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DIARIO
Edición 13 - Música na Escola
27/01/2009
 
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“Ensinar música é ensinar a ouvir de forma consciente”, diz professora Walkíria Lobato

Autor:Arquivo Pessoal


A professora Wlakíria Lobato tinha apenas 17 anos quando concluiu o curso profissionalizante em piano. De lá para cá, já se passaram mais de 27 anos de experiência em educação musical em escolas públicas do país. Depois de atuar no conservatório de música de São João Del Rei (MG) e na rede pública de São Paulo, Walkíria trabalha, atualmente, na Escola-Parque 210/211 Norte, em Brasília (DF). Idealizadas por Anísio Teixeira, as escolas-parque foram criadas para oferecer aos alunos da rede pública de ensino uma complementação de sua formação por meio das artes visuais, do teatro, da música e da educação física.

Para ela, além da sensibilidade para tocar um instrumento, um professor de música deve ter a formação adequada para ensinar música. Com mestrado em educação pela Universidade de Brasília, especialização em música brasileira, licenciatura em educação musical e bacharelado em música, Walkíria acredita que ensinar música na escola significa ampliar os horizontes dos alunos com novas experiências culturais.

 

JP – Na sua opinião, qual a importância da música na escola?

WL - A importância da música na escola está na ampliação do conhecimento musical dos alunos. É claro que os alunos já têm um conhecimento musical que vem da família deles e da comunidade que os cerca. É fundamental considerar esse conhecimento, fazendo com que o aluno também se reconheça como um ser musical. Entretanto, é importante oferecer para esse aluno um conhecimento mais aprofundado em outros estilos musicais que por ventura ele desconheça. Nas primeiras aulas procuro descobrir que influência musical os alunos têm, saber se eles gostam de música, se tocam algum instrumento, se escutam música. Então, cada dia, três alunos ficam responsáveis por trazer sua música preferida. Só isso já abre bastante o horizonte deles, porque eles realizam trocas musicais. E não é a professora que está impondo um gosto musical e, sim, os colegas que estão mostrando suas músicas. Do mesmo jeito que eles mostram aquilo de que gostam, como professora eu também levo algumas músicas. Assim, vou inserindo outras culturas e outros estilos naturalmente, despertando o interesse e a curiosidade deles.

 

JP - Saber tocar um instrumento, no seu caso o piano, é diferente de saber ensinar música?

WL - Percebi isso na prática mesmo. Estudei piano por oito anos no Conservatório de Música de São João Del-Rei, escola de ensino profissionalizante. Depois, enquanto cursava o bacharelado em música, dava aulas de piano, nesta mesma escola. Em seguida me mudei para São Paulo, onde comecei a trabalhar em escola pública de ensino regular, de educação básica e percebi a necessidade de fazer uma licenciatura. Além da formação musical, o professor deve ter uma sólida formação pedagógica. Não basta ser um bom músico, sensível. Isso é importante também, mas não é o suficiente. É necessário ser também um bom professor.

 

JP - Como funciona o ensino da música na Escola Parque?

WL - Nas primeiras séries, da primeira a terceira do ensino fundamental, trabalhamos com a educação musical, ou musicalização. É um trabalho de sensibilização musical por meio da apreciação, da criação e da interpretação. A apreciação significa ouvir música, mas de forma consciente. Eles escutam a música, movimentando, parados, ou deitados e depois me dizem o que eles sentiram, que caráter tem a música, que mudanças eles perceberam, que função ele poderia ter. Alguns conseguem descrever, “começou mais suave e depois ficou mais forte”. Outros são capazes de identificar os instrumentos musicais.

As crianças trazem para escola aquilo que gostam de ouvir e ampliamos o conhecimento delas sobre música mostrando outras experiências e culturas musicais. Para isso, convidamos músicos da cidade para tocar, buscando sempre experiências a que eles dificilmente teriam acesso. Não temos a finalidade de profissionalizar os alunos. Nosso objetivo é sensibilizar para a música, contribuindo até mesmo para a formação de platéia. De nada adiantará formar músicos e grandes artistas se as pessoas não souberem apreciar o trabalho que eles fazem.

 

JP – E com os alunos mais velhos, de 5ª e 6ª séries?

WL - Os alunos mais velhos também desenvolvem a apreciação musical. Mas, voltada para a performance, tocar um instrumento. Eles podem escolher entre flauta doce, oficina de instrumental Orff, além de violão, teclado, percussão e voz.

 

JP – Que tipo de metodologia a senhora utiliza?

WL - Procuro aproveitar tanto a forma mais tradicional de aprender música, quanto outras metodologias que não são muito utilizadas na escola, mas que funcionam muito bem fora dela. Por exemplo, a imitação e tirar de ouvido. Você escuta alguém tocando um instrumento e quer imitar. Para isto você memoriza a música, tenta tirar de ouvido, repete, observa outros. Ao mesmo tempo eu ofereço também partituras e cifras. E, desde o primeiro dia, os alunos já tocam teclado. O importante é que eles mantenham o interesse em tocar e a confiança em aprender. Para isso a teoria e a prática devem estar muito articuladas.

Percebi que com esse método os alunos estavam aprendendo mais rápido e de forma mais prazerosa. Este ano, a turma estava tão dedicada e interessada que procuramos a Escola de Música de Brasília. Oito alunos se inscreveram no processo seletivo e todos foram aprovados. Lá eles trabalham com a questão da profissionalização mesmo. São aqueles que vão desenvolver muitas habilidades técnicas, conhecimento e musicalidade, se preparar pra ser profissionais. Não é a nossa perspectiva, mas trabalhamos com essa possibilidade também. Se eles quiserem seguir nesse campo eles têm mais uma alternativa.

 

JP - Qual dica a senhora daria para os professores de música que não tem licenciatura?

WL - Primeiro buscar uma formação. Não basta ser um bom músico, tem que ter uma formação pedagógica e musical, além de saber ouvir o aluno. A gente não pode ignorar que o aluno tem uma vivência musical fora da escola. Mesmo um aluno de sete anos escuta música, tem preferências musicas, vive em um mundo musical e a escola não pode ignorar isso. A escola tem que acolher essa música e ao mesmo tempo abrir portas para que ele conheça outros estilos. Agora, para fazer isso, o professor tem que ter essa formação. Isso é necessário até para a música ser inserida na escola.

 

JP - A senhora trabalhou 10 anos formando professores para dar aula de música. O que a senhora destacaria como importante nessa formação?

WL - De forma geral, as pessoas que procuram fazer licenciatura em música já têm formação musical e buscam uma formação pedagógico-musical. Na Escola Normal, onde trabalhei, a dificuldade era maior ainda, porque nem sempre a normalista tinha uma formação musical. Então, tínhamos um foco especial na questão dos fundamentos da educação musical e tentávamos suprir a falta da formação musical desenvolvendo, ao mesmo tempo, uma prática musical. A gente complementava essa formação com o estágio. A teoria é importante, mas ela só se concretiza na prática. Então, eles têm que conhecer o ambiente escolar, que, às vezes é muito diferente do que eles imaginam.

 

JP – Trabalhando com música, é inevitável que alguns alunos tenham mais vocação musical do que outros. Como o professor pode lidar com isso?

WL - Assim como em qualquer outra disciplina, o professor não pode deixar que parte da turma perca o interesse na matéria. No primeiro dia de aula eu trouxe uma música em que eles tocavam com apenas um dedo, com o meu acompanhamento. Foi simples, mostrei e eles imitaram. Ao longo do curso, alguns se destacaram e, no meio do ano, eu já não precisava mais fazer o acompanhamento das músicas. Já havia alunos que faziam isso no meu lugar. Estes alunos também trabalhavam como monitores, ajudando os outros. Assim, eu ficava como observadora, interferindo somente quando era necessário e dando atenção para aqueles que tinham mais dificuldade. O professor tem que saber aproveitar as diferenças a favor da aprendizagem e interesse do grupo.

Veja o resultado de trabalho da professora Walkíria na Galeria de Vídeos.

(Renata Chamarelli)

 

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