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JORNAL
Edição 61 - Cultura Regional na Escola
17/10/2011
 
ou

Lúcia Helena Brito: Cultura popular na escola contribui para formação da cidadania

Estimular o contato com as culturas populares democratiza o conhecimento da diversidade cultural

Estimular o contato com as culturas populares democratiza o conhecimento da diversidade cultural

Autor:Arquivo pessoal


Doutora em sociologia e mestre em educação brasileira, Lúcia Helena de Brito é professora e pesquisadora da Universidade Estadual do Ceará (Uece), com atuação na Faculdade de Filosofia Dom Aureliano Matos (Fafidam/Uece), em Limoeiro do Norte.

Em entrevista ao Jornal do Professor, ela diz que estimular nas escolas, o contato com as culturas populares é, sobretudo, democratizar o conhecimento dessa diversidade cultural. “Isto é o primeiro passo para reconhecermos o que é próprio de cada comunidade ou região, legitimando o sentimento de pertencimento necessário à organização da vida coletiva, com tudo o que isso implica em termos de lutas e conquistas sociais”, ressalta a professora, que é graduada em ciências sociais.

Para ela, o contato do estudante com protagonistas de práticas culturais de sua própria localidade, faz com que ele amplie seus conhecimentos e ainda lhe oferece a possibilidade de também experimentar fazer essas práticas, acrescentando sua própria leitura ou expressão.

Em sua opinião, ao conhecer e recriar uma dada realidade com elementos que lhe fazem sentido, o aluno está aprendendo, de forma indireta, a ser sujeito de sua própria história. “Assim, cremos que o maior benefício de se estudar a cultura popular na escola, como forma de expressão cultural de um dado grupo social, se situa no plano da formação da cidadania”, enfatiza.

Jornal do Professor – Qual é a importância de se estimular, nas escolas, a cultura popular de cada região?

Lúcia Helena Brito – A abordagem da cultura popular na escola brasileira esteve vinculada à concepção dos folcloristas. Isso significa dizer que a escola assimilou o conhecimento dos “fatos folclóricos” como expressão de raízes identitárias, valorizando sobremaneira a dimensão do espetáculo folclórico e pensando assim contribuir com sua preservação e divulgação. Atualmente há uma tendência a superar esta visão e buscar compreender essas manifestações populares como afirmações de formas de ser e de viver que revelam, num campo de luta, a diversidade cultural de nossa sociedade. Estimular nas escolas o contato com as culturas populares é, sobretudo, democratizar o conhecimento dessa diversidade cultural. Isso é o primeiro passo para reconhecermos o que é próprio de cada comunidade ou região, legitimando o sentimento de pertencimento necessário à organização da vida coletiva, com tudo o que isso implica em termos de lutas e conquistas sociais.

JP –Como deve ser abordado o tema cultura popular na sala de aula? Em quais disciplinas? Quais as atividades que podem ser desenvolvidas?

LHB – Nossa proposta é pensar a cultura popular como uma prática cultural que tem uma história. Nesse sentido, a abordagem do tema na sala de aula deve nos levar à compreensão do significado das práticas de cultura popular para aqueles que as fazem. Isso requer atividade de pesquisa, pois, no mais das vezes, é um conhecimento que não está nos livros ou na mídia. O aluno é estimulado a produzir parte desse conhecimento, buscando dados na comunidade, entrevistando os mestres da cultura popular e seus brincantes. Ao se integrar nessa atividade, o aluno se reconhece autor ao se apropriar da história de sua comunidade, de sua cidade, e, principalmente, da cultura popular como uma forma de expressão cultural de um grupo social. Isso ajuda a desconstruir a idéia de cultura popular como algo “menor”, ou pertencente a um passado distante da realidade desse aluno. A cultura popular é dinâmica e possui uma dimensão educativa ao se colocar diante do outro e firmar-se como um saber de experiência transmitido de uma geração para outra por meio da oralidade, da memória e do relato dos mais velhos. Desse modo, a cultura popular cumpre seu papel de coesão do grupo.

A disciplina de arte-educação é vista hoje como mais apropriada para lidar com o tema. Todavia, as práticas culturais populares podem ser abordadas em diversos conteúdos como: literatura, incluindo aí a literatura de cordel; história, abordando a dimensão da memória como fonte de pesquisa; sociologia, buscando desvendar os motivos pelos quais determinadas práticas culturais são consideradas eruditas e outras o são populares, etc. Nesse caso, importa mais a abordagem que vai conduzir o debate sobre o tema, do que mesmo o tipo de expressão cultural popular - danças, músicas, culinárias, ou outros.

JP – Quais os benefícios que essa iniciativa pode trazer não só para os alunos como para o desenvolvimento de cada região e do Brasil como um todo?

LHB – As práticas culturais populares se caracterizam por se constituírem como um saber de oralidade e, portanto, sua transmissão é efetuada na esfera do cotidiano das pessoas que as fazem. À medida que o aluno é levado a ter contato com as pessoas de sua localidade que são protagonistas dessas práticas culturais, ele não só amplia seus conhecimentos, como também lhe é dada a possibilidade de experimentar fazer, recolhendo da cultura popular o que dela faz sentido em seu contexto de vida, e acrescentando sua própria leitura ou expressão.

Indiretamente, esse aluno está aprendendo a ser sujeito de sua história, ao conhecer uma dada realidade e recriá-la com elementos que lhe fazem sentido, ou seja, atuando sobre a realidade. Assim, cremos que o maior benefício de se estudar a cultura popular na escola, como forma de expressão cultural de um dado grupo social, se situa no plano da formação da cidadania.

JP – As escolas devem priorizar somente a cultura popular regional ou devem dar uma ideia de como o país é rico em cultura popular?

LHB – É importante conhecer o contexto no qual se inserem as culturas regionais, quais suas semelhanças e diferenças. Todavia, consideramos fundamental priorizar a busca pelo contexto que dá sentido às práticas culturais vivenciadas em nossa própria região.

JP – O professor precisa se preparar para abordar questões da cultura regional? De que forma?

LHB – Sim. O professor precisa conhecer sobre a formação cultural brasileira, para se situar teórica e historicamente no debate sobre a cultura popular. Percebemos isso no movimento dos próprios professores que buscam formação em arte-educação no intuito de ampliar seus conhecimentos e subsidiar práticas pedagógicas que facilitem o trabalho com o tema na escola básica. Outro fator importante é o professor encontrar apoio na proposta pedagógica da escola, na estrutura - condições materiais e didáticas que possibilitem o exercício da pesquisa. Não podemos deixar de fazer referência à necessária motivação do professor, para enfrentar o desafio de abordar o tema na dimensão educativa a qual nos referimos.

JP – Existem estudiosos ou livros com sugestões para que os professores possam estudar e se preparar para ensinar a cultura popular?

LHB – Essa é a questão mais difícil. Pesquisas sobre o tema, acervos em museus, registros fotográficos, gravações, filmes, podem ser encontrados e utilizados em sala de aula. Desconheço, entretanto, livros dirigidos ao trabalho com o tema na escola, seja a escola básica ou o ensino superior.

Como planejar, escolher metodologias, atividades apropriadas para desenvolvermos um trabalho de qualidade com este tema na escola? Tenho convicção de que se deva partir do conhecimento do lugar onde se situa a escola, do contexto de vida dos alunos, e, sobretudo, atentar para os elementos que, da cultura estudada, fazem sentido para o educando. Este é o principal objetivo de se estudar a cultura.

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