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Aprendendo a ler nas entrelinhas

 

10/12/2009

Autor e Coautor(es)
Maria Luiza Scafutto
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JUIZ DE FORA - MG Universidade Federal de Juiz de Fora

, Maria Cristina Weitzel Tavela

Estrutura Curricular
Modalidade / Nível de Ensino Componente Curricular Tema
Ensino Médio Língua Portuguesa Relações sociopragmáticas e discursivas
Ensino Fundamental Final Língua Portuguesa Língua oral e escrita: prática de escuta e de leitura de textos
Educação de Jovens e Adultos - 2º ciclo Língua Portuguesa Linguagem escrita: leitura e produção de textos
Dados da Aula
O que o aluno poderá aprender com esta aula

Pretende-se ajudar o aluno a inferir informações implícitas nos textos, conscientizando-o de que o sentido de um texto se constrói não só com o conteúdo linguístico, mas também com conhecimentos prévios, de mundo, enciclopédicos e fazendo inferências da soma de todas as informações que o leitor tem disponíveis.

Duração das atividades
três aulas de cinquenta minutos
Conhecimentos prévios trabalhados pelo professor com o aluno

O aluno já deve conhecer um pouco sobre tipos de narrador e personagens.

Estratégias e recursos da aula

A partir da releitura compartilhada do pequeno conto abaixo, ajudar o aluno a construir sentidos do texto que não estão claramente colocados.

ATIVIDADE I

Vamos ler juntos um caso do famoso detetive, criado por Ivan Ângelo, Hélio Delegado, retirado do livro Comprador de Aventuras e outras crônicas da Coleção Para Gostar de ler – vol.28.
Em um primeiro momento, os alunos deverão ler, sozinhos. Em seguida, o professor vai direcionar a leitura parágrafo por parágrafo.

TEXTO I

O Sequestro do Menino Pobre

1 - Não pense que lhe conto estas histórias pra me vangloriar. Conto porque são a minha vida, faço com elas o que bem entender. Padre, advogado e médico é que têm compromisso de segredo. Eu não. Polícia tem duas mães: uma dentro de casa e outra pra andar na boca dos outros. Faroleiro, eu? De jeito nenhum. Cada um conta como viu e ninguém vê com o olho do outro. Se você for pedir a um ex-colega meu pra contar o caso do menino pobre que foi sequestrado, ele vai contar de um jeito, e eu conto de outro. Ele vai dizer que foi um grande fracasso na minha carreira. Foi, foi mesmo. Mas tem um outro lado do qual até hoje quem sabe sou só eu e mais uns três. Conto, conto já. Mas sem nomes.
2 - Entrei na história porque o rapaz, o pai do menino, era meu mecânico. Como, de quê? Vocês jornalistas são engraçados com essa mania de dados. Quando um cara como eu fala “meu mecânico” , é mecânico de quê? De avião? Claro que é de carro, pó. O meu setor na época era, se não me engano, furtos e roubos. Mas toda hora estavam me requisitando. Hélio Delegado pra lá... Isso foi antes da sacanagem que me fizeram, que me sujou na polícia. Um dia eu conto. Tá, tá bom, já volto pro caso.
3 - Bom, então sequestraram o filho do meu mecânico e ele me pediu um help. A divisão de sequestros já estava no caso, eu entrei assim no paralelo. O menino, uma graça de garoto, loirinho de olho azul, quatro anos, foi visto pela última vez numa creche da prefeitura na periferia de São Paulo. Capão Redondo, conhece? Nem queira. Ninguém reparou com quem ele saiu. Não enganei o rapaz, não pintei um quadro muito bom pra ele. Quando me chamou, já fazia dois dias que o menino estava sumido. Claro que não, quem é que vai pedir resgate de pobre de Capão Redondo? O casal vivia bem, nem brigava. Me lembro que ele perguntou: será que foi cigano? Oh, meu Deus, cigano não existe mais. Quer dizer, existe, mas não aqueles bandos que passavam pelas cidades vendendo tachos de cobre e trocando cavalos e carregando filhos dos outros. É, antigamente existia. Pois até o Cony não foi roubado? É, esse, Carlos Heitor Cony, escritor, jornalista. Sabia não? Pois então: foi roubado quando criança, viveu uns cinco anos no meio dos ciganos. Ah, como ele voltou não sei.
4 - Ok, vamos voltar pra nossa história. Bom, aí falei pro mecânico que só havia quatro hipóteses: ou o menino se perdeu, ou roubaram pra vender, ou pra criar como filho, ou pra alguma violência. Se estivesse perdido, como sabia falar, acabaria aparecendo. Trabalhei primeiro com a hipótese de roubo para criar. Os colegas da divisão de sequestro apostavam na violência, tarado, sacrifícios humanos, essas coisas. Cabeça de polícia vai ficando ruim com as barbaridades que vê. Polícia devia ter psicólogo de tanto em tanto tempo, igual outro psicólogo tem, pra esvaziar as merdas que ficam na cabeça. Dá aquela descarga e pronto, sai de lá gente de novo.
5 - Tá bom, vamos ao que interessa. Investiguei primeiro dentro da escolinha. A única que mereceu uma olhada mais demorada foi uma assistente social belga que estava encerrando um trabalho de dois meses na região, para a Unesco. Foi na época da epidemia de meningite em São Paulo, lembra? Mas ela estava no Brasil com o marido e o filhinho dela, já tinha levado o filho à escolinha várias vezes , os documentos da f amília estavam em or dem. Aí mandei inves tigar a vizinhança, Ju izado de Menores, ro doviárias, aeroporto s, mulheres que tinham perdido filhos em hospitais, fui a programas de TV com os pais, aquele drama... Nada. Os colegas investigaram macumbeiros, matagais, vendedores de crianças... Nada. Nada, nada, nada. Aí o caso foi esfriando, o pessoal foi me gozando – ah, cadê o grande detetive? – fui ficando sem saída, e desisti.
6 - O caso caiu naquela água morna, em que a polícia só diz pra família que está investigando. Está nada, está noutra. Foi considerado na polícia um grande fracasso na minha carreira. Fazer o quê? Aceitei. Mas aquilo ficou na minha cabeça.
7 - Uns três meses depois, ou menos, é, menos, fui arrumar o carro e perguntei pro rapaz, meio constrangido, como estava o caso. Nada ainda, ele disse, mas não tinha perdido as esperanças. Mostrou a última foto do menino na escola, feita pela professora, despedida da tal moça da Unesco. Passava a mão assim na carinha do menino, triste pra caramba. Saí dali com uma idéia e fui à casa onde a belga tinha morado por três meses. Boa moça, ótima moça, disseram todos. Coitadinha. Coitadinha, por quê? Sabia não? O filhinho dela morreu de meningite quando ela tava aqui no Brasil. Aí, pá!, me bateu: burro, burro, burro! Estava resolvido o caso.
8 - Como que eu fiz pra recuperar o garoto? Aí é que está o segredo. Tinha de ser relâmpago, senão eles sumiam. Embarquei com o pai do menino pra Bélgica, na moita, já com passaporte do menino prontinho pra volta – não me pergunte como arranjei o dinheiro e os documentos, que não vou contar -, localizamos os falsos pais, o menino, a escola, e foi só o pai abrir os braços sorrindo que o menino correu pra ele. O casal belga deve estar até hoje sem saber o que aconteceu. Amor com amor se paga.

Vocabulário:

Faroleiro: pessoa que gosta de contar vantagem.
Na moita: às escondidas.

Leitura compartilhada do primeiro parágrafo

1. Ivan Ângelo usou uma estratégia interessante para contar a história do sequestro do menino pobre: através das falas de um personagem, marcadas com travessão, que a história é contada.
a) Quem é o personagem dono dessas falas?
b) Qual informação explícita no texto nos possibilitou responder a letra a?
c) Com quantos interlocutores ele está conversando?
d) Como podemos comprovar a resposta da letra c?
2. Já no primeiro parágrafo, podemos perceber que há dois momentos em que o interlocutor interrompe o policial:
a) Quais são esses momentos?
b) No primeiro momento, percebe-se que o interlocutor fez algum comentário sobre a pessoa do policial. O que o texto nos autoriza dizer sobre este comentário?

Leitura compartilhada do segundo parágrafo


3. Que frase deste parágrafo me informa a profissão do interlocutor?
4. O delegado ficou irritado com o jornalista:
a) Que pergunta o jornalista deve ter feito que deixou o delegado irritado?
b) Por que esta pergunta o irritou?

5. No final deste parágrafo, percebe-se nova interrupção do jornalista. O que ele poderia ter dito nesta interrupção?

Leitura compartilhada do terceiro parágrafo

6. O texto nos autoriza dizer que o jornalista conhecia Capão Redondo? Por quê?
7. Diga que pergunta o jornalista pode ter feito ao Delegado sugerida pelo trecho: “Claro que não, quem é que vai pedir resgate de pobre de Capão Redondo?
8. Seria verdadeiro dizer que o jornalista nunca ouvira falar de Carlos Heitor Cony? Por quê?
9. Explicite a referência, ou seja, diga a que ou a quem se refere a palavra em itálico:
a) Não enganei o rapaz... ____________________________________________
b) O casal vivia bem ... ____________________________________________

Leitura compartilhada do quarto parágrafo

10. Que relação há entre o que o Delegado está contando e a sua afirmação de que polícia devia ter psicólogo de t empos em tempos?

Leitura compartilhada do quinto parágrafo

11. Quando estamos conversando, é comum desviarmos o assun to para temas paralelos. Considerando o final do quarto parágrafo, o que neste trecho me autoriza dizer que o jornalista estava mesmo interessado era no caso do sequestro?
12. “Mas ela estava no Brasil com o marido e o filhinho dela...”
Considerando a nacionalidade da assistente social, que características físicas você pode atribuir a esta família?

Leitura compartilhada do sexto e do sétimo parágrafos

13. “Mostrou a última foto do menino na escola, feita pela professora, despedida da tal moça da Unesco. Passava a mão assim na carinha do menino, triste pra caramba. Saí dali com uma ideia...”
a) Volte ao terceiro parágrafo, leia a descrição do garoto sequestrado e responda que ideia o detetive pode ter tido no momento acima?
b) Que informação do quinto parágrafo nos ajuda a responder a pergunta anterior?
c) “Estava resolvido o caso.” Explicite a solução que ele encontrou.

Leitura compartilhada do oitavo parágrafo

14. No primeiro parágrafo, Hélio Delegado diz que se algum ex-colega seu fosse contar este caso, diria que foi um fracasso em sua carreira, mas que havia um outro lado da história que poucos conheciam:
a) Que lado da história é esse?
b) Por que não podia contar para todo mundo?


15. Explicite a mensagem contida na frase final do texto, ou seja, diga claramente a que ela se refere no contexto da história: “Amor com amor se paga.”

16. Baseando-se nas informações oferecidas pelo texto sobre as crianças e a assistente social, explique por que a polícia teve dificuldade de descobrir quem sequestrou o menino.

ATIVIDADE II

Você já leu o caso “O Sequestro do Menino Pobre” e conheceu o personagem-narrador, Hélio Delegado. Conheça agora mais um caso do famoso detetive, criado por Ivan Ângelo:

TEXTO II
Ratinho de Praia

1 - Olha, não é pra contar vantagem não, nem pra desfazer da rapaziada nova, mas no meu tempo, quer dizer, quando meu nome dava prestígio à polícia na imprensa e os de lá de cima enchiam a minha bola por causa disso, Hélio Delegado pra cá, Hélio Delegado pra lá, passavam pra mim os casos difíceis até de outros departamentos é, os colegas ficavam pê da vida, mas fazer o quê, os homens é que mandavam -, no meu tempo, eu ia dizendo, no meu tempo um caso como o dessas pessoas que estão sendo baleadas na praia não demorava tanto assim pra se resolver. Cara, três feridos e a polícia não tem a menor idéia de por onde começar? Vocês da imprensa que conversam com os homens lá de cima podem dizer pra eles: se precisarem de ajuda é só me chamar. E não precisam ficar com vergonha não: eu não quero nem aparecer nos jornais. Não tenho mais essas vaidades.
2 - Quer ver um caso de praia que resolvi na maior? Todo balneário grande tem rato de praia, não é só no Rio de Janeiro. O Rio tem mais fama porque seus colegas da imprensa carioca odeiam o Rio. Dizem que amam, mas é amor de bandido: porrada todo dia. Bandido bate na mulher só pra treinar, é como o saco de areia do lutador de boxe. Nada de pessoal, é só pra manter a forma. Tá bom, vamos ao caso. Eu estava na praia em Santos, que eu também sou filho de Deus, estava ali curtindo o meu domingo e um garoto, um desses ratinhos de praia, furtou uma pochete e saiu correndo. Um cara esticou uma perna, o garoto caiu, e aí baixou todo mundo em cima dele, pra dar porrada. Se eu não estou lá, se não é o Hélio Delegado pra segurar a turma, na base da autoridade, o menino já era. Revistei a pochete roubada, que o ratinho nem teve tempo de abrir, e tinha lá cartão de crédito, identidade, cheque, e era tudo de mulher. Olhei a fotografia e vi que aquela cara não me era estranha, já a tinha visto em algum lugar. Fui com o menino até onde ele tinha surrupidado a pochete e nada da tal mulher. Aí o ratinho me surpreendeu com essa: a bolsa estava com um hom em, não com uma mulhe r! E o cara também não estava mais lá.
3 - Resumo da ópera: segurei o garoto comigo para ver se ele reconhecia o ca ra andando ali pelas r uas próximas, um moreno, de bigode preto, cabelo preto, de uns 40 anos. É mole, achar moreno de bigode em Santos? Pior: todo mundo de sunga, todo mundo igual – ta bem pra você? Rapaz, quando passamos por uma banca de jornais, estava lá a foto da mulher na primeira página! Assassinada! Latrocínio.
4 - Claro, conclusão lógica. A pessoa que estava com a pochete na praia seria o assassino. O jornal não falava de nenhum suspeito. O delegado – desculpe, é meu amigo, mas é um super, um gigantesco, um mastodôntico babaca – disse pro jornal que era um latrocínio comum, o porteiro falava de uma dupla que esteve no prédio, um negro e um loiro, o jornal logo botou nome nos dois: a dupla café com leite. Também vocês da imprensa, vou te contar, viu? Essa dupla parece que existia, andou aprontando por aí. Deixa pra lá,. Eu e o garoto passamos o resto da tarde dando voltas, de olho nos caras morenos de bigode.
5 - Sabe que eu gostei do garoto? Quer dizer: malandro, sem-vergonha, solto na rua, pelo jeito não ia dar nada que prestasse, mas inteligente, vivo. Observador. Essa gente já cresce na maldade do detalhe. Vê coisas que eu e você não vemos. Paguei lanche pra ele, ficamos ali de papo, na campana. Foi ele que me deu a dica, boca cheia de sanduíche. Disse que naquele milionésimo de segundo que antecede o furto, o cara parece que sacou que a pochete ia ser roubada e não fez nada. Na hora que o pivete deu o bote na bolsa, os dois bateram olho no olho e o menino achou que o cara estava deixando, encorajando ele!
6 - Aí me deu um estalo: o cara estava tentando se livrar daquilo e o garoto seria uma espécie de mãozinha do destino. Imaginei foi isso: o tal do bigode tinha ido à praia com a intenção de esquecer aquilo lá, pra parecer que a própria mulher tinha perdido. Não queria ser visto com objetos da vítima. Ora, ficar ou não com o objeto não é preocupação de vagabundo escolado. Não tá nem aí pra pista. Conclusão lógica: o assassino conhecia a vítima. E outra: tinha gente que sabia disso.
7 - Comprei todos os jornais. A mulher era uma perua aposentada ainda nova, 54 anos, divorciada, tinha uma filha casada morando em São Paulo. Gostava de dançar, de jóias, de se pintar, de fazer ginástica, de andar no calçadão. De vez em quando levava um rapaz pra casa. Aposto que eram garotos de programa. Isso não batia com o nosso moreno de bigode. Morava sozinha, perto da praia, no Boqueirão. Esperei o garoto acabar o sorvete e fomos lá, dar uma espiada. Já estava ficando de tardezinha e eu não sabia o que ia fazer com aquele garoto.
8 - Quando chegamos no prédio, ele bateu o olho e não teve dúvidas: o moreno de bigode era o porteiro da noite.
9 - O ratinho de praia? Hoje é policial. Gostou de ser detetive.

Avaliação

1. Ivan Ângelo contou a história do ratinho de praia através de um diálogo em que apenas as falas de um personagem aparecem na superfície do texto. Sobre essa estratégia responda:

a) De que personagem são as falas?
b) Com quem este personagem está conversando?
c) Localize o trecho que comprove a resposta dada na letra anterior.
d) O texto nos autoriza dizer que, no momento deste diálogo, Hélio Delegado é ainda jovem?

2. No segundo parágrafo, percebe-se que houve uma interrupção, por parte do interlocutor:
a) Que frase nos leva a essa conclusão?
b) O que o jornalista poderia ter dito nesta interrupção?

3. Mesmo não conhecendo uma palavra ou expressão, é possível atribuir-lhe um significado pelo co-texto,utilizando também seus conhecimentos prévios. Qual significado pode ser atribuído a cada uma das expressões em itálico:
a. “ Todo balneário grande tem rato de praia ...” (fala 2)
b. “O delegado [...] disse pro jornal que era um latrocínio comum...” (fala 4)
c. “ Paguei lanche pra ele, ficamos ali de papo, na campana.” (fala 5)

4. “...o jornal logo botou nome nos dois: a dupla café com leite.”
a) Por que os jornalistas apelidaram assim a dupla?
b) Como Hélio Delegado descartou a possibilidade de que a dupla “café com leite” fosse responsável pelo crime?

5. Que pergunta podemos inferir que foi feita antes da última fala?
6. O caso policial relatado aconteceu pouco tempo antes deste diálogo ocorrer? Especifique duas informações, uma do primeiro e outra do último parágrafos, que autorizaram sua resposta.

Opinião de quem acessou

Quatro estrelas 4 classificações

  • Cinco estrelas 3/4 - 75%
  • Quatro estrelas 1/4 - 25%
  • Três estrelas 0/4 - 0%
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