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JORNAL

Boas Práticas Pedagógicas

Quarta-feira, 20 de Fevereiro de 2013

Edição 84

EDITORIAL - Boas Práticas Pedagógicas

Boas Práticas Pedagógicas é o tema da 84ª edição do Jornal do Professor. O assunto foi escolhido por 75,45% dos leitores que votaram na enquete em nossa página.

Nesta edição, destacamos alguns dos professores que tiveram projetos premiados na sexta edição do Prêmio Professores do Brasil (2012): Adonias Sousa de Oliveira, de Breu Branco (PA), premiado pelo projeto Meu voto, meu futuro; Ana Maria Camillo, de Fraiburgo (SC), projeto De lagarta à borboleta; Danielle de Andrade Queiroz, de Natal (RN), projeto Queremos respeito, portanto respeitamos o outro; Guadalupe da Silva Vieira, projeto Contos Africanos e seu Universo Mágico: Literário e Artístico; e Willian Daniel Hahn Schneider, de Caxias do Sul (RS), com o projeto Pesquisadores malucos: trabalhando com o método científico.

Nossa entrevistada é a professora Suzana dos Santos Gomes, da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Minas Gerais. E o professor Mauro Alexandrino Marciel da Costa participa da seção Espaço do Professor. Ele desenvolve o projeto Trilhas e Conhecimento, na Escola Municipal Genildo Miranda, localizada na comunidade rural de Sítio Lajedo, em Mossoró (RN.

Ajude-nos a escolher o tema das próximas edições, votando na enquete colocada em nossa página. E aproveite para colaborar enviando sugestões, críticas, textos e músicas!

Seja bem-vindo!

Alunos viram cientistas em escola pública da Serra Gaúcha

Aluno demonstra como o vulcão entra em erupção

Qual a diferença entre aurora boreal e aurora austral? Por que os felinos roncam? Por que os dinossauros foram extintos? Inquietos com questões como essas, os alunos do quinto ano da Escola Municipal Catulo da Paixão Cearense, em Caxias do Sul, Rio Grande do Sul, reviraram livros, revistas e a internet para descobrir. Não só aprenderam, como vestiram jalecos de cientistas para dar aulas aos colegas.

O projeto pedagógico Pesquisadores Malucos: Trabalhando com o Método Científico, criado pelo professor Willian Daniel Hahh Schneider, 23 anos, surgiu com perguntas dos próprios alunos, que têm de 10 a 12 anos de idade. A primeira etapa constou da escolha das perguntas. Os estudantes foram posteriormente divididos em seis grupos de quatro. “Eles foram estimulados a achar hipóteses para as perguntas, de acordo com o conhecimento prévio”, explica Willian.

A terceira etapa do método científico foi a pesquisa em livros, revistas e na internet. Em seguida, os alunos foram orientados a documentar todas as etapas das pesquisas no laboratório de informática. Ele usaram software conhecido como wiki, que pode ser baixado gratuitamente. A quinta etapa constou na preparação de material didático, como cartazes e maquetes. A sexta e última foi a apresentação do trabalho aos demais colegas de sala de aula. “Todos os alunos receberam jalecos brancos para se transformar em cientistas malucos”, conta o professor. “Quem trabalha com conhecimento é um pouco maluco, não é? E quem não é um pouco maluco não é normal hoje em dia.”

Com formação em biologia e acostumado a pesquisar em laboratório, o professor revela que o projeto surgiu para desenvolver pesquisas com os alunos do quinto ano e, assim, responder às perguntas, passando por todas as etapas de um método científico. “No final, muitos não encontraram uma resposta concreta”, afirma. “Para explicar a origem das estrelas, por exemplo, há a teoria criacionista, de Deus, e a teoria científica, do big-bang, que teria dado origem ao universo."

Inclusão — O projeto de pesquisa teve o mérito de incluir todos os estudantes. Na sala do professor Willian, em 2012, havia três alunos com deficiência: uma cega, um com baixa visão e altas habilidades e um com síndrome de Asperger e dificuldade em conhecimento matemático, mas com domínio na área de ciência. “A síndrome é um tipo de autismo, mas ele responde a qualquer pergunta da disciplina”, ressalta o professor. “Ele se interessa por ciência.”

Esse estudante foi incentivado a apresentar como ocorre o aquecimento global e o efeito estufa. E o aluno com altas habilidades usou vinagre e bicarbonato de sódio para demonstrar como um vulcão entra em ebulição. “Era tudo o que ele queria”, diz o professor.

A aluna cega mostrou ter voz bonita ao cantar a música Lindo Balão Azul, de Guilherme Arantes. De acordo com o professor, a estudante emocionou alunos, professores e pais. Ela participou do grupo que pesquisou sobre o surgimento das estrelas.

“Por que fazer tanto? Quando a gente vê a turma pró-ativa e disposta a colaborar para atingir os objetivos, a solução vem em forma de outra pergunta: então, por que não fazer tanto?”, destaca Willian.

O surgimento de mais perguntas deve motivar a continuidade dos cientistas malucos na escola. “Eles querem bis, e isso é muito bom”, afirma Willian. Ele está entre os 40 professores de escola pública que tiveram os projetos pedagógicos premiados em 2012 pelo Ministério da Educação. “Vou continuar com o projeto, com outras perguntas”, garante. “O mundo não é movido pelas respostas, mas pelas perguntas.”

O professor acredita que os estudantes captaram a ideia. “A resposta vem e desencadeia outra pergunta, e a ciência, como o método científico, sempre evoluiu dessa forma." (Rovênia Amorim)

Metamorfose ajuda professora a desenvolver projeto pedagógico

Alunos observam lagarta na mesa

Uma borboleta que entra voando na sala de aula pode ser a ideia inicial de uma boa prática pedagógica. Mais de duas décadas depois, a professora Ana Maria Camillo, do Centro Educacional Municipal Antônio Porto Burda, em Fraiburgo, Santa Catarina, lembrou a lição que recebeu no curso de magistério. No ano passado, as borboletas amarelas que pousavam numa árvore próxima alteraram a rotina escolar de uma turma de terceiro ano.

Após visita ao mundo da leitura na biblioteca da escola, a professora e seus alunos, de 8 e 9 anos, voltavam para a sala de aula quando encontraram uma pequena lagarta. Curiosas, as crianças a levaram para a sala de aula. “Eles observaram o invertebrado e o desenharam, mas quando foram devolvê-la para a árvore, descobriram um verdadeiro laboratório”, conta Ana Maria.

A árvore no pátio da escola, florida de amarelo, abrigava outras lagartas e casulos. A professora teve então a ideia de elaborar projeto pedagógico e abordar com os alunos o tema da metamorfose. Dez lagartas foram levadas à sala de aula e passaram a viver, inicialmente, em potes de sorvete, com galhos da árvore para se alimentar e gravetos de churrasco para fixar os casulos. Os potes foram fechados com plástico comum de cozinha, com pequenos furos.

“Começamos então a integrar a metamorfose com outras atividades pedagógicas”, diz a professora, de 41 anos. As crianças leram Romeu e Julieta, de Ruth Rocha, sobre a amizade de duas borboletas, e resolveram questões matemáticas com o tema. “Nossa sala é informatizada, e cada aluno tem o seu computador. Fomos pesquisar na internet sobre as etapas da transformação da lagarta em borboleta, o que resultou num livro com textos curtos”, explica Ana Maria.

“Eu não conseguia encerrar o projeto porque os alunos estavam muito animados, até o dia em que conseguiram ver a metamorfose de uma lagarta em borboleta amarela, como as flores da árvore da escola”, conta a professora. Ela lembrou, emocionada, a lição na época em que era estudante do magistério. “Dou aulas há 22 anos, e esse foi um projeto muito emocionante”, revela. “Nessa prática, estão todos os meus 22 anos de professora. A lição da borboleta que entra na sala de aula e se transforma em situação didática ficou gravada em mim.”

Iniciado no começo do ano, o projeto foi encerrado com representação teatral baseada na história do livro infantil de Ruth Rocha. A metamorfose foi filmada e virou matéria de jornal na cidade, de 37 mil habitantes. “O projeto não ficou restrito à sala de aula: alunos menores e maiores de outras turmas também ficaram curiosos”, salientou a professora. “Ver as crianças se espantarem com o novo, com a pequena coisa, foi gratificante.”

Encantamento — Em seu blogue, a professora destaca frases do educador e escritor Rubem Alves. “A alma é uma borboleta... há um instante em que uma voz nos diz que chegou o momento de uma grande metamorfose...” , diz Alves.

O autor afirma ser fácil educar a criança porque ela tem um olhar de encantamento, uma qualidade de olhar que os gregos consideravam o início do pensamento. “E isso é verdade; não precisamos de grandes projetos. Quando os alunos se encantam, você consegue ensinar a eles o que quiser”, afirma Ana Maria. “Por isso, gosto de trabalhar com projetos que unem música e teatro. Sinto que alunos ficam inteiros e dão ao professor aquela emoção de estarem interessados em aprender", ensina. “Não é igual a uma aula puramente teórica."

O projeto da professora foi premiado em 2012 pelo Ministério da Educação na sexta edição do Prêmio Professores do Brasil, que reconhece boas práticas de ensino. O trabalho pode ser conferido no blogue que Ana Maria mantém na internet. O vídeo De Lagarta a Borboleta, postado no You Tube pela professora, mostra o borboletário criado na sala de aula. (Rovênia Amorim)

Professor paraense mostra aos alunos a importância do voto

Alunos trabalham na confecção de faixa

Ao ouvir de seus alunos que "todo político é ladrão" e que venderiam seus votos ao se tornarem adultos, por não acreditar nos políticos, o professor Adonias Sousa de Oliveira ficou preocupado. Esse sentimento o levou a criar o projeto Meu Voto, meu Futuro, premiado na sexta edição do Prêmio Professores do Brasil, em 2012, pelo Ministério da Educação. As atividades foram realizadas nas aulas de sociologia e religião dos últimos anos da Escola Municipal de Ensino Fundamental Antônio Oliveira Santana, em Breu Branco, Pará.

"A escola pensou em desenvolver o projeto com o objetivo de preparar os alunos para a vida em sociedade, a fim de formar eleitores ou, quem sabe, os candidatos do amanhã", explica Adonias. "Trabalhamos a concepção do que é ética, não só no meio político, mas também no sentido pessoal, na vida particular, bem como valores como honestidade, dignidade, respeito e compromisso."

Após avaliação diagnóstica para avaliar os conhecimentos que os estudantes traziam de casa, o professor passou a criar situações capazes de motivar a busca desse conhecimento. A escola foi transformada em um município fictício. As salas de aula, em bairros, com candidatos a prefeito, vice-prefeito e vereadores.

Cada turma ficou responsável por um serviço público. Assim, os estudantes do sexto ano A, por exemplo, fizeram pesquisas sobre o tema saúde, em escalas nacional, estadual e municipal. A partir daí, visitaram postos de saúde para verificar a situação real vivida pela população. “Eles vivenciaram o que o município tinha a oferecer com relação aos serviços públicos", avalia Adonias.

Os alunos aproveitavam a hora do intervalo para divulgar propostas. Teve início uma concorrida campanha eleitoral, com panfletagem, bandeirolas e até telefone celular. No encerramento do projeto, foi realizado um grande comício no pátio da escola, com a participação dos pais. Em estúdios, foram gravadas paródias musicais e, durante o comício, era possível escutar, ao fundo, a música de cada candidato. “As famílias investiram na realização do projeto. Nunca elas tinham participado tão efetivamente de uma atividade na escola", salienta Adonias. “Foi emocionante."

As propostas dos "candidatos" foram encaminhadas à presidência da Câmara Municipal, representada na banca avaliadora do projeto. Os vereadores devem avaliar a possibilidade de liberar recursos e investimentos para a escola.

Repercussões – A premiação trouxe repercussões positivas à carreira de Adonias, que tem graduação em pedagogia e especialização em gestão escolar e está há 18 anos no magistério. Professor concursado em dois municípios, a partir de 2013 ele passa a ser coordenador pedagógico das disciplinas de sociologia e filosofia no município de Breu Branco e coordenador do Projeto EJA (educação de jovens e adultos) na modalidade semipresencial (modular) em Tucuruí, onde antes exercia o cargo de vice-diretor na Escola Municipal de Educação Fundamental Governador Fernando José de Leão Guilhon. (Fátima Schenini)

Estudantes superam desafio de tornar melhor o comportamento

Alunos manuseiam livros

Ao ingressar na Escola Municipal Henrique Castriciano, em Natal (RN), no início de 2012, a professora Danielle de Andrade Queiroz começou a lecionar a duas turmas de quarto ano do ensino fundamental marcadas pela indisciplina e pelo desrespeito com professores e colegas. As dificuldades geradas pelo mau comportamento e brigas constantes motivaram a professora a criar o projeto Queremos Respeito; Portanto, Respeitamos o Outro.

Cada atitude desrespeitosa levava Danielle a estimular a reflexão entre os estudantes para fazê-los perceber como se sentiriam se as posições se invertessem e alguém fizesse a eles aquilo que estavam fazendo. Como os alunos não se tratavam pelos nomes próprios, somente por apelidos, geralmente pejorativos, a professora começou a trabalhar com essa questão, com dinâmicas na sala de aula.

A partir dessas reflexões iniciais, o projeto pedagógico foi crescendo e tomando dimensão mais ampla. Como os estudantes tinham grande déficit de aprendizagem, Danielle resolveu unir o projeto sobre o respeito a um outro, de literatura, o Era uma Vez Dois e Três. Assim, criou um espaço literário na sala de aula. “Uma malinha literária era levada para o intervalo e podia ser usada também por estudantes de outras turmas”, afirma a professora. “Isso acabou criando laços afetivos entre eles.”

Antes da leitura e da escrita, foi desenvolvida a questão da afetividade. “Quando eles alegavam não conseguir fazer alguma coisa, eu dizia: ‘Conseguem! Vocês são inteligentes e têm capacidade’, e ia elevando a autoestima deles.” Assim, Danielle conseguiu o que sempre procurou. Ou seja, estabelecer laços afetivos e inseri-los no dia a dia dos estudantes. “Eles começaram a ter amizade e união entre si”, destaca.

Livros — Com o sucesso do trabalho, os alunos de Danielle passaram a ser convidados para organizar eventos na escola, ministrar seminários em outras turmas ou simplesmente conversar com os demais estudantes. “Eles começaram a se achar importantes”, assinala a professora. Segundo ela, a maior vitória foi a publicação de dois livros, elaborados totalmente pelos alunos — Paz na Escola, por um Mundo Melhor e Victor, o Menino que Queria Ser Respeitado. “Foi um trabalho coletivo, realizado durante o ano todo.”

Além disso, alguns alunos passaram a realizar trabalhos independentes, como livros de histórias e de poesias. “Com o projeto, criamos escritores e conseguimos coisas que nem imaginávamos”, ressalta a professora, que admite surpresa com o trabalho desenvolvido pelos estudantes a partir do tema drogas. “Apresentei um desafio, e eles conseguiram superá-lo”, destaca. “Criaram histórias e depois as dramatizaram.”

Em 2013, Danielle assume novas funções. Há 15 anos no magistério, com formação em pedagogia e especialização em educação infantil e em psicopedagogia, ela será gestora do Centro Municipal de Educação Infantil Fernanda Jales. O projeto Queremos Respeito; Portanto, Respeitamos o Outro foi um dos ganhadores da sexta edição do Prêmio Professores do Brasil, em 2012, promovido pelo Ministério da Educação. (Fátima Schenini)

Cultura afro é bem recebida em região de imigrantes alemães

Guadalupe lê para alunos na sala de aula

O fato de lecionar em um município colonizado por imigrantes alemães não desestimula a professora Guadalupe da Silva Vieira. Ela faz questão de abordar, com os alunos, aspectos relacionados à cultura negra. Essa atitude, adotada desde 2005, resultou na criação do projeto Contos Africanos e seu Universo Mágico: Literário e Artístico, premiado na sexta edição do Prêmio Professores do Brasil.

O projeto foi desenvolvido em 2012, com duas turmas do terceiro ano do ensino fundamental da Escola Municipal Maria Edila da Silva Schmidt, no município gaúcho de São Leopoldo, região metropolitana de Porto Alegre. Para o desenvolvimento das atividades, a professora montou um acervo em sala de aula com 70 livros relacionados à cultura afro-brasileira e à negritude.

O trabalho contou com a exploração da escrita e da leitura relacionados ao conteúdo. A professora também elaborou determinados desafios, para resolução em casa. Para isso, os alunos poderiam contar com a ajuda de pessoas da comunidade. “Os temas abordados no projeto foram permeados por assuntos relativos à religiosidade, que ainda enfrenta muitos preconceitos e não aceitação”, diz Guadalupe.

Segundo a professora, todos os temas foram muito trabalhados. Na dança, por exemplo, os alunos aprenderam o significado de cada gesto e movimento. “Eles sabiam o que estavam fazendo para poder passar adiante e multiplicar esses saberes", destaca. Guadalupe trabalhou de forma integrada com professores da educação de jovens e adultos e dos programas Mais Educação e Escola Aberta, do Ministério da Educação. Buscou ainda a participação de pessoas negras da comunidade em algumas atividades.

Com os estudantes, a professora criou um musical sobre os livros que eles mais gostaram de ler. Em conjunto, a partir de obras como A Princesa Violeta, de Veralinda Menezes, foram pensados e sugeridos os temas a serem adotados. O musical deu certo e ultrapassou os limites da escola. Além de ser apresentado em outras unidades de ensino do município, foi mostrado na Sociedade Orpheu, tradicional clube da região, fundado em 1858 para “enobrecer o canto alemão” e promover a vida sociável e harmoniosa dos imigrantes germânicos.

Segundo Guadalupe, os resultados obtidos com o desenvolvimento do projeto foram positivos não só para os alunos e para a escola, mas também para a comunidade carente de Rio dos Sinos, bairro no qual a escola está inserida. “Como diz Leci Brandão, em sua música Anjos da Guarda, é na sala de aula que se transforma o cidadão e é na sala de aula que se muda uma nação”, enfatiza a professora. “É na base que nós vamos mudar”, ressalta. “Mesmo que haja alguns percalços, pois isso faz parte da vida, temos de ir em frente e acreditar que é possível transformar a sociedade.”

Há 24 anos no magistério, Guadalupe é graduada em artes, com pós-graduação em psicopedagogia e em arte-educação – linguagens contemporâneas. (Fátima Schenini)

 

 

Por meio de trilhas, professor leva alunos a conhecer ecossistemas litorâneos

Alunos em passarela sobre mangue

O professor Mauro Alexandrino Marciel da Costa dá aulas de geografia para alunos de ensino fundamental e médio de duas instituições do Rio Grande do Norte: Escola Estadual Rui Barbosa, no município de Tibau e Escola Municipal Genildo Miranda, na comunidade rural de Sítio Lajedo, em Mossoró.

Há sete anos no magistério, ele desenvolve, desde 2009, na Genildo Miranda, o projeto Trilha e Conhecimento, que tem o objetivo de fazer com os alunos conheçam o ecossistema litorâneo. Com esse trabalho, Mauro Marciel quer que os alunos desenvolvam a capacidade de observar o espaço ao seu redor, além de visualizarem, na prática, os elementos formadores do espaço geográfico. Entre os locais visitados estão as praias cearenses de Ponta Grossa e Requeguela, em Icapuí, e de Iracema, em Fortaleza, onde os estudantes conheceram o Centro de Arte e Cultura Dragão do Mar.

“Depois da realização do projeto, nossos alunos começaram a melhorar o entendimento do espaço em que habitam e dos ecossistemas visitados, bem como a atuação e cuidado necessários para a conservação do espaço”, revela o professor.

Em 2013, ele pretende não só dar continuidade ao projeto na escola como também ampliá-lo aos professores da rede municipal de ensino de Mossoró. Com graduação em geografia e especialização em educação, Mauro Marciel faz, atualmente, mestrado em educação.

Saiba mais sobre o projeto Trilha e Conhecimento

Acesse o blog da EM Genildo Miranda

Suzana dos Santos Gomes (FAE/UFMG): desafios são fundamentais para construir boas práticas pedagógicas

Foto da professora Suzana dos Santos Gomes

Pedagoga, com mestrado e doutorado em educação, Suzana dos Santos Gomes é professora-adjunta do Departamento de Métodos e Técnicas de Ensino da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Segundo ela, que tem atuação centrada principalmente nas áreas de didática, avaliação escolar, formação de professores e letramento e leitura, as situações desafiadoras da aprendizagem são fundamentais para a construção de boas práticas pedagógicas.

Na visão de Suzana, os professores devem usar, para a concretização dessas práticas, uma didática colaborativa, dialógica e problematizadora. “Uma didática que promova interações com os universos culturais dos diferentes sujeitos aprendizes, que exercite a linguagem nas suas múltiplas manifestações e que fortaleça a ação e o pensamento crítico e autônomo”, justifica.

Jornal do Professor — O que faz um bom professor? O que são boas práticas pedagógicas e quais os principais exemplos?

Suzana dos Santos Gomes — Essa é uma questão que nos instiga há anos e ainda é objeto de discussões e pesquisas. É um tema extremamente importante para os que atuam no cotidiano das escolas e para todos os que querem participar da luta contra o fracasso escolar. Trago para esse debate a minha trajetória acadêmica e profissional. Tenho experiência na educação básica e na educação superior como professora e pedagoga. Atualmente, nos cursos de graduação e pós-graduação, atuo na formação de professores. Como outros colegas, tenho interesse pela pesquisa em sala de aula. Por isso, tenho me aproximado dos professores, busco conhecer suas histórias de vida, seu fazer pedagógico. Dialogo com eles sobre suas experiências, a fim de buscar respostas para algumas questões que nos inquietam nesse campo. Entre elas: por que determinados docentes são considerados “bons professores” por seus pares, por seus alunos, pelas famílias e por tantos outros? Como é a prática pedagógica desses professores?

Os estudos no campo da docência mostram que as mudanças almejadas na escola passam pela formação inicial e continuada dos professores, pela concepção do processo ensino-aprendizagem, que dentre outras ações recoloca o trabalho com o conhecimento na perspectiva histórico-social. A análise sobre a formação dos professores, seu desempenho e o modo como esse profissional organiza o trabalho pedagógico com o conhecimento parece de fundamental importância no delineamento de novos rumos na prática pedagógica. O estudo do professor no seu cotidiano, tendo-o como ser histórico e socialmente contextualizado, pode auxiliar nas mudanças na prática pedagógica e na intervenção na realidade no que se refere a sua prática e a sua formação.

JP — A diversidade e a heterogeneidade interferem na formação do professor e na sua atuação?

SSG — O acolhimento e a resposta educativa de qualidade à diversidade e à heterogeneidade dos alunos no contexto da sala de aula são grandes desafios para a comunidade educativa. Ao serem vencidos, farão com que a qualidade na educação seja possível para todos os estudantes. Nessa perspectiva, práticas inclusivas passam a ter uma agenda claramente centrada na melhoria da escola. Torna-se fundamental perceber o que os alunos consideram ser bons professores e boas práticas pedagógicas.

A partir de uma pedagogia diferenciada, centrada na cooperação entre o professor e os alunos, e destes entre si, será possível pôr em prática os princípios da educação inclusiva. Não será possível assegurar essa igualdade de acesso se os alunos não forem tratados de acordo com suas necessidades. Diferenciar significa desenvolver um projeto educativo que integre dispositivos didáticos, de modo a colocar os alunos diante de situações favoráveis a sua aprendizagem.

A diversidade e a heterogeneidade que caracterizam hoje o universo de estudantes exigem cada vez mais das escolas e, em particular, dos professores. Exigem a mobilização de práticas pedagógicas diferenciadas, que sigam ao encontro das necessidades de todos os alunos e se concretizem através da organização de interações e atividades capazes de permitir que cada aluno seja frequentemente confrontado com situações didáticas significativas e adequadas a suas características.

JP — Então, isso leva a uma necessidade maior de inúmeras práticas pedagógicas?

SSG — Considero importante sensibilizar alunos e professores para a necessidade de mobilizar práticas pedagógicas diferenciadas e tentar responder com qualidade aos diferentes estudantes. Para garantir o sucesso de todos eles, é fundamental que a escola incorpore esses princípios. Nessa perspectiva, as situações desafiadoras da aprendizagem são fundamentais para a construção de boas práticas pedagógicas. Torna-se importante o professor conhecer os estágios de desenvolvimento cognitivo pelos quais passa a criança, visando à organização de experiências escolares de acordo com interesses, ritmos e condições de raciocínio dos alunos. Cabe a ele, ainda, proporcionar um ambiente rico em situações e material, ao arquitetar, desse modo, situações desequilibradoras.

Essa compreensão da aprendizagem altera a relação professor–aluno, uma vez que o aluno, reconhecido como sujeito capaz de construir conhecimento, ocupa o centro do processo de formação. O professor, concebido como mediador do processo de ensino e de aprendizagem assume uma postura mais respeitosa diante das diferenças individuais. Aprender, nessa perspectiva, é entendido como a capacidade de processar as informações, de apropriar-se do saber, de construir conhecimento consistente sobre o real. Ensinar, por sua vez, significa aproximar o que se é e o que se sabe daquilo que se pode vir a ser e a conhecer. Com base nas contribuições da Teoria Vygotskyana [do psicólogo bielorrusso Lev Semenovic Vygotskij, 1896-1934], ensinar é mediar, é criar condições para fomentar a zona de desenvolvimento proximal, diminuindo a distância entre a zona de desenvolvimento real e a zona de desenvolvimento potencial do aluno.

Como, então, o professor concretiza boas práticas pedagógicas? Por meio de uma didática colaborativa, dialógica e problematizadora. Uma didática que promova interações com os universos culturais dos diferentes sujeitos aprendizes; que exercite a linguagem nas suas múltiplas manifestações e que fortaleça a ação e o pensamento crítico e autônomo. É fundamental que o professor exerça sua autoridade educativa fundada em saberes científicos, pedagógicos, culturais e relacionais para que possa realmente contribuir efetivamente com o processo ensino-aprendizagem nas diferentes áreas do currículo escolar.

Também é importante que as instituições proporcionem aos professores referenciais para a compreensão do seu fazer como uma prática situada e ética, cujas decisões traduzam uma intencionalidade. O professor delibera apoiado nas teorias e experiências que tecem o compromisso com sua função social, postura forjada mediante a concepção que ele tem das relações entre escola, sociedade e conhecimento.

JP — As instituições de ensino universitário preparam os futuros professores para o uso de boas práticas pedagógicas? No caso específico da Faculdade de Educação da UFMG, como isso ocorre?

SSG — Creio ser este um dos desafios para as instituições formadoras. A prática real da sala de aula nos coloca diante de um cenário no qual ritmos de aprendizagem são diferentes; experiências de vida, distintas; perfis cognitivos e conhecimentos, diversos. E como construir juntos uma proposta pedagógica bem-sucedida? Essas questões nos desafiam como formadores de professores, continuam presentes e certamente constituirão parte dos debates durante os próximos anos, sempre que questões ligadas à qualidade do ensino, à formação de professores e à avaliação do trabalho docente venham à tona.

No caso específico da Faculdade de Educação da UFMG, a formação docente encontra lugar e condições materiais em todas as áreas do conhecimento. Tem sido um esforço de docentes e coletivos de colegiados oferecer e manter cursos atualizados e de qualidade. Atualmente, a UFMG mantém 16 cursos de licenciatura (turnos diurno e noturno) e mais de 20 propostas curriculares em oito unidades administrativas: língua portuguesa e línguas estrangeiras (Fale); matemática, física e química (Icex); ciências biológicas (ICB); ciências sociais, filosofia e história (Fafich); geografia (IGC); artes plásticas, artes cênicas, música e dança (Eba); pedagogia, licenciatura em educação do campo [LeCampo] e formação intercultural do professor [Fiei] (FAE); educação física (Eefto). Os currículos são diferenciados, e cada unidade da qual se originam tem um modo de funcionamento próprio.

A Faculdade de Educação da UFMG recebe os licenciados tanto nas disciplinas teóricas quanto nas práticas, que orientam o estágio. A responsabilidade de receber alunos de vários cursos e com expectativas diferentes tem sido vivida desde sua criação. Propostas de ensino diferenciadas são experimentadas. Vale destacar a criação do Colegiado Especial de Licenciaturas, que congrega profissionais de todas as áreas de conhecimento e tem sido um espaço regular de discussões e possibilidades de melhor articular o projeto de formação docente da UFMG. Esse, sem dúvida, é um dos temas de nosso interesse. Temos nos debruçado sobre a licenciatura na UFMG com o objetivo de repensar o projeto geral e construir coletivamente novas propostas.

Coerentemente com essa perspectiva, defendemos uma formação entendida como processo de desenvolvimento profissional e pessoal, no qual é fundamental a colaboração e o envolvimento coletivos. Essa linha de pensamento vem reafirmando o discurso da profissionalização do magistério com vistas à formação de um trabalhador flexível, sensível, criativo, equilibrado emocionalmente e empreendedor. Ou seja, um profissional com competência e habilidade para lidar com situações cada vez mais complexas.

Nesse sentido, a formação deve se voltar para a maturidade profissional, cultural e ética do professor, mediante o fomento da reflexão acerca da ação pedagógica, da capacidade de explicitar os valores norteadores dos saberes e fazeres da docência e das dimensões social, cultural e histórica que permeiam o cenário escolar. É importante reconhecer o professor como um sujeito de praxis. Isso implica entendê-lo como ser em permanente construção, produzido pelas condições sociais concretas do lugar e do tempo em que atua e vive.

Forjar, ao longo da formação, situações em consonância com esses pressupostos permitirá ao professor desenvolver referenciais que norteiem seu pensamento e, consequentemente, seu agir. Esse parece ser, hoje, o principal desafio e contribuição da formação como um dos elementos centrais na construção de uma nova profissionalidade. A renovação dos valores e saberes que orientam o agir docente, elementos constitutivos de sua identidade profissional, é também construída e reconstruída na prática pedagógica do professor em seu contexto de trabalho.

É na perspectiva de repensar essa questão que proponho refletir sobre o papel das disciplinas pedagógicas, principalmente da didática, que focaliza as finalidades do ensino sobre os pontos de vista político, ético, psicopedagógico e didático. Este último, voltado para a organização dos sistemas de ensino, de formação, das escolas, da seleção dos conteúdos de ensino, de currículos e organização dos percursos formativos, das aulas, dos modos e formas de ensinar, da avaliação, da construção de conhecimentos.

Pensada a formação como processo em construção, é fundamental a garantia da formação continuada no âmbito da própria escola. A proximidade de todos os profissionais nesse cenário complexo pode possibilitar envolvimento e colaboração de todos os envolvidos na direção de uma postura mais reflexiva sobre a prática docente. Nesse sentido, a proposta de reflexão como prática social, defendida por Kenneth M. Zeichner, parece contribuir de perto para a construção do sentido do trabalho docente. O autor valoriza a interação dos membros do grupo. Para ele, os professores podem se apoiar mutuamente, sustentar o crescimento uns dos outros e olhar para os seus problemas, compreendendo que têm relação com os problemas vividos pelos pares. Zeichner também destaca uma tendência democrática e emancipatória em algumas decisões do professor que podem se originar de uma prática reflexiva. É o caso, por exemplo, de situações de indisciplina, desigualdade e injustiças em sala de aula que necessitam ser problematizadas e examinadas como parte do trabalho docente. De um lado, encontram-se as situações que envolvem questões de raça e classe social; de outro, as que envolvem dificuldades de acesso ao saber e ao sucesso escolar.

JP — É importante que os professores participem de cursos de atualização, seminários ou congressos? Por quê?

SSG — A participação de professores nesses eventos pode sensibilizá-los para aspectos importantes de seu trabalho. O ideal é que essas intervenções potencializem o processo de tematização da prática e de ampliação do saber da docência e estejam ainda pautadas numa concepção de formação na qual o professor seja considerado sujeito de uma construção por meio de experiências vivenciadas ao longo da sua trajetória de vida e de escolarização, seja enquanto aluno em formação inicial ou já professor. Desse ponto de vista, cursos, seminários e congressos deveriam ser planejados e considerados como procedimentos ativos de desenvolvimento, tanto da imaginação pedagógica quanto da consciência autorreflexiva social e crítica dos professores. Nessa linha de pensamento, os conceitos de reflexão e de ensino reflexivo são apontados como eixos fundamentais. A intenção é construir uma epistemologia da prática, centrada no saber e na reflexão produzida pelo professor ao se defrontar com situações de incerteza e conflito vividas cotidianamente por meio da análise de sua própria prática.

JP — Qual a importância do planejamento das aulas e das reuniões pedagógicas para a obtenção de melhores resultados na aprendizagem?

SSG — São fundamentais, imprescindíveis. Constituem-se em espaços privilegiados para a reflexão coletiva sobre as ações educacionais e de integração da equipe de trabalho. Nesses espaços-tempo, os professores podem analisar o que desenvolveram até então e traçar metas para a atuação da escola e para cada um quanto à formação dos alunos e o desenvolvimento do projeto escolar. O planejamento embasa a elaboração, o desenvolvimento e a avaliação dos projetos de ensino. Traduz-se numa atitude de vivência crítica permanente diante do trabalho pedagógico, possibilitando ao conjunto da equipe de profissionais da escola conhecer, se apropriar e participar da construção do projeto em desenvolvimento.

São momentos significativos para avaliar a atuação da escola e projetar os passos futuros. Para tanto, é importante definir metas a atingir e organizar os meios que as viabilizem. Em outras palavras, é fundamental planejar as ações que se articulam em torno do projeto educacional construído coletivamente. Portanto, tomar o projeto educacional como referência no momento do planejamento significa retomá-lo, reelaborá-lo, aperfeiçoá-lo. E isso é condição essencial para que ele ganhe vida no cotidiano escolar e se constitua em eixo orientador da prática educacional e da formação dos professores inicial e continuada.

Sobre essa questão é importante lembrar que, historicamente, com o avanço da racionalidade técnico-instrumental, o planejamento na educação escolar passou a ser uma atividade neutra e meramente burocrática, reduzindo e empobrecendo a ação de planejar. No entanto, um movimento contrário a essa tendência vem buscando reconfigurar as práticas desse planejamento. Nessa direção, o planejamento passou a ser concebido como instrumento da ação educativa. Ou seja, o planejamento é um ato político. Ao planejar, visando a atingir determinados objetivos, o professor estará fazendo uma opção por uma concepção de educação e, consequentemente, de homem que almeja formar e de mundo no qual quer viver.

Nessa perspectiva, o planejamento é tomado como dispositivo da formação continuada de professores. Assim, planejar ações de intervenção na realidade em situação de formação é, acima de tudo, trabalhar de forma cooperativa. Planejar com os pares é compartilhar as dúvidas, as ideias, os desafios, os saberes e os desejos.

É importante destacar que o planejamento implica conhecimento da realidade e, desse modo, é necessário propor situações em que os professores sejam sensibilizados a realizar uma análise crítica do contexto no qual estão inseridos, uma vez que a ação educativa ocorre sempre em um contexto social e histórico determinado, que influencia seu desenvolvimento, principalmente em se tratando do planejamento de ações compartilhadas no qual cada professor está inserido em um contexto específico.

Finalmente, em contexto de formação, o processo de avaliação assumirá uma função formativa, através da análise e reflexão sobre os diferentes elementos envolvidos no processo de ensino-aprendizagem: contexto, aluno, professor e ensino. Dessa forma, destacam-se alguns critérios — a qualidade do plano, a prática de ensino do professor e a aprendizagem do aluno. Os resultados podem ser verificados mediante análise dos diferentes registros feitos das observações e da produção dos alunos. O importante é garantir bons momentos de reflexão sobre a prática e de ampliação do saberes da docência.

JP — É possível uma prática pedagógica dar certo em uma turma ou escola e não funcionar bem em outra? Por quê?

SSG — Pesquisas sobre interação, discurso e aprendizagem em sala de aula revelam nuances da particularidade na construção local da interação cotidiana como ambiente de aprendizagem. De uma sala de aula para outra, há diferenças sutis na organização da interação entre os vários participantes e na organização da interação deles com os materiais educacionais. Tais sutilezas fazem diferença no tom, na postura e no comprometimento em relação à aprendizagem e ao ensino de uma sala para outra, mesmo quando as salas são frequentadas por alunos da mesma idade, de origem linguística e socioeconômica semelhante. Numa sala, o professor pode, por exemplo, expor o conhecimento como algo pronto. Em outra, em sua interação com os alunos e os materiais didáticos, pode apresentar o saber escolar como algo que é construído conjuntamente pelos alunos e pelo professor.

Assim, diferenças quanto à aprendizagem e à atitude em relação a ela devem-se, de alguma maneira, a diferenças nos tipos de interação que ocorrem entre professores, alunos e materiais didáticos. A linguagem e o discurso do cotidiano da sala de aula são um meio importante para essa interação. Práticas discursivas diferentes oferecem aos alunos diferentes situações de envolvimento com a aprendizagem, como também fazem a diferença na prática pedagógica. Materiais didáticos também diferem em seu conteúdo e processo discursivo. Assim, podemos dizer que o ensino e aprendizagem em sala de aula são questões de práticas e de formações discursivas. Como essas práticas e formações variam de diversas maneiras, elas constituem ambientes de aprendizagem qualitativamente diferentes. Ou seja, professores e alunos podem construir situações de aprendizagem fundamentalmente diversas em circunstâncias semelhantes.

É importante lembrar que o trabalho docente se efetiva especialmente na gestão pedagógica da sala de aula. O que coloca a necessidade de refletir sobre esse espaço educativo. Regis de Morais lembra que a sala de aula é um local de convivência em que o aluno, como sujeito da aprendizagem, e o professor, como mediador entre o conhecimento transformam o espaço escolar em momentos de ação e de emancipação. Dentro dessa perspectiva, o caráter político da sala de aula está embutido no trabalho pedagógico ali desenvolvido. Assim, a sala de aula é um espaço de relações pedagógicas, onde todos podem construir conhecimento, buscar novas informações, criticar, analisar, sintetizar e fazer transposições e, desse modo, dar o salto qualitativo para novos parâmetros, conceitos e reinterpretações da realidade.

Estamos vivendo um momento de transição, uma relação dialética entre os comportamentos enraizados em nós e o desejo de encontrar formas alternativas de democratização do saber, de construir boas práticas pedagógicas. Nesse contexto, a reflexão nos dará consciência necessária para as mudanças.