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JORNAL

Semana Nacional de Ciência e Tecnologia

Quarta-feira, 4 de Novembro de 2009

Edição 29

EDITORIAL - Semana Nacional de Ciência e Tecnologia

A 29ª edição do Jornal do Professor aborda o tema Semana Nacional de Ciência e Tecnologia. O evento promovido pelo Ministério de Ciência e Tecnologia realizou sua sexta edição no período de 19 a 25 de outubro de 2009.

Voce vai ler, nesta edicao, sobre os programas desenvolvidos pelo Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (Ibict) e pela Agência Espacial Brasileira (AEB), que podem auxiliar o trabalho de professores e alunos.

Vai conhecer os projetos lúdicos desenvolvidos por duas escolas do Distrito Federal: o Centro de Ensino Candanguinho e o Colegio Marista João Paulo II. Também vai conhecer o professor Celso Dal Ré Carneiro, do Instituto de Geociencias da Unicamp e a sua visão sobre o ensino de ciência e tecnologia na escola.

O entrevistado desta edição é o professor Ildeu de Castro Moreira, coordenador da Semana Nacional de Ciência e Tecnologia e diretor do Departamento de Popularização e Difusão da Ciência e Tecnologia do Ministério de Ciência e Tecnologia.

Aproveite para escolher o tema das próximas edições e para colaborar enviando sugestões, críticas, textos e músicas!

Seja bem-vindo!

Incentivo à produção científica

Foto mostra cartaz com a borboleta azul, símbolo do evento.

O Brasil vem se destacando no cenário científico mundial, especialmente quando o assunto é células-tronco. Mas não é de hoje que o país revela grandes inventores e pesquisadores. Aqui surgiram pessoas importantes da área como o engenheiro Santos Dumont, um dos pioneiros da aviação, e o médico sanitarista Carlos Chagas, que descobriu a doença de Chagas. Para incentivar mentes brilhantes e a produção científica nacional, foi criada há seis anos a Semana Nacional de Ciência e Tecnologia (SNCT), que passou do patamar de uma simples feira para um evento que revela talentos.

O evento conquista cada vez mais pessoas interessadas em ver e produzir ciência. Em sua primeira edição, em 2004, contava com pouco mais de 1.800 atividades, em 252 municípios brasileiros, com a participação de 257 instituições. Em 2009, superou a marca de 24 mil atividades, em 472 cidades. Participaram 728 instituições de todo o Brasil.

Criada por decreto, a Semana Nacional de Ciência e Tecnologia tem como principal objetivo mostrar a importância do tema para o desenvolvimento do país. Além disso, objetiva mobilizar a população para se envolver mais com o assunto, valorizar a criatividade e desenvolver uma atitude científica em crianças e jovens.

De acordo com o Ministério de Ciência e Tecnologia (MCT), o Brasil possui hoje 150 mil cientistas, mas o ideal é que esse número fosse de 700 mil. As áreas que mais têm avançado em pesquisas, no país, são a agropecuária, a exploração de petróleo e a aeronáutica. A preocupação do órgão agora é investir no que considera “áreas do futuro”, como as de nanotecnologia, biotecnologia, fontes renováveis de energia e novas energias para transporte.

A SNCT acontece todos os anos no mês de outubro. Além de feiras e tendas em todo o país, ela conta com um centro de exposição na Esplanada dos Ministérios, em Brasília, onde acontecem palestras, oficinas, exibição de experimentos e vídeos, entre outras atividades.

Este ano, a feira foi realizada entre os dias 19 e 25 de outubro com o tema Ciência no Brasil, em comemoração a importantes descobertas científicas no país, uma homenagem ao centenário de Carlos Chagas e à construção do primeiro balão de ar quente brasileiro. Também comemorou os 150 anos do naturalista suíço Emílio Goeldi, que deu nome ao Museu Paraense Emílio Goeldi, um dos principais centros de estudo sobre a Amazônia, e o centenário da educação profissional tecnológica. 

Uma mostra da mobilização de crianças e jovens e popularização da ciência no Brasil, é que o público da SNCT cresce a cada ano. Apenas no espaço de exposição instalado em Brasília, compareceram mais de 150 mil visitantes.

A participação dos estados também foi forte. O Amazonas apresentou o maior número de atividades, com 11.083 eventos cadastrados, seguido por Rondônia, com 4.844 e Rio de Janeiro, com 1.905.

Qualquer pessoa pode participar da feira, basta cadastrar sua atividade no site do evento. A visitação é aberta ao público gratuitamente. Entre os principais temas de 2009 estavam o aquecimento global e o Programa Espacial Brasileiro, com a participação do primeiro astronauta brasileiro, Marcos Pontes.

(Assessoria de Imprensa SEED/MEC)

Atividades lúdicas atraem estudantes para as ciências

Na foto, aparecem professoras do Cecan e pedaços de pizza.

O que pizza tem a ver com aprendizado? Para o Centro de Ensino Candanguinho (Cecan), escola do Sudoeste, região nobre do Distrito Federal, tem tudo a ver. Por meio do projeto Cozinha Experimental, alunos da instituição que atende desde crianças de berçário até estudantes de ensino médio, executam não apenas pizzas, mas diversas receitas culinárias. Elas servem como motivação para o aprendizado, de forma lúdica, de conteúdos de diferentes disciplinas. O projeto foi um dos destaques da Sexta Semana Nacional de Ciência e Tecnologia de Brasília.

Segundo o coordenador da área de ciências do Cecan, Helder Batista Souza, que também leciona ciências no ensino fundamental e biologia no ensino médio da mesma instituição, durante o preparo das receitas os professores ensinam processos químicos, físicos e biológicos ao mesmo tempo em que repassam noções de gastronomia, pois no final os alimentos são degustados por todos. “Como os alunos estão com a atenção voltada para o que está sendo feito e que será comido depois, o aprendizado é muito maior,” acredita o professor, que tem 25 anos de magistério e dá aulas também em cursinho pré-vestibular.

Professores de várias disciplinas participam das aulas na cozinha e ensinam diferentes conteúdos a partir da mesma receita, que serve como recurso motivador. “Trabalhamos com a integração das disciplinas”, explica Helder. Em uma receita de pizza margherita, por exemplo, o professor de história conta que ela foi criada em homenagem aos reis da Itália, Umberto e Margherita e utiliza em sua cobertura produtos que remetem às cores da bandeira italiana: queijo muçarela, tomate, e manjericão; o professor de geografia explica a origem das plantas utilizadas; o de biologia fala sobre a reprodução e desenvolvimento dos fungos; e o de química aborda o tema fermentação alcoólica. Conforme a origem do alimento, os alunos também aprendem a ler e escrever a receita em espanhol ou em inglês, como é o caso do bolo inglês. As hortaliças e temperos utilizados são cultivados pelos próprios alunos nas aulas do projeto Horta Suspensa.

Outro projeto desenvolvido pelo Cecan e apresentado no espaço da Semana de C&T é o de montagem de robôs, com utilização de computador. De acordo com Helder, o tempo de atenção dos alunos bem como a capacidade de aprendizagem aumentaram consideravelmente desde que iniciaram essa atividade, em que usam a linguagem de máquina Assembly. “É a educação através do processo lúdico”, salienta Helder.

Robôs também são destaque no Colégio Marista João Paulo II, instituição localizada na Asa Norte de Brasília (DF), que atende alunos desde a educação infantil até o ensino médio. A professora Raquel Mary dá aulas de iniciação à robótica em uma sala especialmente voltada para esse fim. Pedagoga com especialização em robótica, há três anos ela desenvolve o projeto Lego Zoom, criado pela divisão educacional do Grupo Lego.

Nas aulas de robótica, os alunos têm oportunidade de complementar temas específicos trabalhados na sala de aula pela professora regente. Como exemplo, Raquel Mary cita a reciclagem de lixo, assunto levado para a exposição da Semana de C&T, para o qual os estudantes criaram modelos em miniatura de um caminhão para coleta seletiva; uma esteira para seleção de material (metal, papel, plástico, vidro), entre outros equipamentos. A intenção é que os alunos participem, de forma prática, e aprendam que podem ser tanto usuários quanto criadores de ferramentas tecnológicas.

Raquel conta que há casos de alunos que não se destacam nas aulas das disciplinas normais, mas que se transformam quando chegam na sala de robótica. “Isso acontece porque nós oferecemos oportunidade de trabalhar diferentes habilidades, em uma aula prática e divertida”, acredita a professora. Para o estudante Artur Costa Arrochela Lobo,10 anos, do 5º ano (4ª série) do ensino fundamental, as aulas de robótica “são as melhores aulas que tem na escola”. Sua opinião dá razão à frase que ornamenta e serve de lema à sala de robótica: aqui a gente aprende brincando e se diverte estudando.

(Fátima Schenini)

Programa auxilia professores e alunos em questões espaciais

Foto mostra luneta e crianças ao fundo.

Um dos estandes que mais chamou a atenção no espaço de exposições da Sexta Semana Nacional de Ciência e Tecnologia, em Brasília, foi o da Agência Espacial Brasileira (AEB). Por meio de painéis, vídeos, palestras e oficinas os visitantes puderam conhecer o trabalho desenvolvido pela AEB. E o astronauta Marcos Pontes fez palestra na abertura do evento. Vinculado ao Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), o órgão é responsável pela formulação e coordenação da política espacial no Brasil.

Naves espaciais, satélites, estrelas e planetas são temas que naturalmente despertam a atenção de crianças e adolescentes. Para aproveitar esse interesse natural e estimular o surgimento de vocações para esta área, estratégica para o desenvolvimento do país, a AEB criou, em 2003, o programa AEB Escola.

O programa atende escolas de ensino fundamental e médio de todo o país e engloba atividades em diferentes áreas: astronomia; astronáutica e veículos espaciais; satélites e plataformas espaciais; aplicações da tecnologia espacial: meteorologia e sensoriamento remoto – observação da terra. Em 2009, Ano Internacional da Astronomia, um novo tema passa a fazer parte das atividades do programa. É ciências espaciais, com conteúdo voltado para a exploração do espaço cósmico. Palestras, exposições, e oficinas para professores e alunos são algumas das atividades promovidas.

Segundo o coordenador do AEB Escola, José Leonardo Ferreira, a primeira atividade do programa foi o curso Astronáutica e Ciências do Espaço, realizado em 2004 para atender professores do ensino médio e fundamental da rede pública do Distrito Federal. “Até 2009, que ainda não terminou, o programa terá formado, pelo menos, 1.500 professores e 500 mil alunos desde a sua criação”, destaca o coordenador, que é físico, com mestrado em física nuclear e doutorado em ciências espaciais.

Para José Leonardo, que é professor do Instituto de Física da Universidade de Brasília (UnB), com atuação na área de ensino e divulgação cientifica, é importante salientar que esses números não levam em conta a participação nacional recorde de alunos na Olimpíada Brasileira de Astronomia e Astronáutica (OBA). “Foram mais de cinco milhões de alunos em 2009”, diz.

A Olimpíada é promovida pelo AEB Escola, anualmente, em colaboração com os parceiros que acompanham o programa desde sua criação: Universidade de Brasília (UnB), Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), Sociedade Astronômica Brasileira (SAB), o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), Centro Técnico Aeroespacial (CTA), Instituto de Aeronáutica e Espaço (IAE), e Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA). “As parcerias estão sendo fundamentais para o sucesso do AEB Escola”, ressalta José Leonardo.

Professores e alunos – Os cursos e oficinas promovidos pelo AEB Escola são voltados para a formação continuada de professores e alunos de ensino médio e fundamental de qualquer escola. Já as palestras e exposições eventuais destinam-se também à comunidade em geral. “Fazemos questão de atender, prioritariamente, a professores e alunos das escolas públicas”, explica o coordenador. Ele diz que muitas escolas também procuram o programa em busca de apoio para a realização de feiras de ciências. Em todo os casos, é possível entrar em contato com o AEB Escola por meio de e-mail encaminhado ao endereço eletrônico aebescola@aeb.gov.br ou pelo telefone (61) 3341.5678.

A partir do final deste ano o programa vai lançar, em conjunto com o MEC, a coleção Explorando o Ensino, volumes 11, 12 e 13, envolvendo os conteúdos: Fronteira Espacial, Astronomia e Astronáutica, e Mudanças Climáticas (este projeto também tem a colaboração do Fórum Permanente de Mudanças Climáticas Globais e da COPPE/UFRJ). A coleção será lançada em várias capitais brasileiras, com a realização de cursos, oficinas, e exposições. Para José Leonardo, será uma oportunidade para o AEB Escola ampliar sua atuação a nível nacional.

(Fátima Schenini)

Professor deve passar conhecimentos com alegria e entusiasmo

Alunos observam painel na Semana Nacional de C&T.

As diferentes áreas da ciência e da tecnologia se entrelaçam, cada vez mais, provocam novas descobertas e trazem mudanças no mundo e na vida dos seres humanos. Não é mais possível viver de forma alienada: as novidades chegam até mesmo aos lugares mais remotos e criam novas necessidades. Os professores e as escolas estão preparados para formar os cidadãos que vão viver nesse mundo do futuro? É possível acompanhar a torrente de novos conhecimentos? Qual a melhor forma de transmitir informações de ciência e tecnologia?

Para o professor Celso Dal Ré Carneiro, chefe do Departamento de Geociências Aplicadas ao Ensino, do Instituto de Geociências da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), não existe uma fórmula mágica ou uma solução melhor do que outras para os estudantes aprenderem conteúdos de ciência e tecnologia, a não ser o entusiasmo. Em sua opinião, quanto maior for a alegria e o entusiasmo que o professor puder passar no processo de transmissão de conhecimentos, mais acentuados serão os efeitos nos alunos. “O professor deve transmitir e captar nos seus alunos esse interesse pelo saber”, diz Dal Ré, que é geólogo, com mestrado e doutorado em geociências e atua no magistério desde 1970, em diferentes níveis de ensino.

De acordo com ele, “os avanços do conhecimento vêm sendo tão rápidos e notáveis que uma pessoa incapaz de perceber seu alcance e significado facilmente sentir-se-á desvalorizada e deslocada de seu próprio tempo.” Ele ressalta que não se trata de criar consumidores ávidos por novas informações. O problema, acredita, é mais do que ajudar um cidadão a “acompanhar” o que há de novo: trata-se de revelar os fundamentos por detrás desses avanços. “Não podemos criar meros expectadores, temos de estimular inteligências e desenvolver habilidades. Nesse campo, extremamente fértil, certamente surgirão os cientistas de amanhã”, salienta.

Segundo Dal Ré, os professores precisam estar preparados para oferecer os conceitos básicos em física, química, biologia e geologia que tornaram possíveis os avanços no conhecimento em todas as escalas. E devem explorar, de forma conveniente, os conhecimentos que surgem de todos os campos e que dão suporte para entender o mundo contemporâneo.

Atualização - Mais de 900 professores já participaram de cursos de atualização promovidos pelo Departamento de Geociências Aplicadas ao Ensino, que estuda agora a criação de uma modalidade de ensino a distância, em parceria com a Universidade Federal do Pará.

(Fátima Schenini)

Leia, na integra, a entrevista com o professor Celso Dal Ré Carneiro.

Entrevista com o professor Celso Dal Ré Carneiro, da Unicamp

Geólogo, com mestrado e doutorado em geociências, Celso Dal Ré Carneiro é professor e chefe do Departamento de Geociências Aplicadas ao Ensino, do Instituto de Geociências da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Atua no magistério desde 1970, com experiência em diferentes níveis de ensino.

Em entrevista ao Jornal do Professor, Celso Dal Ré Carneiro aborda temas como a importância da ciência e tecnologia na escola, qual a melhor forma para os estudantes aprenderem conteúdos de ciência e tecnologia, e o trabalho realizado pelo Departamento de Geociências Aplicadas ao Ensino.

Jornal do Professor - Qual é a importância da ciência e tecnologia na escola?

Celso Dal Ré Carneiro - Creio que nunca, nas escolas, o ensino de ciência e tecnologia tenha perdido importância. Agora, porém, mais do que antes, os avanços do conhecimento vêm sendo tão rápidos e notáveis que uma pessoa incapaz de perceber seu alcance e significado facilmente sentir-se-á desvalorizada e deslocada de seu próprio tempo. Não se trata de criar “consumidores” ávidos por novas informações e que possam ficar, de algum modo, incomodados pela perspectiva de “estar perdendo algo” do que acontece. O problema é mais do que ajudar um cidadão a “acompanhar” o que há de novo, trata-se de revelar os fundamentos que estão por detrás desses avanços. Escrevo a palavra “acompanhar”, assim mesmo, entre aspas, porque não podemos criar meros expectadores, temos de estimular inteligências e desenvolver habilidades. Nesse campo, extremamente fértil, certamente surgirão os cientistas de amanhã. Assim, o papel da escola assume um significado mais profundo e, a meu ver, um alcance muito mais longo.

JP - Em sua opinião, o que não pode faltar no processo de ensino-aprendizagem (nessa área)?

CDRC - Antes de mais nada, precisamos estar preparados, como professores, a oferecer aqueles conceitos básicos em física, química, biologia e geologia que tornaram possíveis todos os avanços no conhecimento em todas as escalas, que vão desde objetos de tamanhos subatômicos a submicroscópicos, até as escalas gigantescas nas quais se situam o próprio sistema solar e o universo como o conhecemos hoje.

Temos de explorar convenientemente conhecimentos que surgem de todos esses campos, como por exemplo, os modernos conceitos sobre: (a) como a Terra funciona, (b) como os seres vivos funcionam, se movem e se multiplicam, e até mesmo tratar, da forma mais básica possível, das múltiplas facetas do ambiente natural, (c) como os seres vivos interagem com o sistema Terra, em especial a espécie humana, que tem causado profundas alterações ambientais. Esses conhecimentos formam um verdadeiro suporte para que uma pessoa normal possa entender o mundo contemporâneo.

JP - Qual a melhor forma para os estudantes aprenderem conteúdos de ciência e tecnologia?

CDRC - Não existe uma fórmula mágica ou uma solução melhor do que outras. Quem defender isso estará sendo, antes de mais nada, um bocado parcial. Nunca tive contato, em sala-de-aula, com crianças do antigo primário, nível que atualmente faz parte das primeiras séries do ensino fundamental. Já lecionei, contudo, em diversos níveis de ensino, desde as séries seguintes do ensino fundamental (da antiga 5a série em diante), ensino médio e ensino técnico. Tenho, é claro, mais tempo de dedicação com o ensino superior. Desde 1970 sou professor, e continuo a sentir uma alegria muito grande ao entrar em uma sala-de-aula. Esse espaço é para mim fonte permanente de estímulo.

Pensando melhor, uma forma muito boa pode se resumir a uma palavra: entusiasmo. Imagino que a principal porta de acesso a esse conhecimento de ciência e tecnologia seja proporcionada pelo professor, e o processo causará efeitos tanto mais acentuados nos alunos quanto maior for a alegria e entusiasmo que o professor puder passar a todos eles. Ele deve transmitir e captar nos seus alunos esse interesse pelo saber.

Uma descoberta científica é estimulante em si mesma. Quem já se envolveu em pesquisa e descobriu algo novo sabe muito bem disso. A geologia, campo no qual me formei e atuo, é pródiga. Muitos professores estudaram em ambientes nos quais pouca ênfase foi dada – ou talvez nenhuma ênfase tenha sido dada – aos experimentos práticos. Isso é um problema que precisa ser enfrentado. Nunca é tarde para começar a fazer as coisas e talvez muitos professores tenham mesmo que se tornar autodidatas.

JP - Qual sua opinião sobre as Feiras de Ciências? Por quê?

CDRC - Sempre fui entusiasmado com Feiras de Ciências. Quando professor de uma escola na periferia de São Paulo, na Vila Mangalot, zona noroeste da cidade, tive a oportunidade de fazer, junto com outros dois professores, muito animados, feiras que movimentaram a escola inteira em sábados e domingos. A alegria dos alunos em receber seus amigos, parentes e vizinhos era imensa. Eles queriam apresentar suas “descobertas”, mesmo que simples. Claro que tínhamos a noção de que muitos dos experimentos nada tinham de novo, mas eles estavam redescobrindo esses conteúdos.

JP - Quem participa das aulas ministradas pelos professores do Departamento de Geociências Aplicadas ao Ensino?

CDRC - Temos pós-graduandos que possuem variadíssimos campos de formação. Alguns deles vieram do exterior, mas a grande maioria é formada por brasileiros natos. Vários formaram-se em cursos de graduação de geografia, geologia, história, pedagogia, arquitetura, engenharia, química, biologia, física, filosofia etc. Muitos deles atuam profissionalmente como professores de escolas públicas e particulares de todos os níveis de ensino. Já interagimos com muitas centenas de professores, desde que a antiga área de Educação Aplicada às Geociências foi criada, há mais de 25 anos. Antigamente oferecíamos um curso de especialização em Ensino de Geociências, mas percebemos que os títulos de mestre e doutor são mais valorizados e proporcionam uma formação mais ampla.

Os cursos de licenciatura em geologia são ainda novos no Brasil, mas temos alguns alunos que nos procuraram para começar mestrado, ou que pretendem fazê-lo assim que se formarem.

Uma outra alternativa que o Departamento tem explorado muito são os cursos de atualização docente, os chamados cursos presenciais para professores “em serviço”. Neste caso atingimos mais de 900 professores que participam diretamente das atividades. Agora está em discussão uma modalidade de ensino a distância, com algum componente presencial, junto com colegas da Universidade Federal do Pará. Essa ideia parece demasiadamente promissora, mas ainda é cedo para avaliar seu impacto.

JP - O Departamento realiza algum trabalho voltado para professores e alunos dos níveis fundamental e médio? Em que consiste?

CDRC - O trabalho com professores e alunos dos níveis fundamental e médio tem sido fonte permanente de boas ideias e iniciativas. Fazemos poucas atividades diretamente com os alunos, pois entendemos que os profissionais mais indicados para realizar esse trabalho são os seus professores. Cada professor conhece bem o grupo com quem trabalha e isso precisa ser valorizado. É juntamente com o professor que concentramos as ações. O número de pessoas ainda é pequeno, também porque nosso grupo é igualmente reduzido. Fazendo umas contas rápidas, creio que não atingimos a casa de 200 professores das redes pública e privada que participaram efetivamente de projetos de pesquisa no campo da Educação em Geociências. Os resultados são surpreendentes. O mais interessante é registrar que esse entusiasmo dos professores independe de sua faixa etária, nem do volume de trabalho que cada um deles possui. Eles começam a se envolver e querem mais, muito mais.

Ibict cria personagens para divertir e informar estudantes

Foto mostra o Dr. Genoma no estande do Ibict

Em todos os eventos de divulgação científica de que participa, o Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (Ibict), órgão do Ministério de Ciência e Tecnologia (MCT), tem a preocupação de levar informações relacionadas ao tema central do evento, que unam arte, ciência e educação.

Na Sexta Semana Nacional de Ciência e Tecnologia, em Brasília, não poderia ser diferente. O Ibict distribuiu em seu estande o gibi Sabidinho em Inclusão Digital e Cyberbullying, produzido este ano em comemoração a seus 55 anos. “Sabidinho é um personagem criado para informar sobre os serviços do Ibict. Neste gibi, ele apresenta o programa de inclusão digital do instituto nas áreas rural e indígena – o Corredor Digital Rural e Indígena”, diz Elizabeth Falluh, responsável pela área de eventos do Ibict.

Ela explica que nas comunidades atendidas por esse programa, que oferece laboratórios de informática para escolas rurais e aldeias de índios, os estudantes usam a internet para fazer pesquisas. Na mesma revista, o Sabidinho trata da questão do cyberbullying e orienta os estudantes sobre essa prática que utiliza a internet para humilhar e ridicularizar.

Outro personagem apresentado na Semana Nacional de C&T foi o Doutor Genoma, representado pelo ator/educador Leonardo Villas Braga. Vestido como um explorador, com bermudas cáqui e chapéu, o Dr. Genoma recebia os visitantes e despertava a atenção de todos. Leonardo integra o grupo de teatro brasiliense Cia. Daqui, contratado pelo Ibict, que fez sucesso, em 2008, com a montagem da peça Nas Bagagens de Darwin. “A peça sobre Darwin ficou tão bem montada, que agora está percorrendo o Brasil. E o grupo aguarda patrocínio para transformá-la em filme,” informa Elizabeth.

A publicação do Sabidinho também traz informações sobre o Canal Ciência, portal de divulgação científica interativo, com conexão com diversos serviços, que pode ser um valioso auxiliar dos estudantes para a produção de trabalhos escolares.

O estande do Ibict também fez distribuição do DVD Paisagens Terrestres, sobre os biomas da Terra. Na produção, feita em parceria com a Universidade de Brasília, as explicações são dadas por animais "falantes", em linguagem acessível para crianças.

(Fátima Schenini)

Professor mineiro obteve grandes resultados com Tangram

Foto do professor Daniel da Silva Pereira

O professor Daniel da Silva Pereira leciona, desde 2006, na Escola Estadual Professor José Monteiro Fonseca, em Padre Paraíso, município localizado no nordeste de Minas Gerais, a cerca de 500 Km de Belo Horizonte. Professor de matemática do ensino fundamental e médio, faz dois cursos de graduação: matemática, na Fundação Educacional do Vale do Jequitinhonha (Fevale) e administração, na Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM).

Ele conta que obteve grandes resultados com a oficina Decomposição de figuras utilizando Tangram, que realizou com alunos de três turmas do 8º ano (7ª série) e uma do 9º ano (8ª série), totalizando aproximadamente 130 alunos. “Estamos colhendo os seus frutos”, diz. Segundo ele, é só observar que entre os estudantes da Escola José Monteiro Fonseca classificados na Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas (OBMEP), quase todos foram seus alunos. Além disso, o professor Daniel destaca a melhora ocorrida nos resultados regulamentares de sua escola em relação à disciplina, nota, e frequência. Mas o fato mais importante, em sua opinião, foi o aumento do interesse dos alunos pela matemática.

 

Conheça a experiência com o Tangram e outras oficinas desenvolvidas pelo professor Daniel

Acesse também o blog e o site

Ildeu de Castro Moreira: ensino deve ser interessante

Professor Ildeu Moreira

Diretor do Departamento de Popularização e Difusão da Ciência e Tecnologia do Ministério de Ciência e Tecnologia, Ildeu de Castro Moreira é coordenador da Semana Nacional de Ciência e Tecnologia. Também é membro do Conselho Nacional de Política Cultural e do Conselho Técnico Científico da Educação Básica da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CTC/Capes).

Doutor em física, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), desenvolve atividades nas áreas de ensino de física e divulgação científica.

Em entrevista ao Jornal do Professor, Ildeu de Castro Moreira ressalta a necessidade de se introduzir melhorias no ensino de disciplinas da área de ciências, para que se torne mais interessante e próximo ao cotidiano das pessoas.

Ele defende a valorização dos professores e melhores condições de trabalho. E diz que preciso ampliar o número dos cursos de licenciatura e melhorar a qualidade.

Jornal do Professor - Como despertar o interesse pela ciência e tecnologia nas crianças e jovens?

ICM - A primeira coisa é melhorar muito o ensino de ciências e matemática na escola, que é muito deficiente e, portanto, torná-lo mais interessante, mais experimental, menos dogmático. E valorizar a criatividade, que é o que a criança tem, mas geralmente as escolas acabam com ela ou pelo menos dificultam muito a criatividade.

Também é preciso fazer com que a criança e o jovem tenha a prática da ciência que é perguntar, experimentar, tentar, errar, observar. Acho que não teria uma fórmula mágica, mas essa é uma questão fundamental.

JP - Quais as principais ações que estão ocorrendo no Brasil no sentido de popularizar e difundir a C&T?

ICM – Existe um programa de popularização da ciência e tecnologia que tem vários eixos. Um deles é a criação de museus, planetários, observatórios etc. Essa iniciativa é carente ainda de espaços científicos e culturais desse tipo, em comparação com Europa e Estados Unidos, por exemplo, mas isso já tem melhorado bastante nos últimos tempos, embora tenha uma profunda desigualdade. A distribuição desses espaços está muito concentrada em São Paulo e no Rio de Janeiro e muito pouco no Nordeste, no Norte e no Centro-Oeste. Então, o desafio é estimular. Agora está aberto um Edital do MCT com 21 fundações de pesquisa, para criação e manutenção de iniciativas desse tipo.

Uma outra iniciativa é fazer atividades de ciências itinerantes. O Programa Nacional de Ciência Móvel hoje tem em torno de 20 veículos percorrendo o Brasil com atividades de ciências mais interativas, mais dinâmicas, nas periferias etc. Uma outra ação é melhorar significativamente o ensino de ciências na escola. Então, o Ministério de Ciência e Tecnologia tem algumas ações, raras delas em parceria com o MEC, como por exemplo, a Olimpíada de Matemática das Escolas Públicas. Além disso, eventos como a Semana Nacional de Ciência e Tecnologia, que aproximam a comunidade científica da população em geral. Na realidade, há um elenco de iniciativas.

JP - Qual a contribuição da Semana Nacional de Ciência e Tecnologia na difusão e popularização da ciência no Brasil, desde que foi criada?

ICM - A Semana começou em 2004, com 1.800 atividades e agora, neste ano, atingiu em torno de 24 mil. Então ela cresceu muito. O número de instituições envolvidas aumentou. Em alguns estados conseguimos uma interiorização muito boa, como no Amazonas, por exemplo. Então houve um crescimento em termos de envolvimento de pessoas, de mais atividades. Estamos melhorando também as atividades, que estão ficando mais interessantes e criativas. Agora, é difícil fazer um balanço, porque ações desse tipo geralmente demoram anos para surtir efeito. Não temos uma computação clara, quantitativa, mas evidências de que a Semana tem um impacto bastante significativo.

JP- Qual é a situação atual da oferta de professores das áreas de ciências no Brasil? O número é suficiente para atender a demanda?

ICM – O MEC tem esses números e a oferta de professores de ciências, física, matemática, química, ainda é bastante deficiente. Além disso, muitos dos professores ainda têm uma formação muito deficiente. Precisamos melhorar muito a licenciatura, ampliar o número de cursos, melhorar a qualidade deles e capacitar os atuais professores, dando também mais condições de trabalho para eles, que é uma questão crucial. E preciso também estimular o uso de laboratórios nas aulas de ciências. Não basta só comprar o equipamento e colocar nas escolas. É preciso que ele seja incorporado, de fato, pelo professor e pela escola, nas atividades da aula.

JP – É importante que os professores participem de cursos ou oficinas para reciclagem de conhecimentos ou aprendizado de novas técnicas para o ensino de disciplinas das áreas de ciência e tecnologia?

ICM – Com certeza, mas isso não basta. Muitos esforços desse tipo de capacitação de professores foram feitos por universidades, nos últimos anos. Alguns deles certamente foram importantes, criativos, interessantes, mas muitos não tiveram resultados ou foram muito pequenos. Trazer o professor para dentro da universidade, dar curso, e depois ele voltar para a escola sem condições ou estímulo, não adianta muita coisa. A gente tem que mudar bastante esse processo. Tem que ter uma formação também na escola, mudar a cultura da escola, tem que dar condições de trabalho, tem que valorizar o professor, inclusive salarialmente. Então tem várias iniciativas que têm que ser tomadas e um mero curso de capacitação não resolve.

JP - Qual a contribuição que a Academia pode dar para a disseminação de conhecimentos científicos entre professores do ensino básico e a população em geral?

ICM – Muitas dessas iniciativas que são feitas, como a Semana de Ciência e as reuniões anuais e regionais da SBPC, que faz um trabalho importante de divulgação pelo Brasil, têm participação grande de pessoas da Academia, mas pode ter muito mais. A Universidade poderia ajudar muito mais a melhorar a educação básica, tanto com a participação dos professores e pesquisadores quanto também dos próprios estudantes das universidades públicas e particulares, que poderiam ajudar muito na melhoria da educação básica, ajudando a montar laboratório, a fazer atividades com as escolas. Acho que falta um grande programa de mudança radical da educação em ciências e matemática no Brasil. Claro que existem muitas iniciativas já importantes mas o problema é muito grande. Acho que as universidades e as instituições de pesquisas, públicas, têm um papel a desempenhar que ainda não foi inteiramente realizado.

Na Europa, muitas instituições de pesquisas recebem professores de ensino médio para fazer cursos ou estágios. A gente está tentando isso no Brasil, fazer com que as instituições de pesquisa abram suas portas durante um certo período – duas semanas – para receber também professores do ensino médio, para que eles possam se mobilizar mais, se interessar mais pela ciência, terem um conhecimento mais atualizado.

JP – Já há uma conscientização, entre o empresariado brasileiro, da importância de patrocinar projetos de popularização da ciência?

ICM – Ao contrário da Europa e dos Estados Unidos, em que muitas bibliotecas, projetos de educação, museus de ciência e espaços desse tipo são patrocinados pela iniciativa privada, no Brasil essa questão é muito diminuta. O empresariado brasileiro não tem essa tradição. Tem condições, certamente, mas essas colaborações são muito raras e, portanto, muito meritórias. Em geral, quem tem exercido alguma atividade desse tipo são empresas estatais, como por exemplo a Petrobras e a Embraer.

JP - É possível ensinar ciências de modo fácil e divertido? Que conselho você daria aos professores?

ICM – Uma coisa fundamental é gostar daquilo que se faz. Hoje, dar aulas de ciências não é uma coisa fácil, trivial. E uma coisa importante é abrir a cabeça. Uma pessoa não aprende só entre quatro paredes. Os alunos podem ser levados para outros espaços, como museu de ciências, por exemplo. Mas o essencial é mudar a maneira como essas disciplinas são ensinadas. A física às vezes é ensinada de maneira chata, a matemática também. E buscar questões mais ligadas ao cotidiano das pessoas, a fim de tornar o ensino mais interessante.