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JORNAL
Edição 29 - Semana Nacional de Ciência e Tecnologia
04/11/2009
 
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Ildeu de Castro Moreira: ensino deve ser interessante

O professor Ildeu Moreira coordena a Semana Nacional de C&T

O professor Ildeu Moreira coordena a Semana Nacional de C&T

Autor:Ricardo Lemos


Diretor do Departamento de Popularização e Difusão da Ciência e Tecnologia do Ministério de Ciência e Tecnologia, Ildeu de Castro Moreira é coordenador da Semana Nacional de Ciência e Tecnologia. Também é membro do Conselho Nacional de Política Cultural e do Conselho Técnico Científico da Educação Básica da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CTC/Capes).

Doutor em física, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), desenvolve atividades nas áreas de ensino de física e divulgação científica.

Em entrevista ao Jornal do Professor, Ildeu de Castro Moreira ressalta a necessidade de se introduzir melhorias no ensino de disciplinas da área de ciências, para que se torne mais interessante e próximo ao cotidiano das pessoas.

Ele defende a valorização dos professores e melhores condições de trabalho. E diz que preciso ampliar o número dos cursos de licenciatura e melhorar a qualidade.

Jornal do Professor - Como despertar o interesse pela ciência e tecnologia nas crianças e jovens?

ICM - A primeira coisa é melhorar muito o ensino de ciências e matemática na escola, que é muito deficiente e, portanto, torná-lo mais interessante, mais experimental, menos dogmático. E valorizar a criatividade, que é o que a criança tem, mas geralmente as escolas acabam com ela ou pelo menos dificultam muito a criatividade.

Também é preciso fazer com que a criança e o jovem tenha a prática da ciência que é perguntar, experimentar, tentar, errar, observar. Acho que não teria uma fórmula mágica, mas essa é uma questão fundamental.

JP - Quais as principais ações que estão ocorrendo no Brasil no sentido de popularizar e difundir a C&T?

ICM – Existe um programa de popularização da ciência e tecnologia que tem vários eixos. Um deles é a criação de museus, planetários, observatórios etc. Essa iniciativa é carente ainda de espaços científicos e culturais desse tipo, em comparação com Europa e Estados Unidos, por exemplo, mas isso já tem melhorado bastante nos últimos tempos, embora tenha uma profunda desigualdade. A distribuição desses espaços está muito concentrada em São Paulo e no Rio de Janeiro e muito pouco no Nordeste, no Norte e no Centro-Oeste. Então, o desafio é estimular. Agora está aberto um Edital do MCT com 21 fundações de pesquisa, para criação e manutenção de iniciativas desse tipo.

Uma outra iniciativa é fazer atividades de ciências itinerantes. O Programa Nacional de Ciência Móvel hoje tem em torno de 20 veículos percorrendo o Brasil com atividades de ciências mais interativas, mais dinâmicas, nas periferias etc. Uma outra ação é melhorar significativamente o ensino de ciências na escola. Então, o Ministério de Ciência e Tecnologia tem algumas ações, raras delas em parceria com o MEC, como por exemplo, a Olimpíada de Matemática das Escolas Públicas. Além disso, eventos como a Semana Nacional de Ciência e Tecnologia, que aproximam a comunidade científica da população em geral. Na realidade, há um elenco de iniciativas.

JP - Qual a contribuição da Semana Nacional de Ciência e Tecnologia na difusão e popularização da ciência no Brasil, desde que foi criada?

ICM - A Semana começou em 2004, com 1.800 atividades e agora, neste ano, atingiu em torno de 24 mil. Então ela cresceu muito. O número de instituições envolvidas aumentou. Em alguns estados conseguimos uma interiorização muito boa, como no Amazonas, por exemplo. Então houve um crescimento em termos de envolvimento de pessoas, de mais atividades. Estamos melhorando também as atividades, que estão ficando mais interessantes e criativas. Agora, é difícil fazer um balanço, porque ações desse tipo geralmente demoram anos para surtir efeito. Não temos uma computação clara, quantitativa, mas evidências de que a Semana tem um impacto bastante significativo.

JP- Qual é a situação atual da oferta de professores das áreas de ciências no Brasil? O número é suficiente para atender a demanda?

ICM – O MEC tem esses números e a oferta de professores de ciências, física, matemática, química, ainda é bastante deficiente. Além disso, muitos dos professores ainda têm uma formação muito deficiente. Precisamos melhorar muito a licenciatura, ampliar o número de cursos, melhorar a qualidade deles e capacitar os atuais professores, dando também mais condições de trabalho para eles, que é uma questão crucial. E preciso também estimular o uso de laboratórios nas aulas de ciências. Não basta só comprar o equipamento e colocar nas escolas. É preciso que ele seja incorporado, de fato, pelo professor e pela escola, nas atividades da aula.

JP – É importante que os professores participem de cursos ou oficinas para reciclagem de conhecimentos ou aprendizado de novas técnicas para o ensino de disciplinas das áreas de ciência e tecnologia?

ICM – Com certeza, mas isso não basta. Muitos esforços desse tipo de capacitação de professores foram feitos por universidades, nos últimos anos. Alguns deles certamente foram importantes, criativos, interessantes, mas muitos não tiveram resultados ou foram muito pequenos. Trazer o professor para dentro da universidade, dar curso, e depois ele voltar para a escola sem condições ou estímulo, não adianta muita coisa. A gente tem que mudar bastante esse processo. Tem que ter uma formação também na escola, mudar a cultura da escola, tem que dar condições de trabalho, tem que valorizar o professor, inclusive salarialmente. Então tem várias iniciativas que têm que ser tomadas e um mero curso de capacitação não resolve.

JP - Qual a contribuição que a Academia pode dar para a disseminação de conhecimentos científicos entre professores do ensino básico e a população em geral?

ICM – Muitas dessas iniciativas que são feitas, como a Semana de Ciência e as reuniões anuais e regionais da SBPC, que faz um trabalho importante de divulgação pelo Brasil, têm participação grande de pessoas da Academia, mas pode ter muito mais. A Universidade poderia ajudar muito mais a melhorar a educação básica, tanto com a participação dos professores e pesquisadores quanto também dos próprios estudantes das universidades públicas e particulares, que poderiam ajudar muito na melhoria da educação básica, ajudando a montar laboratório, a fazer atividades com as escolas. Acho que falta um grande programa de mudança radical da educação em ciências e matemática no Brasil. Claro que existem muitas iniciativas já importantes mas o problema é muito grande. Acho que as universidades e as instituições de pesquisas, públicas, têm um papel a desempenhar que ainda não foi inteiramente realizado.

Na Europa, muitas instituições de pesquisas recebem professores de ensino médio para fazer cursos ou estágios. A gente está tentando isso no Brasil, fazer com que as instituições de pesquisa abram suas portas durante um certo período – duas semanas – para receber também professores do ensino médio, para que eles possam se mobilizar mais, se interessar mais pela ciência, terem um conhecimento mais atualizado.

JP – Já há uma conscientização, entre o empresariado brasileiro, da importância de patrocinar projetos de popularização da ciência?

ICM – Ao contrário da Europa e dos Estados Unidos, em que muitas bibliotecas, projetos de educação, museus de ciência e espaços desse tipo são patrocinados pela iniciativa privada, no Brasil essa questão é muito diminuta. O empresariado brasileiro não tem essa tradição. Tem condições, certamente, mas essas colaborações são muito raras e, portanto, muito meritórias. Em geral, quem tem exercido alguma atividade desse tipo são empresas estatais, como por exemplo a Petrobras e a Embraer.

JP - É possível ensinar ciências de modo fácil e divertido? Que conselho você daria aos professores?

ICM – Uma coisa fundamental é gostar daquilo que se faz. Hoje, dar aulas de ciências não é uma coisa fácil, trivial. E uma coisa importante é abrir a cabeça. Uma pessoa não aprende só entre quatro paredes. Os alunos podem ser levados para outros espaços, como museu de ciências, por exemplo. Mas o essencial é mudar a maneira como essas disciplinas são ensinadas. A física às vezes é ensinada de maneira chata, a matemática também. E buscar questões mais ligadas ao cotidiano das pessoas, a fim de tornar o ensino mais interessante.

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