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DIARIO
Edición 32 - Bullying na Escola
04/01/2010
 
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Ângela Soligo (Unicamp): escola tem papel fundamental no combate ao bullying

Graduada em psicologia, com mestrado e doutorado também em psicologia, Ângela Soligo é docente da Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e membro do Grupo de Estudos e Pesquisas Diferenças e Subjetividades em Educação. Integra, também, o conselho editorial da revista Escritos sobre Educação, do Instituto Superior de Educação Anísio Teixeira, da Fundação Helena Antipoff, de Belo Horizonte (MG) e a Comissão Científica dos Cadernos UFS de Psicologia, da Universidade Federal de Sergipe.

Em sua experiência na área de educação, a ênfase é na formação de professores, atuando principalmente em temas relacionados a preconceito racial, representação social, formação, professor e escola.

Em entrevista ao Jornal do Professor, Ângela Soligo afirma que a escola tem papel fundamental no combate ao bullying. “A tarefa da escola não é simplesmente punir ou patologizar, mas educar - construir, com os alunos, novas visões de mundo, de sujeito, e novas possibilidades de convivência, na diferença”, destaca.

Jornal do Professor – O que é bullying? Existem tipos diferentes de bullying?

Ângela Soligo – Bullying não tem tradução literal no português, mas significa abuso entre iguais, ou seja, não é qualquer abuso ou agressão, mas o abuso entre pessoas de mesma idade, mesmo status em um grupo, como por exemplo, alunos em uma escola. Outra característica do bulling é que não se trata de um acontecimento isolado, como uma briga entre dois colegas, por exemplo, mas de eventos repetitivos: um aluno que é sistematicamente xingado ou agredido por um grupo, ou alguém que nunca pode participar de determinados grupos.

Portanto: o bullying ocorre entre iguais, de forma repetitiva. Porém, esses iguais não se sentem iguais, aqueles que praticam se julgam superiores às suas vítimas.

Há diferente manifestações de bullying, algumas mais evidentes – agressão física, xingamento, apelidos humilhantes, outras menos evidentes - afastamento e isolamento - ocorre quando algumas crianças ou adolescentes são impedidos de participar de atividades com os demais colegas, são recusados em atividades de grupo, nunca são escolhidos pelos colegas para nada (esse tipo de bullying, em geral, é praticado pelos ditos bons alunos - e, por essa condição, seus atos não são percebidos como nocivos aos outros).

JP - Quais as principais causas do bullying?

AS – Em geral, pode-se dizer que o bullying se desenvolve no contexto da violência, na cultura da violência. Nossa sociedade cultua distintas formas de violência, valoriza modelos agressivos, tolera várias formas de agressão (violência policial, violência doméstica, guerras). Portanto, as bases para o bullying estão dadas na própria cultura.

Além disso, na base do bullying está alguma forma de preconceito. São em geral vítimas de bullying aquelas crianças ou adolescentes que carregam alguma marca desvalorizada socialmente: negros, gordos, portadores de certas deficiências ou dificuldades, meninas em alguns contextos, muito pobres, etc.

A suposta superioridade de alguns e inferioridade de outros, amplamente veiculada em nossas sociedades, abre os caminhos da agressão e da violência.

JP – Esse fenômeno sempre existiu ou é algo novo? Ele ocorre no mundo todo?

AS – O fenômeno sempre existiu, o nome é mais recente. Não se restringe ao nosso país, mas prolifera em um mundo que prega a solidariedade mas pratica a intolerância. Por que aumentam as manifestações de bullying, porque atinge a todas as camadas sociais, e porque hoje as mídias nos permitem conhecer, ter acesso a informações do mundo todo, o fenômeno tem ganho cada vez mais a atenção de educadores e da sociedade.

JP – Quais as consequências que o bullying pode trazer a suas vítimas?

AS – Para as vítimas do bullying, há muitas possíveis consequências:

- a recusa em ir à escola;

- dificuldades no desempenho escolar, já que o fator afetivo afeta sua percepção sobre si mesmo e segurança;

- sintomas físicos na hora de ir para a escola - dor de barriga, suor, dor de cabeça;

- no limite, adoção de reações violentas ou condutas suicidas.

JP – O bullying ocorre mais em algum nível de ensino específico ou faixa etária?

AS – O bullying tem ocorrido mais na faixa etária entre os 8-9 anos até o final da adolescência. Pode ocorrer antes, mas é mais raro, pois crianças menores ainda não absorveram todos os preconceitos do mundo adulto.

Nos adultos, a conduta não é mais chamada bullying, mas assédio moral, e quanto a ela há leis hoje que tentam proteger os agredidos.

Não há muitos relatos de bullying em universidades, mas ele pode ocorrer. No entanto, nessa fase os sujeitos já estão mais seguros e aparelhados para se defenderem. Tive pessoalmente conhecimento de um caso neste contexto, e o sujeito agredido, embora extremamente abalado, procurou ajuda e amparo institucional. Crianças e adolescentes têm mais dificuldade para isso, retraem-se e

silenciam.

JP – O que os professores e as escolas podem fazer para combater a ocorrência desse fenômeno?

AS – A escola tem um papel fundamental no combate ao bullying. Em uma perspectiva mais geral, formar para o respeito, para o combate a qualquer forma de discriminação e preconceito. Isso deve se feito o tempo todo, no dia a dia da escola, como um princípio educativo.

Em uma dimensão mais focal, quando o problema surge, é fundamental não silenciar, não esperar que passe, mas intervir. Intervir, não quer dizer encaminhar a vítima para tratamento (o que tem ocorrido com frequência, como se a causa do bullying estivesse dentro da vítima). Quer dizer refletir com os agressores, as vítimas e os outros alunos, identificar a agressão como um problema a ser trabalhado, não tolerar, não aceitar como parte da normalidade da escola. É importante mostrar ao conjunto dos alunos que aqueles que silenciam, que não praticam mas assistem, são cúmplices, alimentam a agressão. E que o silêncio, muitas vezes, também fere.

Concluindo, a tarefa da escola não é simplesmente punir ou patologizar, mas educar - construir, com os alunos, novas visões de mundo, de sujeito, e novas possibilidades de convivência, na diferença.

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