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JORNAL

Olimpíadas de Matemática

Quarta-feira, 26 de Setembro de 2012

Edição 78

EDITORIAL - Olimpíadas de Matemática

Criada em 2005, para estimular o estudo da matemática e revelar talentos na área, a Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas (Obmep) é uma realização dos ministérios da Educação e da Ciência, Tecnologia e Inovação.

Estudantes do sexto ao nono ano do ensino fundamental e das três séries do ensino médio participam dessa competição, que vem crescendo a cada ano. Em 2011, 18,7 milhões de alunos de 44.691 escolas participaram da sétima Obmep; em 2012, mais de 19 milhões de estudantes de 46.728 escolas se inscreveram para a oitava edição.

Nesta 78ª edição do Jornal do Professor, apresentamos as experiências de professores de escolas de diferentes regiões brasileiras, durante a Obmep 2011: Escola Municipal de Educação Básica José de Sena Filho, de Coité do Noia (AL); Escola Municipal Antonia Fernandes de Moura, de Santa Rosa do Purus (AC); Centro de Ensino Fundamental 3, de Sobradinho (DF); e Escola Estadual Messias Pedreiro (MG).

O entrevistado desta edição é o coordenador-geral da Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas, Claudio Landim. E a professora Denise Guerra dos Santos, da Escola Municipal Washington Manoel de Souza, de Queimados (RJ), participa da seção Espaço do Professor.

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Apoio de ex-alunos contribui para escola obter resultados

Da esq. para a direita: Maria Botelho, Antônio Carlos Nogueira (coord. regional Obmep), Wagner de Resende (ex-diretor da escola) e Miriam dos Santos (atual diretora).

Professora da rede estadual de Minas Gerais há 31 anos, Maria Botelho Alves Pena é responsável pela organização da Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas (Obmep) na Escola Estadual Messias Pedreiro, em Uberlândia, desde que a competição foi criada, em 2005. Premiada em todas as fases da sétima olimpíada, realizada em 2011, em função dos resultados obtidos por seus alunos, ela leciona matemática a turmas do segundo e do terceiro anos do ensino médio.

“Tem sido gratificante perceber que os alunos que se envolveram com a resolução de problemas e com a olimpíada não se limitaram a realizar apenas as atividades propostas em sala de aula”, salienta Maria. Os estudantes formaram grupos de estudos, buscaram conhecimento em diferentes sites na internet e inseriram os problemas em conversas nas redes sociais. Também influenciaram irmãos, colegas e até outros jovens do município. “Era e é comum ver estudantes resolvendo problemas e jogando xadrez, mas também praticando esportes e se divertindo”, destaca.

Maria explica que a olimpíada e a resolução de problemas não apenas envolvem alunos mais talentosos ou apreciadores de matemática. Ajudam também a estimular e a embasar aqueles que apresentam baixo rendimento. Segundo a professora, até estudantes com histórico de reprovação acabaram premiados na Obmep, com medalhas ou menção honrosa.

Até agora, alunos da Escola Messias Pedreiro conquistaram duas medalhas de ouro, seis de prata, 27 de bronze e 227 menções honrosas.

A professora salienta que as atividades têm contribuído para promover a autoconfiança e a autoestima e democratizar o conhecimento. Além disso, proporcionam melhoria no relacionamento e maior interação entre os alunos e entre eles e os professores. “A Obmep deixou de ter forte espírito de competição e tem contribuído para a socialização dos alunos e do conhecimento”, avalia. “Estudantes tímidos, ansiosos, que não sabiam lidar com o fracasso, têm desenvolvido atitude positiva para enfrentar problemas e situações novas com mais tranquilidade e perseverança.”

De acordo com a professora, é comum encontrar alunos que passaram a pensar de forma diferente. “Eles agora não só se surpreendem, como surpreendem os professores com soluções inéditas para os problemas propostos ou pesquisados.”

Opções — Apesar de a maioria dos estudantes admitir que não gosta ou tem muita dificuldade em matemática, é grande a quantidade dos que acabam ingressando em cursos das diversas áreas da engenharia, de ciência da computação e até de matemática. “Temos ex-alunos que pretendiam optar por direito, medicina e publicidade, mas decidiram, após ganhar medalha na Obmep, pela engenharia civil e elétrica”, ressalta.

A maior parte dos ex-alunos premiados costuma compartilhar experiências e conhecimentos. Assim, em 2011, foi realizado um “arrastão”, destinado a preparar os atuais estudantes para a segunda fase da olimpíada. Eles tiveram o apoio de três medalhistas das edições de 2009 e 2010 e de um premiado com menção honrosa em 2009. Esses ex-alunos, que cursam engenharia mecânica na Universidade Federal de Uberlândia (UFU), ministraram palestras, minicursos e aulas para resolução de problemas.

Os alunos atuais são incentivados a navegar na internet para resolver problemas do banco de questões e das provas anteriores da Obmep, de vestibulares e do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), entre outras opções. Eles participam de trabalhos individuais e em grupo para a resolução de problemas. “Novas tecnologias e metodologias, uso de internet e redes sociais são aliados nessa difícil missão de educar, mas nada substitui a interação entre os alunos e entre alunos e professores”, ressalta Maria. (Fátima Schenini)

Confira a página da EE Messias Pedreiro na internet

Competição contribui para o aprimoramento do professor

Os dois professores premiados com o aluno José Elenilson

Dois professores de Coité do Noia, município de 12,6 mil habitantes, na região central de Alagoas, foram destaque na sétima edição da Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas (Obmep). Adriano Valeriano da Silva e Claudiene Monteiro dos Santos, que lecionam na Escola Municipal de Educação Básica José de Sena Filho, orientaram José Elenilson Gonzaga de Lima e Samoel dos Santos Oliveira, estudantes que conquistaram medalhas de ouro na competição.

“Para obter bons resultados são requisitos necessários, principalmente, dedicação e interesse por parte dos alunos, um bom trabalho da equipe de professores, com os demais integrantes da equipe escolar, e o apoio das famílias dos alunos e da gestão municipal, por meio da secretaria de Educação”, avalia Adriano. Ele teve outro aluno premiado em 2011. Samuel Rocha da Silva, estudante da Escola Estadual Álvaro Paes, foi medalhista de bronze.

Há 12 anos no magistério, Adriano está convencido de que a Obmep tem contribuído para seu aprimoramento como professor. “Procuro estudar mais e pesquisar questões relacionadas à olimpíada para serem trabalhadas em sala de aula”, explica. Ele destaca que o banco de questões, disponível na página da Obmep na internet desde 2006, oferece ao professor mais uma ferramenta didática e de conhecimento. “O professor aprende não só estudando, mas também ao debater, com os alunos, as soluções de problemas.”

Segundo Adriano, a preparação para a Obmep começa dois meses após o início do período letivo. A equipe de professores de matemática abre os trabalhos com a aplicação de questões relacionadas às olimpíadas. Os estudantes classificados para a segunda fase recebem, semanalmente, uma lista extra de exercícios, especialmente preparada pelos professores. Este ano, foram promovidos quatro encontros em manhãs de sábados para professores e alunos discutirem a resolução de problemas.

“As listas de exercícios levam os alunos a buscar soluções para os problemas com familiares, amigos ou por meio de pesquisas na internet”, diz o professor. Elas também contribuem para que os estudantes debatam os possíveis resultados com o professor e com os colegas.

Licenciado e com pós-graduação em matemática, Adriano considera a disciplina fascinante e desafiadora. “Ela permite estudar inúmeras situações do dia a dia”, destaca o professor, que cursa mestrado profissional em matemática na Universidade Federal de Alagoas. (Ana Júlia Silva de Souza)

Confira o blog da E.ME.B. José de Sena Filho

Confira a página da Obmep na internet

 

 

 

Medalhas são incentivos a alunos para o caminho à universidade

Maria do Socorro com alunos, na sala de aula

Com 37 medalhas de ouro, 44 de prata e 54 de bronze, o Distrito Federal apresentou, no Centro-Oeste, o melhor desempenho de estudantes na sétima edição da Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas (Obmep), realizada no ano passado. Para a professora Maria do Socorro de Oliveira, do Centro de Ensino Fundamental 3 de Sobradinho, quinta região administrativa do Distrito Federal, a competição tem incentivado e estimulado o estudo de matemática na escola. Em 2011, Allyson Mikael Alves, aluno de Maria do Socorro, foi um dos ganhadores da medalha de ouro.

“A premiação é um incentivo a outros estudantes para que participem e valorizem a olimpíada”, diz a professora, que dá aulas a alunos do oitavo e do nono anos do ensino fundamental. Segundo ela, os estudantes foram orientados a fazer pesquisas na internet a fim de obter melhor preparação. Com graduação e mestrado em matemática, Maria do Socorro, que atua há 25 anos no magistério, observa que a olimpíada incentiva o professor a pesquisar e a ensinar conteúdos de raciocínio lógico. Além disso, serve como estímulo, a estudantes que tenham aptidão, à atuação na área da ciência e tecnologia.

Em relação às perspectivas para aqueles que participam da competição, Maria do Socorro acredita que estarão condicionadas ao incentivo com o qual eles vierem a contar. “Alguns alunos têm chance de fazer bons cursos universitários”, analisa. Ela ressalta, porém, que para entrar numa faculdade e fazer um bom curso, o aluno deve contar com informações recebidas em toda a vida escolar.

A Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas (Obmep), promovida pelos ministérios da Educação e da Ciência, Tecnologia e Inovação, é realizada pelo Instituto Nacional de Matemática Pura e Aplicada (Impa) com o apoio da Sociedade Brasileira de Matemática (SBM). A competição é aberta à participação de alunos do sexto ao nono ano do ensino fundamental e do ensino médio de escolas públicas.

Em 2011, 45 mil escolas e 18,7 milhões de estudantes de todo o país participaram da competição. Este ano, o total de inscritos ultrapassou as marcas de 46 mil escolas e de 19 mil alunos, em 99,42% dos municípios brasileiros. Os resultados serão divulgados em 30 de novembro, na página da Obmep na internet. (Ana Júlia Silva de Souza)

Confira a página da Obmep na internet

 

 

 

 

Professor ganha motivação com conquista de escola do Acre

A conquista de medalha de ouro na sétima edição da Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas (Obmep) pela estudante Bruna Larissa Carvalho de Sousa deixou orgulhosa toda a comunidade da Escola Municipal Antonia Fernandes de Moura, no município de Santa Rosa do Purus, no Acre. Foi a primeira medalha de ouro conquistada pelo estado na competição, que se realiza desde 2005.

Segundo Antônio Carlos Osório do Nascimento, professor de Bruna, a conquista o estimulou a buscar novos caminhos, capazes de tornar os alunos aptos a participar de eventos semelhantes. Depois da medalha, o professor tem incentivado os estudantes não só a aprender matemática, mas a participar da competição. Ele constata que os alunos estão mais motivados e entendem ter condições de ganhar medalhas. “Acreditamos que muitos outros alunos vão se esforçar para chegar aos objetivos”, avalia.

O professor explica que a escola não realizou um trabalho voltado especificamente para a olimpíada. “O que fizemos foi trabalhar algumas questões que exigiam raciocínio lógico dos alunos e os incentivamos a formar grupos de estudos para aperfeiçoamento”, afirma.

De acordo com Nascimento, o conteúdo da olimpíada foi apresentado aos alunos de maneira clara e objetiva para resultar em melhor aprendizado. Também foram passados exercícios para resolução em casa. Outra iniciativa do professor foi a de estimular o debate entre os estudantes sobre as diferentes maneiras de resolver cada questão. Nascimento é licenciado em matemática e tem três anos de magistério.

O diretor da escola, Christian Padilha, também graduado em matemática, destaca que tem procurado incentivar o aprendizado da disciplina na instituição. Para motivar os estudantes, ele aplica dinâmicas variadas e promove gincanas e debates. (Fátima Schenini)

Confira a página da Obmep na internet

 

 

 

Diversidade étnica brasileira motiva trabalho de professora fluminense

Professora Denise e alunos ao redor de mesa

Professora da rede pública municipal de Queimados, no Rio de Janeiro, Denise Guerra dos Santos leciona educação física na Escola Municipal Professor Washington Manoel de Souza. Ela dá aulas para alunos dos oitavos e nonos anos do ensino fundamental. Sua experiência profissional inclui também dez anos de atuação como musicoterapeuta na educação especial.

Para ela, ser professora é estar comprometida com a busca de um presente construtivo que irá resultar em um futuro promissor e se encantar com as descobertas e o crescimento dos alunos. E ser professora de educação física é “levar um pouco de cada aluno dentro de si jogando os diversos jogos, ampliando os diversos corpos, interagindo com diversos mundos, sonhando juntos para um dia virar realidade”, avalia.

Formada em educação física e em musicoterapia, Denise tem pós-graduação em psicomotricidade e em cultura africana e afro-brasileira. “Sempre me interessei pelo viés da diversidade étnica tão impregnada na formação do país e do povo brasileiro”, ressalta. Adepta do trabalho com projetos, em 2012 Denise está focada na valorização do patrimônio imaterial por meio de pesquisas sobre a cultura corporal de Queimados, de modo a resgatar parte da história da capoeira e do futebol no município.

Segundo ela, as áreas de musicoterapia e educação física têm várias interseções e utilizam seus recursos práticos – músicas, danças, jogos etc – para interferir nas estruturas emocionais, psicomotoras e sociais de cada sujeito. Em suas aulas, Denise procura colaborar com a aprendizagem geral dos estudantes, bem como com a melhoria na autoestima, a inclusão e a não discriminação quanto ao gênero, etnia, condição física ou social de cada aluno. “Trabalho especialmente com vivências práticas e pesquisas, minhas e dos alunos, que busquem ressignificar a cultura corporal produzida na comunidade escolar, dando ênfase ao pertencimento através da expressão corporal, danças, jogos, esportes, brincadeiras, folclore, cultura afro-brasileira e indígena”, explica.

Além do blog da Escola Washington Manoel, a professora Denise assina outros dois blogs. O blog Afrocorporeidade é um espaço dedicado ao estudo, discussão, reflexão e publicação de temas relacionados à cultura corporal advinda das matrizes africanas; no blog Ecos da Cultura Popular, a ênfase está na cultura popular e indígena. Ela participa, desde 2008, da revista online África e Africanidades. Textos escritos por ela podem ser lidos na coluna Corpo: Som e Movimento. (Fátima Schenini)

Claudio Landim: Obmep é fonte de oportunidades para jovens brasileiros talentosos

Claudio Landim

Para o coordenador-geral da Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas (Obmep), Claudio Landim, essa competição tem sido, desde sua criação, uma fonte de oportunidades para jovens brasileiros talentosos, um eficiente instrumento de estímulo ao estudo, de recompensa ao mérito e de mobilidade social.

Doutor em matemática pela Université Paris Diderot - Paris 7, com pós-doutorado pela Courant Institute New York University, ele tem mestrado em estatística e probabilidade pelo Instituto Nacional de Matemática Pura e Aplicada (Impa) e graduação em matemática pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ). Diretor adjunto do Impa, Claudio Landim, também é presidente da Sociedad Latino Americana de Probabilidad y Estadística Matemática (Slapem) e integrante do corpo editorial da Academia Brasileira de Ciências e do Latin American Journal of Probability and Mathematical Statistics (Alea).

Jornal do Professor – Qual a principal contribuição trazida pela realização das Olimpíadas de Matemática, tanto a das escolas particulares (OBM) quando a das escolas públicas (OBMEP)? A realização desses eventos fez com a matemática deixasse de ser uma disciplina temida pelos estudantes?

Claudio Landim – A Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas tem diversas finalidades. Em primeiro lugar, detectar jovens alunos talentosos através de uma prova destinada a cerca de 20 milhões de estudantes do sexto ano do ensino fundamental ao terceiro ano do ensino médio das escolas públicas. Os problemas da prova, elaborados por um comitê de professores com experiência em olimpíadas, são concebidos para poderem ser resolvidos por alunos sem muitos conhecimentos formais em matemática. Eles exigem apenas capacidade de abstração e de raciocínio.

A Obmep distribui anualmente 3.200 medalhas aos melhores colocados nas olimpíadas. Este número vai crescer ao longo dos anos, atingindo a marca de 10.000 medalhistas em 2015. A Obmep oferece no ano subsequente ao da olimpíada, uma Iniciação Científica a todos os medalhistas. O programa consiste em dez aulas presenciais, a razão de uma por mês, e de 15 encontros virtuais através do fórum da Obmep.

Este programa de Iniciação Científica, implantado em quase 200 polos disseminados pelo país, permite que os alunos premiados tenham aulas com professores universitários. Essas aulas com bons professores, com professores motivados, a possibilidade de interagir nas aulas presenciais ou de forma virtual no fórum da Obmep com outros alunos também interessados por matemática, vai mudar o destino de muitos destes alunos.

O primeiro contato com a universidade seja através do professor, seja pela ida mensal à universidade, uma vez que as aulas na maioria dos polos ocorrem em câmpus universitários, torna o ingresso em uma instituição do ensino superior uma meta natural a todos os premiados.

Por outro lado, as aulas, muito mais voltadas para o ensino da lógica e do raciocínio, da compreensão do enunciado de um problema, da análise das etapas de resolução, tem tido um impacto no desempenho escolar dos alunos. O método transmitido na Iniciação Científica da Obmep fornece ao aluno um instrumento que o ajudará em todas as outras disciplinas do conhecimento. Por exemplo, em redação, onde uma das maiores dificuldades enfrentadas pelos alunos na elaboração de um texto argumentativo reside na organização de suas ideias. De modo que a Obmep tem sido, desde sua criação, uma fonte de oportunidades para jovens brasileiros talentosos, um eficiente instrumento de estímulo ao estudo, de recompensa ao mérito, enfim, de mobilidade social.

JP – Quais as características necessárias a um bom professor de matemática?

CL – Motivação em seu trabalho, vontade de ensinar, desejo de transmitir aos seus alunos os conhecimentos que ele mesmo adquiriu pelas mãos de um professor. Desejo de se atualizar, de superar as dificuldades materiais encontradas no ensino público do país, criatividade na superação dos obstáculos. Capacidade de percepção das dificuldades individuais de seus alunos, atenção aos alunos, capacidade de motivar seus alunos. Compreensão da importância do seu papel na formação dos indivíduos. Quem não lembra de seus professores primários?

JP – O que é mais importante no ensino de matemática (bons professores, material didático etc)?

CL – Antes de mais nada, professores motivados, como descritos na resposta à pergunta anterior. Professores bem formados, professores estimulados pela direção da escola e reconhecidos pelo conjunto da sociedade. Bons livros de matemática. Aliás, a Obmep envia todo ano a todas as escolas que participam da olimpíada alguns exemplares do Banco de Questões, uma apostila contendo problemas de matemática que podem ser utilizados em sala de aulas com alunos de todos os segmentos. Neste ano, em um projeto piloto em parceria com a Secretaria de Educação do Estado de São Paulo, a Obmep está oferecendo em cinco polos uma formação para professores de escolas públicas com o propósito de estimular a utilização dos bancos de questões em sala de aula, mostrando a relação entre os problemas das provas da Obmep e do Banco de Questões e os conteúdos do currículo oficial do ensino fundamental e médio. Este projeto piloto deverá ser estendido ao restante do país, em 2013. Finalmente, boas condições materiais, salas de aulas confortáveis, silenciosas, arejadas.

JP – É verdade que alguns alunos têm mais facilidade para o aprendizado de ciências exatas?

CL – Assim como há crianças com maior aptidão para correr, para dançar ou para cantar, há crianças com maior facilidade para matemática. No entanto, não adianta ter apenas um dom para matemática. Sem esforço ou sem dedicação não se chega muito longe. Um aluno com menos aptidão para matemática que se dedique um pouco terá melhores resultados na escola, na prova da Obmep ou no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) do que um aluno mais talentoso que não estude.

Nós temos na Obmep inúmeros exemplos para sustentar essa tese. Em vários municípios recônditos do país, em várias escolas municipais, professores oferecem fora do horário escolar uma preparação às provas da Obmep com resultados extremamente positivos. Pequenos municípios como Quixaba em Pernambuco, Coité do Noia em Alagoas, o já famoso caso do município de Cocal do Alves no Piauí, a escola Francis Hime no Rio de Janeiro, têm tido de forma consistente vários alunos premiados. Isso só se explica pelo empenho de professores muitas vezes apoiados pelas secretarias municipais de educação.

Nos próximos meses, para estimular iniciativas similares, a Obmep estará lançando os Clubes de Matemática. Grupos de três ou mais alunos poderão criar um Clube de Matemática, reconhecido e apoiado pela Obmep. Estes clubes receberão livros de matemática com problemas desafiadores, terão acesso a um fórum concebido especialmente para os clubes onde serão postados problemas e soluções, e onde serão organizados competições entre clubes.

JP – Qual a colaboração que as instituições de ensino e de pesquisa podem dar para a disseminação do conhecimento matemático?

CL – As instituições de ensino e de pesquisa tem dado um enorme impulso à disseminação do conhecimento matemático no país através da Obmep que tem atingido anualmente 20 milhões de alunos, e do Mestrado Profissional em Matemática em Rede Nacional (Profmat) que tem procurado melhorar a formação dos professores de matemática do ensino público.

JP – O Impa promove um curso de aperfeiçoamento para professores de matemática do ensino médio em instituições superiores de ensino. Que avaliação o senhor faz dessa iniciativa, desde que foi criada até agora? O Impa tem algum acompanhamento dos resultados obtidos nas escolas, após a participação dos professores nesses cursos?

CL – O programa, coordenada pelo professor Elon Lages Lima, do Impa, visa oferecer treinamento gratuito para professores de matemática do ensino médio de todo o Estado do Rio de Janeiro. Realizado, sob diversas formas, desde 1990, ele aborda assuntos relativos às três séries do ensino médio. Deste programa resultou uma série de livros especialmente voltados para o professor de ensino médio, publicados na Coleção do Professor de Matemática da Sociedade Brasileira de Matemática (SBM). A coleção representa a melhor referência disponível no Brasil para formação de professores de ensino médio de matemática. O programa, realizado duas vezes por ano durante as férias escolares, ocorre simultaneamente no Impa e em mais de 40 instituições parceiras. As aulas expositivas são transmitidas ao vivo, via internet, do Impa para as instituições participantes em outros estados, utilizando a infraestrutura da Rede Nacional de Ensino e Pesquisa (RNP), atingindo mais de três mil professores em todo o país.