08/02/2010
Maria Cristina Weitzel Tavela
Modalidade / Nível de Ensino | Componente Curricular | Tema |
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Educação de Jovens e Adultos - 2º ciclo | Língua Portuguesa | Análise linguística |
Ensino Médio | Língua Portuguesa | Produção, leitura, análise e reflexão sobre linguagens |
Ensino Fundamental Final | Língua Portuguesa | Análise linguística: léxico e redes semânticas |
• Ler, compreender e interpretar a reportagem;
• Ler, compreender e interpretar a charge;
• Entender os recursos verbais e não-verbais utilizados pelo autor da charge;
• Entender os diferentes objetivos comunicativos dos gêneros em questão.
Habilidades básicas de leitura e escrita.
Etapa 1
PROFESSOR: Antes de dar início às atividades, pergunte a seus alunos:
Vocês têm algum animal de estimação? Qual?
Como vocês o tratam? Costumam comprar-lhes roupas? Dar banhos com xampus cheirosos? Colocar gravatas e sapatos? Caso não o façam, sabem de pessoas que os tratram assim? Vocês acham apropriada esse tipo de relação com o animal?
Leve os alunos a refletirem sobre o modo como muitos animais de estimação estão sendo tratados atualmente, qual seja, como crianças: muitas pessoas dispensam a esses animaizinhos tratamentos próprios de seres humanos: alguns dormem com eles, compram-lhes roupas e sapatos e até fazem festas de aniversário. É interessante ressaltar o aumento no número de lojas especializadas em produtos para "animais", que são próprios de seres humanos, entre eles, além dos já citados, roupas e sapatos, são também ofertados biscoitos, xampus, brinquedos, etc. Tal fato reflete uma recente mudança no comportamento das pessoas em relação aos bichos de estimação.
Etapa 2
Leia com seus alunos os fragmentos do texto abaixo, por nós selecionados da Revista Veja (julho/2009), que discute essa temática. O texto pode ser lido na íntegra através do link:
http://veja.abril.com.br/220709/nossa-familia-animal-p-084.shtml
Sugerimos, primeiro, uma leitura silenciosa para que o aluno possa compor sua opinião a respeito do assunto, sem a interferência do professor. Depois, peça para que a turma leia em voz alta, de modo que vários alunos participem. Para isso, cada aluno pode ler um parágrafo, por exemplo.
NOSSA FAMÍLIA ANIMAL
A relação milenar entre homens e bichos de estimação entrou numa nova fase. Mais do que amigos, eles agora são como filhos. E a convivência pode ser tão complicada quanto a dos pais com um adolescente temperamental
Iniciada entre 25 000 e 50 000 anos atrás, a relação entre homens e bichos domesticados teve, a princípio, fins essencialmente utilitários. Cães vigiavam aldeias, ajudavam a caçar e pastorear. Gatos eram bem-vindos por exterminar ratos e outras pragas. Provavelmente a afeição, desde cedo, teve um papel nesse relacionamento. O primeiro indício concreto de um elo de emoção entre um humano e um animal data de 12 000 anos: são restos fossilizados de uma mulher abraçada a um filhote de cão, encontrados no Oriente Médio. O certo é que o afeto remodelou, ao longo dos séculos, os laços que nos ligam a cães e gatos. E continua a remodelá-los. É o que revelam pesquisas de comportamento ao mostrar que, mais até do que amigos, os bichos de estimação são hoje vistos como filhos ou irmãos em boa parte dos lares que os acolhem. Na Europa e nos Estados Unidos, o porcentual de donos que consideram seus bichos como familiares já chega a 30%. No Brasil, de acordo com pesquisas da multinacional francesa Evialis, uma das maiores fabricantes de alimentos para animais de estimação no mundo, esse índice é de 10% - mas aponta para cima.
Como todas as relações ancoradas na emoção, essa não é imune a crises. Os donos muitas vezes não sabem impor os devidos limites ao comportamento de seus companheiros de quatro patas - e o drama ganha cores semelhantes ao dos pais que enfrentam adolescentes revoltosos. Em meio à crescente indústria de produtos e serviços para bichos, emergi u até mesmo uma nova categoria profission al - a dos psicó logos de animais, adestradores especializa dos em lidar com cãe s e gatos neuróticos . Não, a neurose não é uma exclusividade humana. "Pessoas que aboliram a simplicidade de sua vida procuram, por meio de seus cães, reencontrá-la", diz o mais famoso desses adestradores, o mexicano Cesar Millan. "Elas precisam, no entanto, se educar para isso”.
(...)
A Radar Pet - uma pesquisa recém-concluída com 1 307 pessoas de oito metrópoles, idealizada por uma entidade do setor, a Comissão Animais de Companhia (Comac) - fornece uma visão da intimidade dos brasileiros com seus cães e gatos. Eles estão presentes em 44% dos lares das classes A, B e C - e em lugares como Porto Alegre, Curitiba e Campinas já figuram em mais de metade das casas. O novo status que cães e gatos estão assumindo nos lares tem pelo menos duas razões sociais distintas. A primeira diz respeito ao encolhimento das famílias. Hoje são raros os casais que optam por ter mais de um ou dois filhos - o terceiro, que costuma desembarcar em casa quando esse s já estão mais crescidos, é quase sempre um cão ou gato. Como demonstra o Radar Pet, as famílias em que os filhos adolescentes ou adultos ainda moram com os pais são aquelas em que a presença dos bichos é mais forte. O segundo fator é o crescimento do contingente de pessoas que vivem sozinhas nas gr andes cidades e busc am um companheiro animal. Cães e gatos têm chances menores de obter abrigo nos lar es formados por casais com filhos pequenos. "Nessa fase, as crianças monopolizam a s atenções. Não sobra tempo para os animais", diz o executivo Luiz Luccas, presidente da Comac.
As mesmas contingências da vida contemporânea que levam as pessoas a buscar uma proximidade maior com os animais também agravam os problemas da convivência. "A rotina maluca faz com que muitos donos não consigam lhes devotar o devido tempo e atenção", diz o especialista em comportamento animal César Ades. Em casos extremos, os cães se tornam agressivos ou depressivos. Os mais angustiados pela ausência do dono partem até para a automutilação. A preocupação exacerbada com a saúde é outro desdobramento da humanização dos bichos, que contam hoje com recursos médicos avançados, como exames de ressonância magnética e tomografia computadorizada. Plásticas com fins unicamente estéticos são proibidas pelos conselhos de veterinária, mas algumas clínicas oferecem intervenções para melhorar a aparência de um bicho afetado por um acidente ou derrame. "O tratamento de uma doença crônica custa por volta de 8 000 reais", informa Mário Marcondes, diretor do Hospital Veterinário Sena Madureira, o maior de São Paulo.
(...)
A principal forma de comunicação entre o homem e os cães é a linguagem corporal - cães são exímios leitores de gestos e expressões faciais. Nem por isso são surdos à linguagem verbal. Inventor de um famoso ranking de inteligência das raças caninas, o pesquisador americano Stanley Coren averiguou que os lulus mais espertos são capazes de agir em resposta a até 165 palavras simples - mesmo número de vocábulos dominado por uma criança de 2 anos. Um experimento brasileiro é uma demonstração impressionante da capacidade dos cães de associar palavras e símbolos a determinados objetos e ações. Conduzido por César Ades e pelo zootecnista e adestrador Alexandre Rossi, o estudo tem como estrela Sofia, uma vira-lata que aprendeu a acionar um teclado com opções de imagens para expressar seus desejos, como comer ração ou dar um passeio. De outro lado, os cães, mesmo investidos da condição privilegiada de integrantes da família, ainda são mal compreendidos pelos humanos. O balanço de rabo, universalmente entendido como sinal de alegria, não significa exatamente isso. A tradução sugerida pelo pesquisador Stanley Coren é a seguinte: "Aceito ser submisso a você, mas espero ganhar algo em troca".
Cães são programados para seguir um líder de matilha - e para, ao menor sinal de fra queza do líder, se im por. Esse traço da pe rsonalidade canin a é a matéria-prima dos programas televisivos de adestramento. Com seu impressionante domínio da lingu agem corporal dos animais, Cesar Millan doma até os mais renhidos pit bulls. Esse tipo de enfrentamento direto, contudo, já suscitou críticas - inclusive de entidades de defesa dos animais. Alguns profissionais dizem que os métodos de Millan são antiquados ao enfatizar a punição do cão indisciplinado. A tendência preponderante hoje é o chamado adestramento positivo, em que se obtém a obediência por meio de recompensas, como comida. Seja ela reforçada por meios punitivos ou positivos, a disciplina dos bichos tornou-se uma questão urgente dentro dos lares. Tanto quanto as crianças, eles precisam de limites. Os direitos humanos dos animais devem ter sua contrapartida. Não é possível ter a mesma atitude do filósofo francês Jean-Jacques Rousseau, um dos luminares do século XVIII. Ele, que abandonou cinco filhos, nutria adoração genuína por seu cachorro, Sultan. Para Rousseau, as almas despóticas não toleravam gatos por que o gato é livre e não aceita ser escravo. Quanto a Sultan, ele escreveu: "Meu cachorro era meu amigo, não meu escravo: sempre tínhamos a mesma vontade, mas não porque ele me obedecesse". Entusiasta do mito do bom selvagem, Rousseau era mesmo um romântico.
Fonte: Revista Veja. Ed Abril, n. 21 22 , 22 jul 2009.
Disponível em: http://veja.abril.com.br/220709/nossa-familia-animal-p-084.shtml
Etapa 3
PROFESSOR: Em seguida, após as leituras, proponha atividades de interpretação do texto lido. Segue abaixo algumas sugestões de questões:
1) Qual é o indício que permite afirmar que o "elo de emoção entre um humano e um animal data de 12 000 anos"?
2) O texto inicia-se descrevendo a relação do homem com os animais a partir dos seus primeiros indícios. Essa estratégia de argumentação do autor é utilizada para:
a) convencer o leitor de que, naquela época, a relação entre homem e animal era muito mais adequada
b) convencer o leitor de que as relações entre homem e animal evoluíram muito desde então
c) para realçar a idéia de que a relação entre homem e animal mudou substancialmente
d) para comprovar que a relação entre homem e animal pouco se alterou
3) Cite dois fatores que contribuíram para o “novo status” que os animais estão ganhando nos lares.
4) Quais são as consequências para os animais da falta de atenção dos donos?
5) A principal forma de comunicação entre o homem e os cães é a linguagem corporal. Retire do texto dois exemplos dessa linguagem.
6) O balanço do rabo dos animais sempre foi associado à alegria. Mas, segundo o pesquisador Stanley Coren, qual é a "tradução" mais adequada para esse gesto?
7) De acordo com o texto, por que programas televisivos de adestramento de cães, como os de Cesar Millan, são criticados?
8) O autor afirma que a tendência atual é o “adestramento positivo”. Explique, com suas palavras, como ele funciona.
Etapa 4
Leve a charge abaixo fotocopiada para seus alunos. Peça que eles não somente leiam as falas dos balões, mas que observem os desenhos, que também trazem informações importantes para a compreensão da charge.
FONTE: http://www.brasilwiki.com.br/foto.php?id_foto=1340
(Publicado em 24/04/2008 pelo wiki repórter Frederico Ponzio , São Paulo-SP)
PROFESSOR: Essa charge apresenta uma infinidade de pontos que podem s er trabalhados. A começar pelo título "Mundo cão", que é ambíguo. Podemos interpretá-lo de duas formas: por um lado, "mundo cão" é o mesmo que "mundo cruel, injusto". Mas levando em conta o contexto da charge, podemos interpretá-lo como "o mundo do cão", ou seja, um mundo no qual os cães são mais valorizados que os seres humanos. É interessante chamar a atenção dos alunos para as imagens: no primeiro quadro, a imagem do idoso com os braços abertos pronto para receber a comida quentinha, saindo fumaça. No segundo, temos a expressão de espanto dele com a atitude da mulher e, o cão, todo feliz, abanando o rabo. Chame a atenção também para o sentido do adjetivo "pobre", em "pobre cãozinho", que usado antes do substantivo tem o sentido de "coitado", "infeliz". Já usado depois do substantivo, tem o sentido de "desprovido de recursos ou posses". Para que os alunos entendam essa diferença de sentido, passe as seguintes frases no quadro e pergunte se eles percebem alguma diferença:
1) Ela é uma moça pobre.
2) Ela é uma pobre moça.
Na primeira frase entendemos que a moça é desprovida de recursos financeiros e, na segunda, que ela é uma "coitada".
Etapa 5:
PROFESSOR: Nessa etapa, os alunos farão a identificação do tema dos dois textos e perceberão uma diferença básica entre a reportagem lida e a charge.
Para isso, pergunte a eles qual é o tema tratado nos dois textos.
Espera-se que eles percebam que tanto a reportagem quanto a charge tratam de um mesmo tema: a relação homem/animal. Porém, enquanto que a reportagem aborda mais a questão da "humanização" dos animais, a charge aborda mais a "desumanização" do homem.
Se achar conveniente que os alunos percebam também diferenças quanto aos recursos utilizados pelos gêneros reportagem e charge, reflita com eles que, enquanto o gênero reportagem aprofunda um tema, informando o leitor sobre pesquisas, opinião de especialistas no assunto e diferentes pontos de vista sobre o assunto, a charge utiliza a imagem (linguagem não-verbal) e texto (linguagem verbal) para expressar o ponto de vista do autor. Leve os alunos, portanto, a perceberem que esse tema da humanização está sendo tratado nos dois gêneros em questão, mas com objetivos diferentes. Enquanto o primeiro gênero tem o objetivo apenas de informar o leitor, o segundo tem o objetivo de chamar a atenção do leitor, criticando um comportamento social, por meio da ironia.
PROFESSOR: Proponha uma atividade em conjunto com o professor de Ciências. Peça aos alunos que pesquisem as consequências que esse novo comportamento do homem traz para o animal. Afinal, ser "mimado" pelo humanos faz bem ou faz mal para o animais?
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