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JORNAL

Língua Portuguesa

Quinta-feira, 22 de Novembro de 2012

Edição 80

EDITORIAL - Língua Portuguesa

O tema da 80ª edição do Jornal do Professor é Língua Portuguesa. Trazemos a nossos leitores as experiências desenvolvidas em quatro escolas brasileiras: Colégio Estadual Padre Colbachini , em Nova Bassano (RS); Escola Municipal Portugal e Colégio Pedro II, no Rio de Janeiro (RJ); e Escola Municipal Genildo Miranda, em Mossoró (RN).

A entrevistada desta edição é a professora do Instituto de Letras e Artes da Universidade Federal do Rio Grande (FURG), Dulce Cassol Tagliani. E a participante da seção Espaço do Professor é Sílvia Rufino, do Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca, no Rio de Janeiro (RJ). Ela desenvolveu um jogo virtual que possibilita a seus alunos vivenciarem situações reais do mundo do trabalho.

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Escola investe em projetos com os alunos para formar leitores

Escritor Adelmir Freitas Sciessere faz palestra para estudantes

A Feira do Livro na Escola, realizada desde 2004 pelo Colégio Estadual Padre Colbachini, de Nova Bassano, no nordeste do Rio Grande do Sul, já teve a participação de 55 escritores. O evento é a atividade principal do projeto Aluno Leitor, criado para estimular a formação de leitores entre os mais de 800 estudantes matriculados na instituição. A escola atende turmas da educação infantil, do ensino fundamental e médio e da educação profissional e de jovens e adultos.

Na visão da professora Giovane Bassani Deconto, que dá aulas de língua portuguesa a turmas do sétimo e nono anos, os contatos com os escritores têm levado a um aumento no interesse dos alunos pela leitura. Além de participar das atividades da Feira do Livro, Giovane adota projetos nas aulas. Folclore na Escola é um deles. “Por meio da música, do teatro e das lendas, o aluno se transforma em um verdadeiro cidadão, conhecedor de sua cultura, participativo e atuante”, diz a professora, formada em letras. Ela atua no magistério há mais de 15 anos.

“Por meio da leitura, os alunos conseguem desenvolver melhor as ideias nos textos que produzem, e a ortografia é favorecida”, relata a professora Alessandra Lopes de Oliveira, que dá aulas de português no ensino fundamental, no médio e em turmas de educação de jovens e adultos. Ela aproveita o interesse dos estudantes pelo teatro para estimular o aprendizado. “Os estudantes conseguem captar a alma das obras e fazem excelente releitura dos livros”, revela Alessandra, há 15 anos no magistério, com licenciatura em letras. “Eles também gostam de participar de peças teatrais, pois perdem o medo de falar em público e se divertem.”

Já a professora Marli Dagnese Fiorentin desenvolveu vários projetos durante os 32 anos de atuação no magistério para estimular a leitura e a escrita e integrar tecnologias. Com graduação em letras e especialização em tecnologias em educação, ela trabalha com alunos da educação infantil.

Blog — A ferramenta tecnológica mais utilizada por Marli é o blog. Ela participa de cinco pessoais, três colaborativos e 14 sobre projetos educativos. A professora leva as atividades de literatura para o espaço virtual, com projetos de intercâmbio escolar e também com escritores de obras apresentadas em sala de aula.

No blog Livrolândia, os alunos trocam impressões sobre obras que leram. No Ficção versus Realidade, textos literários são o ponto de partida para o desenvolvimento de temas do cotidiano. Os blogs Debaixo de Mau Tempo e Verdade ou Consequência partem de obras lidas pelos alunos na Feira do Livro. Segundo Marli, na educação infantil, o foco das aulas de língua portuguesa está na alfabetização e no incentivo à leitura. Nesse caso, os blogs são usados para criar uma ponte com as famílias e também como um espaço para as crianças publicarem suas produções e participarem de jogos interativos, nos quais desenvolvem habilidades de letramento.

Em 2011, Marli desenvolveu o blog Pintando o Sete, classificado como semifinalista no concurso internacional Fundação Telefônica. Este ano, ela criou o Diário da Galerinha, que contém o projeto Eu e Você, Aqui e Lá, que parte do livro, do mesmo nome, da escritora Letícia Möller. As crianças redesenharam o livro, que trata da vida de um menino brasileiro e de outro, marroquino. Confeccionaram objetos, tiraram fotografias de momentos do cotidiano para desenvolver a identidade e também apresentaram uma peça de teatro, durante visita da escritora à escola e em seminário que reuniu professores da região.

“Estamos trabalhando na releitura da lenda Negrinho do Pastoreio e desenvolvendo diversas atividades que vão culminar com a apresentação de uma peça teatral”, adianta Marli. “Com isso, reforçamos o conceito do respeito à diversidade, discutimos as questões do preconceito racial, da história da escravidão e da religiosidade de nosso povo.”

Na etapa de releitura da lenda são realizadas várias atividades, além da narração da história e da representação da mesma em desenhos. Dentre essas atividades está o estudo de aspectos que despertam o interesse das crianças, como a vida das formigas e raças de cavalos. “A cada ano, as atividades tornam-se cada vez mais significativas, pois o processo de leitura e releitura é contínuo”, diz a pedagoga Salete Cestonaro Bongiovanni, diretora da instituição desde 2007. Há 31 anos no magistério, Salete tem habilitação em séries iniciais, com pós-graduação em gestão, supervisão e orientação escolar. (Fátima Schenini)

Confira o blog do CE Padre Colbachini

Jornal na sala de aula reforça conhecimentos dos estudantes

Professora Jeane com alunos na sala de aula

A necessidade de dominar a língua portuguesa para melhorar a interação entre as pessoas torna a disciplina muito importante na Escola Municipal Genildo Miranda. Localizada na área rural de Mossoró, Rio Grande do Norte, a instituição tem 146 estudantes matriculados em turmas do sexto ao nono ano do ensino fundamental.

“O domínio da língua materna é de fundamental importância para a comunicação e interação entre as pessoas”, diz a professora Elisabeth Marques, coordenadora pedagógica da unidade de ensino. “Nesse sentido, nossa escola investe em atividades de leitura, compreensão e produção de textos.”

Com experiência de 26 anos de magistério, 21 dos quais na sala de aula, como professora polivalente em turmas do primeiro ao quinto ano e da educação infantil, Elisabeth tem especialização em linguagens e educação. Ela explica que a escola dá ênfase à leitura. Tanto que, este ano, desenvolveu o projeto Leitura e Escrita, um Compromisso de Todas as Disciplinas. Durante as aulas, os estudantes participam de diferentes atividades, com livro didático e caderno e também com computadores, no laboratório de informática.

Na mesma escola, a professora Jeane Mendes Pinheiro usa jornais nas aulas. Segundo ela, além de tornar as aulas de língua portuguesa mais descontraídas, os jornais contribuem para a aprendizagem, pois contemplam vários gêneros textuais. “Os resultados são os melhores possíveis”, diz Jeane, que leciona a turmas do sexto ao nono ano.

Sempre que ensina um conteúdo, Jeane leva jornais à sala de aula para que os estudantes façam leitura espontânea. Ao verificar que todos estão envolvidos no processo, ela pede que identifiquem temas relacionados aos conhecimentos gramaticais inseridos na leitura. “Eles vão reconhecendo as classes gramaticais de forma bem interessante, seja um substantivo, um adjetivo, um pronome”, destaca. “E a aprendizagem vai ocorrendo naturalmente. Os jornais oferecem informações que enriquecem os conhecimentos dos alunos e os tornam leitores proficientes.”

Formada em letras, com experiência de dez anos no magistério, a professora também usa nas aulas recursos como debates, rodas de leitura e produção de textos.

Livro — De acordo com o diretor da escola, Luciano Ricardo da Silva Lima, os professores sempre aplicam novas metodologias para alcançar bons resultados na aprendizagem dos alunos. Assim, textos e histórias em quadrinhos produzidos pelos estudantes serão transformados em um livro, que fará parte do acervo da biblioteca da instituição. Há nove anos na direção dessa escola, Luciano é formado em letras, com especialização em gestão escolar. (Fátima Schenini)

Acesse o blog da EM Genildo Miranda

 

Escola do Rio tem na leitura o marco de projeto pedagógico

A professora Daysi lê para os alunos na sala de aula

Inserir os estudantes no mundo da leitura é o marco do projeto político-pedagógico da Escola Municipal Portugal para os 514 alunos, da educação infantil ao sexto ano do ensino fundamental. Todos os dias, os professores promovem o Momento da Leitura, onde leem para os alunos ou algum aluno lê para os demais. As turmas também fazem momentos de leitura individual. Cada estudante pode escolher o livro. A instituição está localizada no bairro de São Cristóvão, Zona Norte do Rio de Janeiro.

“A escola mantém livros à disposição em todas as salas de aulas”, explica o coordenador pedagógico da instituição, Alexandre Roque de Araújo. “O acervo é atualizado periodicamente, com rodízio de obras entre as turmas ou trocas feitas diretamente na biblioteca.”

A biblioteca, também conhecida como sala de leitura, conta com um professor regente, que desenvolve projetos para estimular o hábito de ler entre os alunos. Além de participar de atividades dirigidas, as crianças podem escolher livros para ler em casa e partilhar com os familiares, semanalmente.

Segundo Alexandre, uma prática que contribui para o desenvolvimento do hábito de ler e de escrever é o uso de um diário por alunos das turmas do quarto ao sexto ano. “Eles usam o diário para escrever livremente sobre o que querem e têm a liberdade de partilhar ou não os registros para a turma”, revela. Há 12 anos no magistério, Alexandre é habilitado para o magistério das séries iniciais e graduado em história.

A Escola Portugal também participa de trabalho voltado especificamente para os estudantes do primeiro ano do ensino fundamental. É o projeto Trilhas, composto por diferentes materiais para uso de professores e alunos, desenvolvido em parceria do Ministério da Educação com o Instituto Natura. “É um projeto de alfabetização e formação de leitores”, diz Alexandre.

Um dos resultados já verificados com a aplicação do projeto foi o despertar da curiosidade das crianças para diversos tipos de textos, como parlendas — rimas infantis, usadas em brincadeiras ou como técnica de memorização —, poesias e contos. “Também auxiliou no processo de aquisição da escrita”, analisa o coordenador. De acordo com Alexandre, o momento dedicado às atividades do projeto tornou-se o preferido na sala de aula. “As crianças podem viajar no mundo do faz de conta e liberar a imaginação.”

Professora responsável pela implementação do projeto Trilhas em duas turmas do primeiro ano, Daysi dos Santos Fonseca destaca como maior contribuição do trabalho o resgate cultural, para despertar nas crianças a vontade e a curiosidade de participar das rodas de leitura e tornar o ato de ler um momento descontraído e lúdico.

Outro ponto que Daysi, com 30 anos de magistério, considera relevante é a riqueza cultural do projeto, até mesmo para os professores que não vivenciaram na infância as cantigas e brincadeiras de roda, agora resgatadas.

Confira o blog da EM Portugal

 

 

 

No Colégio Pedro II, leitura reforça o aprendizado geral

Da esq. para a direita: professores José Antônio Cavalcanti e Elaine Barbosa Ramos

A leitura e a compreensão de textos são os pontos mais enfatizados nas aulas de língua portuguesa no Colégio Pedro II, câmpus de São Cristóvão II e III, no Rio de Janeiro. De acordo com a professora Elaine Barbosa Ramos, chefe do Departamento de Português e Literaturas de Língua Portuguesa do ensino médio e do sexto ao nono ano do ensino fundamental, um bom leitor dificilmente deixará de ser bom aluno em outras matérias, pois a leitura contribui para que o estudante se torne um ser pensante.

“Queremos que os leitores se tornem cada vez mais eficientes”, afirma Elaine. “Alunos que se destacam na leitura e escrevem textos mais sofisticados são, geralmente, os melhores do colégio.”

Segundo a professora, a maior preocupação da instituição é estimular os estudantes a ler e a produzir textos dos mais variados gêneros para, dessa forma, se tornarem cidadãos com leitura crítica do mundo. Há 25 anos no magistério, Elaine tem bacharelado e licenciatura em português e suas literaturas, com especialização na área.

No colégio, as estruturas gramaticais não são estudadas de forma isolada, mas a partir de textos literários. “Faz mais sentido para os alunos perceber como o objeto direto se constrói em uma determinada frase”, exemplifica a professora. Assim, no ensino fundamental, os estudantes vão encontrar as estruturas gramaticais em textos ligados a mitos e lendas, por exemplo. Além disso, muitas vezes, os professores precisam usar textos retirados dos jornais e da realidade dos alunos. “Por mais que o livro didático seja ágil, não consegue chegar a esse ponto”, destaca Elaine.

Resistência — Na visão do professor José Antônio Cavalcanti, que dá aulas a seis turmas do terceiro ano do ensino médio, há muita resistência à leitura entre os adolescentes. “É um trabalho imenso tentar despertar o interesse e a curiosidade”, avalia.

Doutor em ciência da literatura e graduado em português e suas literaturas, Cavalcanti atua com dedicação exclusiva. Além de lecionar, desenvolve projetos de material didático — textos e apostilas — para complementar o conteúdo dos livros. “Uma boa preparação de textos e conteúdos gramaticais é essencial”, afirma.

O professor acredita que valorização do ensino de língua portuguesa deve ser permanente para ajudar a formar cidadãos autônomos. Deve ainda ser aprofundada, em razão da multiplicidade da linguagem pela internet. Nesse aspecto, ele ressalta a importância de o estudante evitar a prática de copiar trabalhos publicados no meio virtual. “Para combater isso é preciso fazer o aluno compreender que a linguagem é ele mesmo e ele é a linguagem que utiliza”, salienta. (Fátima Schenini)

Acesse a página do Colégio Pedro II

 

Alunos vivenciam mundo do trabalho em jogo virtual

Professora Sílvia Rufino

Professora do Centro Federal de Educação Tecnológica (Cefet) Celso Suckow da Fonseca, no Rio de Janeiro, há 14 anos, Sílvia Rufino leciona informática no curso de técnico em administração. Formada em informática e em administração, ela faz curso de mestrado em ciência da informação, onde aborda, como tema principal, o uso da informação para a educação, com a tecnologia como facilitadora. O mestrado é desenvolvido em parceria pelo Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (Ibict) e a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Sílvia leva aos alunos do ensino técnico os conhecimentos que adquire nas aulas de mestrado e discute a validade das informações disponíveis na internet. “Como é possível saber se uma determinada informação é realmente confiável?”, questiona a professora. Nas aulas que ministra, ela aborda essas questões com os estudantes. Para Sílvia, é importante que eles tenham isso presente para toda a vida.

Professora também de direito empresarial, ela usa a internet para fazer simulação com os alunos. “Criei um jogo no qual os estudantes podem ser empresários ou funcionários, e tudo é registrado de modo virtual”, explica. Dessa forma, os alunos aprendem a conviver com situações da vida real, como a necessidade de um trabalhador ausentar-se do serviço para ir ao médico, por exemplo. “Os estudantes divertem-se e aprendem, pois têm que pesquisar sobre o que deve ser feito em cada situação.”

Segundo Sílvia, cada estudante assume um personagem diferente. O movimento do jogo ocorre na sala de aula. Quando é necessário assinar a carteira de trabalho, eles têm de reproduzir carteira semelhante à original, com foto, e postar documentos como certidões de nascimento de filhos fictícios e atestados médicos.

O projeto de Sílvia já está na terceira edição. (Fátima Schenini)

Confira a página do Cefet-RJ na internet

Dulce Cassol Tagliani (Furg): língua portuguesa é fundamental em qualquer área do conhecimento

Dulce Cassol Tagliani

Professora do Instituto de Letras e Artes da Universidade Federal do Rio Grande (Furg), Dulce Cassol Tagliani leciona no curso de graduação em letras, do qual é coordenadora e na especialização em Linguística e Ensino de Língua Portuguesa. Também é coordenadora de gestão pedagógica do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (Pibid), na Furg.

Para ela, que tem mestrado e doutorado em letras, na área de linguística aplicada, a escola deve formar usuários competentes da língua. Para isso, deve possibilitar que os estudantes conheçam diferentes textos, de gêneros variados, por meio da utilização de diversas ferramentas.

Jornal do Professor – Qual é a importância do ensino de língua portuguesa na escola, já que ela é fundamental em todas as áreas do conhecimento?

Dulce Cassol Tagliani – Na própria questão feita já temos uma ideia sobre a importância do ensino de língua portuguesa na escola. Ela é fundamental em qualquer área do conhecimento, assim como em qualquer prática social das quais participamos cotidianamente. E a escola é o espaço de desenvolvimento de habilidades linguísticas outras além daquelas que o indivíduo (aluno) já possui. Sem dúvida, a educação linguística de qualquer cidadão passa pelo contexto escolar.

JP – Como deve ser o ensino dessa disciplina a fim de atrair mais os alunos?

DCT – Deve, necessariamente, considerar que a escola se volte para a formação de usuários competentes da língua e não, como vem sendo feito em boa parte das escolas, para a formação de analistas da língua. Possibilitar ao estudante o conhecimento de diferentes textos, nos mais variados gêneros, transitando por variedades linguísticas que vão das menos até as mais formais. Além disso, o ensino de língua portuguesa deve considerar que a sociedade mudou (e muito), que o aluno mudou e tem interesses e expectativas vinculados ao século 21. O uso de diferentes tecnologias pode ser um caminho bastante produtivo, apesar de não ser o único, se considerarmos os diferentes contextos escolares. Claro que não existe uma “receita” que se aplique a todos os ambientes. Precisamos considerar as especificidades de cada “ingrediente”. Mas uma sala de aula mais interativa e que faça sentido para o estudante é fundamental.

JP – Quais as atividades mais importantes para o aprendizado de língua portuguesa no ensino básico?

DCT – A organização de um bom projeto didático é importante em qualquer nível. Atividades de leitura, escrita e oralidade proporcionam o desenvolvimento de significativas habilidades linguísticas e levam o indivíduo a circular com desenvoltura por diferentes situações de interação. Afinal, a escola deve preparar o indivíduo para o mundo (e não apenas para o vestibular, por exemplo).

JP – Qual é a importância da leitura para a aprendizagem da língua portuguesa?

DCT – Considerando os aspectos já discutidos, sem dúvida, a prática de leitura desponta como primordial para o ensino, não só de língua portuguesa. As atividades de leitura e compreensão de um texto extrapolam a sala de aula de língua portuguesa, extrapolam os limites da escola, que é a responsável por proporcionar a seus alunos diferentes níveis de letramento(s). É importante, como professores/educadores, considerarmos o impacto social da escrita, do texto, na vida do indivíduo.

JP – De que maneira os professores podem estimular a leitura entre os estudantes?

DCT – Com a inserção cada vez maior do aluno no “mundo tecnológico”, penso que essa ferramenta pode ser bastante útil/produtiva. Não a única. Se considerarmos as dificuldades que boa parte dos professores tem em usar a tecnologia disponível e, ainda, a carência de muitas escolas públicas nesse sentido (conheço várias escolas públicas do interior que ainda usam mimeógrafo), porque não envolver o aluno com o que temos disponível nas escolas? O material disponibilizado pelo Programa Nacional Biblioteca da Escola (PNBE) (http://www.fnde.gov.br/index.php/programas-biblioteca-da-escola), por exemplo, pode ser uma saída interessante. Mas esse material precisa chegar ao aluno, e não apenas na escola. É diferente. O aluno precisa manusear esse material, que é riquíssimo, basta que o professor conheça o item a sua disposição e o “apresente” a seus alunos.

JP – Em sua opinião, a grande utilização das redes sociais pelos jovens tem contribuído para piorar ou para melhorar a utilização da língua portuguesa?

DCT – Nosso aluno lê e escreve muito mais por meio de redes sociais! Acho que a variação linguística que ele experimenta é uma excelente ferramenta para se chegar a práticas sociais que requerem uma variedade mais formal. Temos, aí, uma ótima oportunidade de ampliar as habilidades linguísticas dos nossos alunos, seja qual for o artefato mediador. Além disso, pelas redes sociais (e não só) circulam textos de diferentes gêneros, vinculados a diferentes práticas sociais. E isso é muito bom!

JP – Quais os aspectos mais importantes na formação dos futuros professores de língua portuguesa que não devem ser esquecidos pelas instituições de ensino superior?

DCT – Os cursos de formação não podem deixar de considerar que a sociedade mudou e que essa transformação é um processo contínuo. O futuro professor deve, obviamente, conhecer a língua com a qual vai trabalhar, mas não pode perder de vista as transformações sócio-históricas e culturais. A língua não é homogênea, assim como não temos uma sociedade homogênea. Preparar para a diversidade e para as adversidades, cada vez mais comuns no contexto escolar, é importante. Os cursos estão preparando um profissional que, além de desenvolver práticas pedagógicas inovadoras, está habilitado a lidar com textos multimodais, por exemplo? Com novas tecnologias? Com projetos de inclusão? Com os excluídos dentro da escola? Com questões de sexualidade? Com problemas de drogadição? Com o diferente? Enfim...

Acesse a página do ILA-Furg