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JORNAL

Literatura de Cordel

Sexta-feira, 25 de Maio de 2012

Edição 72

EDITORIAL - Literatura de Cordel

Por decisão de nossos leitores, Literatura de Cordel é o assunto abordado nesta 72ª edição do Jornal do Professor. O tema teve a preferência de 50,51% das pessoas que votaram na enquete colocada em nossa página.

Trazemos para vocês, experiências desenvolvidas na Escola Municipal Professora Íris de Almeida Matos, em Parnamirim (RN); Escola Municipal Prefeito Walter Dória de Fiqueiredo, em Rio Largo (AL); Escola Municipal de Ensino Fundamental Nossa Senhora de Fátima, em Gramado (RS); Escola Municipal Marcílio Rangel, em Teresina (PI); e em escolas municipais de Santa Rita (PB).

Nossa entrevistada é a professora Ana Cristina Marinho Lúcio, da Universidade Federal da Paraíba. E na seção Espaço do Professor, participam professoras da Escola Estadual Irmã Lucinda Facchini, do município de Diamantino (MT).

Ajude-nos a escolher o tema das próximas edições, votando na enquete colocada em nossa página. E aproveite para colaborar enviando sugestões, críticas, textos e músicas!

Seja bem-vindo!

Cordel colabora para melhorar aprendizagem em escola do RN

Cordelista e estudantes

No município de Parnamirim, região metropolitana de Natal (RN), a literatura de cordel é estimulada nas unidades de ensino. Além do projeto Cordel na Escola, da secretaria municipal de Educação, algumas instituições desenvolvem experiências próprias. Um exemplo é a Escola Municipal Professora Íris de Almeida Matos. Lá é feito um trabalho com literatura de cordel há três anos.

Graduada em pedagogia, a professora Sandra Macedo Barbalho, responsável pelo trabalho, está no magistério há 11 anos, com passagem pelas escolas Professora Eulina Augusta e Neilza Gomes. Nesse período, a literatura de cordel sempre fez parte de suas aulas. “É notório o interesse por parte dos alunos”, destaca. “Consequentemente, o comportamento melhora, bem como a aprendizagem.”

De acordo com a diretora, Andréia Cristiane dos Santos Xavier, a escola sempre desenvolveu atividades voltadas para a leitura, mas os professores se queixavam da falta de estímulo por parte das famílias. “Isso me causava inquietação”, diz Andréia. Ao constatar que algumas famílias não podiam oferecer instrumentos de leitura, tanto por questões financeiras quanto por falta de interesse, a comunidade escolar entendeu sua responsabilidade na questão. Teve início, então, uma mobilização. As primeiras atividades foram um carrinho literário e rodas de leitura.

Percebido o interesse das crianças, foi criado o projeto Sopa de Letrinhas, destinado a formar leitores. “Para despertar a magia guardada nos livros, surgiram os mediadores mirins de leitura literária do projeto, alunos com perfil leitor, carismáticos e desinibidos”, explica Andréia, que é formada em pedagogia e especialista em coordenação pedagógica.

O projeto cresceu e incluiu eventos literários como a Sopa de Letrinhas Sabor Cordel, com o cordelista José Acaci, a pedido da professora Sandra. Ficou acertado, então, que este ano a escola seria uma das instituições participantes do projeto Cordel na Escola, da secretaria de Educação, que a cada ano reúne quatro escolas.

Segundo a diretora, com a realização do Sopa de Letrinhas foi possível observar diversas melhorias no comportamento dos alunos. Aumentou o interesse pela leitura, interpretação e escrita de textos, houve desenvolvimento da criatividade e do respeito em ouvir o outro. Os estudantes também ganharam postura ao se apresentar em público e se tornaram mais participativos. A escola, que tem 500 alunos do primeiro ao quinto ano do ensino fundamental, passou a participar também do projeto Rede Potiguar de Escolas Leitoras, que incentiva a promoção da leitura nas instituições públicas de ensino. (Fátima Schenini)

Leia também: Professor de matemática adota cordel em Parnamirim

Professor leva projeto sobre o cordel a escolas da Paraíba

Alunos, em auditório, assistem à apresentação musical

O professor e cordelista Francisco Ferreira Filho Diniz percorre instituições de ensino públicas e particulares das áreas urbana e rural do município paraibano de Santa Rita e da região metropolitana de João Pessoa, nos turnos da manhã, tarde e noite. Ele conta a história da literatura de cordel, lê e distribui folhetos e promove oficinas de elaboração de cordel. Também canta, acompanhado por um grupo musical.

Com 22 anos de magistério, Francisco dá aulas de educação física na Escola Municipal São Marcus, no distrito de Várzea Nova, em Santa Rita, para alunos do primeiro ao quinto ano do ensino fundamental. Desde 2000, ele desenvolve o Projeto Cordel, de divulgação desse tipo de literatura enquanto veiculo de comunicação, instrumento didático e importante elemento da cultura. Seu trabalho envolve estudantes de todas as idades e a comunidade escolar em geral.

“Quero colaborar para manter viva essa tradição cultural e provar a capacidade que o cordel tem de educar, de debater qualquer assunto, além de entreter e motivar para a leitura”, afirma Francisco. Por meio da literatura de cordel, ele promove palestras sobre temas como educação, justiça social, cultura popular e corrupção.

Durante as oficinas nas escolas, o professor ensina a produzir textos com os elementos indispensáveis do cordel, com respeito às regras fundamentais referentes à métrica, às rimas e aos tipos de estrofes mais comuns (principalmente sextilha, septilha, décima e quarta) e à oração, ou seja, a história.

Memória — Segundo Francisco, o cordel é uma manifestação cultural que aborda a leitura, o canto, o aspecto rítmico compassado das declamações e a ilustração das capas, por meio de xilogravura, desenho, foto ou pintura. Além disso, de acordo com o professor, o cordel possibilita a memorização de fatos históricos ou acontecimentos e deixa um registro na memória nem sempre possível no texto em prosa. “A escola tem de saber desse potencial dos folhetos de cordel para ter em mãos mais uma forma de estimular os alunos à leitura e à reflexão dos mais diversos assuntos”, enfatiza.

Em parceria com Valentim Quaresma, Francisco escreveu seu primeiro cordel, Zumbi, o Heroi do Brasil, em 2000. Decidiu então divulgá-lo nas escolas. A boa aceitação o estimulou a realizar outros trabalhos e a divulgá-los na internet. Com o êxito obtido, decidiu dedicar-se profissionalmente ao cordel. (Ana Júlia Silva de Souza)

Alunos alagoanos aprofundam o estudo do cordel na sala de aula

Grupo de alunos lê cordéis na sala de aula

A literatura de cordel inspira várias atividades em sala de aula na Escola Municipal Prefeito Walter Dória de Figueiredo, no município de Rio Largo, Alagoas. Naquela unidade de ensino, é desenvolvido o projeto Sinhô Cordel, com estudantes do oitavo ano do ensino fundamental.

Para a professora Polyanna Paz de Medeiros Costa, o cordel é uma das mais expressivas formas da cultura nordestina. Professora de português, ela é a responsável pelo projeto, que estimula os alunos a participar de várias atividades, como leitura e discussão dos temas explorados pela literatura de cordel; audição de versos declamados pelo cordelista alagoano Demis Santana; produção de cordel e desenhos manuais. Os estudantes também participam de dramatizações de textos de cordel, de autoria própria, ao som de músicas do compositor Luiz Gonzaga [1912-1989].

“Os textos cordelistas são grande aliados nas estratégias de leitura e compreensão de fatos da realidade”, defende Polyanna. Formada em letras, com habilitação em português e literatura, especialização em mídias na educação e em novos saberes e fazeres da educação básica, ela está há dez anos no magistério. Polyanna também lecionou e desenvolveu o projeto Sinhô Cordel nas escolas Mário Gomes de Barros, no município de Novo Lino, e Alfredo Gaspar de Mendonça, em Maceió.

Na visão da professora, a literatura de cordel integra o patrimônio histórico do povo nordestino. “Ela é ensinada ao aluno para que ele reconheça que a linguagem é um meio fundamental na construção tanto de significados e conhecimentos quanto da identidade do ser humano”, explica. Além disso, segundo Polyanna, o mundo exige mais criatividade, senso crítico e capacidade de interpretação, não só de textos como do mundo.

Os cordelistas escolhidos para estudos em sala de aula são Jorge Calheiros, Davi Teixeira, José Severino Cristovão, Vicente Campos Filho, Gerson Santos, Pedro Queiroz, João Ferreira de Lima, José Pacheco, José Francisco Borges, Pedro Costa e Antônio Gonçalves da Silva.

A professora define o cordel como um tipo de poesia popular, impressa em folhetos e veiculada em feiras ou praças. Teve origem em Portugal, por volta do século 17, escrito em folhas volantes, também denominadas folhas soltas. Como tinha um aspecto rudimentar, era comercializado nas feiras, praças e ruas preso a um cordel ou barbante, o que facilitava a exposição. (Ana Júlia Silva de Souza)

Professor de matemática adota cordel em Parnamirim

Alunos leem cordéis, sentados no chão

Formado em matemática, com especialização em física, o professor da rede municipal de ensino de Parnamirim (RN), José Acaci Rodrigues, desenvolve o projeto Cordel na Escola, desde 2006. Músico e cordelista, diz que o cordel e a poesia estão em sua vida desde que “se entende por gente”, pois seu pai era cantador e cordelista.

Jornal do Professor – Há quanto tempo participa do projeto Cordel na Escola?

José Acaci Rodrigues – O projeto iniciou em 2006 por iniciativa minha. Ele teve início na Escola Professora Enedina de Sena. No ano seguinte, o projeto estendeu-se à Escola Municipal Augusto Severo e, a partir de 2008, passou a a ser realizado em quatro escolas a cada ano.

Sou professor do quadro da Secretaria Municipal de Educação de Parnamirim (RN). Além de professor, sou músico e cordelista. Para tornar minhas aulas mais atrativas, eu sempre as começava cantando uma música ou recitando um cordel, acompanhado do violão ou da viola caipira. Então, a diretora da escola onde eu trabalhava começou a me convidar para apresentações em eventos da escola, depois a secretária de Educação passou a me convidar a fazer abertura de eventos da secretaria. Os muitos convites passaram a atrapalhar as minhas aulas, daí veio a ideia do projeto, que me afastaria das aulas de matemática e me deixaria mais à vontade para trabalhar a poesia e o cordel na sala de aula.

JP Qual o objetivo do projeto?

JAR – O principal objetivo é o incentivo à leitura. Entre os objetivos gerais estão o conhecimento e o respeito ao meio ambiente, a cidadania, as boas relações pessoais, o conhecimento da história do município, o conhecimento de músicas e letras do cancioneiro popular nordestino e a valorização de nomes como Luiz Gonzaga, Jackson do Pandeiro, João do Vale, Antonio Francisco, Patativa do Assaré, e outros.

O projeto começa no início do ano e se estende até o fim. Semanalmente, eu visito uma turma de quinto ano de uma escola levando material previamente produzido na Secretaria de Educação. Todos os alunos recebem o material e não precisam devolver. As aulas são presenciais, com a participação do professor. O material que fica com os alunos passa a ser material de estudo durante a semana. A partir do segundo mês, o projeto se estende a outras turmas da escola. Os alunos do quinto ano, diretamente envolvidos no projeto, passam a fazer o que chamamos de intervenção cultural: visitam outras salas de aula e fazem apresentações culturais, cantando, recitando ou apresentando estrofes de cordel criadas por eles.

As escolas beneficiadas pelo projeto são as municipais, no entanto, muitas escolas estaduais me convidam a fazer explanações, apresentações e até shows de cordel e poesia, que eu atendo de acordo com a minha agenda.

O projeto desenvolve diversas atividades. Entre elas, oficina de construção da poesia de cordel, métrica, rima, sextilhas, quadras; estudo da música popular nordestina, oficina de xilogravuras, visita a feiras de livros como a realizada pelo Serviço Social do Comércio (SESC) do RN; visita ao Cajueiro de Pirangi, visitas a outras escolas para mostrar os conhecimentos, concurso de produção de sextilhas, empréstimo de folhetos de cordel.

O projeto é desenvolvido durante todo o ano letivo, e tem finalização geralmente nos primeiros dias do mês de dezembro, para não concorrer com as provas do final do ano. No encerramento, todos os alunos do projeto são levados ao auditório da Escola Municipal Augusto Severo, onde sobem ao palco e apresentam estrofes de um cordel produzido por eles e cantam músicas do cancioneiro nordestino. Ao final temos um espetáculo de cultura popular.

Os alunos demonstram grande interesse pelo projeto e ao longo do ano observa-se o aumento do prazer pela leitura e pela cultura popular. Os alunos passam a ter oportunidade de ouvir, de ler e conviver com a verdadeira cultura nordestina, que aos poucos está sendo substituída pela cultura de massa e pela música de má qualidade.

Em 2010, lancei o livro Conselhos Pra Juventude, uma coletânea de cordéis e poesias escritas para serem trabalhadas no Projeto O Uso do Cordel na Sala de Aula. O livro ganhou o Prêmio Mais Cultura de Literatura de Cordel, Edição Patativa do Assaré.

Leia também: Cordel colabora para melhorar aprendizagem em escola do RN

Acesse o blog de José Acaci

Estudantes de cidade gaúcha conhecem e aprendem cordel

A literatura de cordel, mais frequentemente associada ao nordeste brasileiro, também faz sucesso no sul. Projeto desenvolvido na cidade turística de Gramado, na Serra Gaúcha, agradou aos estudantes do sétimo ano do ensino fundamental da Escola Municipal Nossa Senhora de Fátima. A iniciativa, da professora Giovana Cristina Kuhn, foi desenvolvida nos dois primeiros trimestres de 2010.

Além de aprender a produzir textos de cordel, os alunos conheceram a história desse tipo de literatura, origem e principais características. “Os alunos amaram”, revela a professora, que está há seis anos no magistério. Graduada em letras — português e literatura —, ela tem mestrado em análise e métodos literários.

Para que os estudantes obtivessem um conhecimento mais profundo, Giovana abordou as semelhanças do cordel com outras formas métricas, como o repente — ou desafio — e o rap. Outro tema apresentado foi a xilogravura, a arte gravada na madeira, usada na ilustração do cordel. “Depois dessa etapa, aproveitamos cordéis de autores conhecidos, como Patativa do Assaré (Antônio Gonçalves da Silva [1909-2002]), e fizemos a análise literária”, explica a professora. Por último, os alunos produziram os próprios cordéis, que foram divulgados no mural e publicados no blog da escola.

Giovana lamenta não ter havido grande interesse de outros professores pela interdisciplinaridade. “Seria muito válido se tivesse acontecido, e o projeto teria maior abrangência”, avalia. Ela diz que gostaria de ter produzido uma encenação, mas não houve tempo.

Interesse — Quanto à receptividade dos alunos, revela ter sido excelente. “Eles demonstraram bastante interesse, principalmente porque conseguiram notar um parentesco entre o cordel e o rap”, salienta. Entre os resultados positivos obtidos, ela destaca a melhora na escrita no momento da produção textual. “Os alunos perceberam que língua portuguesa também pode ser divertida, alegre e emocionante, como as estórias dos cordéis.”

Na visão da diretora da escola, Mônica Raquel Scariot, o grupo que participou do projeto mostrou-se motivado, participativo e muito empenhado em realizar as atividades. Segundo ela, as turmas foram criativas e apresentaram trabalhos de autoria própria durante o Momento Cultural, uma atividade da escola. “Hoje, nossos alunos conhecem e leem cordéis e têm curiosidade em buscar atividades desse tema para serem trabalhadas nos momentos de leitura”, destaca Mônica. Formada em educação física, com pós-graduação em gestão educacional e 16 anos de magistério, ela está há quatro anos na direção. (Fátima Schenini)

Confira o blog da escola Nossa Senhora de Fátima

Literatura de cordel empolga alunos e promove aprendizagem

Os alunos de Maria Eliana Ferreira da Silva, de Teresina, gostaram muito do trabalho com literatura de cordel que a professora de língua portuguesa desenvolveu, em 2011, na Escola Municipal Marcílio Rangel. A empolgação dos estudantes do oitavo e do nono anos e a receptividade que tiveram em relação às atividades desenvolvidas surpreenderam a professora.

“Todos aceitaram ler e produzir cordéis, até os mais tímidos. Sem dúvida, esse trabalho rendeu bons frutos”, revela Maria Eliana. Ela conta que este ano já foi procurada por alguns alunos, interessados em saber se vão trabalhar novamente com cordel. “Isso, sem dúvida, mostra o quanto a atividade foi significativa para eles, o que, consequentemente, leva a melhorias na aprendizagem”, destaca a professora. Com graduação em licenciatura plena em letras, está há cinco anos no magistério.

Segundo Maria Eliana, o objetivo principal do trabalho que realizou foi de valorizar a cultura nordestina. Além de lerem cordéis feitos pela professora e cordelistas locais, os alunos tiveram que produzir seus próprios trabalhos. As atividades tiveram início com a leitura, expressiva, feita pela professora, de um cordel feito por ela, com elogios aos alunos. Depois, os estudantes tiveram que ler diversos cordéis levados pela professora para a sala de aula. Cada aluno devia ler uma estrofe, em voz alta, para perceber a musicalidade presente nesse gênero textual.

“Depois disso, começamos o trabalho com a análise da estrutura do cordel”, diz a professora. Após a observação das rimas e da musicalidade dos textos, os estudantes passaram para a produção de suas próprias rimas, que depois foram lidas para o restante da turma. “Concluímos as atividades pendurando os cordéis em barbantes e expondo o trabalho para toda a comunidade escolar”, explica Maria Eliana.

No ano passado, ela trabalhou sozinha, mas em 2012 pretende atuar de forma interdisciplinar, em parceria com outros professores. Também pretende aplicar algumas inovações, como levar os alunos para o laboratório de informática e aprofundar o estudo desse gênero literário. Ela quer que os estudantes produzam seus próprios textos e publiquem na internet, numa página que possibilite a divulgação do cordel. “Nesse espaço podemos ler, produzir e expor os nossos cordéis”, salienta a professora. (Fátima Schenini)

Projeto valoriza cultura afro-brasileira em escola de Mato Grosso

Apresentação de capoeira

Três professoras de Mato Grosso desenvolveram e participaram de um projeto de intervenção na Escola Estadual Irmã Lucinda Facchini, no município de Diamantino. O projeto e o artigo elaborados foram requisitos de conclusão do curso de aperfeiçoamento que Célia Bárbara do Couto Silva, Cleir Benedita Costa Santos, e Márcia Aparecida Timidati Raimundo concluíram no Núcleo de Educação Aberta e a Distância da Universidade Federal de Mato Grosso (Nead/ UAB/UFMT), sobre o tema Relações Raciais e Educação na Sociedade Brasileira.

Professora de língua portuguesa e 23 anos de magistério, Márcia Raimundo tem graduação em pedagogia e letras anglo-portuguesas e especialização em psicopedagogia. Graduada em história, a professora Cleir Santos leciona história há 14 anos. Enquanto Célia do Couto Silva, já aposentada, é formada em pedagogia.

O projeto foi executado de agosto a novembro de 2010, tendo como objeto de estudo o preconceito étnico-racial no âmbito escolar. As idealizadoras foram as professoras Jacilda Siqueira Pinho, de letras e Ivolina Razza, de história.

A finalidade foi dinamizar a construção do espaço de inserção da diversidade cultural, de modo a permitir o reconhecimento, pelos alunos, de sua própria identidade sociocultural, bem como o respeito e a valorização do pluralismo existente entre eles. Além disso, proporcionar uma convivência respeitosa entre os diversos grupos culturais, a aceitação da diversidade e o resgate da autoestima e autonomia.

A primeira tarefa foi a realização de uma reunião com gestores e professores da Escola Irmã Lucinda, para o planejamento das atividades a serem desenvolvidas. Na ocasião, ficou determinado que essa temática seria trabalhada pelos professores de todas as áreas do conhecimento.

O projeto implementou medidas no sentido de levar ao conhecimento do aluno a riqueza da cultura afro-brasileira existente na comunidade de Diamantino. De acordo com pesquisa feita nos arquivos da Casa Memorial dos Viajantes, a maior parte da população diamantinense, no período de 1750 a 1860, era formada por negros trazidos da África, de diversas nações e etnias. Assim, os alunos realizaram visitas ao sítio Caramba, ao Cajuru, e ao Asilo São Roque, locais de antigos quilombos.

Com o objetivo de valorizar a arte, beleza, moda e cultura africanas, foram feitas pesquisas sobre penteados, oficinas de cabelos e bijuterias, além de desfile de modas e confecção de jornal. Os estudantes puderam assistir a apresentação da Central Única da Favela (CUF), da peça de teatro Cabelo Pixaim e a palestra da jornalista Neuza Baptista Pinto, autora do livro Cabelo Ruim? A história de três meninas aprendendo a se aceitar. Conheceram, ainda, os instrumentos, as músicas e os principais movimentos da capoeira, bastante utilizada pelos antigos escravos como meio de defesa.

Os alunos tiveram a oportunidade de confeccionar peças artesanais em barro (panelas, caçarolas e fogão de lenha); madeira (monjolo, viola de cocho, colher de pau, gamelas); e folha de buriti (apá, utensílio para selecionar grãos). Os índios Pareci, da Aldeia Formoso, de Tangará da Serra, também foram convidados a participar do evento, quando apresentaram cantos e danças indígenas. (Fátima Schenini)

Acesse o site da escola

Ana Cristina Marinho Lúcio (UFPB): professores de todas as áreas podem trabalhar com o cordel

Ana Cristina Marinho Lúcio

Professora do Departamento de Letras Clássicas e Vernáculas e do Programa de Pós-Graduação em Letras da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), Ana Cristina Marinho Lúcio é doutora em letras e graduada em história. Autora de livros sobre literatura de cordel, também desenvolve pesquisas sobre literatura brasileira e africana e cultura popular.

Em sua visão, professores de todas as áreas podem realizar um trabalho conjunto com a literatura de cordel. “Artes, história, geografia, ciências podem caminhar juntas, desde que a literatura não seja um meio e sim um fim”, avalia. De acordo com ela, a inventividade, a ludicidade e o prazer estético devem estar em primeiro lugar.

Jornal do Professor – Qual a origem da literatura de cordel?

Ana Cristina Marinho Lúcio – Durante muito tempo os pesquisadores associaram a literatura de cordel nordestina ao cordel português. Pesquisas realizadas na década de 1990, pela professora Márcia Abreu, comprovam que a literatura de cordel portuguesa continha uma diversidade de gêneros (textos dramáticos, novelas, poemas, romances, contos) que não pode ser comparada à literatura de folhetos nordestina. O cordel no Brasil, como dizem os próprios poetas populares, é sinônimo de poesia rimada. Como afirma Márcia Abreu, o cordel pode ser associado muito mais a um gênero editorial (livros vendidos a preços populares, nas ruas, feiras, praças) do que a um gênero literário. No nordeste brasileiro os folhetos começaram a ser vendidos nas feiras ou de porta em porta, no final do século XIX, quando o poeta Leandro Gomes de Barros resolveu viajar até Recife e editar os seus versos e de outros cantadores populares da Paraíba. A partir daí passaram a circular nas feiras e nas praças os folhetinhos ou romances, que eram lidos pelos poetas e vendidos aos seus ouvintes (poucos eram leitores).

JP – Qual é a importância de se utilizar a literatura de cordel nas escolas?

ACML – A literatura de cordel é um tipo de poesia popular que circula no país, desde o seu início, de uma forma totalmente independente de grandes editoras e mercados livreiros. Os poetas fazem os versos, imprimem, vendem, recitam. Ou seja, controlam todo o processo editorial. Os poetas versam sobre tudo que acontece no país, acompanham as notícias (alguém importante morre e já surge um folhetinho), narram histórias de princesas, fadas, cavaleiros medievais, histórias de bichos, pelejas entre cantadores, histórias de amor ou vingança. Esse universo mágico, social, político, não pode ser excluído da sala de aula. Acredito que o lugar da literatura de cordel na escola deve ser o mesmo ocupado pela literatura clássica.

JP – A literatura de cordel atrai a atenção e o interesse dos alunos?

ACML – Os alunos se interessam por histórias bem narradas, por versos bem rimados. Nas experiências que temos feito (eu e o professor Hélder Pinheiro) com o cordel, a recepção dos alunos e professores é muito boa. As crianças adoram os versos sobre bichos, as fábulas, as histórias de assombração. Os jovens buscam histórias de amor e também são seduzidos pela rima bem feita, pela inventividade dos poetas. Os adultos sempre têm uma história para contar sobre cantadores famosos, parentes que aprenderam a ler com os folhetos, histórias de pelejas que duravam dias e noites.

JP – Quais os benefícios que sua utilização na sala de aula pode trazer à aprendizagem?

ACML – Os alunos aprendem a reconhecer nas vozes dos poetas populares a sua cultura, se identificam com os modos de vida, passam a respeitar os artistas populares. Esses são os maiores ganhos com a presença da literatura popular no cotidiano escolar. Os alunos devem, antes de mais nada, conhecer a rica produção de folhetos brasileira. Não acredito numa aproximação utilitarista da literatura na escola, primeiro os alunos devem ser seduzidos para a leitura (e um professor leitor é o principal responsável por isso). Aprender sobre as diferenças culturais, sobre as diversas formas de abordar um assunto, ter contato com os próprios sentimentos, se reconhecer no outro, esses são os maiores ganhos quando a literatura (popular ou não) assume um lugar na escola.

JP – Como os professores podem utilizar o cordel? Que atividades podem ser realizadas?

ACML – O professor deve conhecer os vários gêneros da literatura de cordel, conhecer os interesses dos seus alunos, e realizar uma prática cotidiana de leitura. Nas séries iniciais, os folhetos sobre bichos e as fábulas podem ser lidos, encenados, ilustrados. As crianças também podem conhecer o processo da xilogravura e ilustrar seus livros com essa técnica. Os professores, junto com os alunos, podem realizar uma pesquisa na comunidade sobre a literatura popular (no Nordeste, muitas vezes, os pais dos alunos ou funcionários das escolas são poetas). A escola pode abrir as portas para a poesia popular, realizar exposições de xilogravuras, disputas entre cantadores, concursos de poesia encenada.

JP – O cordel deve ser utilizado nas aulas de português e literatura ou nas aulas de artes? Ou sua utilização deve ser interdisciplinar?

ACML – Acredito que os professores de todas as áreas podem realizar um trabalho conjunto com a literatura de cordel. Artes, história, geografia, ciências podem caminhar juntas, desde que a literatura não seja um meio e sim um fim. A inventividade, a ludicidade, o prazer estético devem estar em primeiro lugar.