são as desenvolvidas nas escolas municipais Castro Alves, de Serra do Ramalho (BA); Manoel Bandeira, de Campo Mourão (PR); Monsenhor José Carneiro Pinto, de Paraisópolis (MG); Professor Romeu Menezes dos Santos, de Duque de Caxias (RJ); e Wittiche Freitag, de Joinville (SC).

A professora Maria Carmen Tacca, da Universidade de Brasília, é a nossa entrevistada. E a professora Alessandra Amélia Silvério Sudré, da Escola Municipal Adelaide Duarte Flores, de Barra Mansa (RJ), participa da seção Espaço do Professor.

Ajude-nos a escolher o tema das próximas edições, votando na enquete colocada em nossa página. E aproveite para colaborar enviando sugestões, críticas, textos e músicas!

Seja bem-vindo!

Escola torna mais atraentes as aulas de matemática e português

Alunos realizam atividades com palitos de fósforos

As disciplinas de português e matemática constituem a base do trabalho das aulas de reforço na Escola Municipal Manoel Bandeira, no município paranaense de Campo Mourão, a 477 quilômetros de Curitiba. Ambas apresentam mais dificuldades para os estudantes da instituição, que tem 560 alunos matriculados, da educação infantil ao ensino fundamental.

Os estudantes com defasagem no conhecimento ou dificuldades em acompanhar o conteúdo trabalhado em sala de aula são encaminhados a aulas de reforço pela professora regente da turma. “Encaminho os alunos que apresentam baixo rendimento nas disciplinas de português e matemática ou que estejam com conteúdo defasado por dificuldades de assimilação ou por motivo de transferência escolar”, explica a professora Maria Rita Roza da Silva. Graduada em geografia, com pós-graduação em psicopedagogia institucional, ela está no magistério há 11 anos.

As atividades ocorrem duas vezes por semana, no período do contraturno escolar. Os estudantes são reunidos em grupos com no máximo 10 componentes, de acordo com a faixa etária. É uma forma de facilitar o trabalho da professora de reforço e de melhorar a convivência entre os alunos.

“A participação nas aulas de reforço não é obrigatória”, esclarece a professora Ana Aparecida Morsch, diretora da escola desde 2002. Porém, quando os pais são informados sobre a necessidade e a importância dessas aulas para a melhoria do rendimento escolar, os alunos comparecem assiduamente. Segundo ela, os estudantes não veem as atividades extras como castigo ou compensação, mas como uma possibilidade de obter sucesso na aprendizagem.

De acordo com a diretora, a professora do reforço escolar não é a mesma que leciona na turma regular, embora atue na mesma unidade de ensino. Graduada em geografia, com pós-graduação em educação infantil e séries iniciais, Ana Aparecida tem 25 anos de magistério.

Dinâmica — Professora de reforço, Vera Lúcia Varolo Bello observa que a dinâmica das aulas torna diferente a abordagem para o estudante. “Isso motiva a participação e aumenta a autoestima, gerando responsabilidade e tornando prazeroso o ato de ensinar e consequentemente de aprender”, afirma.

Outro benefício lembrado por Vera Lúcia é o atendimento individualizado e personalizado aos alunos, o que favorece o esclarecimento de dúvidas e a retomada de ideias e conceitos ainda não dominados. Além disso, a professora cita a manipulação de materiais concretos e a utilização de jogos e materiais pedagógicos que estimulam o pensar. A sala de reforço escolar é equipada com brinquedos e materiais pedagógicos variados, computador e impressora.

Professora há 20 anos, Vera Lúcia é graduada em pedagogia — orientação educacional —, com pós-graduação em supervisão escolar e formação em tecnologias de informação e comunicação acessível. Ela dá aulas de reforço a alunos do segundo ao quinto ano do ensino fundamental.

Avaliação — Ao final de cada bimestre, a equipe pedagógica da escola avalia o trabalho docente realizado e verifica o rendimento escolar dos alunos. “Constatamos que o reforço escolar tem colaborado para a melhoria do nível de aprendizagem”, salienta Vera Lúcia.

Na visão da professora Maria Rita, o reforço escolar contribui para o desenvolvimento da aprendizagem, melhora o rendimento dos alunos e facilita o trabalho da regente de turma quanto à apresentação do conteúdo. Além disso, eleva a autoestima dos estudantes e os torna mais autônomos, participativos e motivados. (Fátima Schenini)

Professores planejam atividades específicas para estimular alunos nas aulas

Professora Priscila com alunos

Alunos com baixo rendimento, dificuldade de aprendizagem ou necessidades educacionais específicas participam das aulas de reforço oferecidas na Escola Municipal Monsenhor José Carneiro Pinto, em Paraisópolis, no sudoeste de Minas Gerais. Para ser incluído nas atividades de reforço, o estudante precisa demonstrar interesse e comprometimento. As aulas, opcionais, são realizadas no turno oposto ao das aulas regulares.

Para a professora Priscila Maria de Souza Brito, que leciona matemática em turmas do sexto ao nono ano do ensino fundamental, o reforço escolar contribui para a aprendizagem. “As atividades são planejadas de acordo com o conteúdo ministrado em sala”, diz. Se houver necessidade, os professores usam material da sala de recursos e trabalham com questões do Sistema Mineiro de Avaliação da Educação Pública (Simave) e da Avaliação Nacional da Educação Básica, a Prova Brasil. Com licenciatura plena em matemática, Priscila está no magistério desde 2009. Ela trabalha também na Escola Estadual João Ribeiro da Silva, em Gonçalves, município vizinho de Paraisópolis.

Segundo o professor Wilson Rossett, diretor da escola Monsenhor José Carneiro Pinto, as aulas de reforço contam com o apoio voluntário dos professores. São oferecidas todas as disciplinas nas quais os alunos apresentam dificuldades. “Sempre que possível, os estudantes são atendidos individualmente”, destaca.

Wilson tem licenciatura plena em matemática e pós-graduação em metodologia de ensino de matemática e física. Há nove anos no magistério, está há dois na direção da escola, que tem 160 alunos matriculados na educação infantil e no ensino fundamental.

Outro professor envolvido é Marcelo Benedito de Souza, que leciona geografia e artes. Ele não trabalha especificamente com aulas de reforço, mas desenvolve atividades virtuais, por meio de imagens e de textos que aproximam o aluno do conteúdo ministrado em sala de aula, o que resulta em reforço do aprendizado.

Pedagogo, com especialização em gestão de pessoas e projetos sociais, e geógrafo, com especialização em educação ambiental, Marcelo tem 16 anos de magistério. “Deixo as atividades virtuais livres, embora procure incentivar os estudantes a fazê-las”, salienta. “Sempre que o aluno desenvolve as atividades em sala e fica ocioso, deixo que aproveite o tempo, quando há computadores disponíveis, para fazer as atividades.”

Na visão de Marcelo, ao realizar atividades virtuais, o aluno passa a ter um conhecimento geográfico mais amplo e real. “Pode-se dizer que o conhecimento se torna mais palpável e passível de interação”, diz. (Ana Júlia Silva de Souza)

Confira a página do Simave na internet

Confira a página da Prova Brasil na internet

Escola catarinense diversifica atividades e obtém resultados

Professora Jane Sardo Ribeiro com alunos

Bingo de letras e números, cruzadinhas, jogos de memória, quebra-cabeças e alfabeto móvel são alguns dos recursos usados pela professora Jane Sardo Ribeiro, de Santa Catarina, para tornar mais atraentes as aulas de reforço escolar de matemática e língua portuguesa. Professora da Escola Municipal Prefeito Wittich Freitag, em Joinville, a 180 quilômetros de Florianópolis, Jane leciona em classe de alfabetização e também dá aulas de reforço no turno oposto (contraturno) ao das aulas regulares.

A fim de superar dificuldades de aprendizagem, Jane usa algumas estratégias. Ela promove atividades diversas e trabalha com elementos que possam ser vinculados ao cotidiano dos estudantes. O propósito é permitir àqueles com dificuldades de aprendizagem acompanhar o ritmo da turma a partir das aulas de reforço.

De acordo com a professora, cada aluno tem uma maneira própria de aprender. Ela constata que, em geral, estudantes com dificuldades de assimilação do conteúdo repassado pelo professor nas aulas regulares sentem-se inferiorizados por não poderem acompanhar a turma. Por essa razão, Jane vê nas aulas de reforço a oportunidade de o aluno ampliar o aprendizado. Formada em pedagogia, ela está há sete anos no magistério.

Segundo a diretora da escola, Mariléia Cunha Melo, a importância do reforço escolar é primordial. “Conseguimos resgatar os alunos em defasagem escolar”, avalia. Formada em pedagogia, com pós-graduação em séries iniciais e gestão escolar, ela tem 15 anos de magistério.

Tanto Mariléia quanto Jane observam avanços no rendimento dos alunos que passam pelo reforço. “É um trabalho indispensável para o estudante”, afirma a diretora. “E também conseguimos melhoras pedagógicas e na autoestima dos alunos.”

O reforço escolar foi adotado na escola catarinense a partir de programa implementado pela Secretaria de Educação do estado. São atendidos prioritariamente os estudantes com dificuldades na escrita e na leitura na fase de alfabetização, no primeiro e no segundo anos do ensino fundamental. De acordo com a diretora, isso não impede que alunos de outras séries também sejam atendidos. (Ana Júlia Silva de Souza)

Acesse o blog da Escola Municipal Prefeito Wittich Freitag

 

Aulas de reforço contribuem para aprendizagem

Para a diretora da Escola Municipal Castro Alves, de Serra do Ramalho (BA), Wilene Bispo Costa, o reforço escolar é importante pelo fato de estabelecer ações pedagógicas que ajudam no processo de uma educação inclusiva e participativa. Em sua opinião, o reforço consiste, sobretudo, em proporcionar oportunidades para que os alunos possam desenvolver suas competências e aplicá-las cotidianamente.

Wilene diz que a escola não oferece aulas de reforço, atualmente. A atividade foi oferecida em 2011, quando estudantes do sexto ao nono ano tiveram a oportunidade de assistir aulas de português e matemática. Há sete anos no magistério, cinco dos quais na direção dessa escola, ela é formada em ciências físicas e biológicas.

Na opinião da professora Vilma Pereira Cardoso, que leciona na escola Castro Alves, o reforço serve para oferecer aos alunos um atendimento diferenciado que os ajude a melhorar a aprendizagem. “Penso que as aulas de reforço contribuem na construção de uma aprendizagem significativa e, as estratégias devem harmonizar-se em relação à realidade dos alunos. Formada em letras, 14 anos de magistério, Vilma dá aulas para alunos do ensino fundamental.

Os alunos da Escola Municipal Professor Romeu Menezes dos Santos, de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense (RJ), têm aulas de reforço escolar de letramento e matemática. Agrupados por faixa etária, os estudantes participam de oficinas nessas áreas, duas vezes por semana, no período contrário ao horário das aulas regulares.

“Os monitores do projeto de reforço escolar são professores da comunidade, que fazem um trabalho voluntário. Eles recebem treinamento da secretaria municipal de Educação”, explica a diretora da escola, Ana Cristina Firmino da Conceição. Com 20 anos de magistério, ela tem graduação em biologia e pós-graduação em gestão escolar e em coordenação pedagógica.

De acordo com Ana Cristina, os conteúdos oferecidos no reforço – letramento e matemática – foram escolhidos por serem os que apresentam mais dificuldades aos estudantes. Ela ressalta que procuram conscientizar os responsáveis pelos alunos, sobre a necessidade de participação nas oficinas. O reforço escolar é oferecido por meio do programa Mais Educação, do Governo Federal. (Fátima Schenini)

Saiba mais sobre o programa Mais Educação

Acesse o blog da EM Professor Romeu Menezes dos Santos

Incentivar a leitura é principal meta de diretora de escola fluminense

Professores e alunos

O principal objetivo da Escola Municipal Adelaide Duarte Flores, no município fluminense de Barra Mansa, é tornar-se uma “Escola de Leitores". De acordo com Alessandra Sudré, diretora da instituição há quatro anos, o propósito é levar os alunos a serem protagonistas na construção do universo leitor, intensificando o hábito de ler, valorizando as práticas de leitura e desenvolvendo capacidades e habilidades que incluam também aprender a decifrar os códigos da escrita.

Nesse sentido, a escola desenvolve o projeto Leitura em Ação, que engloba diversos contextos da leitura. “Os alunos participam como guardiões da leitura e zelam pela cesta da leitura e preservação dos livros da escola”, explica Alessandra. Uma das atividades é o "Apitaço da Leitura": os professores percorrem todas as salas de aula contando uma história e, cada vez que escutam o som do apito, trocam de sala para contar a história em outra turma.

Durante as sessões simultâneas de leitura, realizadas em dias pré-estabelecidos, os estudantes são convidados a ouvir leituras de livros. No trabalho com os "Autores do Bimestre", os professores selecionam diversos autores, sua vida e obra, para que os alunos possam conhecer cada um deles.

A diretora enfatiza a importância do "Corredor da Leitura", criado na instituição, a fim de fazer com que os alunos tenham mais acesso aos livros. As obras ficam expostas em alguns pontos da escola, em uma espécie de varal e sobre mesas espalhadas pelos corredores. Dessa forma, os estudantes podem ler, durante o recreio ou levar os livros que quiserem para ler em casa. “Isso acontece como forma de disponibilizarmos o acesso aos livros, pois nossa escola não conta com uma biblioteca ou sala de leitura”, revela Alessandra.

Todas essas ações são integradas com leituras de imagens, durante o projeto Expocultural, de modo a aproximar os alunos do mundo artístico. Nessa oportunidade eles conhecem vários pintores, aprendem sobre a vida e a obra desses artistas plásticos e fazem a releitura das obras apreciadas.

Há 16 anos no magistério, Alessandra já trabalhou como professora de séries iniciais e como orientadora pedagógica. Também exerceu o cargo de diretora em outra unidade escolar. Formada em pedagogia, atualmente ela faz pós-graduação em gestão escolar.

A escola Adelaide Flores está localizada no bairro Siderlândia, na periferia de Barra Mansa, onde a comunidade é carente e dispõe de poucos recursos e meios de acesso a informações e lazer. Com 308 alunos, da educação infantil ao quinto ano do ensino fundamental, ainstituição oferece aulas de informática, canto, coral e pífaro.

Desde 2011, a escola conta com um blog.”Ele foi criado com o objetivo de interagirmos com as novas mídias e também como forma de divulgar e fazer com que as pessoas conheçam e valorizem o nosso trabalho e principalmente o dos alunos”, salienta a diretora, responsável pela colocação das informações no blog. (Fátima Schenini)

Acesse o blog da escola

Maria Carmen Tacca (UnB): aluno, professor e conteúdo precisam se encontrar

Carmen Maria Tacca

Na visão da professora e pesquisadora Maria Carmen Tacca, coordenadora do programa de pós-graduação em Educação da Faculdade de Educação da Universidade de Brasília, o reforço escolar é importante e deve fazer parte do projeto pedagógico da escola. Para ela, o momento destinado ao reforço escolar deve permitir o diálogo, a comunicação, a abertura do aluno para o trabalho do professor e não ser uma ocasião de apenas repetir os mesmos procedimentos e estratégias usados na sala de aula.

Graduada em pedagogia, com mestrado em educação, doutorado em psicologia, e pós-doutorado na área de psicologia, onde abordou a questão da aprendizagem relacionada à subjetividade humana, Maria Carmen diz que é preciso que o aluno, o professor e o conteúdo se encontrem. “Para isso, o professor precisa identificar as estratégias que se constituam em formas de compreender o pensamento do aluno para poder intervir nele”, ressalta.

Ela acredita que o professor deve ser um incansável questionador, para poder acompanhar as significações que o aluno dá aos conteúdos e, dessa forma, intervir na hora certa e com o argumento certo.

Jornal do Professor – Qual a diferença entre reforço escolar e aulas de recuperação?

Maria Carmen Tacca – Por um lado não há uma diferença conceitual entre as duas expressões – aulas de reforço, na prática, são aulas de recuperação. Podemos criar uma complementaridade entre as duas expressões na compreensão de que o reforço escolar visa à recuperação da aprendizagem. Da forma como essas expressões são compreendidas no senso comum, tanto uma como a outra visam que o aluno ganhe outra oportunidade de assimilar os conteúdos escolares que são propostos para a série ou ano que cursa dentro do processo de escolarização. O currículo escolar está organizado de forma a que cada série ou ano dentro de cada disciplina, tenha um grupo temático para ser desenvolvido pelos respectivos professores em suas aulas. Caso o aluno não logre a aprendizagem em qualquer um deles, pensa-se que isso deva ser perseguido e uma forma de fazê-lo é pela aula de reforço quando se oportuniza a recuperação.

JP – Quais as maiores dificuldades de aprendizagem dos alunos?

MCT – Não podemos identificar que a ruptura ou descontinuidade no processo de escolarização aconteça pela dificuldade dos alunos em aprender. Não podemos também identificar causas simples e generalistas para esse descompasso entre os objetivos que a escola tem e a aprendizagem dos alunos. A não aprendizagem é gerada em situação e contextos sociais bastante complexos e explicá-los é uma tarefa das pesquisas educacionais No meu pensar, está cada vez mais difícil os alunos encontrarem significações naquilo que a escola tem para lhes oferecer. Depois disso, vem uma dificuldade muito grande nos canais de comunicação entre professor e aluno, acrescido pela forma atrapalhada de desenvolvimento dos conteúdos básicos, tipo leitura e escrita. Atrapalhada quer dizer sem uma organização competente daquilo que o aluno deve aprender. Adotar métodos e novidades sem um domínio de sua aplicação e, ainda, o vai e vem ou a mistura de várias abordagens, leva a uma confusão que, muitas vezes afasta o aprendiz de uma apropriação clara e eficiente dos conteúdos. Não se pode dizer que apareçam maiores dificuldades nessa ou naquela disciplina, mas que aparecem maiores dificuldade quando professor e aluno não conseguem alcançar uma comunicação plena no processo ensino-aprendizagem.

JP – Qual a importância do reforço escolar? Ele pode contribuir para o aprendizado dos alunos? Por quê?

MCT – No distanciamento entre aluno e professor e, na medida em que aparecem as defasagens no processo de aprender, o reforço escolar torna-se muito importante, mas não um reforço em que o aluno é submetido aos mesmos procedimentos e estratégias utilizados na sala de aula. O professor precisa alcançar e decifrar o lugar e o momento do aluno e o aluno precisa alcançar os significados daquilo que o professor se propõe a ensinar. Se o momento da recuperação ou reforço escolar permite o diálogo, a comunicação, a abertura do aluno para o trabalho do professor, não tenho dúvidas de que a recuperação cria boas possibilidades de aprendizagem. No entanto, colocar os alunos com mais tempo na escola para fazer as mesmas atividades coletivizadas, indiferenciadas e despersonalizadas, tal como acontece nas salas de aula, dificilmente gerará impacto no aluno ou na sua aprendizagem. Nesse sentido o reforço não é importante.

JP – O reforço escolar deve fazer parte do projeto pedagógico da escola?

MCT – Penso que sim. Toda escola deve ter uma proposta de acompanhar o processo de aprendizagem dos seus alunos. A forma de realizar essa atividade deve estar articulada com o aluno que aprende. Levar aluno para aula de reforço para que ele execute atividades padronizadas não se constitui em proposta que, de fato, vai fazer diferença na aprendizagem dele. Mais tempo de aula, mais tempo com o professor, mais tempo executando atividades que visam apenas o conteúdo despersonalizado não justifica que isso esteja no Projeto Pedagógico da escola.

JP – Quem deve participar das aulas de reforço?

MCT – Qualquer aluno. Sempre que uma defasagem de aprendizagem se apresentar, o aluno merece ter uma atenção especial, seja na própria sala de aula ou em outro espaço e horário especiais. Sempre que o professor identificar que um aluno não logrou aprender aquilo que era esperado, é o momento dele investigar porque aconteceu o descompasso e fazer uma intervenção considerando o aluno e suas formas de funcionamento psicológico. O aluno pode não ter aprendido porque fez uma relação equivocada e, assim, é necessário investigar isso. Entendo a função do professor como a de investigador dos processos de aprender de seus alunos. Isso não significa ensino individualizado, mas acompanhamento do grupo, com atenção nas manifestações de cada aluno. Pode ser necessário instituir um horário específico para uma atenção mais individualizada, mas que se planeje isso de forma a entrar em sintonia com o aluno e não à revelia dele.

JP – Como devem ser as aulas de reforço? Que tipos de atividades não podem faltar?

MCT – As aulas de reforço devem acompanhar o aluno. Não adianta levar para ele exercícios padronizados, atividades copiadas de livros de forma indiferenciada. É preciso que o aluno, o professor e o conteúdo se encontrem. Para isso o professor precisa identificar as estratégias que se constituam em formas de compreender o pensamento do aluno para poder intervir nele. Isso significa ser um incansável questionador, pois será a partir de um diálogo inquiridor que se poderá acompanhar as significações que o aluno dá aos conteúdos e poder intervir na hora certa e com o argumento certo. O aluno precisa saber que pode ter dúvidas, que pode mostrar o que pensa e o professor precisa se apoiar nisso para dar uma direção no seu processo interventivo. Atividades para isso não podem faltar e devem ser diversificadas. Nesse sentido, a relação professor-aluno precisa ser de confiança. O aluno tem que confiar que seu professor está ao seu lado para ajudá-lo e o professor precisa acreditar que seu aluno pode aprender e que ele pode mais se receber a ajuda competente e criativa dele.

JP – Devem ser incluídas atividades lúdicas que possam tornar as aulas mais atrativas para os alunos?

MCT – Qualquer atividade que faça com que professor e aluno se compreendam melhor deve ser implementada e, nem sempre, a atividade lúdica é o caminho mais adequado para isso. No entanto, a atividade lúdica, quase sempre, atua descontraindo as tensões, fazendo com que a aluno se solte mais, se mostre mais. Isso permitirá ao professor ter mais informações sobre o aluno, possibilitando uma atuação pedagógica mais eficaz. O jogo é um recurso que permite o diálogo entre professor e aluno e é nesse encontro que, juntos, podem alcançar uma interessante e produtiva situação de ensino-aprendizagem.

JP – Os avanços dos alunos que participam de aulas de reforço devem ser avaliados? De que forma?

MCT – Qualquer momento em que professor e aluno se dispõem a estabelecer uma relação de ensino-aprendizagem a avaliação de ambos quanto ao processo em andamento se faz presente. Se o professor não avalia uma resposta ou uma manifestação do aluno não poderá dar continuidade em seu processo interventivo. O aluno também é perspicaz e avalia constantemente a reação do professor frente às respostas que dá. Os avanços serão sempre identificados quando a atuação docente é investigadora, pois é nisso que ele pode identificar o próximo passo. A avaliação é inerente ao processo. Ela acontece e dirige e isso é importante.