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JORNAL
Edição 122 - Educação Financeira
24/02/2016
 
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Cláudia Forte: “Educação financeira é uma leitura de realidade, de planejamento de vida”

Para Cláudia Forte, a educação financeira deve começar no início da vida escolar

Para Cláudia Forte, a educação financeira deve começar no início da vida escolar

Autor:Arquivo pessoal


Para a superintendente da Associação de Educação Financeira do Brasil (AEF-Brasil), Cláudia Forte, a educação financeira deve começar no início da vida escolar. “Afinal, é nesse espaço que damos os primeiros passos para a construção de nosso projeto de vida”, analisa.

Professora do Centro de Ciências Sociais e Aplicadas da Universidade Presbiteriana Mackenzie, com graduação em administração de empresas, mestrado em administração e doutorado em relações internacionais, Cláudia Forte diz que a educação financeira “é uma leitura de realidade, de planejamento de vida, de prevenção e de realização individual e coletiva”.

“Nos primeiros anos de nossa formação, desenvolvemos capacidades de formar hábitos saudáveis para a vida adulta”, ressalta Cláudia. “O que se vivencia, o que se pratica, torna-se um hábito, que se for desde cedo incorporado a nossa vida permitirá adotar comportamentos e condutas financeiramente saudáveis.” (Fátima Schenini)

 

Jornal do Professor O que é a Associação de Educação Financeira do Brasil? Por que foi criada?

Cláudia Forte – A AEF-Brasil é uma associação sem fins lucrativos, criada por quatro entidades do mercado financeiro: a Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiros e de Capitais (Anbima), a Bolsa de Valores, Mercadorias e Futuros (Bm & Fbovespa), a Confederação Nacional das Empresas de Seguros Gerais, Previdência Privada e Vida, Saúde Suplementar e Capitalização (Cnseg) e a Federação Brasileira de Bancos (Febraban), com o objetivo de auxiliar o governo na implantação da Estratégia Nacional de Educação Financeira (Enef).

Essas quatro entidades financiam todas as despesas administrativas da AEF-Brasil, que tem convênio com o Comitê Nacional de Educação Financeira (Conef) para desenvolver os projetos e ações previamente aprovados pelo comitê.

Uma das atividades iniciais da AEF-Brasil foi a realização do primeiro mapa da Educação Financeira no Brasil, lançado em abril de 2014. O mapeamento mostrou um panorama das iniciativas de educação financeira disponíveis no Brasil, como projetos, ferramentas, blogues e aplicativos de entidades que atuam nessa área e até de pessoas físicas. Foram identificadas mais de 800 iniciativas. A ideia do mapa é apresentar uma fotografia do cenário atual para aprimorar as ações que já existem, aumentar as sinergias e melhorar o entendimento sobre os resultados positivos.

O primeiro projeto de educação financeira nas escolas foi desenvolvido para jovens de 14 a 21 anos do ensino médio, entre 2010 e 2011. Eles receberam aulas de educação financeira conforme projeto-piloto da Enef, conduzido em 448 escolas do Ceará, Tocantins, São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Distrito Federal. O projeto-piloto envolveu aproximadamente 14 mil alunos e 1,5 mil professores. Foram produzidos três livros para os alunos e para os professores com situações do cotidiano, abordando o tema e levando o aprendizado de educação financeira para dentro da sala de aula. Depois da ação, o Banco Mundial realizou uma análise, que comparou essas 448 escolas com outras 500 onde nada foi feito em educação financeira. O objetivo era identificar diferenças no comportamento dos jovens. A análise constatou que os alunos das escolas onde houve intervenção mostraram um nível de letramento financeiro 7% superior ao dos estudantes das escolas onde nada foi feito. As famílias desses alunos mostraram nível de poupança 1% maior quando comparado às famílias de alunos sem disciplina de educação financeira. Esse fato comprova que o jovem funciona como um indutor de mudança de comportamento dentro da família.

Qual a importância de se proporcionar aulas de educação financeira a crianças e jovens?

– A educação financeira passa, sobretudo, pela criação de hábitos e costumes que embasam atitudes das crianças de hoje e estarão refletidos no comportamento dos adultos do futuro. É um ciclo virtuoso. O que muda na vida dos jovens que recebem esta orientação é o fato de que boa parte de suas decisões futuras estará baseada em princípios contidos na educação financeira, como a economicidade e o pensar coletivo. Quando ensinamos uma criança de 6 anos a fechar a torneira enquanto lava a maçã para o lanche na escola, estão contidos nesse ensinamento alguns princípios norteadores, como o da economia de recursos naturais e poupança de outros recursos que vão auxiliá-lo em situações muito mais complexas em sua vida adulta. A educação financeira para os jovens os prepara para o entendimento de diferentes momentos de crise e, sobretudo, os ajuda a enxergar soluções para sair delas.

É muito importante desenvolver a educação financeira desde cedo, pois ela prepara as futuras gerações para desenvolver as competências e habilidades necessárias para lidar com as decisões financeiras que tomarão ao longo de suas vidas. A educação financeira não é um conjunto de ferramentas de cálculo, é uma leitura de realidade, de planejamento de vida, de prevenção e de realização individual e coletiva. Assim, faz todo sentido ser trabalhada desde os anos iniciais da vida escolar. Afinal, é nesse espaço que damos os primeiros passos para a construção de nosso projeto de vida.

A escola é um ambiente onde estudantes aprendem não somente os conhecimentos cognitivos, mas também aqueles que lhes proporcionam capacidade de administrar a vida em sociedade, onde podem aprender a fazer escolhas e a sonhar, a se colocar como protagonistas de sua história de vida, com condições de planejar e fazer acontecer o futuro que desejam para si, em conexão com o grupo familiar e social a que pertencem.

Nos primeiros anos de nossa formação, desenvolvemos a capacidade de formar hábitos saudáveis para a vida adulta. O que vivenciamos, o que praticamos torna-se um hábito que, se for desde cedo incorporado a nossa vida, nos permitirá adotar comportamentos e condutas financeiramente saudáveis. Outro aprendizado fundamental que deve acontecer desde cedo é a compreensão de que as escolhas que fazemos no presente terão impacto no futuro.

Qual a participação do MEC no Programa de Educação Financeira nas Escolas?

– A proposta de incluir no contexto das unidades escolares o Programa Educação Financeira nas Escolas foi uma iniciativa dos quatro órgãos reguladores (BC, CVM, Previc e Susep) quando da formulação da Estratégia Nacional de Educação Financeira. Em dezembro de 2007, os representantes dos referidos órgãos, em reunião com o Ministério da Educação, propuseram o programa, que foi imediatamente acolhido, por sua interface com os diversos programas existentes no âmbito educacional, dentre eles o Mais Educação. A participação do MEC, desde então, deu-se com a proposta de constituição de um grupo, com a participação de profissionais representativos dos diversos setores educacionais (ou sistemas de ensino) de abrangência do MEC: Conselho Nacional de Secretários de Educação (Consed), União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime), instituições da rede federal de ensino, universidades. O grupo, denominado Grupo de Apoio Pedagógico (GAP), trabalhou na construção do documento Orientações para Educação Financeira nas Escolas, lançado em 2009, disponível na página da Enef na internet. A partir daí, na elaboração dos materiais educativos voltados para o ensino médio e para o ensino fundamental.

O conteúdo é passado de forma lúdica e estimulante, tanto para os professores quanto para os alunos. Diversas metodologias foram usadas para se alcançar um material interativo, atual e estimulante. A concepção do material foi trabalhada para que todos os professores, independentemente das disciplinas que lecionam, possam se sentir à vontade para inserir em seu conteúdo de aula os insights e conteúdos necessários para a formação de um cidadão incluído em sua sociedade e também do ponto de vista financeiro e econômico.

O ensino de educação financeira é uma tendência mundial e já ocorre em outros países? Qual a situação do Brasil em relação aos demais países?

– Segundo a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), um número crescente de governos nacionais está engajado em desenvolver estratégias de educação financeira. As implicações sociais e econômicas em longo prazo do baixo índice de educação financeira de grande parte da população mundial tem levado os governos a criar políticas específicas, especialmente a partir de 2008.

A existência de uma estratégia nacional de educação financeira favorece a promoção do tema no país e cria diretrizes para balizar iniciativas concretas, sejam do Estado, da iniciativa privada ou da sociedade civil. A estratégia torna-se a principal referência para leis, políticas públicas e programas multissetoriais e contribui para gerar ampla mobilização. Em 2013, 45 países de diferentes níveis de renda criaram uma estratégia nacional de educação financeira ou avançaram em projetos relacionados ao tema. Fóruns globais e regionais, como o G20 e a Cooperação Econômica Ásia-Pacífico (Apec), já reconheceram a importância dos esforços nacionais de educação financeira para sustentar a estabilidade econômico-financeira e o desenvolvimento social inclusivo. No âmbito dos países do G20, de modo especial, as estratégias nacionais de educação financeira têm-se proliferado. Metade deles já desenvolveu uma estratégia: Austrália, Brasil, Japão, Holanda, África do Sul, Espanha, Reino Unido e Estados Unidos.

O Brasil ocupa posição de destaque no cenário mundial na implementação de política pública do tema da educação financeira. Temos um sistema financeiro extremamente estruturado, que serve de modelo para vários outros países. Recentemente, em um evento do Banco Central, representantes de várias nações relataram momentos muito diferentes em seus países, desde a estruturação de um Banco Central até as estratégias desenvolvidas para a capilaridade dos programas de inserção financeira.

Qual o papel dos professores no processo da educação financeira?

– Um dos maiores aprendizados da AEF ao executarmos a estratégia de educação financeira no Brasil foi nos certificarmos da importância determinante do papel do professor no processo da educação financeira. Como são educadores, antes de serem professores, eles são o elo mais importante quando queremos ligar nosso jovem a um mundo com mais oportunidades para todos. Os professores que já foram envolvidos em suas respectivas escolas mostram-se verdadeiros embaixadores do tema. Além de repassar os conteúdos, tornam-se agente ativos desse processo, inspirando os alunos a mover-se de sua atual situação para uma outra, na qual possam ser também agentes ativos das mudanças, não apenas alguém que sofre as consequências do processo.

Estamos num momento único no Brasil: temos a chance de consultar, indicar e sugerir temas dos mais diversos para a composição do currículo. Está disponível a consulta à Base Nacional Curricular Comum, até março deste ano. Ali, está sendo tratada, de maneira muito consciente e detalhada, a inserção da temática da educação financeira nas escolas como tema integrador.

É uma grande oportunidade para os atuais professores, que não tiveram esse conteúdo trabalhado em sua formação. De posse desse documento de consulta pública, os cursos de formação de professores devem ser reformulados com vistas a atender às novas expectativas e anseios da sociedade brasileira. E passa por esse caminho o melhor domínio e entendimento de cenários financeiros e problemas econômicos, conteúdos abordados no âmbito da educação financeira.

A AEF oferece cursos de formação para professores? Como eles são?

A formação oferecida pela AEF-Brasil, como proposta de preparação para que os professores possam se aproximar dos conteúdos de educação financeira que integram o Programa Educação Financeira nas Escolas, fundamenta-se na metodologia pedagógica desenvolvida para que a temática dialogue com os componentes curriculares. Tal metodologia considera que o cotidiano acontece sempre em espaço e tempo determinados. Nesse sentido, foi construído um programa de aprendizagem, de 40 horas, na modalidade de educação à distância, baseado numa situação de vida familiar, que permite aos professores tomar decisões financeiras responsáveis, conhecer os conceitos financeiros que fazem parte dos materiais educativos desenvolvidos para o ensino médio e, até mesmo, aplicar em suas próprias vidas os aprendizados construídos.

Saiba mais sobre a AEF-Brasil

Saiba mais sobre o Programa de Educação Financeira nas Escolas

 

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