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JORNAL

Formação Continuada

Segunda-feira, 22 de Abril de 2013

Edição 86

EDITORIAL - Formação Continuada

Formação Continuada é o tema da 86ª edição do Jornal do Professor, por escolha de 47,29 % dos leitores que votaram na enquete em nossa página. Realizada por meio de cursos de extensão, aperfeiçoamento e especialização, presenciais ou a distância, a formação continuada tem sido uma das preocupações do MEC, nos últimos anos.

Nesta edição, destacamos experiências de formação continuada desenvolvidas em Diamantino (MT), Uberaba (MG), São Luís (MA), e Maceió (AL). Apresentamos, também, o Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa, que irá promover cursos de formação a cerca de 17 mil docentes orientadores, que atuarão com os professores em classes de alfabetização, oferecidos por 38 universidades públicas parceiras no pacto.

Nossa entrevistada é Maria do Rosário Cordeiro Rocha, professora do Instituto Federal de Brasília e da Secretaria de Educação do Distrito Federal, que integra a equipe do Centro de Formação Continuada de Professores da Universidade de Brasília.

A professora Cilene Ebenezer, da Escola Municipal Professor Washington Manoel de Souza, de Queimados (RJ), participa da seção Espaço do Professor.

Ajude-nos a escolher o tema das próximas edições, votando na enquete colocada em nossa página. E aproveite para colaborar enviando sugestões, críticas, textos e músicas!

Seja bem-vindo!

 

Cursos atualizam professores no uso de novas tecnologias

Alunos na sala de aula

Há 17 anos no magistério, Maria Célia Martins Fernandes participa com frequência de cursos para aperfeiçoar os conhecimentos e tornar as aulas mais dinâmicas. Formada em letras, com experiência no ensino de língua portuguesa no ensino médio, a professora de Rosário Oeste, no centro-sul de Mato Grosso, exerce desde 2011 a função de coordenadora pedagógica na Escola Estadual Professora Elizabet Evangelista Pereira.

Maria Célia tem participado de cursos promovidos pelo Centro de Formação dos Profissionais da Educação Básica (Cefapro) de Diamantino (MT), principalmente aqueles relacionados ao uso de novas tecnologias. “Os avanços tecnológicos são muitos, e nós, professores, precisamos estar atualizados”, diz a professora, que já concluiu, entre outros, os cursos de tecnologia na educação: ensinando e aprendendo com as tecnologias da informação e comunicação (Tics) e de elaboração de projetos (Pitec) do Programa Nacional de Formação Continuada em Tecnologia Educacional (ProInfo Integrado) do Ministério da Educação.

“Como estou na coordenação pedagógica, tenho usado esses conhecimentos também para a formação dos profissionais da minha escola” diz Maria Célia. Segundo ela, vários recursos estavam disponíveis, mas eram pouco aproveitados. A partir das aulas sobre o uso das tecnologias e do incentivo para que fossem adotadas por todos, o agendamento tornou-se uma necessidade.

De acordo com Maria Célia, que tem pós-graduação em mídias na educação e em ensino de língua portuguesa e literatura, os cursos ajudam os professores a desenvolver metodologias inovadoras e até a dar suporte aos alunos que dele necessitem na preparação de trabalhos. “Esses conhecimentos servem para melhorar a qualidade das aulas e também o aprendizado dos alunos", destaca a professora, que cursa especialização em coordenação pedagógica. Ela diz que as aulas ficaram mais atrativas e houve melhora na aprendizagem. "Aqueles alunos que não demonstravam interesse passaram a trabalhar mais em grupo, a pesquisar e a ter mais participação nas aulas”, diz. “Faltava, na realidade, a capacitação dos professores, e isso foi suprido com os cursos oferecidos."

Demanda — Responsável pelos cursos do ProInfo Integrado no Cefapro de Diamantino, o professor Osvaldo Rodrigues de Sousa adianta que a procura pelas aulas, ministradas a distância, é grande. Elas são oferecidas a todos os profissionais envolvidos com a construção do conhecimento e não apenas aos professores. “Em razão disso, temos um planejamento anual de formação, pois não conseguimos atender toda a demanda", revela. Há 23 anos no magistério, Osvaldo tem licenciatura em letras e pós-graduação em informática na educação.

Além de Diamantino, outros 11 municípios de Mato Grosso têm unidades do Cefapro, o que facilita a formação descentralizada, mais próxima do local de trabalho do professor. Criados pela secretaria estadual de educação, em 1997, os Cefapros contam com salas de aulas, biblioteca, midiateca, acervo de fitas gravadas da TV Escola, microcomputadores, equipamentos audiovisuais e professores especialistas. “Nesses centros trabalham professores formadores de cada área do conhecimento bem como de áreas especificas, como educação indígena, educação do campo e educação especial", explica Josimar Miranda Ferreira, coordenadora de formação e avaliação dos Cefapros.

Esses professores desenvolvem diversas ações de formação continuada, sejam específicas da política estadual, como o projeto Sala de Educador, executado pelas escolas da rede estadual de ensino sob acompanhamento e orientação dos Cefapros, sejam propostas pelo governo federal, como os programas Proinfo Integrado e Proinfantil e o Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa. O conteúdo dos cursos de formação é definido com as escolas, de modo a atender as particularidades de cada uma. (Fátima Schenini)

Professores unem a teoria à prática para melhor alfabetizar

Professora Inês e alunos na sala de informática

Métodos didáticos modernos defendem que a alfabetização vá além dos processos tradicionais que se baseiam na codificação e decodificação de letras, fonemas, sílabas, palavras e textos. A alfabetização deve ser pautada na leitura, mas na leitura de textos próximos da realidade cultural da criança.

“É preciso alfabetizar com os usos reais da linguagem que está próxima à vida concreta do aluno”, observa Marcelo Fabiano Rodrigues Pereira, da secretaria de educação do Distrito Federal. Responsável pela formação de 25 professores do último ano do ciclo de alfabetização, ele participa do curso de formação continuada para a implantação do Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa, oferecido pela Universidade de Brasília (UnB).

O objetivo do pacto, firmado por todas as unidades da Federação e por 5.393 municípios, é assegurar que todas as crianças brasileiras tenham proficiência em língua portuguesa e em matemática até os 8 anos de idade. Em todo o Brasil, 38 universidades públicas parceiras no pacto vão oferecer cursos de formação a 16.814 docentes orientadores, que atuarão com os professores em classes de alfabetização. A UnB pretende formar 4 mil professores das redes públicas de ensino do Distrito Federal e do Tocantins.

O pacto, segundo Pereira, evidencia os direitos de aprendizagem para as crianças de 6 a 8 anos. “Antes, essas metas não estavam claras. O pacto amarra isso, deixa esses direitos de aprendizagem muito bem estabelecidos", afirma. “Houve uma uniformização das metas do ciclo. Agora, um aluno de outra escola ou de outra cidade deve chegar com a mesma carga de conhecimento."

Desafio — A alfabetização é um desafio para os professores de turmas do primeiro ao terceiro ano do ensino fundamental e uma das prioridades da atual política educacional no Brasil. Em média, 15,2% dos alunos até oito anos de idade não estão alfabetizados. Essa taxa é ainda mais elevada em estados como Alagoas (35%) e Maranhão (34%).

O pacto será implementado com recursos do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE). O repasse financeiro da União visa a apoiar a formação continuada dos professores alfabetizadores e orientadores de estudo, que receberão bolsas para participar do curso. Estão previstos também recursos financeiros para o reconhecimento dos resultados alcançados pelas escolas e pelos profissionais da educação no desenvolvimento das ações do pacto.

"A nossa lógica pedagógica incorporava o fracasso escolar. Professores chegavam a colocar em seus planos a meta de aprovação de 80% dos alunos”, comenta a professora Leila Chalub Martins, coordenadora do pacto na UnB. “O compromisso do professor deve ser com a aprovação de 100%.” ressalta.

Para Leila, é fundamental que haja espaço de discussão com esse professor. “Ele não pode se sentir só na sala de aula. Seu trabalho precisa ser acompanhado, aprimorado."

Internet — Em Colmeia (TO), a 230 quilômetros de Palmas, Inês de Fátima Teixeira Gomes tem oito anos de experiência com alunos do primeiro ano. Ela está otimista com o curso de formação. “É sempre bom aprender um pouco mais para ensinar melhor”, diz a professora. Ela leciona no Colégio Estadual Ari Ribeiro Valadão Filho.

Este ano, Inês resolveu inovar na alfabetização dos 15 alunos de 6 anos de idade. Duas vezes por semana, ela os leva ao laboratório de informática para aulas em que são adotados softwares educativos e textos on-line. “Eles estão encantados, e o processo de alfabetização ficou mais atraente para as crianças, que são carentes e têm poucos livros em casa”, conta Inês.

Releitura — Paola Soares Aragão, do Centro de Formação de Professores da UnB, acredita que os cursos abrem a oportunidade de uma releitura sobre a alfabetização brasileira. “Quando a universidade, que sempre formou professores fora da realidade da prática de sala de aula, se debruçou sobre os problemas de alfabetização? Comprometer a universidade com esse papel, é lembrar que ela também tem essa responsabilidade”, destaca. “Antes, a universidade só criticava.”

Como os cursos do pacto são contínuos, ao longo de dois anos, as universidades e as redes estaduais e municipais de ensino acabam integrando-se num processo articulado e interdependente. “A universidade fica obrigada a monitorar, a acompanhar esse processo de alfabetização, e as redes são obrigadas a executá-lo", afirma Paola. “São os momentos para troca de experiência, de interação.”

A professora Cláudia do Vale é responsável por um grupo de 28 alfabetizadores que estão em sala de aula de escolas públicas do Paranoá, uma das regiões administrativas do Distrito Federal. "A grande dificuldade é o letramento dos alunos, a produção de textos, a leitura e a interpretação”, explica. “O aluno precisa saber o que está lendo e saber discutir, mas o professor enfrenta muitas dificuldades."

Entre as dificuldades, ela cita a superlotação das salas de aula e a falta de comprometimento da família com o processo de aprendizagem. “O pacto traz a possibilidade de unir teoria e prática”, afirma. “Os professores estão esperançosos porque têm consciência de que não estão mais sós." (Rovênia Amorim)

 

Cursos de extensão ajudam educadores a inovar nas aulas

Profª. Ana Valéria na sala de aula

A professora Ana Valéria Lucas faz parte de um grupo de educadores que participa de curso de extensão promovido pelo Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa (Pacto). Com carga horária de 120 horas e duração de dois anos, o curso aborda conteúdos de língua portuguesa e de matemática. O grupo de professores atua nos três primeiros anos do ensino fundamental da rede pública de Uberaba, no Triângulo Mineiro.

“O pacto vai proporcionar um leque de ideias a serem trabalhadas em sala de aula, permitindo ao professor inovar nas aulas e incentivar os alunos a aprender a ler e a escrever com clareza”, diz Ana Valéria. Ela dá aulas a alunos de segundo ano na Escola Municipal Frei Eugênio, no mesmo município. Segundo a professora, as aulas contribuirão para aprimorar o trabalho, pois darão a ela a oportunidade de conhecer novas formas de alfabetização. “Unindo a teoria à prática em sala de aula, os alunos sairão ganhando, adquirindo novos conhecimentos”, destaca.

Professora há três anos, com formação em magistério, Ana Valéria sempre busca novos conhecimentos e diferentes estratégias para aplicar com os alunos. Ela já participou de congressos e cursos, como os oferecidos pelo Pró-Letramento – Mobilização pela Qualidade da Educação, programa de formação continuada de professores das séries iniciais do ensino fundamental (primeiro ao quinto ano) para melhoria da qualidade da aprendizagem da leitura, escrita e matemática.

“A busca pela qualificação profissional está cada vez mais presente na vida do professor", enfatiza. “Buscando não só conhecimento, como também a realização pessoal, o professor trabalhará com mais disposição e dedicação e ainda desenvolverá seu trabalho de forma mais inovadora."

Qualidade — Também em Uberaba, a professora Samara de Sousa Sena Costa, da Escola Municipal Professor José Geraldo Guimarães, é outra participante das aulas do pacto. Há 14 anos no magistério, frequentadora de cursos e congressos, ela considera essa participação imprescindível, não só pela capacitação e melhoria das atribuições profissionais, mas para oferecer, principalmente, ensino de qualidade aos estudantes.

Com formação em magistério, ela dá aulas a alunos do terceiro e do sétimo anos do ensino fundamental. Samara já participou de cursos oferecidos pelos programas nacionais de tecnologia educacional (ProInfo) e de incentivo à leitura (Proler) e também pelo Pró-Letramento.

De acordo com a professora, as aulas contribuíram para o desenvolvimento de seu trabalho. “Pude trocar sugestões e experiências com colegas e levar práticas proveitosas para a sala de aula”, avalia. Ela acredita que os cursos do pacto serão ainda mais úteis para o trabalho no dia a dia com os estudantes.

Reforço — Na visão da diretora do Departamento de Formação Continuada da Secretaria de Educação e Cultura do município, Jane Luce Araújo, a prioridade na formação dos educadores dos anos iniciais do ensino fundamental reforçará a garantia dos direitos de aprendizagem e desenvolvimento das crianças. Ela confia que assim será possível alcançar melhora significativa nos resultados das avaliações sistêmicas.

Compromisso conjunto assumido pelo governo federal, Distrito Federal, estados e municípios, o pacto tem o propósito de assegurar que todas as crianças estejam alfabetizadas até os oito anos de idade, ao final do terceiro ano do ensino fundamental. (Fátima Schenini)

 

 

Professores aprendem temática afro em cursos de formação

Aluna escrevendo

Artes, danças, costumes, crenças, palavras, cores, uma ampla história e muita beleza. Não há como negar a riqueza cultural herdada dos africanos. O Brasil é um país farto em diversidade porque teve a contribuição dos povos africanos na formação da sua identidade. Há dez anos, a legislação brasileira determina como obrigatória a inserção das relações etnorraciais nos currículos da educação brasileira.

Cursos de formação continuada oferecidos pelas redes de educação de estados e municípios ajudam os professores da educação básica a elaborar projetos criativos sobre a temática. “O preconceito morre com o conhecimento, que gera frutos belíssimos em sala de aula, a começar com o nascimento da tolerância”, ensina a professora Fátima de Castro, que leciona artes na Unidade de Educação Básica Rubem Teixeira Gullart, em São Luís, Maranhão. Há três anos, ela inclui estudantes do sétimo ao nono ano do ensino fundamental no projeto pedagógico Cultura Afro-brasileira na Sala de Aula. São ações multidisciplinares que envolvem, principalmente, pesquisas.

A inserção do ensino de história e da cultura afro-brasileira e africana na grade curricular da escola começou em 2005, com a formação continuada para professores e gestores. A diretora, Ana Célia Cortesia Peixoto Lopes, fez o curso e passou a orientar os professores quanto à importância de destacar as questões etnorraciais em sala de aula.

“Tínhamos dificuldades na gestão de sala de aula por problemas de preconceito entre os alunos”, afirma. “Isso acabou quando os próprios alunos foram estimulados a buscar informações. Hoje, não precisamos mais impor respeito entre eles.”

A transformação na escola começou com a visita a uma comunidade quilombola no povoado de Filipa, na zona rural de Itapecuru-Mirim, a cerca de duas horas da capital maranhense. Formada há mais de cem anos, a comunidade tem ruas de terra batida, casas de taipa com telhado de palha e mantém a tradição do tambor de crioula, dança de origem africana em louvor a São Benedito. Os descendentes dos escravos sobrevivem da pesca e da produção artesanal de farinha de mandioca.

O Centro de Cultura Negra do Maranhão calcula em 527 as comunidades quilombolas no Maranhão. “Os alunos foram até o quilombo da Filipa e os moradores de lá visitaram a escola para ensinar a técnica de fazer sabonetes de babaçu”, conta a diretora. A oficina e as histórias de luta da comunidade quilombola sensibilizaram os alunos. “Essa aproximação trouxe conhecimento e gerou respeito, pondo fim ao preconceito.”

Legislação — O curso de formação para a rede pública municipal em São Luís foi ministrado à época por Ilma Fátima de Jesus, hoje coordenadora-geral de educação para as relações étnico-raciais do Ministério da Educação. Segundo ela, os cursos de formação continuada são importantes e devem ser cumpridos pelas redes de ensino, em conformidade com a legislação brasileira. A Lei nº 10.639, de 9 de janeiro 2003, e a Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996 (Lei de Diretrizes e Bases da Educacional Nacional) tornam obrigatória a inclusão no currículo da educação básica a temática da história e da cultura afro-brasileira.

“À época em que muitos professores da educação básica se formaram não havia orientação para a inserção de conteúdo afro-brasileiro no conteúdo curricular. Atualmente, as universidades devem incluir essas questões nos cursos de formação de professores”, explica a professora. Segundo Ilma, os cursos de formação continuada ajudam a discutir agendas para melhorar a educação.

No curso, são traçadas estratégias para as aulas sejam mais interessante para os alunos. “É preciso leva informação para a sala de aula, e há muito desconhecimento da contribuição africana na formação da nossa identidade, da exclusão dos negros, da contribuição de vários escritos negros para a literatura”, exemplifica Ilma. Em 2010, ela publicou o livro Educação das Relações Étnico-Raciais, com sugestões de abordagens de temáticas etnorraciais para os anos iniciais e finais do ensino fundamental. A publicação contém textos, imagens, atividades, glossário e sugestões de livros, filmes, músicas e sites para os professores.

Origens — Em 2011, a professora Fátima de Castro, apaixonada pela temática, foi convidada a fazer palestra, em Brasília, sobre projeto cultural afro-brasileiro na 1ª Conferência Nacional do Plano Nacional de Formação de Professores da Educação Básica (Parfor) do Ministério da Educação. “Não sou descendente de africanos, mas tenho identificação com as cores, os adereços, com a cultura afro”, diz Fátima, que já visitou o Museu AfroBrasil, no Parque do Ibirapuera, em São Paulo. “Quero levar mais conhecimentos sobre nossas origens africanas para a sala de aula”, diz. “Todos nós herdamos muito. Todos têm pilão, peneira em casa. Isso é cultura incorporada.”

O Museu AfroBrasil, fundado em 2004, é visitado por professores de escolas públicas de todo o país. A cada ano, em outubro, é oferecido curso gratuito para docentes. “É um museu de história da afro-brasilidade. Ele resgata todo esse conhecimento que ficou na atmosfera brasileira, nas artes, na memória e na história”, diz o diretor, Emanoel Araújo.

Segundo Araújo, o museu ajuda os professores a descobrir momentos da história do Brasil que não estão em livros e que foram importantes para a formação da identidade nacional. Ele cita, por exemplo, a participação dos negros na Guerra do Paraguai [1864-1870], na expulsão dos holandeses, no século 17, e na Revolução Constitucionalista de 1932, em São Paulo.

“Ainda há muita desinformação, e muitos professores saem daqui impressionados porque descobrem que há muito o que estudar”, afirma a pedagoga e antropóloga Ana Lúcia Lopes, coordenadora curatorial da instituição. “O museu oferece essa visão ao mudar a chave de leitura da história do Brasil.”

“O desconhecimento dessa riqueza histórica é o que consolida o preconceito e a discriminação”, conclui a professora Fátima de Castro, da rede municipal de São Luís. (Rovênia Amorim)

Universidade oferece cursos a professor da rede pública em AL

A formação dos professores da rede pública é uma preocupação do Centro de Educação (Cedu) da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), criado em 1987. Desde então, foram oferecidos muitos cursos a esses professores por meio de convênios com secretarias de Educação do estado e dos municípios. Hoje, o centro também promove cursos oriundos do governo federal, como escola de gestores, mídias na educação, educação do campo e educação infantil.

“A formação continuada dos professores da educação básica é uma exigência cada vez mais presente nas políticas educacionais da rede pública, tendo em vista o avanço na qualificação desses profissionais”, explica a diretora do Cedu, Maria das Graças Marinho de Almeida. Para ela, que é graduada em geografia e doutora em educação, com experiência em formação de professores e em educação a distância, isso pode efetivamente leva à melhoria na qualidade da educação da população escolar.

Segundo Maria das Graças, a realização de cursos de formação continuada é importante, desde que haja ampla discussão com os professores para a instituição de programas consistentes, acompanhados e avaliados sistematicamente. De acordo com a diretora, tal medida evita a ocorrência de programas eventuais e descontínuos, desvinculados dos propósitos e objetivos dos projetos pedagógicos institucionais.

Os resultados obtidos são acompanhados pelas equipes de coordenação dos cursos por meio de avaliações e relatórios. “Certamente, há relatos de melhoria das aulas oriundos das informações dos participantes”, enfatiza a professora. Ela destaca, porém, a necessidade de um projeto que tenha como objetivo o acompanhamento dos egressos desses cursos para uma avaliação mais precisa. Os dados têm de ser cientificamente levantados e analisados, de forma a qualificar os resultados citados e o estudo de demandas.

De acordo com Maria das Graças, há um movimento nas universidades para a criação de programas de formação continuada, direcionados a professores universitários, que visem à discussão de cunho político, disciplinar e pedagógico. (Fátima Schenini)

Saiba mais na página do Cedu na internet

 

Orientadora trabalha valores humanos em escola fluminense

Três fotos mostram alunos durante jogos na escola

Há 20 anos no magistério, Cilene Ebenézer trabalha em dois municípios fluminenses. Em Queimados, ela atua como orientadora educacional das séries finais do ensino fundamental na Escola Municipal Professor Washington Manoel de Souza; em Nova Iguaçu, exerce a função de coordenadora de turno também das séries finais do fundamental.

Com bacharelado e licenciatura em pedagogia e mestrado em educação, Cilene fez também o antigo curso Normal, de formação de professores. Ela possui vários cursos de capacitação profissional, dentre eles: Educação Especial, Alfabetização, Letramento em Matemática e Língua Portuguesa, Políticas de Currículo.

Em 2012, ela desenvolveu o projeto Bem-me-Quer, na escola de Queimados, para trabalhar temas relacionados aos valores fundamentais para o ser humano. Sensibilizar os alunos para a beleza e a diversidade da criatura humana, montando uma visão respeitosa, mas ao mesmo tempo crítica, de todos os valores discutidos, foi uma das justificativas apresentadas para a realização do projeto.

O projeto foi dinamizado pela participação de professores voluntários, que escolheram a turma com a qual queriam desenvolver o projeto. Cada turma tinha uma pasta com sugestões de atividades sobre convivência em harmonia, trazidas pela escola (orientação educacional) e pelos professores. Elas iam sendo trabalhadas pelos professores, que procuravam relacioná-las aos conteúdos propostos para cada dia. A cada mês, era proposto um novo tema (valor) a ser trabalhado. Exemplo: março - amor; abril: amizade etc.

No final do ano foi realizada a culminância do projeto, com uma exposição das atividades trabalhadas durante o período letivo e a apresentação das mudanças ocorridas em cada turma ou aluno, com vistas a um relacionamento feliz na comunidade escolar. (Fátima Schenini)

 

 

Rosário Rocha: magistério requer busca constante de conhecimentos

Rosário Rocha

Professora do Instituto Federal de Brasília e da Secretaria de Educação do Distrito Federal, Maria do Rosário Cordeiro Rocha integra a equipe do Centro de Formação Continuada de Professores da Universidade de Brasília (Cform/UnB), onde atua em atividades do Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa.

Com graduação em letras (espanhol e português), mestrado em educação e doutorado em linguística, Rosário Rocha é membro de grupos de pesquisa do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Sua atuação como pesquisadora ocorre, principalmente, em temas como analfabetismo, analfabetismo funcional e usos sociais da escrita.

Em entrevista ao Jornal do Professor, ela defende a realização de cursos de formação continuada para integrantes do magistério, por entender que a profissão requer uma constante busca de conhecimentos. Segundo ela, a formação continuada é condição essencial para o desempenho eficiente das funções dos professores na escola. E ela acredita que a melhor estratégia para atender a essa demanda em nosso país deve aliar a utilização de aulas presenciais e a distância.

Jornal do Professor – Qual é a importância da participação de professores em cursos de formação continuada?

Rosário Rocha – A profissão do magistério requer uma constante busca de conhecimentos. Assim como na área de medicina, em que é necessário um alto investimento de seus profissionais para a construção e uso de novas químicas e instrumentos e a discussão contínua de estratégias eficazes no combate dos males do corpo, ou no enfrentamento das doenças que surgem ou se modificam no organismo, o nosso ofício exige a formação continuada para dar conta dos desafios do ensino e da aprendizagem.

JP – Em sua opinião, como devem ser realizados esses cursos?

RR – O ideal é que a formação continuada aconteça sem a saída do professor da sala de aula. Quanto mais oportunidade de associar os estudos teórico-científicos da prática do professor, mas eficiente será essa formação. Nesse sentido, a sala de aula se constitui no campo de pesquisa e o professor em um agente pesquisador de sua própria prática.

Quanto à modalidade dos cursos, aliar aulas presenciais e a distância tem se mostrado como estratégia adequada para dar conta da demanda de formação continuada dos professores do nosso país. Os cursos presenciais são fundamentais para aproximar a universidade da escola de educação básica, no entanto, são insuficientes para possibilitar a formação com a qualidade e a quantidade necessárias ao contingente de professores que atuam nessa etapa de escolaridade. A modalidade a distância, além de preencher essa lacuna, possibilita que o cursista participe dessa formação, tão necessária, em tempos e espaços diversos, possibilitando que a construção de conhecimentos chegue aos professores de várias partes geográficas deste vasto país.

JP – Algumas áreas necessitam de mais cursos de formação continuada do que outras (alfabetização, matemática, novas tecnologias, por exemplo) ou é necessário que sejam oferecidos cursos em todas as áreas?

RR – A formação continuada é necessária para o exercício de praticamente todas as profissões atuais. Para os professores, como antes afirmado, ela é condição essencial para o desempenho eficiente de suas funções na escola. Nesse sentido, todas as áreas devem ser contempladas. No caso da alfabetização e letramento, áreas em que concentro o meu interesse, a necessidade de que o professor continue a busca por conhecimentos é muito relevante. Primeiro porque o currículo da formação inicial deixa de abordar conhecimentos fundamentais para que o professor possa exercer a função de levar os alunos a se apropriarem da modalidade escrita da língua materna, deixando, com isso várias lacunas na formação acadêmica desses educadores. Segundo, os estudos teóricos, resultantes das pesquisas acadêmicas desenvolvidas nas universidades alimentam continuamente a prática do professor que atua na educação básica.

JP – É importante que os cursos atinjam professores da educação básica ao ensino superior ou há algum segmento que apresenta mais necessidade do que outro?

RR – Reafirmo que a formação continuada é necessária para o exercício do magistério e em qualquer segmento. No entanto, acredito que como os professores de educação superior estão mais envolvidos com a pesquisa, isso, de certa forma, já possibilita que estejam em constante formação e reconstrução de conhecimentos. Aos professores da educação básica, por sua vez, devem ser asseguradas condições para que possam participar dos cursos que os levem a formar e transformar práticas pedagógicas eficazes para atuarem na instituição de ensino.

JP – Qual deve ser o papel das instituições de ensino superior no oferecimento de cursos desse tipo?

RR – A aproximação entre instituições superiores e educação básica é o grande ideal de interação entre teoria e prática. Os cursos de formação continuada se constituem como oportunidades que promovem essa aproximação. Não faz sentido todo o investimento na produção da pesquisa acadêmica, se isso não retorna para a sociedade. Além disso, o envolvimento dos professores de educação básica com as instituições de ensino superior tem se transformado em um incentivo para que esses professores também se interessem pela pesquisa.

JP – Qual é a importância da Rede Nacional de Formação Continuada de Professores, criada pelo MEC em 2004?

RR – Quando eu ouvi falar pela primeira vez na formação continuada, proposta pelo MEC e a organização da Rede Nacional, eu considerei a proposta muito ousada e duvidei da eficácia da formação. Na minha opinião, era muito difícil que essa formação chegasse aos rincões desse nosso vasto país. No entanto, com a evolução do programa do Pró-Letramento, fui surpreendida com a quantidade de professores que participaram dos cursos e com os diferentes municípios que fizeram a adesão. A Rede Nacional de Formação Continuada foi fundamental na riqueza do material de formação e na condução dos trabalhos nas diversas unidades da federação.

JP – Que pontos a senhora destaca de seu trabalho com a formação de professores em alfabetização e linguagem na educação continuada e a distância?

RR – Tive o privilégio de atuar como formadora do Pró-Letramento desde a implantação. No ano de 2005, fiz a formação com os professores alfabetizadores do município de Itapecuru Mirim, no Maranhão. Foi uma experiência extraordinária. Foi nessa época que percebi que a proposta ousada do MEC e da Rede Nacional de Formação Continuada tomava corpo, ou seja, concretizava-se. Nos anos seguintes, participei como formadora nos Estados de Sergipe, Amazonas e Tocantins. Em cada uma dessas unidades, o trabalho se constituía em um desafio gratificante. O encontro como os professores, com diferentes realidades, propiciava momentos ricos de trocas de experiências e de construção de novos conhecimentos e estratégias para o ofício de letrar as nossas crianças. Entre esses conhecimentos, ressalto os da sociolinguística, área da ciência fundamental para o ensino da língua materna e que tem sido negligenciada no currículo de formação inicial no magistério na maioria das universidades brasileiras. A formação continuada, nesse sentido, contribuiu para o preenchimento dessa lacuna.