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DIARIO
Edición 58 - Blogs na Educação
08/08/2011
 
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Simão Pedro Marinho (PUC/MG): blog é espaço para professores e alunos gerarem conteúdos, compartilhando saberes

Para Simão Pedro Marinho, professor não deve temer ousar, experimentar,

Para Simão Pedro Marinho, professor não deve temer ousar, experimentar,

Autor:Arquivo pessoal


Líder do grupo de pesquisa Tecnologias Digitais em Educação, do Diretório de Grupos do CNPq e assessor pedagógico do Grupo de Trabalho de Assessoramento ao Projeto Um Computador por Aluno (UCA), da Presidência da República e do MEC, Simão Pedro Marinho é professor titular da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC-MG).

Doutor em educação, graduado em ciências (história natural) e mestre em morfologia, é responsável pela disciplina Informática no Ensino de Ciências e Biologia, do curso de graduação em Ciências Biológicas. Também exerce a coordenação do Programa de Pós-graduação em Educação (mandato 2011-2014).

Em entrevista ao Jornal do Professor, Simão Pedro Marinho conta um pouco de sua experiência com o uso de blogs na educação. Em sua opinião, os blogs são um espaço para professores e alunos gerarem conteúdos, compartilhando saberes. Para ele, uma forma mais rica para a utilização do blog se dá quando ele é um espaço para o exercício da "inteligência coletiva", permitindo uma combinação entre o melhor da reflexão individual com a interação social.

Segundo ele, é essencial que os professores estimulem os alunos à autoria, compartilhando ideias, reflexões sobre a sua realidade, sobre o cotidiano na escola, na família, no seu entorno.

Jornal do Professor – Como o senhor avalia a utilização de blogs na educação?

Simão Pedro Marinho – Eu utilizo com meus alunos no Programa de Pós-graduação em Educação da PUC Minas. Em todas as disciplinas sob minha responsabilidade lançamos mão do blog, esperando que cada aluno contribua, não só com novas postagens, mas ainda com comentários nos posts dos colegas.

Embora eu de maneira geral permita que os alunos continuem como colaboradores nos blogs após o encerramento da disciplina, o que constato é que eles não postam nem comentam mais ali. Fica claro que entendem a colaboração como uma tarefa à qual estão obrigados - como de fato, estão - e, ex-alunos, não se sentem mais obrigados a colaborar.

No ano passado fiz, ainda com alunos de pós-graduação, uma experiência de uso, em sala de aula, do Twitter, que é um microblog. Criei o Twitter da disciplina, que foi fechado a outros interessados por razões óbvias. Permiti apenas aos meus alunos serem seguidores. Com o Twitter da disciplina me tornei seguidor do Twitter de cada um dos alunos. Aliás, quem não tinha Twitter, teve que criar. E foi para eles uma descoberta.

Os alunos "tuitavam" durante as aulas, no debate de questões que ali travávamos. Enquanto isso, um projetor ia exibindo, na parede da sala de aula, o que era publicado no Twitter de todos.

Uma exigência eu fiz: que usassem a forma culta da linguagem, não era permitido o uso do chamado "internetês". Ou seja, tinham que exprimir opiniões completas, concretas, articuladas, no limite dos 140 caracteres, sem abreviaturas.

Foi um desafio? Claro. Mas os estudantes responderam bem. Diria que foi uma experiência com resultados interessantes.

Com o mesmo grupo de mestrandos fiz uma nova experiência do que chamei Twittexto. Iniciei o texto com uma "tuitada". Cada estudante deveria, usando o Twitter, agregar texto ao texto, dando sequência lógica, elaborando um texto coerente. De novo, não se aceitava o "internetês".

Nessa tarefa o envolvimento foi de poucos, não de todos, como na outra atividade. Diria que ficamos muito longe do que eu pretendia. Não diria que foi um fracasso total, porque alguns estudantes participaram, claro que alguns mais do que outros.

Chegará o momento de analisar o que ocorreu, o que não ocorreu e porque e, quem sabe, experimentar de nova esse exercício de escrita colaborativa.

JP – Como está a situação no Brasil e no mundo?

SPM – Há algumas iniciativas de escolas e de professores isoladamente. Alguns estudantes também criam seus blogs. Mas de maneira geral são espaço para notícias, com pouca ou nenhuma colaboração.

Outra questão séria é a relativa descontinuidade de alguns blogs. Os intervalos entre as postagens são muito grandes às vezes. Certamente porque as pessoas têm outras tarefas às quais se dedicar que são prioritárias sobre o blog. Eu mesmo tenho blog cuja atualização não acontece no ritmo que eu desejaria. A vontade de postar é grande, mas as outras tarefas são maiores e não deixam muito tempo.

Contudo, o fato de escolas, professores e estudantes acharem importante criar e manter seu blogs mostra um avanço no uso das interfaces da Web 2.0, o que pode ser entendido como um reconhecimento da importância delas.

Blogs no exterior, notadamente nos EUA, são mais comuns, na escola e fora dela. E muitos de seus autores buscam na verdade ganhar algum dinheiro com eles.

JP – Quais os benefícios que a criação e manutenção de um blog pode trazer ao trabalho de um professor?

SPM – Depende do que se pretende com o blog. Podemos querer muito, querer pouco, apenas querer dar a ideia de que somos modernos e adotamos coisas como o blog.

Se ele é um espaço de comunicação entre o professor e seus alunos - são vários os professores que utilizam blogs para informar os alunos sobre coisas de suas disciplinas, para colocar material à disposição de seus alunos - o benefício existe, mas é restrito. O que, contudo, não tira sua importância.

Se um professor decide criar e manter um blog para levar a outros suas reflexões, para de alguma forma estar levando aos colegas reflexões sobre suas próprias práticas, compartilhando informações que supõe serem úteis, evidentemente que se ampliam os potenciais benefícios. Ganham todos, autor e leitores.

JP – De que maneiras os professores podem utilizar essa ferramenta na sala de aula?

SPM – São muitas. Pode ser a vitrine da disciplina. É bom, mas ainda é pouco.

Uma forma de utilização mais rica se caracterizaria quando o blog fosse espaço para o exercício da chamada "inteligência coletiva", exigindo o pensamento crítico e analítico, estimulando o pensamento criativo, intuitivo, aumentando as possibilidades de acesso à informação de qualidade e, no que é importante, permitindo que se combine o melhor da reflexão individual com a interação social. É espaço para professores e alunos gerarem conteúdos, não apenas os reprisando, como é o usual na escola, compartilhando saberes.

E temos que levar em conta que essa partilha não precisa se restringir a textos. Saberes podem ser demonstrados, através de imagens - estáticas ou em movimento - , de esquemas, gravações de áudio. E os blogs, hoje, permitem que todas essas mídias estejam ali, para o mundo ver.

JP – Os blogs podem ser utilizados em todas as disciplinas? E com alunos de todas as séries escolares?

SPM – Entendo que sim. Não vejo, em princípio, qualquer limitação. Mas é a efetiva prática que dará a resposta para essa questão, prática essa que depende dos contextos que marcam cada realidade escolar.

JP – O senhor acredita que os professores devem estimular os alunos a criarem seus próprios blogs?

SPM – Podem, sim. Mas me parece essencial que os professores os estimulem à autoria, que façam com que compartilhem ideias, reflexões sobre a sua realidade, sobre o cotidiano na escola, na família, no seu entorno.

Embora os blogs tivessem, na sua origem, muito vinculados à ideia de um diário, agora não mais escondido, reservado, mas deixado livre para quem quisesse ler, entendo que esse é exatamente o uso que a escola não precisa ou não deveria estimular.

Os professores podem pensar também em usar o Twitter, que nada mais é do que um microblog. Mas tudo isso tem que vir na perspectiva de um projeto de incorporação curricular de tecnologias digitais de informação e comunicação. Tem sentido se o professor e a escola começam a pensar na perspectiva do “currículo digital”, currículo do novo tempo, que não substituirá o ”currículo do lápis e do papel” mas poderá estar na escola agregando valores na formação dos seus alunos, formando-os não para o mundo, mas no mundo que é, cada vez mais, fortemente marcado pelas tecnologias. São novas artes, se nos lembrarmos da etimologia da palavra “tecnologia”.

JP – Nesse caso, como deve ser feita a correção dos textos a serem postados?

SPM – No caso dos blogs de maneira geral, mas não seria o caso do Twitter, existe sempre a possibilidade de revisão dos posts. Portanto, se o professor concordar com que os alunos postem diretamente, poderia ser um exercício em sala de aula ver o blog - na escola com internet, o professor projetaria o blog - e os alunos, a partir da leitura dos seus posts e dos colegas, poderiam identificar os erros e ali mesmo, o próprio professor talvez, em diálogo com os alunos faria a correção. Ou ela seria uma tarefa para casa, cada um fazendo as correções em suas postagens.

Por outro lado, os blogs permitem que os posts sejam deixados inicialmente na forma de rascunho. Seria então o momento de, com os professores e colegas, fazer a revisão do texto - e não só pelos aspectos ortográficos e gramaticais, antes que os posts de fato se tornem públicos.

JP – Os professores brasileiros de ensino básico estão capacitados para utilizarem blogs na sala de aula?

SPM – Lamentavelmente a maioria dos nossos professores da Educação Básica não teve formação que lhe permita avançar no uso das tecnologias digitais na sala de aula.

Outro dificultador está no fato de que vários professores não têm intimidade com as interfaces da Web 2.0, como os blogs. Temos que convir que para muito professor o computador é uma máquina de escrever moderna, que funciona como telégrafo sem fio e, eventualmente, com o novo retroprojetor. Sem levar em conta que vários professores estão firmemente decididos a não incorporarem as tecnologias digitais em sala de aula. E não é por medo da tecnologia. Se a temessem, não usariam computador, celular, caixa eletrônico em banco, micro-ondas, quem sabe. Portanto, não podemos aceitar o temor como desculpa para a inércia. O problema é que essa incorporação significa, para vários professores, um trabalho a mais, pelo qual, alegam, não serão remunerados. E assim, não estão dispostos a qualquer investimento. Como não estão dispostos a sair da sua zona de conforto.

Incorporar tecnologias digitais na educação implica em uma espécie de reinvenção da aula, do professor. Este, acostumado a "ensinar", agora é desafiado a pensar em atividades de aprendizagem. O professor, aquele que fala sempre na sala de aula, agora é forçado a reconhecer que não é mais a "estrela única" no palco. Isso é difícil para muitos.

O que me preocupa nessa questão é que embora as tecnologias digitais estejam presentes na vida cotidiana de uma parcela significativa dos estudantes da Educação Básica, a escola fecha os olhos para elas. E ao fazê-lo, cria um mundo à parte do mundo. Assim crianças e jovens passam uma parte do seu dia em um “mundo” que se permite como que afirmar que essas tecnologias, que mudaram o mundo, não são necessárias na escola. Depois da aula, os estudantes voltam para o mundo que ´é também da tecnologia. E ali se sentem muito mais satisfeitos. A escola perde uma chance enorme ao não trazer essas tecnologias para o seu interior e, sem querer, cria um rival, o “mundo lá de fora” que é muito mais sedutor e onde as crianças e jovens também aprendem, não é só diversão.

Tudo isso preocupa porque a educação é do aprendiz, não dos professores. E quando professores, alegando que não gostam de computadores e “dessas coisas” se negam a incorporar as tecnologias na formação dos seus alunos, não só ajudam a manter um fosso digital, mas mantêm um “fosso temporal”, obrigando seus alunos, alguns nascidos no século 21, a retrocederem e viverem, ainda que por algumas horas, a escola do século 19.

JP – Em sua opinião os blogs contribuem para estimular a aprendizagem dos estudantes?

SPM – Blogs bem estruturados, nos quais os alunos pudessem ir além da forma mais simples de utilização desse recurso, fazendo o que Will Richardson chama de escrita conectiva (connective writing). Essa forma de escrita exige, ao seu autor, leituras cuidadosas e críticas, clareza e coerência na construção do texto que está ligado/conectado às fontes das ideias expressadas. É fácil fazer isso? Seguramente que não. Mas se os estudantes forem estimulados, no início, a postar links acompanhados de uma análise que traz o significado do conteúdo que foi “linkado", poderão avançar.

Além do mais, no blog os alunos expressam aprendizagem para uma audiência autêntica. Porque o usual, na escola de hoje e de há muito tempo, é que o aluno escreva apenas e tão somente para seu professor, no cumprimento de tarefas de escola. Escreve-se para o professor, claro que esperando que ele leia. No blog, escreve-se para o mundo.

Evidentemente que expor-se, para além dos muros da escola, exigirá mais atenção, mais cuidado. Os estudantes terão que organizar melhor as ideias, cuidar de uma redação adequada. Mas com posts curtos, esse desafio não fica tão assustador.

JP – O senhor mantém um blog? Quando e por que foi criado?

SPM – Tenho vários blogs, além daqueles das minhas disciplinas.

Comecei criando blogs para buscar verificar potenciais na sua utilização na sua escola. Aliás, esse é o meu perfil. Assim que fico sabendo de novidades em termos de tecnologia trato de aprender, geralmente sozinho, o mínimo suficiente para utilizá-las em uma perspectiva educacional, de aprendizagem. Foi assim com blog, wiki, compartilhamento de mídias, até o Second Life. E trato logo de criar uma possibilidade de usá-las com meus alunos, minhas “queridas cobaias”. Arrisco-me. Penso que professor não deve temer ousar, experimentar. Se a coisa der certo, ele fez uma descoberta útil. Se não, tratemos de ver onde erramos, aprendamos como o erro. Algumas das experiências ficaram no passado, como é o caso do Second Life. Não tive competência suficiente para integrá-lo em atividades de aprendizagem dos meus alunos. Outras experiências ficaram porque o resultado foi bom. O blog é uma delas.

Tenho o blog do meu grupo de pesquisa. Criei o blog do Projeto UCA em Minas, sob a nossa responsabilidade, para que ele fosse uma espécie de prestação pública do que fazemos nesse projeto que é público.

Criei blog para expor, à crítica de quem se interesse, as minhas ideias sobre educação e tecnologia. Exponho-me para, na crítica consistente que evidentemente sempre espero, poder refletir novamente. Assim, (re) aprendo com os outros, muitas vezes anônimos que se tornam como “amigos virtuais”, me ajudando a de alguma forma ser melhor.

Criei um blog para mostrar meu lado de “cartunista canhestro, onde brinco com imagens. Lamento não ter tanta criatividade e todo o tempo que esse blog exige.

O blog ao qual mais me dedico é aquele no qual busco levar a professores informações, novidades quanto ao uso da tecnologias digitais de informação e comunicação na perspectiva de sua utilização na escola. Mas às vezes me sinto com aquele sujeito que sai espalhando filhos pelo mundo e depois não tem tempo de dar a cada um a atenção que merece. Confesso que queria, de verdade, ter mais tempo para meus blogs.

JP – Quais as principais ferramentas disponíveis para a criação de blogs? São gratuitas? Como os professores podem ter acesso a elas?

SPM – São muitas, de maneira geral gratuitas. Aliás, para uso pela escola, pelos professores e alunos, blogs pagos, ainda que possam ter mais recursos, não serão atrativos. Cito, abaixo, alguns poucos exemplos, todos gratuitos. Alguns têm menus e ajuda apenas em inglês, o que pode dificultar o uso por parte de alguns professores e alunos.

Blogger - http://www.blogger.com/home

Wordpress - http://wordpress.com/

Blog do Terra - http://blog.terra.com.br/

Bloglines - http://www.bloglines.com/

My Blog Site - http://www.myblogsite.com

Tripod Lycos - http://www.tripod.lycos.com/

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