Portal do Governo Brasileiro
Início do Conteúdo
JORNAL
Edição 33 - Atividades Extracurriculares
21/01/2010
 
ou

Márcia Onofre (UFSCar): atividades extracurriculares transformam alunos e professores em parceiros

Para Márcia Onofre, atividades extracurriculares oferecem formação mais plena, autônoma e integradora

Para Márcia Onofre, atividades extracurriculares oferecem formação mais plena, autônoma e integradora

Autor:Arquivo pessoal


Formada em Pedagogia, com doutorado em educação escolar, Márcia Regina Onofre é professora do Departamento de Metodologia de Ensino da Universidade Federal de São Carlos (UFSCAR). Também exerce atividades de pesquisa na Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho e na própria UfsCar.

Em entrevista ao Jornal do Professor, Márcia Regina diz que as atividades extracurriculares são uma forma de oferecer aos alunos uma formação mais plena, autônoma e integradora, na qual os alunos passam a ser parceiros dos professores e demais envolvidos. E essa parceria torna a sala de aula mais democrática e prazerosa.

Jornal do Professor - Como devem ser desenvolvidas as atividades extracurriculares na escola?

Márcia Regina Onofre - Antes de qualquer ação, é necessário que as atividades sejam previstas de forma coerente e organizada na elaboração do planejamento escolar, com o intuito da organização de horários, duração, objetivos, finalidades, etapas e metodologias. Uma ótima forma de trabalhar esses tipos de atividades é por meio de projetos que se voltem para um trabalho interdisciplinar. Nesse sentido é preciso refletir, analisar, discutir, e redimensionar as atividades com um olhar mais atento à realidade de cada escola e de suas necessidades, visando desenvolver um trabalho de coletividade e parcerias entre os alunos, professores, funcionários, comunidade, articulando as áreas de conhecimento e os objetivos do ensino com a prática cotidiana de trabalho.

JP - Pesquisa de 2004 do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep/MEC) revela que essas atividades melhoram o desempenho dos estudantes. Como elas podem auxiliar?

MRO - Acredito que sim. Essas atividades objetivam oferecer aos alunos uma formação mais plena, autônoma, integradora, oferecendo aos educandos o contato com o mundo que não é apenas o escolar. Ou seja, a proposta das atividades extracurriculares é de ensinar os alunos a eliminar barreiras, a aprender lidar com as dificuldades, as situações problemas, a conviver em sociedade, a trabalhar em equipe, a buscar meios de superar as crises e os conflitos, a respeitar e conviver com as diferenças, a exercer cidadania, a estar sintonizado com o mundo atual globalizado, a ter senso crítico em relação aos acontecimentos políticos.

Esse processo contribui para a formação integral do aluno auxiliando na socialização, autonomia, reflexão, pesquisa, integração dos conhecimentos escolares e de mundo, criatividade, questionamento, posicionamento crítico, emancipação. Possibilita novas buscas, mudança de postura e mentalidade bem como de transformação social. O envolvimento dos sujeitos nesse processo gera comprometimento e trabalho em equipe, possibilita a ruptura com as rotinas instaladas na escola e com a visão conteudista de conhecimento, fornecendo uma participação mais ativa e participativa dos indivíduos envolvidos. O resultado desse processo reflete nos processos de leitura e escrita, bem como, na organização das idéias e no domínio da linguagem oral.

JP - Que benefícios elas podem trazer para os alunos?

MRO - Os alunos passam a ser parceiros dos professores e demais envolvidos percebendo sua importância social. Esse processo, quando pautado no diálogo, possibilita a compreensão de que podemos ser capazes de intervir na realidade e não apenas de nos adaptarmos a ela, como afirma o educador Paulo Freire. Portanto, uma formação extracurricular associada a uma formação curricular adequada, coerente e de qualidade oportunizará ao educando a possibilidade de investigação, dinamismo, autonomia, crítica e emancipação.

JP - Facilita o trabalho do professor ou essas atividades geram apenas mais trabalho?

MRO - As duas coisas. Com certeza o professor terá mais trabalho para desenvolver esse tipo de atividade. No entanto, o resultado das ações se reflete, de forma significativa, na sala de aula e, portanto, acaba por auxiliar no processo ensino-aprendizagem de forma mais efetiva e consistente. Quebra com o conteudismo, com a rotina e com a postura de professor transmissor e do aluno receptor passivo do processo. A parceria nas atividades extracurriculares torna a sala de aula mais democrática e prazerosa.

JP - O que um professor precisa para desenvolver essas atividades?

MRO - Em primeiro lugar, domínio do conhecimento, estudo, pesquisa. Em seguida, deixar claro quais os objetivos e finalidades que deseja atingir com as ações. Quanto mais claro for para o professor o significado e a importância da natureza das ações, mais coerente e tranquilo ficará para os educandos o desenvolvimento delas. É preciso a organização de um trabalho em grupo, do levantamento de recursos, da sensibilização da escola. É preciso planejar antes, durante e depois de forma consciente, crítica e emancipadora. Independente das ações estabelecidas, o professor não pode ser entendido como um mero executor ou instrutor de ensino reproduzindo atividades mecanicamente. É preciso que suas ações sejam refletidas e embasadas em princípios políticos e epistemológicos visando desenvolver em si mesmo e em seus alunos a capacidade para um pensamento crítico, reflexivo e criativo. Assim, esse professor assume um papel relevante na construção de um “ethos democrático”, ao se ver formando uma sociedade democraticamente mais livre. O papel do professor deve ser o de provocar a “aprendizagem relevante” no educando, permitindo o acesso aos meios culturais, sociais, políticos, educacionais de forma prazerosa, clara e relevante.

JP - Como realizar atividades extracurriculares de forma que não sejam apenas uma brincadeira?

MRO - A atividade educativa deve ter por meta a finalidade de proporcionar aos sujeitos um conhecimento significativo e nessa trajetória a mediação do professor e a relação de parceria com o grupo devem permear todas as atividades. Portanto é preciso planejar previamente, preferencialmente, com a participação de todos os envolvidos no processo, construindo uma relação democrática, dialógica e coerente. Os professores devem dar voz ativa aos alunos e a suas experiências de aprendizagem, com o intuito de desenvolver um trabalho mais adequado às situações cotidianas.

JP - O que muda no comportamento de um professor no resultado dessas atividades?

MRO - De um processo como esse ninguém sai incólume. Posso dizer que o professor mais aprende do que ensina, pois são várias as possibilidades de trocas, experiências e conhecimentos fornecidos pelos alunos. Portanto não há o que questionar em relação à mudança de postura e mentalidade de um professor nesse processo. O exercício de refletir sobre o cotidiano de trabalho se constitui como base indispensável ao desenvolvimento profissional do professor. É por meio do diálogo que o professor estabelece com as situações de aprendizagem e realidades que enfrenta, na maioria das vezes complexas e incertas, que vai lhe permitindo criar cotidianamente novas formas de pensar e agir sobre suas ações, por meio do questionamento, das experiências, das trocas, corrigindo, inventando, permitindo errar e, acima de tudo de refletir sobre o erro visando a construção de novas formas de intervenção, de mediação e de conhecimento.

ENQUETE

Ajude-nos a escolher o tema da próxima edição do Jornal do Professor. É só clicar em uma das opções abaixo!

Fim do Conteúdo
REPORTAR ERROS
Encontrou algum erro? Descreva-o aqui e contribua para que as informações do Portal estejam sempre corretas.
CONTATO
Deixe sua mensagem para o Portal. Dúvidas, críticas e sugestões são sempre bem-vindas.