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JORNAL
Edição 125 - Educação de Jovens e Adultos
25/05/2016
 
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Professora de Brasília defende equilíbrio entre disciplina e amor

Regina utiliza roupas e brincos como recursos pedagógicos

Regina utiliza roupas e brincos como recursos pedagógicos

Autor:Arquivo pessoal


Professora de ciências no ensino fundamental e de biologia no ensino médio, com experiência em escolas particulares e da rede pública de ensino no Distrito Federal, Regina Julia dos Reis Cairus leciona atualmente no Centro Educacional Sigma, em Águas Claras, no Centro de Ensino Fundamental 17, de Taguatinga e no Centro Educacional 123, de Samambaia, regiões administrativas do DF.

“Sempre quis ser professora”, diz Regina, que tem graduação em licenciatura em ciências biológicas. Para ela, a disciplina em sala de aula é fundamental, mas acredita ser necessário equilibrá-la com amor. “Se conseguirmos cativar o aluno, a aprendizagem será mais efetiva”, ressalta.

A professora brasiliense enviou depoimento especialmente para o Espaço do Professor. (Fátima Schenini)

«Quando criança, tive meus primeiros contatos com a biologia no jardim da minha casa e na cozinha. Meu pai, policial, era apaixonado por história e dominava a língua portuguesa com excelência. Embora tivesse pouca formação acadêmica, foi revisor de jornal e tinha uma vivência interessante, considerando-se suas viagens pelo Brasil e o tempo em que morou na Europa. Em casa, eu sempre ia com ele cuidar das plantas: adubar, semear, podar, acompanhar. Ele ainda me explicava sobre fotossíntese. Além disso, havia um canto no quintal, que eu chamava de laboratório. Só Deus sabe dos meus experimentos. Tinha coleção de pedras que meu pai trazia de suas viagens — esmeralda bruta, lapidada, quartzo, ouro, formação de ouro, ametista etc. Cresci em contato com vários animais, e cuidava deles — nossa casa era um zoológico... Pensei até em ser veterinária.

Na cozinha, achava interessante observar minha mãe, contabilista, batalhadora e de uma sabedoria ímpar. Com ela, tive as primeiras aulas de bioquímica, embora ela nem soubesse disso. Quando preparava massas, dizia que o pão crescia mais rapidamente se produzido em dias quentes ou se fosse deixado para “descansar” na bancada, sob o aquecimento do sol. Observava que ela separava uma pequena porção de massa de pão e colocava em copo d’água. Ela dizia que, quando a bolinha subisse, a massa já poderia ir ao forno. Eu não me interessava pela receita da massa, mas me fascinava ver a tal bolinha subir. Não entendia por que isso acontecia, mas futuramente descobriria a explicação. Eu gostava de preparar chás a partir das folhas da erva-doce. Particularmente, não tinha coragem de beber, mas todo mundo provava. O que me encantava, mesmo, era a cor da água clorofilada.

Uma inspiração importante para as minhas aulas são as minhas filhas. Sempre tive em mente que desejo para meus alunos o que gostaria que minhas filhas vivenciassem em sala de aula.

Vocação — Estudei minha vida quase toda em escola pública. Os anos mais marcantes foram no Centro Educacional Setor Oeste, na Asa Sul, escola na qual cursei o ensino médio. Eu me encantava por literatura, gramática e matemática, principalmente. Além disso, no mesmo período, estudava piano. Cheguei a me inscrever na prova de habilidades específicas, vestibular da UnB, para música. Entretanto, no meio da manhã na qual se realizariam as provas, sentei-me embaixo de uma árvore, olhei para o céu e resolvi ir embora. Não era o que eu queria enquanto profissão, embora tivesse optado por licenciatura.

Sempre quis ser professora. Ajudava meus primos e irmãos. Dava aulas particulares. É divertido e desafiador buscar uma forma de ajudar a mente a descobrir caminhos e encontrar soluções para as situações-problema. Até hoje uso isso em minhas aulas: mais importante do que chegar a um resultado em uma questão de genética, ou diferenciar um protostômio de um deuterostômio, é o caminho que a mente usa para construir os conceitos. A neurociência é um campo empolgante, e ninguém pode dizer ao outro o que ele não pode fazer. Pelo contrário, criamos meios e construímos oportunidades de aprendizagem.

No meu ensino médio, antigamente 2º grau, tive um professor de biologia que me inspirou desde o primeiro dia de aula, o professor Paulo Salles. Eu era apaixonada pelas aulas dele. Ele falava de biologia contando história. Era fascinante. Eu ficava triste quando o sinal tocava, indicando o término da aula. No entanto, ele saiu da escola ainda no primeiro semestre, e parece que meu encanto pela biologia foi junto. Retomei o amor pela área no final do terceiro ano, tive a grata oportunidade de reencontrar esse professor na UnB e contei com sua orientação novamente.

No Setor Oeste, tive um professor de matemática, Clovis Sabino, cujas aulas me encantavam. O quadro dele era impecável, e a aula sempre respeitava o tempo programado. Eu pensava: “Um dia, serei assim”. Quando ele terminava a resolução de um problema no quadro, escrevia: “C.Q.D”. Certa vez, depois de quase dois meses de aula, perguntei aos meus colegas, o que significava C.Q.D. Ninguém soube responder. Então, discretamente, fui à mesa do professor e perguntei: “O que significa C.Q.D?” Ele respondeu “Clóvis quem disse”. Meu olhar de decepção era notório. Então, ele sorriu e respondeu: “Significa, na verdade, em matemática, ‘como queríamos demonstrar’.” Então, rimos juntos.

Método — Gosto de trabalhar com projetos e laboratório, mas isso, ao contrário do que muitos pensam, nem de longe significa aula sem conteúdo. O uso de recursos nos possibilita a associação de informações. Isso minimiza a distância entre a teoria e a prática. Sou relativamente tradicional. Embora use recursos digitais e outros materiais, não abro mão de construir, com os estudantes, esquemas no quadro. Acredito que a epistemologia empirista seja um bom caminho para se desenvolver uma aula de biologia. A disciplina em sala também é importante: para que um escute, é necessário que o outro silencie, mas todos devem ter sua oportunidade respeitada — professor e alunos. Aula boa é aquela que envolve o aluno e ele envolve o professor. Quando o sinal toca, você ouve alguém dizer: “Nossa! Já acabou?”

Quantas vezes elaborei questões de avaliação a partir do que pude coletar em sala de aula? Acompanhar os processos seletivos aos quais os alunos se submetem ao final do ensino médio é fundamental, seja o Enem ou o PAS, que se desenvolve ao longo dos três anos. Se o professor preparar bem um aluno, consideradas as potencialidades desse aluno, as tendências de ensino a partir de uma análise crítica do conteúdo e as relações com outras disciplinas, ele estará apto para qualquer tipo de avaliação, principalmente se a realidade for o ponto de partida.

Disciplina em sala de aula é fundamental, mas é necessário equilibrá-la com amor. Atualmente, consigo desenvolver a aula com mais emotividade. Sou mais carinhosa em relação a um tempo anterior. Se conseguirmos cativar o aluno, a aprendizagem é mais efetiva. O casamento entre a razão e o coração certamente se aplica nesse sentido. O sistema límbico, em consonância com a razão, promove um desenvolvimento cognitivo surpreendente. Muitas vezes, somos consumidos pelo tempo cronometrado e tratamos “os diferentes como iguais” se não tomarmos cuidado. Mas vale a pena um olhar mais atencioso para aquele “aluno-problema”. Ele, muitas vezes, precisa mais do professor do que aqueles que o enquadram em um estereótipo desejado. Conversar separadamente ou perguntar: “Tudo bem com você?” pode desencadear um sucesso muito mais efetivo do que retirar o aluno de sala. Entretanto, se o encaminhamento for necessário, deve ser feito e de forma assertiva, sem excesso.

Sabe, é apaixonante acompanhar o aluno durante um ano, e até por mais tempo, e ver seu crescimento.

Quanto à aula prática, nem sempre podemos levar o aluno ao laboratório, mas podemos convidá-lo a uma perspectiva diferente. Uso outros recursos: “Estou de mono ou dicotiledônea hoje?” Espero os alunos observarem um pouco os detalhes... Nesse momento, uso um brinco de folha cujo tipo de nervura tenha relação com o número de pétalas das flores que compõem o discreto, mas perceptível, bordado da blusa. Se possível, ainda uso uma delicada pulseira com borboleta, para lembrar a coevolução das angiospermas com os insetos. O look fica fashion... A partir daí, trabalhamos as outras partes da planta. Se precisar, imito uma planta distribuindo seiva bruta e elaborada. A performance é um horror, mas eles parecem entender. Se a aula é sobre grupos sanguíneos, passo no hemocentro e vejo como anda a disponibilidade de sangue e ainda faço a campanha em sala de aula para doação. Também peço que eles cruzem os braços e que observem se o braço direito cai sobre o esquerdo ou o contrário, pois há uma relação genética nessa situação.

Comentamos reportagens e fazemos um paralelo histórico. Muitos têm uma ideia equivocada de que todos os cientistas já morreram... Cabe a nós, professores, mostrar que a ciência é contínua. Além disso, nem todas as informações são antigas. Os alunos entregam-se à reflexão quando percebem, por exemplo, que a descoberta do DNA é algo relativamente recente. Muitos avós acompanharam em notícias avulsas de jornais o que hoje se apresenta como fato até em livros do ensino fundamental. Eles ficam perplexos quando descobrem que James Watson, um dos cientistas que “descobriram” e elucidaram a composição do material genético na década de 1950, ainda é ativo na área.

É interessante ajudar a tornar evidente aquilo que o cotidiano encobre e fazer o elo entre o senso comum e o científico. Aliás, hoje, os processos seletivos exigem essa destreza do aluno. Conceitos decorados são informações em blocos mortos. Não é esse tipo de estudante que as universidades buscam. Apesar da globalização, ficamos diante de um desafio: trabalhar conteúdos significantes e fazer um link com os recursos tecnológicos sem perder o foco acadêmico. Se não houver uma mediação adequada, o aluno informa-se sobre tudo, mas não conhece nada, e a alienação diante do bombardeio de informações toma o espaço da sabedoria.

Inclusão — Associado a todos esses fatos, ainda há o descompromisso de muitas famílias que desmoronam e transferem à escola suas responsabilidades. Dessa forma, recebemos, muitas vezes, alunos que apresentam lacunas emocionais sérias, que se refletem nas relações e na aprendizagem. Além disso, ainda precisamos lidar com vários tipos de laudos que nem sempre refletem um diagnóstico, um tratamento e medicações corretos. Claro que há casos cujo tratamento é bem-sucedido, e nessas situações vemos que a família é presente, o que faz a diferença, principalmente.

Muitas pessoas tratam características como se fossem defeitos. Particularmente, penso diferente. Tomando o uso de uma enxada como analogia, compreendo que não é um instrumento bom ou ruim. Pode ser usado de forma correta em um jardim ou para atacar alguém. Nossas características também são assim. Mais importante do que rotular alguém é ver o que se pode fazer com as características apresentadas. Não paro diariamente para ficar pensando nisso durante a aula. Assim que recebo os laudos, estudo sobre o assunto e procuro profissionais da área quando possível. Trabalho as habilidades de acordo com as oportunidades. Conhecer um pouco mais sobre síndromes e distúrbios de aprendizagem pode nos ajudar a ter um olhar mais diferenciado e trabalhar expectativas.

Infelizmente, o sistema de ensino no Brasil ainda não promove uma educação realmente inclusiva. Em sala de aula, há alunos com vários tipos de potencialidades. Para o aluno mais sinestésico, dar aula em movimento pode ser mais interessante, pois ele não se dispersa tão facilmente se você o convida. Quanto ao aluno mais visual, um quadro bem elaborado ou um slide com letra e imagem bem relacionadas torna-se um recurso importante. Quanto aos mais auditivos, histórias sobre o assunto, mesmo que engraçadas, ajudam a compreender e a identificar partes da matéria. Os meninos não sabem que olhamos tudo isso. Pelo menos, é assim que procuro lidar com as situações. Não deixo aluno dormir. Não abro mão da minha importância em sala e não abro mão de ninguém. A pior forma de destruir um ser humano é o desprezo, e meu papel em sala não é esse.

Quanto aos recursos didáticos, se a aula é sobre homopolissacarídeos, levo um colar de pérolas. Esse mesmo colar é utilizado na aula sobre ácidos nucleicos. Se for sobre proteínas, o polímero é outro. Uso um colar de miçangas distintas. Não há déficit de atenção que resista. Nem sempre conseguimos os resultados que gostaríamos, mas vamos caminhando. A dificuldade de aprendizagem pode ser decorrente de fatores distintos. Nem sempre conseguimos atingir nossos objetivos, principalmente quando a turma é muito heterogênea.

Tenho três lembranças de alunos com síndrome de Asperger, em graus distintos, que me ensinaram muitas coisas. Aceitar uma condição é diferente de alimentar frustrações. Além disso, as situações podem apresentar resultados surpreendentes se tivermos um olhar diferenciado.

Todo esse cenário transforma a sala de aula em laboratório!

Equipe — Um ponto determinante para o desempenho do corpo acadêmico é o trabalho em equipe, tanto docente quanto discente. Escolas cujos professores trabalham sozinhos não conseguem um bom rendimento acadêmico. Tenho a felicidade de dizer que trabalho em escolas cujo trabalho em equipe é bem-sucedido. No Sigma, trabalhamos várias unidades em sincronia. É um desafio. Acertamos conteúdos, fazemos combinados, elaboramos avaliações e trocamos ideias semanalmente, respeitando a individualidade e o jeito peculiar de cada um. Divido frentes com colegas que têm sido um referencial na minha prática docente, sob uma coordenação cuidadosa e organizada. Na secretaria, desenvolvemos projetos importantes. As direções das escolas nas quais trabalho têm um foco acadêmico importante e dão oportunidade ao desenvolvimento das propostas com excelência. Componho uma equipe com colegas que me inspiram. Aliás, se pudesse, mencionaria nominalmente todos com quem trabalho atualmente e aqueles que me ensinaram tantas coisas, desde o início da minha carreira profissional. Em ambientes de trabalho assim, apenas crescemos.

Quanto aos aspectos negativos, além de poucos, transformo-os em adubo. Uma boa semeadura em terreno bem adubado é tudo.

Embora trabalhe com projetos continuamente, raramente inscrevi as produções em concursos. Certa vez, ganhei o segundo lugar no prêmio Professor Nota 100, premiação proporcionada pelo Sinepe [Sindicato dos Estabelecimentos de Ensino Particulares do DF], com um projeto sobre modelos biológicos no qual os alunos deveriam desenvolver e usar modelos em 3D na explicação de uma proposta dada, consideradas as proporções reais da estrutura em questão. Por exemplo, um grupo montaria um modelo para explicar a síntese de colágeno em uma célula animal. Não iria apenas construir uma célula. Ele deveria usar o modelo no seminário, a fim de explicar como ocorria a síntese do colágeno. O projeto envolvia a elaboração do anteprojeto, com a explicação teórica sobre o assunto, a proposta de trabalho do grupo, o desenho do modelo com os materiais usados e a proposta do grupo. O anteprojeto, depois de lido pelo professor, seria devolvido ao grupo de alunos, que deveria fazer as correções necessárias. Então, seria entregue o projeto final, no dia da apresentação dos seminários. Lembro-me de um grupo que produziu o modelo de uma membrana plasmática com 6 mil cotonetes. Além disso, ainda havia um motor na membrana que a fazia vibrar. Ganhei prêmio de destaque na escola algumas vezes.

Aproveito algumas datas comemorativas para o desenvolvimento de aulas variadas. Gosto de fazer o aulão do Dia dos Namorados. O projeto começou com a equipe de biologia da qual eu fazia parte no Centro Educacional Leonardo da Vinci. Fazíamos a aula com direito a música, teatro e explicações sobre a fisiologia e a bioquímica da paixão. Nos anos seguintes, passei a desenvolver o projeto com alunos e convidados. A aula combina tecnologia e conteúdo. Explora, também, poesia, história e as habilidades dos alunos, com direito a dança e outras formas de expressão corporal. Sempre tem um eixo central que desencadeia um olhar mais atento e respeitoso para a sexualidade de uma forma saudável, diferentemente do que se preconiza na mídia.

Livro — Quanto ao livro didático, uso pouco em minhas aulas. Ele deve ser o apoio para o aluno, não a “bengala” para o professor. Não critico o uso do livro em sala. Até mesmo porque cada disciplina tem sua dinâmica e, mesmo nas minhas aulas, faço algumas leituras sugeridas ou oriento como determinado capítulo seria mais bem estudado a partir do próprio livro. Também há ilustrações que podem ser um bom recurso. Se o livro for digital, ainda pode oferecer animações. Sei que há opiniões distintas sobre o assunto. Certamente, se o livro é adotado, ele deve ser usado e cobrado. Não faz sentido um item tão caro da lista de materiais ser pedido desnecessariamente. Mas isso não significa que ele deva ser a única fonte de uma aula. Além disso, se não for digital, é muito pesado para ser transportado. Gosto de fazer a aula com o uso de várias fontes. Não há um livro de biologia que atenda a todas as necessidades. A biologia é uma área que passa por modificações continuamente. O desenvolvimento de técnicas, de aparelhos e as descobertas contínuas em várias áreas exigem que o professor se atualize continuamente. Além disso, há alterações pertinentes ao contexto sociocultural. Enquanto o livro é escrito, já está desatualizado.

Certa vez, enquanto produzíamos um material sobre álcool e comentávamos o percentual aceito pela legislação, com o capítulo praticamente escrito, o código mudou e foi aprovada a Lei Seca. Todo recurso que possa ajudar o aluno a compreender melhor a realidade e construir conceitos pode e deve ser usado pelo professor. Até clipes e tampas de canetas podem ser recursos adotados em sala. Particularmente, não uso práticas mnemônicas que não favoreçam a construção do conhecimento. Prefiro práticas que estimulem o raciocínio.

Escrevo materiais didáticos usados em cursos preparatórios e no material didático do ensino médio. Reviso livros e outros materiais. Recentemente, foi publicado pela Editora Enovus o livro digital de biologia para o primeiro ano, disponível em fascículos na Apple Store. Escrevi em parceria com os colegas Rogério de Oliveira e Sílvio Miranda. É uma experiência gratificante. O livro conta com imagens e animações que enriquecem o material e tornam o conteúdo bem mais interessante. Considero importante que os textos partam da realidade do aluno para que ele se sinta familiarizado e confortável ao ler o livro. No entanto, a obra deve oferecer condições, vocabulário e conteúdos que possibilitem ao aluno expandir seus conhecimentos e elaborar novos conceitos. Mediar o senso comum e o científico não é tarefa simples.

Ganhei motivação para escrever material didático na UnB, enquanto fazia a graduação. Lá participei de projetos que envolviam a análise de livros didáticos sob a orientação dos professores Maria Helena da Silva Carneiro e Wildson dos Santos. Uma das referências de amor pelo ensino na minha carreira profissional é o professor Ricardo Gauche, coordenador da integração das licenciaturas da UnB, que sempre se dedicou à educação. Com ele, compreendi melhor a importância de um olhar mais cuidadoso para a prática docente e os processos de avaliação. Além disso, participei como monitora de cursos de atualização para professores no ensino de evolução, também oferecidos pela UnB, sob a orientação das professoras Rosana Tidon e Nilda Rojas. Tive ali a oportunidade de participar da elaboração de material publicado sobre práticas no ensino de evolução, o que me despertou ainda mais o interesse pela produção de textos.

Inspiradores — Quanto à paixão pela prática, agradeço a vários professores que me inspiraram e orientaram, como Anamelia Bocca. Ela me proporcionou a orientação na área de imunologia. Sua paixão pela pesquisa, que me inspirou, e sua praticidade foram fundamentais na minha formação acadêmica. O professor Edivaldo Ximenes foi uma das referências práticas em didática porque suas aulas de bioquímica eram realmente inspiradoras.

Poderia citar vários profissionais que me orientaram, mas são muitos. Deixo o pedido de desculpas, mas represento-os na prática docente no dia a dia. Aliás, não gosto muito de assinar os textos que produzo. Originalmente, não são ideias minhas, já que sempre parto de bibliografias cujas fontes são referências. Além disso, em um texto nunca fica o pensamento de uma pessoa apenas. Registramos no papel o somatório de experiências vividas que sempre foram inspiradas por outras pessoas e imagens. Cada palavra que imprimimos corresponde à verbalização de sentimentos, de sensações e de raciocínios cujos créditos se devem a vários autores que nos inspiraram e contribuíram para nossa formação. Dessa forma, ninguém escreve sozinho. Somos muitas vozes que falam em uma só. Nossas palavras e ações certamente ecoam e têm a capacidade de transformação em outras mentes. Assim, o papel do educador e do escritor não fica circunscrito a um ponto no espaço. Somos resultado da motivação daqueles que tocaram nossa alma e da inspiração daqueles que nos motivam a continuar. Nesse contexto, esses professores, que também são cientistas, fazem parte das minhas aulas até hoje.

Ao longo da docência, conheci muitas pessoas maravilhosas. Dentre as quais, cito a auxiliar Nilza de Jesus, auxiliar de laboratório do Centro Educacional Leonardo da Vinci e do Laboratório de Genética da Faculdade de Saúde da UnB. É importante aprender com as pessoas que nos cercam. Uma aula é uma orquestra. Você pode executar a mesma peça várias vezes, mas cada apresentação será sempre ímpar. As lâminas e todo o material de laboratório que a Nilza preparava para as aulas eram impecáveis para todos os horários. A sabedoria que ela trazia em suas colocações até hoje me ensinam. Algumas coisas, eu compreenderia muito tempo depois. Creio que a relação entre aluno e professor também seja assim. Compreendi certos exemplos e condutas de meus ex-professores apenas muitos anos depois de suas aulas, porque a aula nem sempre se encerra após os 50 minutos que o relógio demarca. Tem aula que é para a vida inteira. O papel do professor transcende as quatro paredes.

O trabalho com amor e dedicação é o caminho certo para o sucesso.

Há um pensamento de Rubem Alves que toca minha alma: “O brilho do sol, no lado de dentro da gente, se chama sonho”. Para mim, o brilho que move a minha vida e os meus sonhos é o amor. Amar é um exercício diário que perpassa, também, a sala de aula, todos os dias.

C.Q.D.»

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