Logo Portal do Professor

JORNAL

Horta na Escola

Quarta-feira, 13 de Março de 2013

Edição 85

EDITORIAL - Horta na Escola

O tema da 85ª edição do Jornal do Professor é Horta na Escola. O assunto foi escolhido por 41,44 % dos leitores que votaram na enquete em nossa página.

Nesta edição, destacamos experiências de hortas escolares desenvolvidas por professores de cinco escolas brasileiras: Escola Municipal de Ensino Fundamental Dr. Guilherme Alfredo Oscar Hildebrand, de Santa Cruz do Sul (RS); Escola Estadual Frederico Boldt, de Santa Maria de Jetibá (ES); Escola Municipal Londres, do Rio de Janeiro (RJ); Escola Estadual de Combinado (TO); e Centro de Atenção Integral à Criança, de Santa Maria (DF).

O professor José Silveira Filho, coordenador do projeto Hortas Escolares da Prefeitura Municipal de Fortaleza e da Universidade Federal do Ceará, é o entrevistado. E a professora Eloísa Menezes Pereira, da Escola Estadual de Ensino Fundamental Almirante Álvaro Alberto da Motta e Silva, de Porto Alegre (RS), participa da seção Espaço do Professor.

Ajude-nos a escolher o tema das próximas edições, votando na enquete colocada em nossa página. E aproveite para colaborar enviando sugestões, críticas, textos e músicas!

Seja bem-vindo!

Na horta, alunos aprendem a relacionar teoria e prática

Alunos na horta

No município gaúcho de Santa Cruz do Sul, a cerca de 150 quilômetros de Porto Alegre, os estudantes da Escola Municipal de Ensino Fundamental Guilherme Alfredo Oscar Hildebrand aprendem a participar de todas as atividades de uma horta. As ações incluem itens como a construção dos canteiros, técnicas e época de plantio, técnicas de conservação do solo e maneiras de preparar as hortaliças colhidas.

De acordo com o professor Eduardo Soares, responsável pelas atividades na horta, nesse local os alunos têm a oportunidade de entrar em contato com algo diferente, além de confrontar informações de diferentes áreas do conhecimento, obtidas na sala de aula. “Tivemos alunos que não sabiam os nomes das plantas e nunca tinham visto uma hortaliça numa horta. Só conheciam aquelas que viam nos supermercados”, revela.

Sempre que possível, o professor faz uma relação entre as atividades práticas e os conhecimentos dados em aula. Sua intenção é fazer com que os alunos aprendam, de maneira prática, sobre as diversas fases de desenvolvimento das plantas, como a germinação e a floração, o uso dos nutrientes necessários, a qualidade do solo e a reciclagem de material orgânico. “Todas essas questões abordadas em sala de aula podem ser revistas no ambiente da horta escolar”, destaca Eduardo, que é técnico agrícola com licenciatura em ciências biológicas.

Nas aulas de informática, os estudantes realizam pesquisas sobre uma determinada cultura. Buscam dados como épocas e técnicas de plantio, tratos culturais, fotos das plantas, variedades disponíveis e modos de preparo e, por fim, apresentam as informações obtidas aos demais colegas de turma.

O professor tem a preocupação de plantar todas as culturas da época, a fim de obter uma grande variedade de plantas. Também procura diversificar as atividades desenvolvidas pelos alunos. Assim, enquanto alguns alunos ficam encarregados de molhar as plantas, outros limpam os canteiros e assim por diante. “No momento do plantio, todos participam, pois é uma atividade que todos gostam de fazer”, salienta.

Juntamente com a horta, há uma composteira. Com isso, os alunos aprendem a transformar os materiais orgânicos provenientes da própria horta e da cozinha da escola em adubo orgânico para as plantas. “Também temos uma grande variedade de ervas medicinais, para que os alunos tenham uma aproximação com essas plantas e conheçam os benefícios que a natureza oferece para a saúde”, ressalta Eduardo.

Conservas - O projeto da horta é complementado por uma oficina de conservas, onde os estudantes aprendem todo o processo para a fabricação desses produtos. ”É uma forma de agregar valor aos produtos colhidos e uma maneira de conservar os alimentos, repassadas aos alunos”, diz o professor.

Segundo Eduardo, uma grande parte dos alunos que possuem espaço disponível em casa começou a cultivar, pelo menos, um pequeno canteiro com suas hortaliças preferidas. Eles usam os conhecimentos adquiridos na horta da escola e trazem as dúvidas surgidas. “Houve melhoras no consumo de verduras por esses alunos”, avalia o professor. Ele atribui isso ao fato deles serem incentivados e acompanharem o desenvolvimento das plantas pelas quais são responsáveis.

O projeto da horta é oferecido a estudantes do terceiro ao oitavo ano do ensino fundamental, participantes do programa Mais Educação. As atividades ocorrem no turno contrário ao das aulas. Da produção obtida, parte é destinada à merenda escolar, parte é vendida a professores, funcionários e comunidade. O restante é doado aos alunos. (Fátima Schenini)

 

Trabalho na horta estimula aprendizagem e solidariedade

Alunos participam de atividades na horta

Na cidade satélite de Santa Maria, a 26 quilômetros de Brasília, no Distrito Federal, a professora Tania Maria da Silva Nogueira desenvolve, há quatro anos, o projeto Semeando e Crescendo Juntos. Com essa atividade, que realiza com alunos da educação infantil do Centro de Atenção Integral à Criança (Caic), a professora quer que os alunos vivenciem todo o processo de cultivo em uma horta, desde o preparo da terra até o consumo das hortaliças.

Segundo Tânia Maria, os alunos demonstram muito interesse pelas atividades na horta. Ela acredita que o período dedicado a esse trabalho é uma hora de influência mútua do grupo, em que todos se ajudam e atuam juntos. “Como são alunos da educação infantil, há necessidade de um acompanhamento que intercale monitoramento intensivo com liberdade”, ressalta.

A intenção é que os alunos se sintam autônomos e possam construir conceitos e elaborar interações que levem a uma aprendizagem significativa. Conceitos como dentro-fora, grande-pequeno, cheio-vazio, bem como diferentes texturas e cores são alguns dos conhecimentos trabalhados em sala de aula e vivenciados na horta.

Tânia Maria explica que, só depois de trabalhar o tema alimentação saudável na sala de aula é que começa a delinear, com os estudantes, quais produtos serão plantados. Como algumas hortaliças dependem da estação do ano e possuem épocas próprias para semeadura, geralmente começam pelo plantio de couve, cebolinha, coentro, pimentão e tomate.

Na época da colheita, os alunos levam uma parte do produto para casa e o restante é utilizado para o enriquecimento da merenda da escola. “É extremamente gratificante perceber a felicidade no rosto do aluno, quando a mãe vem buscá-lo e ele a recebe com um produto que foi cultivado por ele e sua turma”, destaca a professora.

Para Tânia Maria, o trabalho conjunto tem sido fundamental para a sucesso do projeto, desenvolvido também pelas professoras Evelin dos Santos, Ivanilde de Magalhães, Joelma de Oliveira, Maria Cela de Brito, Maria do Rosário Mendes e Roseane Cavalcante. O apoio de professores, gestores, pais de alunos, vigilantes, da porteira e do responsável pela merenda escolar da escola se manifesta de diversas maneiras, que incluem desde a aquisição de sementes e adubo orgânico até a rega da horta nos finais de semana e feriados. “Juntos, formamos uma equipe. Isso é o essencial”, avalia.

Experiência – A conhecida experiência realizada nas escolas, em que um grão de feijão é colocado em um algodão molhado para que a criança possa acompanhar sua germinação, foi feita de forma diferente pela professora Tânia Maria, nas aulas de ciências. Os feijões foram plantados num cantinho da horta e os alunos puderam observar não apenas o processo de germinação como ainda o crescimento da planta, o amadurecimento da vagem e a mudança nas cores até que possa ser consumido. Nas aulas de português, a professora trabalhou a história João e o pé de feijão, conto de fadas de origem inglesa, com direito à dramatização.

Para Tânia Maria, que atua como coordenadora do projeto Educação Integral, voltado ao atendimento de alunos em atividades diversificadas no contraturno da aula, a criança tende a levar para fora da escola aquilo que aprende. Por essa razão, preocupa-se em oportunizar aos alunos, desde cedo, a vivência de experiências que provavelmente carregarão pela vida toda.

Pedagoga com habilitação nas séries iniciais, orientação educacional e supervisão escolar, ela é pós-graduada em educação especial e inclusiva. Cursa, atualmente, pós-graduação em coordenação pedagógica na Universidade de Brasília. (Fátima Schenini)

 

Horta escolar estimula troca de experiências em cidade do ES

Alunos trabalham na horta

Na zona rural de Santa Maria de Jetibá, pequeno município na região central do Espírito Santo, um projeto de horta desenvolvido na Escola Estadual Frederico Boldt possibilita a alunos e professores do ensino médio a troca de experiências, de forma a unir teoria e prática. Criado em 2012, o projeto deve ser ampliado, este ano, com a inclusão de práticas tecnológicas inovadoras e sustentáveis.

“Em um projeto como esse, no qual trabalhamos a realidade dos alunos, não só aprendemos com eles, mas conseguimos ajudá-los, com informações que eles possam usar em suas propriedades”, diz o professor Heloy Gaspar Coelho, um dos responsáveis pela criação da horta. O objetivo do projeto é mostrar aos estudantes a possibilidade de realizar um trabalho de agricultura sustentável, mesmo em espaço pequeno, e os benefícios gerados pela agricultura orgânica.

Segundo Heloy, o projeto pode ajudar e influenciar de forma positiva na melhoria da qualidade de vida dos alunos, na maioria integrantes de famílias ligadas à agricultura. “Compartilhamos várias alternativas simples, que podem substituir o uso de agrotóxicos, para melhorar a qualidade de vida”, ressalta o professor, que tem licenciatura em química e cursa pós-graduação em educação ambiental.

A participação dos alunos no projeto foi considerada surpreendente. “Todos gostavam muito do que estavam fazendo e frequentavam a escola até mesmo em dias e horários diferentes só para trabalhar no projeto”, salienta o professor. Cada aluno fazia o que era necessário e todos trabalhavam em diversas funções. No decorrer da semana, o trabalho na horta era realizado no período do contraturno. Aos sábados, as atividades eram realizadas por diferentes grupos de alunos, em revezamento.

Muitos conhecimentos obtidos em sala de aula foram postos em prática na horta. Um exemplo é o estudo sobre o potencial de hidrogênio (pH), que indica acidez, alcalinidade ou neutralidade do solo ou de uma solução aquosa. “Realizamos o teste de pH do solo e da água usando chá de repolho roxo para que os alunos fizessem o mesmo em suas propriedades, sem a necessidade de comprar um indicador químico”, explica.

Pesquisa — Algumas situações novas surgidas no trabalho da horta eram estudadas na sala de aula. Heloy cita como exemplo o uso de pesticidas biológicos em substituição aos agrotóxicos. “Os alunos manifestaram interesse e, com isso, foi realizada uma pesquisa para eles entenderem o porquê de uma determinada mistura orgânica combater uma determinada praga”, destaca.

Na visão da pedagoga Isabel Hartwig Berger, diretora da escola, a horta foi uma atividade de mão dupla, gratificante para todos. “O aluno pôde compartilhar com seus colegas e professores o que já conhecia e praticava com os pais e, ao mesmo tempo, levar muita informação para a família”, ressalta.

De acordo com Isabel, além de ser um local de estudo, a horta ocupou área que estava ociosa e poderia se tornar depósito de lixo. “Com esse trabalho, possibilitamos aos pais sentir e reconhecer a importância de o filho estar na escola”, afirma. Há 25 anos no magistério, sempre atuando na escola Frederico Boldt, Isabel está na direção há dez anos. Sua formação inclui pós-graduação em artes e em supervisão, orientação e inspeção escolar. (Fátima Schenini)

Criação de horta alerta crianças para importância da preservação

Alunos visitam local da futura horta

A vontade de pôr os alunos em contato com a natureza para torná-los mais sensíveis e conscientes de que a vida depende do meio ambiente, e que o meio ambiente depende de cada um, levou a professora Waléria Monteiro a desenvolver projeto de horta na Escola Municipal Londres. Localizada no bairro de Engenho de Dentro, Zona Norte do Rio de Janeiro, a escola atende estudantes dos três primeiros anos do ensino fundamental.

A ideia da professora consistiu em aproveitar área disponível na lateral do prédio escolar como mais um espaço de aprendizado para as crianças e ali reproduzir os bons resultados verificados em instituição particular, na qual lecionara, ocasionados pelas atividades realizadas na horta. “Pude acompanhar várias vezes, com minhas turmas, o plantio, colheitas, receitas e experiências. Era gratificante para todos”, destaca.

Obtida a aprovação do projeto, pela direção da Escola Londres, a professora deu início às atividades da horta. “Nosso espaço é bem pequeno, mas a vontade é grande”, revela Waléria, responsável por uma turma de segundo ano. O projeto recebeu a adesão das professoras Cláudia Lessa e Jacqueline Barroso, de turmas de primeiro ano, e Ana Lúcia Nunes, de uma turma de terceiro ano.

Após a limpeza e preparação do espaço destinado ao plantio, os estudantes passaram a visitar o local para fazer o reconhecimento — não costumavam circular por lá. “As crianças estão animadas e cheias de expectativas”, salienta Waléria. Segundo ela, todas vão participar das etapas do processo e cada turma ficará encarregada por um canteiro. “Aproveitamos a chuvinha que caiu por aqui e já plantamos as primeiras sementes.”

Prioridade — De acordo com a professora, os estudantes, entusiasmados, querem plantar de tudo, mas terão prioridade legumes e vegetais mais simples, que tenham facilidade de germinação. O propósito é obter um resultado mais dinâmico, capaz de animar as outras professoras, a direção da escola e os pais dos alunos. “Começaremos com alface, cenoura, tomate e pimentão, mas pensamos num futuro de plantas medicinais e outras coisas”, diz.

Waléria pretende relacionar os conhecimentos práticos obtidos com o trabalho na horta às atividades realizadas em sala de aula para que os alunos adquiram conhecimentos relacionados, por exemplo, aos diferentes tipos de solo e aos benefícios das vitaminas. Incentivar as crianças a consumir legumes e verduras e conscientizá-las da importância de saborear um alimento saudável e nutritivo são alguns dos objetivos do projeto.

A professora espera que os alunos colham os alimentos e multipliquem o aprendizado do hábito da alimentação saudável. Pedagoga, com formação também em comunicação social, Waléria atua no magistério há 24 anos, 12 dos quais na rede municipal. (Fátima Schenini)

Crianças trocam pirulitos por alimentos saudáveis

Alunos confeccionam pirâmide alimentar

Inconformada ao observar que as crianças trocavam, no dia a dia, o lanche equilibrado da escola por salgadinhos e doces, a professora teve a certeza de que era hora de agir. Escreveu então um projeto pedagógico para conscientizar os seus alunos do quarto ano da Escola Estadual de Combinado, no Tocantins, sobre a importância da alimentação correta para uma vida saudável.

“Os alunos tinham dificuldades para se alimentar bem. Gostavam de frituras, balinhas, pirulitos, chicletes e doces o tempo todo. Então comecei o projeto sobre uma alimentação saudável, colorida e balanceada, para contribuir com o crescimento e bem-estar deles”, explica a professora Anelice Marques de Souza, de 25 anos. O primeiro passo foi teórico, baseado no conteúdo dos livros didáticos, e as crianças foram apresentadas à pirâmide alimentar.

A turma foi dividida em grupo e cada aluno teve a tarefa de trazer gravuras para a construção de uma pirâmide, que traz na base os alimentos que fornecem energia para o corpo (cereais, pães, raízes) e no alto, os mais calóricos, e que devem, portanto, ser consumidos em menor quantidade, como gorduras e açúcares. “Eles aprenderam sobre a quantidade de cada tipo de alimento que deve ser ingerido diariamente”, ensina Anelice.

Para estimular a descoberta de novos sabores, a professora investiu em piquenique com a criançada. Sobre a toalha estendida no pátio da escola, frutas, sucos naturais, água e biscoitos com cereais. “Estou muito feliz com o resultado. Os pais me enviaram bilhetinhos contando sobre a mudança na alimentação dos alunos. Aquele que não tomava leite, passou a gostar. Eu tinha aluno que não comia banana, outro que não gostava de laranja”, conta Anelice.

Segundo a professora, o projeto foi um sucesso e diminuiu em 80% o consumo das guloseimas. “As crianças rejeitavam a merenda escola, que tem cardápio preparado com o apoio de nutricionistas, para comprar doces, refrigerantes e salgadinhos na vendinha”, conta ela.

Transformação - Os alunos aprenderam também sobre as doenças causadas pela má alimentação. "Falei da anemia, da obesidade infantil, da pressão alta porque as pessoas consomem muito sal", enumera Anelice. O trabalho de conscientização surtiu efeito não só na escola como nas casas dos alunos. “A gente sempre trabalha buscando a transformação”, comenta.

O projeto acabou sendo um complemento da horta escolar. As hortaliças e os legumes plantados e aproveitados na merenda da escola eram antes rejeitados, já que os alunos não valorizavam a alimentação saudável. “Fiquei muito satisfeita e realizada, quando uma mãe disse numa reunião que o meu projeto tinha causado uma mudança na alimentação de sua filha. Ela não se alimentava de feijão. Porém, com o estudo, a criança percebeu a importância dos nutrientes desse alimento no funcionamento do organismo, e passou a diversificar o prato”, diz.

A professora recebeu em 2012 o Prêmio Professores do Brasil, do Ministério da Educação, que na sua sexta edição premiou os 40 melhores projetos pedagógicos de escolas públicas. Anelice adianta que pretende continuar com o projeto neste ano letivo. "De acordo com a turma que eu tiver, vou reformular e planejar atividades para solucionar determinada preocupação. É muito emocionante ganhar um prêmio. Estou muito feliz." (Rovênia Amorim)

Professora gaúcha gosta de poesias e de desafios

Professora Eloisa Menezes Pereira

Há 33 anos no magistério, Eloisa Menezes Pereira é professora de língua portuguesa e das disciplinas que integram o currículo das série iniciais do ensino fundamental. Atualmente, ela é vice-diretora da Escola Estadual de Ensino Fundamental Almirante Álvaro Alberto da Motta e Silva, localizada no Bairro Santa Teresa, em Porto Alegre (RS).

Nas horas vagas, Eloisa gosta de escrever poesias e já participou de 22 antologias poéticas. Ela também gosta de desafios e de, com eles, inovar a aprendizagem dos alunos: “fui a primeira professora de escola pública a lançar um e-book, em 2009, com apoio de uma rede de telefonia”, ressalta. Leia, abaixo, dois poemas de Eloisa.

 

Mulher: olhar filtrado no coração

 

Somos temidas pela História

Promovidas pelo afeto da sutileza

Circulando a vitória

Transformando a frieza

 

Mulher, tua indenização

Esculpe o cenário da oportunidade

Detalhas a imaginação

Alinhavando a sanidade

 

Interages pelo tempo

Diagnosticando a evolução,

Qualificas o sentimento

Ampliando a relação

 

Sussurros

 

No silêncio da natureza,

Interage com doçura

O diálogo mudo

Do mistério da brandura

 

Na permuta da percepção

A aprendizagem aflora

Reconhecendo o coração

 

Emoções adormecidas

Sensibilizam os olhares

Nas imagens contidas

Constroem os avatares

 

 

 

José Silveira Filho: horta escolar estimula as crianças a comer melhor

Foto de José Silveira Filho

Com graduação em engenharia agronômica e licenciatura em agronomia, José Silveira Filho tem mestrado em agronomia e doutorado em educação, todos cursados na Universidade Federal do Ceará (UFC). Sua experiência profissional na área de ensino, pesquisa e extensão inclui temas relacionados a horta orgânica escolar, defensivos agrícolas naturais, biologia vegetal, fruticultura, educação tecnológica, experiências agroecológicas e mediação pedagógica nos cursos de graduação a distância da Universidade Aberta (UAB)/UFC Virtual.

Coordenador do projeto Hortas Escolares, desenvolvido em parceria entre a prefeitura de Fortaleza e a UFC, José Silveira Filho acredita que cultivar verduras e legumes na horta escolar estimula o estudante a se alimentar melhor. Ele explica aos leitores do Jornal do Professor, de forma detalhada, o que é necessário para fazer uma horta na escola e quais os legumes e as hortaliças que não podem faltar, indica as ferramentas necessárias e aponta os principais benefícios trazidos pela atividade.

Jornal do Professor – Qual é a importância de se criar uma horta na escola?

José Silveira Filho – A horta escolar é o espaço propício para que os estudantes aprendam os benefícios de formas de cultivo mais saudáveis. Além disso, aprendem a se alimentar melhor. Como se sabe, as crianças geralmente não gostam de verduras e legumes. O fato de cultivar o alimento as estimula a comê-los, especialmente quando conhecem a origem dos vegetais e sabem que são cultivados sem a adição de insumos químicos.

Especificamente com relação ao projeto Hortas Escolares de Fortaleza, por mim coordenado, pesquisa realizada em 2012, em 12 escolas municipais, mostra que 80% dos diretores consideram os resultados excelentes ou bons; 20%, como regulares. Entre os professores, 85% avaliaram o projeto como bom e excelente; 15%, como regular, ruim e desconhecido. Para 99% dos alunos, as atividades da horta foram positivas. A atividade que mais agradou foi o plantio, escolhida por 50%.

JP – Quais os principais benefícios que essa atividade pode proporcionar a alunos, professores e até mesmo à comunidade?

JSF – Melhorar a educação dos alunos, mediante aprendizagem ativa e integrada a plano de estudos de conhecimentos teóricos e práticos sobre diversos conteúdos, e proporcionar aos estudantes experiências de práticas ecológicas para a produção de alimentos. De tal forma, que possam transmiti-las a seus familiares e, consequentemente, aplicá-las em hortas caseiras ou comunitárias.

JP – Como devem ser realizadas as atividades na horta? E quais as principais?

JSF – As atividades da horta, como preparo do solo, plantio, formação de mudas, transplantio, tratos culturais, irrigação e colheita, compostagem e construção de minhocário, devem ser realizadas com a participação de todos os envolvidos no projeto. No caso do projeto Horta Escolar, participam professores e estudantes de agronomia da UFC, coordenadores, monitores e alunos das escolas beneficiárias do projeto.

Na escolha do local, a horta deve ficar o mais longe possível de áreas sombreadas por grandes árvores, muros e paredes. Deve ter proteção para evitar a entrada de animais. É fundamental que a horta fique próxima de um ou mais pontos de água. No preparo da área, é necessário limpar o terreno, retirar entulhos e pedras, capinar o mato e arrancar as raízes, marcar os canteiros com estacas de madeira e usar barbante bem esticado. Os canteiros devem ter um metro de largura e comprimento conforme o terreno. É preciso deixar corredores de 50 centímetros entre os canteiros e um metro de distância da cerca ou parede; cavar com o enxadão a área marcada dos canteiros, na profundidade de 20 centímetros, aproximadamente; desfazer os torrões com a enxada e retirar as pedras; levantar os canteiros; pôr 10 quilos ou 20 litros de esterco curtido ou composto orgânico por metro de canteiro e misturar com a enxada; nivelar com ancinho.

Após a escolha das hortaliças, tem início o plantio. Algumas devem ser plantadas em sementeiras (alface, pimentão e tomate) e depois transplantadas para o canteiro definitivo. Outras podem ser plantadas diretamente no canteiro definitivo (coentro, cebolinha, rúcula, cenoura, beterraba). É importante construir uma composteira de alvenaria com as dimensões de dois metros de comprimento por um de largura e um de altura e um minhocário de um metro de comprimento, por um de altura e um de largura.

JP – A partir de que idade deve ocorrer a participação dos alunos?

JSF – As atividades nas hortas das escolas podem começar já na educação infantil para que as crianças possam conhecer e aprender a cuidar de pequenos animais e vegetais — conteúdo essencial do aprendizado nessa fase. É possível promover a educação integral de crianças e jovens de escolas e de comunidades do entorno escolar por meio das hortas, com a incorporação de alimentação nutritiva, saudável e ambientalmente sustentável como eixo gerador da prática pedagógica.

JP – Que plantas não podem faltar em uma horta escolar?

JSF – As hortaliças indispensáveis são alface, coentro, cebolinha, berinjela, beterraba, cenoura, rúcula, pimentão e tomate.

JP – Quais as ferramentas mais necessárias?

JSF – Ancinho, carrinho de mão, colher de transplantio, enxada, enxadeco, marcador de sulcos, pulverizador, regadores, sacho, tesoura de poda, mangueira e bandeja para produção de mudas.

JP – Qual o primeiro passo para a criação de uma horta na escola?

JSF – Inicialmente, o núcleo gestor, ou professores, deve pedir a visita de um técnico da universidade ou da secretaria de Educação do município para analisar os aspectos técnicos da implantação da horta e avaliar se a instituição tem as condições ideais quanto a local, tipo de solo e disponibilidade de água.

JP – Qual é a importância da composteira e do minhocário para a obtenção de melhores resultados na horta? Como devem ser construídos? Quais os materiais necessários para isso?

JSF – A composteira e o minhocário são espaços relevantes no ambiente da horta escolar. A compostagem é um processo no qual os resíduos orgânicos são digeridos por bactérias, fungos e micro-organismos. Uma parte do composto produzido é usada diretamente na adubação dos canteiros com hortaliças. Outra porção vai para o minhocário. Ali se processa a minhocultura, atividade de grande apelo social, tanto no campo quanto na cidade, pela capacidade de processar resíduos orgânicos e transformá-los em produto de elevada qualidade para a fertilização de plantas, o popular húmus de minhoca. Esses espaços podem ser construídos em alvenaria nas dimensões acima citadas. A compostagem também é processada em espaço aberto.

No minhocário, pode ser adotado o método do caixão neozelandês, bastante usado como técnica alternativa. Trata-se de um engradado sem fundo e sem tampa, que pode conter o correspondente a um metro cúbico ou um quarto desse volume. Recipientes de plástico ou uma tela também podem ser usados.

No processo de compostagem são usados resíduos orgânicos de origem animal e vegetal (folhas, cascas de frutas etc.). No processamento da minhocultura, composto orgânico e minhocas. A espécie de minhoca mais conhecida no Brasil é a vermelha-da-califórnia.