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JORNAL
Edição 106 - Semana Nacional de Ciência e Tecnologia-2014
29/10/2014
 
ou

Douglas Falcão Silva (DEPDI/SECIS/MCTI): “Não existe ensino de ciências de qualidade sem experimentação”

A SNCT abre espaço para que as escolas sejam protagonistas

A SNCT abre espaço para que as escolas sejam protagonistas

Autor:Ascom/MCTI


O Diretor do Departamento de Popularização e Difusão de Ciência e Tecnologia da Secretaria de Ciência e Tecnologia para Inclusão Social do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (DEPDI/SECIS/MCTI), Douglas Falcão Silva, diz que não existe ensino de ciências de qualidade sem experimentação. Neste sentido, acredita, “as feiras de ciência têm um papel chave a cumprir, tanto no aspecto de inserção e valorização da experimentação, quanto na motivação dos alunos e envolvimento dos professores”.

Ele destaca o crescimento da Semana Nacional de Ciência e Tecnologia, desde sua primeira edição, em 2004, quando foram realizadas 1800 atividades em 250 municípios. “No momento, estamos registrando 35 mil atividades em cerca de 540 municípios brasileiros”, informa. E observa que a 12ª edição da SNCT, marcada para o período de 19 a 25 de outubro de 2015, terá como tema Luz, ciência e vida.

Doutor em educação pela University of Reading, Inglaterra, Douglas Falcão tem licenciatura em física pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro e mestrado em educação pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. No período de 2006 a 2013, ele ocupou o cargo de coordenador de educação em ciências do Museu de Astronomia e Ciências Afins (MAST), no Rio de Janeiro (RJ).

Jornal do Professor Ciência e tecnologia são assuntos que costumam atrair a atenção de crianças e adolescentes? De que forma os professores podem aumentar o interesse de seus alunos por disciplinas ligadas a esses temas?

Douglas Falcão – Sabemos que quanto mais cedo acontece o contato das crianças com a ciência e tecnologia, melhor para a relação que o futuro adolescente e adulto tem com essas temáticas. As crianças em particular são naturalmente muito curiosas, o que facilita a interação com a ciência e tecnologia. A questão é como explorar essa curiosidade natural. Neste sentido, a experimentação pode realmente fazer a diferença. O professor que desenvolve uma pedagogia que convida seus jovens estudantes a explorar o mundo natural por meio da investigação científica colabora para que os alunos tenham uma interação sustentável com a ciência e a tecnologia. No caso dos adolescentes que não tiveram uma relação mais estruturada com a ciência e a tecnologia ancorada pela escola, a situação é bem mais indeterminada... Sabemos que nesta fase da vida, uma das principais preocupações dos jovens é a inserção e a afirmação entre seus pares e às vezes, é muito difícil competir com isso! Tenho visto algumas experiências interessantes que fazem uso justamente das interações sociais para promover a interação dos adolescentes com questões de ciência e tecnologia. Atividades como teatro científico, blogues, projetos na área de tecnologia social e assistiva têm dado bons resultados.

- Como preparar melhor os professores de ensino fundamental e médio para que possam despertar em seus alunos o interesse pela ciência? Qual o papel das instituições universitárias nesse sentido?

- Essa é, na verdade, a grande questão! As nossas licenciaturas estão formando um número insuficiente de professores na área de ciências naturais, e os que estão chegando ao mercado ainda carecem de uma formação que incorpore a experimentação como o instrumento número 1 no processo de ensino aprendizagem em ciências. Não quero dizer que não haja projetos de qualidade na área de formação de professores nas nossas universidades. Mas mais uma vez o problema é de escala. Precisamos dar escala e escopo a esses projetos... A mesma coisa se aplica aos cursos de formação continuada de professores... Neste sentido, acho que temos de usar de todos os recursos que estão ao alcance. O Brasil está próximo de alcançar cerca de 300 museus e centros de ciência. A distribuição desses equipamentos ainda é muito assimétrica no território nacional, mas muitos cursos de licenciatura acontecem próximos a estas instituições e constatamos que ainda são raras as parcerias museu-universidade na área de formação de professores. Sabemos o quão útil seria se os licenciandos saíssem dos cursos dominando a exploração dos museus e centros de ciência para o ensino de ciência de seus alunos. O mesmo raciocínio inclui também o uso de revistas de divulgação de ciência na sala de aula e de todo o arsenal de divulgação de ciência que existe disponível na internet.

- Em sua opinião, é importante que os estudantes participem de eventos como olimpíadas e feiras de ciências? Por quê?

- Acho que esta questão é muito importante. Primeiramente, vou falar das feiras. Não existe ensino de ciências de qualidade sem experimentação. E neste sentido, as feiras de ciência têm um papel chave a cumprir, tanto no aspecto de inserção e valorização da experimentação, quanto na motivação dos alunos e envolvimento dos professores. As feiras deixam um legado para o sistema escolar que vai para muito além do ganho de medalhas. Na apresentação dos trabalhos, as equipes aprimoram o exercício da comunicação científica escrita e oral e com relação aos professores, estes aprimoram suas práticas de ensino que são levadas para o exercício cotidiano de suas aulas.

Com relação às olimpíadas, acho que a questão da motivação e da identificação de talentos são relevantes, mas elas também se justificam pelos impactos que estão além de eventos de competição que destacam os ganhadores. Hoje, temos que as olimpíadas de conhecimento comtemplam os mais variados temas: matemática, língua portuguesa, história, meio ambiente, física, matemática, biologia, agronomia, robótica, dentre outros. É muito interessante ver a mobilização dos grupos (estudantes e professores) diretamente envolvidos nas escolas nas atividades de preparação para as diversas olimpíadas, assim como é interessante ver as diversas metodologias que são utilizadas nas diferentes olimpíadas. É muito comum ver alunos e professores formando grupos de estudo. Destacamos ainda as milhares de bolsas de PIBIC Ensino Médio que são distribuídas no país no âmbito das olimpíadas.

Estamos retomando a importância das feiras de ciências e das olimpíadas de conhecimento. Acho que ambos os mecanismos, mediante o estímulo de ações cooperativas e da competição não exacerbada, são ferramentas potentes para motivar tanto jovens quanto crianças a interagir de forma protagonista com a ciência e a tecnologia.

Vale destacar que ambos os editais estão abertos no CNPq.

- A Semana Nacional de Ciência e Tecnologia (SNCT) completa, este ano, 11 anos. Qual seu crescimento, nesse período? Quais as principais contribuições que ela trouxe para a difusão e popularização da ciência no Brasil?

A SNCT chega ao seu décimo primeiro ano com um legado muito interessante. Ela começa em 2004 em 250 municípios e 1800 atividades realizadas. Em 2013, chegamos a 740 municípios e cerca de 34 mil atividades. As ultimas três edições da Pesquisa de Percepção Pública da Ciência realizadas em 2006, 2010 e agora em 2014, nos permite estimar que cerca de 90 milhões brasileiros passaram em algum momento pelas atividades da SNCT ao longo dos 10 primeiros anos. Este ano, esperamos alcançar cerca de 800 municípios. Mas em virtude das eleições presidenciais, muitas cidades começarão as atividades da SNCT após o segundo turno. No momento, estamos registrando 35 mil atividades em cerca de 540 municípios brasileiros. Mas talvez o maior legado seja o fortalecimento de uma rede entre as instituições, como institutos de pesquisa, universidades, instâncias municipais, estaduais e federais, organizações não governamentais e empresas privadas em prol da divulgação científica no Brasil. Observamos também, nos últimos anos, a tendência de prefeituras e governos estaduais estabelecerem suas semanas de ciência e tecnologia. São cidades do Brasil inteiro, sejam grandes, médias ou pequenas, que estão realmente formalizando por meio de portaria ou decreto, a criação de semanas municipais e estaduais de ciência e tecnologia. Este tipo de resultado é de muita importância, pois evidencia que a Semana Nacional de Ciência e Tecnologia está sendo apropriada pelas cidades e estados, o que aponta para a sua sustentabilidade no país.

- Além da Semana Nacional, que outras ações têm sido desenvolvidas pelo Departamento de Popularização e Difusão da Ciência e Tecnologia para popularizar a ciência e a tecnologia entre os estudantes? Quais seus planos para os próximos meses, nesse sentido?

O público escolar é muito valioso para nós. Nossa politica pública para a área de Popularização e Divulgação da Ciência perpassa por uma forte interação com o sistema escolar a fim de atuar para a melhoria do ensino de ciências nas escolas de nível fundamental e médio. Neste sentido, temos quatro ações fundamentais. A primeira se refere ao edital de Feiras de Ciências e ao edital de Olimpíadas de Conhecimento. Ambos os editais são organizados desde 2011 por meio de uma parceria entre a Secretaria de Ciência e Tecnologia para Inclusão Social/MCTI, o CNPq [Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico] e a Capes [Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior]. A segunda ação é o apoio aos museus e centros de ciência, seja para a criação de novos e para as atividades de divulgação de ciência nas instituições já existentes. Digo isso porque nestas instituições, os estudantes costumam ser a maioria do público visitante. A terceira ação diz respeito aos editais de divulgação de ciência em geral, uma vez que os projetos apresentados quase sempre têm os estudantes como público prioritário. Para finalizar, temos a SNCT, que privilegia fortemente o público escolar em suas atividades e também abre espaço para que as escolas sejam protagonistas. Já temos muitas dissertações de mestrado e teses de doutorados sobre a SNCT, alguns destes trabalhos mostram como a participação dos alunos do ensino fundamental e médio como expositores de trabalhos na SNCT valorizam e empoderam os alunos.

Ainda para 2014, estaremos lançando um edital em parceria com o Instituto Tim para financiar atividades de divulgação de ciência sobre a temática da Luz. O ano de 2015 foi estabelecido pela Organização das Nações Unidas como o ano Internacional da Luz. A fim de promover uma maior inserção do Brasil nesta importante comemoração, o tema da próxima edição da SNCT, marcada para o período de 19 a 25 de outubro de 2015, será Luz, ciência e vida. Uma proposta extremamente ampla, que pode ser abordada por disciplinas como biologia, química, física, história, filosofia, astronomia, etc, e que na verdade não respeita fronteiras disciplinares, culturais, geográficas ou temporais. O que vai facilitar o exercício da criatividade dos estudantes.

Acesse a página da SNCT 2014

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