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JORNAL
Edição 86 - Formação Continuada
22/04/2013
 
ou

Rosário Rocha: magistério requer busca constante de conhecimentos

Formação continuada de professores deve aliar aulas presenciais e a distância

Formação continuada de professores deve aliar aulas presenciais e a distância

Autor:Arquivo pessoal


Professora do Instituto Federal de Brasília e da Secretaria de Educação do Distrito Federal, Maria do Rosário Cordeiro Rocha integra a equipe do Centro de Formação Continuada de Professores da Universidade de Brasília (Cform/UnB), onde atua em atividades do Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa.

Com graduação em letras (espanhol e português), mestrado em educação e doutorado em linguística, Rosário Rocha é membro de grupos de pesquisa do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Sua atuação como pesquisadora ocorre, principalmente, em temas como analfabetismo, analfabetismo funcional e usos sociais da escrita.

Em entrevista ao Jornal do Professor, ela defende a realização de cursos de formação continuada para integrantes do magistério, por entender que a profissão requer uma constante busca de conhecimentos. Segundo ela, a formação continuada é condição essencial para o desempenho eficiente das funções dos professores na escola. E ela acredita que a melhor estratégia para atender a essa demanda em nosso país deve aliar a utilização de aulas presenciais e a distância.

Jornal do Professor – Qual é a importância da participação de professores em cursos de formação continuada?

Rosário Rocha – A profissão do magistério requer uma constante busca de conhecimentos. Assim como na área de medicina, em que é necessário um alto investimento de seus profissionais para a construção e uso de novas químicas e instrumentos e a discussão contínua de estratégias eficazes no combate dos males do corpo, ou no enfrentamento das doenças que surgem ou se modificam no organismo, o nosso ofício exige a formação continuada para dar conta dos desafios do ensino e da aprendizagem.

JP – Em sua opinião, como devem ser realizados esses cursos?

RR – O ideal é que a formação continuada aconteça sem a saída do professor da sala de aula. Quanto mais oportunidade de associar os estudos teórico-científicos da prática do professor, mas eficiente será essa formação. Nesse sentido, a sala de aula se constitui no campo de pesquisa e o professor em um agente pesquisador de sua própria prática.

Quanto à modalidade dos cursos, aliar aulas presenciais e a distância tem se mostrado como estratégia adequada para dar conta da demanda de formação continuada dos professores do nosso país. Os cursos presenciais são fundamentais para aproximar a universidade da escola de educação básica, no entanto, são insuficientes para possibilitar a formação com a qualidade e a quantidade necessárias ao contingente de professores que atuam nessa etapa de escolaridade. A modalidade a distância, além de preencher essa lacuna, possibilita que o cursista participe dessa formação, tão necessária, em tempos e espaços diversos, possibilitando que a construção de conhecimentos chegue aos professores de várias partes geográficas deste vasto país.

JP – Algumas áreas necessitam de mais cursos de formação continuada do que outras (alfabetização, matemática, novas tecnologias, por exemplo) ou é necessário que sejam oferecidos cursos em todas as áreas?

RR – A formação continuada é necessária para o exercício de praticamente todas as profissões atuais. Para os professores, como antes afirmado, ela é condição essencial para o desempenho eficiente de suas funções na escola. Nesse sentido, todas as áreas devem ser contempladas. No caso da alfabetização e letramento, áreas em que concentro o meu interesse, a necessidade de que o professor continue a busca por conhecimentos é muito relevante. Primeiro porque o currículo da formação inicial deixa de abordar conhecimentos fundamentais para que o professor possa exercer a função de levar os alunos a se apropriarem da modalidade escrita da língua materna, deixando, com isso várias lacunas na formação acadêmica desses educadores. Segundo, os estudos teóricos, resultantes das pesquisas acadêmicas desenvolvidas nas universidades alimentam continuamente a prática do professor que atua na educação básica.

JP – É importante que os cursos atinjam professores da educação básica ao ensino superior ou há algum segmento que apresenta mais necessidade do que outro?

RR – Reafirmo que a formação continuada é necessária para o exercício do magistério e em qualquer segmento. No entanto, acredito que como os professores de educação superior estão mais envolvidos com a pesquisa, isso, de certa forma, já possibilita que estejam em constante formação e reconstrução de conhecimentos. Aos professores da educação básica, por sua vez, devem ser asseguradas condições para que possam participar dos cursos que os levem a formar e transformar práticas pedagógicas eficazes para atuarem na instituição de ensino.

JP – Qual deve ser o papel das instituições de ensino superior no oferecimento de cursos desse tipo?

RR – A aproximação entre instituições superiores e educação básica é o grande ideal de interação entre teoria e prática. Os cursos de formação continuada se constituem como oportunidades que promovem essa aproximação. Não faz sentido todo o investimento na produção da pesquisa acadêmica, se isso não retorna para a sociedade. Além disso, o envolvimento dos professores de educação básica com as instituições de ensino superior tem se transformado em um incentivo para que esses professores também se interessem pela pesquisa.

JP – Qual é a importância da Rede Nacional de Formação Continuada de Professores, criada pelo MEC em 2004?

RR – Quando eu ouvi falar pela primeira vez na formação continuada, proposta pelo MEC e a organização da Rede Nacional, eu considerei a proposta muito ousada e duvidei da eficácia da formação. Na minha opinião, era muito difícil que essa formação chegasse aos rincões desse nosso vasto país. No entanto, com a evolução do programa do Pró-Letramento, fui surpreendida com a quantidade de professores que participaram dos cursos e com os diferentes municípios que fizeram a adesão. A Rede Nacional de Formação Continuada foi fundamental na riqueza do material de formação e na condução dos trabalhos nas diversas unidades da federação.

JP – Que pontos a senhora destaca de seu trabalho com a formação de professores em alfabetização e linguagem na educação continuada e a distância?

RR – Tive o privilégio de atuar como formadora do Pró-Letramento desde a implantação. No ano de 2005, fiz a formação com os professores alfabetizadores do município de Itapecuru Mirim, no Maranhão. Foi uma experiência extraordinária. Foi nessa época que percebi que a proposta ousada do MEC e da Rede Nacional de Formação Continuada tomava corpo, ou seja, concretizava-se. Nos anos seguintes, participei como formadora nos Estados de Sergipe, Amazonas e Tocantins. Em cada uma dessas unidades, o trabalho se constituía em um desafio gratificante. O encontro como os professores, com diferentes realidades, propiciava momentos ricos de trocas de experiências e de construção de novos conhecimentos e estratégias para o ofício de letrar as nossas crianças. Entre esses conhecimentos, ressalto os da sociolinguística, área da ciência fundamental para o ensino da língua materna e que tem sido negligenciada no currículo de formação inicial no magistério na maioria das universidades brasileiras. A formação continuada, nesse sentido, contribuiu para o preenchimento dessa lacuna.

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