04/02/2010
BELO HORIZONTE - MG ESCOLA DE EDUCACAO BASICA E PROFISSIONAL DA UFMG - CENTRO PEDAGOGICO
Edna Magalhães Santana
Modalidade / Nível de Ensino | Componente Curricular | Tema |
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Ensino Médio | Língua Portuguesa | Produção, leitura, análise e reflexão sobre linguagens |
Ensino Médio | Língua Portuguesa | Recursos linguísticos em uso: fonológicos, morfológicos, sintáticos e lexicais |
Ensino Médio | Língua Portuguesa | Aspectos cognitivo-conceituais: mundo, objetos, seres, fatos, fenômenos e suas inter-relações |
- Identificar as características do eu-lírico e o caminho percorrido por ele durante os tempos.
-Relacionar a vassalagem do século XVI ao cortejo e às representações do desse, nas canções modernas.
- Saber relacionar as características dos textos (canções ) modernos aos textos literários produzidos sob a égide das relações de vassalagem ( ou das relações amorosas).
- Analisar a/as representações da mulher, a/as representações do amor conjugal e seus deslocamentos ao londo dos tempos.
- Identificar as características do texto poético, enquanto gênero textual, bem como sua transgressão, ou hibridização, nas canções modernas.
- Quais as relações da poesia, enquanto gênero textual, com as canções populares.
- Problematizar as questões relativas aos textos/ canções: seriam esses, poesias modernas ou constituem-se como um novo gênero transgressivo.
- Identificar nas cantigas de amor e de amigo as primeiras manifestações da literatura brasileira.
- Questionar como as cantigas, recitadas nos palácios, conhecidas , na época como poesia palaciana podem estabelecer um paralelo intertextual com os textos das canções dos séculos XX e XXI.
Para essa aula é importante, professor, você iniciar os conceitos de vassalagem, de cortesia e da poesia palaciana e a época, em que elas aparecem. Enfatize, também, que a vassalagem,enquanto um cortejo, uma forma de conquistar o ser amado e a poeia palaciana eram formas de música e de cortesia.
É preciso, então que as posias palacianas sejam apresentadas como um componente textual com suas características próprias (verso, prosa, rima, trovas, vassalagem amorosa, cortejo) .
- Estabelecer relações intertextuais ( o aluno precisa saber desenvolver comparações, para tanto
Nesse sentido, os alunos precisam visualizar os textos das trova s como elementos poéticos (versos, rimas) mas que possuem uma organização própria, tal como: o verso, as metáforas as rimas.
- Reconhecer no texto poético, as características de um gênero texdtual.
- Os alunos devem ter uma consciência, também, do eu-lírico como sendo a voz que dá materialidade ao texto poético e às canções modeernas que necessitam ser identificadas, como a "voz que está por trás do texto". Nesse sentido, a aula se coloca como proponente da identificação da voz que está no texto e fá-lo existir, enquanto materialidade.
Nessa primeira aula, professor, é importante que seja apresentado ao aluno um poema épico da Idade Média ( apresentamos a seguir, um dos poemas), com o intuito de aproximar os alunos os recursos utilizados, principalmente, pelo eu-lírico em relação à mulher amada. Enfatize as dificuldades de se ler um poema épico, em português arcaico, e se preferir enfatize que também os textos literários apresentam as características (discursivas) dos outros textos mais corriqueiros e que, além disso, podemos perceber, com esse tipo de texto poético, as abordagens discursivas como, por exemplo, verem explícitos a relação Eu-Tu, inerente a qualquer tipo de texto.
O objetivo dessa primeira aula, professor, não é ilustrar com esse texto um determinado estilo de época, ou uma esola literária. O objetivo principal é ressaltar nele as características da vassalagem amorosa desse tipo de texto e como essas cantigas podem dialogar com determinadas canções de nossa época.
Com efeito, professor, o eu-lírico se constitui como o eu- enunciador que diz, e diz de algum lugar se dirigindo de forma específica a um tu.
Comece perguntando como poderia ser identificado o eu-lírico do poema: e mostre os verbos /conheci/, /vi/, /vos eu servi/; Os pronomes presentes no texto:/me/, /mim/, /vem-me//eu/.
Após isso, tente ressaltar que também o Tu destinatário, ou seja, para quem se dirige o poema pode ser encontrado no texto e as marcas do texto. Tais como: /vos/, /vós/,/ vosso amor/, / vosso amor/,/nunca vos pedi/.
Explore, também, os aspectos sonoros do poema e a forma de eles serem representados para a construção da imagem do Eu-lírico e do Tu , mulher amada.
Para teorizar um pouco ressalte as características do Eu-tu. Como são as relações entre esses dois agentes textuais. Pergunte-os se conseguem identificar as relações de vassalagem, no plano amoroso, e a imagem que é construída do ser amado, a partir dessa relação enunciativa.
Se eles não conseguirem sozinhos, comece enfatizando como esse tipo de cantiga representa as produções poéticas que eram cantadas por trovadores.
Logo após isso, reflita em que medida ela pode tematizar uma confissão amorosa.
Professor, apresentamos, a seguir, uma cantiga de amor, sugerida por nós, mas a escolha pode ficar a seu critério des que os aspectos textuais e intertextuais sejam ressaltados.
Cantigas de amor:
"Tam grave dia que vos conhoci ,
por quanto mal me vem por vós , senhor !
ca(1) me ven coita , nunca vi mayor ,
sen outro ben, por vós , senhor , des i (2)
por este mal que mh'a mim por vós ven ,
come se fosse bem , ven-me por em
gran mal a quem nunca o mereci .
Ca , mha senhor , porque vos eu servi ,
sempre digo que sode'la(3) milhor
do mund'e trobo polo (4) vosso amor ,
que me fazedes gram ben e assy
veed'ora(5) mha senhor do bon sen , (6)
este bem tal se compre (7) en mi rrem (8) ,
senon , se valedes vós mays per y (9) .
Mais eu , senhor , en mal dia naci .
del que non tem , nem é conhecedor
do vosso bem , a que non fez valor
Deus de lho d ar , que lhy fezo be m y ,
per, ( 10) senhor , assy me venha bem ,
deste gram bem , que el (11) por ben non tem ,
muy poyco del seria grand'a mi .
Poys, mha senhor , ra zon é , quand'alguen
serv'e non p ede , já que rem lhi d en ;
eu sserv i sempr'e nunca vos pedi. "
(D. A fonso Sanches )
Vocabulário : 1-porque ; 2-desde então ; 3-vós sois ; 4-trovo pelo ;
Disponível , também, em: http://www.profabeatriz.hpg.ig.com.br/literatura/trovadorismo.htm#Cantiga de Amor [Acesso em 16/11/2009].
Professor, nessa etapa, é recomendável, também, que você explore com os alunos as características do texto poético, contidas no texto dado, como exemplo.
Quais as características de vassalagem que podem ser evidencias nesse gênero textual. Como o eu-lírico se coloca em relação à mulher amada? Quais são as representações que ela evoca, no sentido da imagem que era construída da mulher nos séculos X III e XIV. Como é o posicionamento do amante em relação à mulher?
Nesse sentido, a intenção, com a ilustração a partir do texto, não é, apenas, analisar o texto poético sob a égide de suas características estéticas, de estilo, ou literárias. O obj etivo, sobretudo, é analisar o texto a partir da perspectiva da identificação, dos alunos, da voz do eu-lírico. Nesse sentido, é importante que o aluno identifique no texto o Eu-Tu. Quem é o Eu que diz o que diz? Para quem esse Eu-lírico diz? Nesse sentido, faça-os identificarem (textualmente) as características do eu lírico presente no texto.
Perguntem se eles conseguem identificar as características do cortejo, da vassalagem no plano amorosot , em relação à mulher amada. Como era a representação do ser amado? Quais as características do cortejo na éoca medieval?
Enfatize o fato de que as relações de vassalagem só era possível, devido à representação ideal que se tinha da mulher, no plano amoroso.
Enfatize também o fato de tais textos serem escritos para serem recitados no palácio e, por isso, chamados de poesia palaciana, acompanhados de trova.
1- Nessa aula, o objetivo é estabelecer fazer com que os alunos estabeleçam uma relação (inter)texxtual com alguns textos (canções populares brasileiras modernas) e apresentá-los ao aluno. Nesse sentido, o importante é tratar a canção enxergando com suas características
QUEIXA - CAETANO VELOSO
Um amor assim delicado
Você pega e despreza
Não devia ter despertado
Ajoelha e não reza
Dessa coisa que mete medo
Pela sua grandeza
Não sou o único culpado
Disso eu tenho a certeza
Princesa, surpresa, você me arrasou
Serpente, nem sente que me envenenou
Senhora, e agora, me diga onde eu vou
Senhora, serpente, princesa
Um amor assim violento
Quando torna-se mágoa
É o avesso de um sentimento
Oceano sem água
Ondas, desejos de vingança
Nessa desnatureza
Batem forte sem esperança
Contra a tua dureza
Princesa, surpresa, você me arrasou
Serpente, nem sente que me envenenou
Senhora, e agora, me diga onde eu vou
Senhora, serpente, princesa
Um amor assim delicado
Nenhum homem daria
Talvez tenha sido pecado
Apostar na alegria
Você pensa que eu tenho tudo
E vazio me deixa
Mas Deus não quer que eu fique mudo
E eu te grito esta queixa
Princesa, surpresa, você me arrasou
Serpente, nem sente que me envenenouSenhora, e agora, me dig a onde eu vou
Senhora, serpente, princesa
Disponível em: http://letras.ter ra.com.br/caetano-vel oso/44767/ [Acesso em: 12/10/ 2009].
Nessa aula, professor, mostre aos alunos a letra da música, apresentando os elementos componentes do texto verbal, referentes à uma poesia convencional: versos, estrofes, rimas. Posteriormente, trabalhe com os ítens lexicais que mais chamaram a atenção dos alunos. Já em relação à aula anterior, peça-os para que eles mesmo identifiquem características desse texto/canção popular que o aproxima das cantigas de amor. Depois da leitura, passe a música e ilustre comparando com as can tig as de amigo que eram recitadas com trovadores ao lado.
Nesse texto, é interessante que a apresentação seja feita não só nos aspectos de texto verbal mas tambéem do texto
Separe alguns ítens lexicais: "senhora", "princesa", "surpresa", e as relações de construção do objeto amado que ela evoca.
Nesse sentido, como o eu-lírico se constrói? Como a mulher amada é "cortejada". Existe, também, nesses, textos uma relação de vassalagem e uma posição de submissão e dependência do Eu-lírico em relação à mulher amada, que se constitui como um Tu.
Nesse texto, professor, faça-os eles mesmo perceberem no texto as materialidades que evidenciam o eu lírico (verbos e suas desinências de primeira pessoa, pronomes pessoais).
Peça-os que elabore um texto expositivo argumentativo mostrando como a letra/canção "Queixa" pode se aproximar, em se tratando, das relações de cortejo e vassalagem, entre o Eu-lírico e a mulher amada, do gênero: poesias palacianas .
Como as relações de suspiros pelo ser amado e desespero podem ser retomadas na canção popular brasileira. A intenção aqui, professor, é instigá-los a estabelecer construções e/ou relações intertextuais e semióticas, através de aproximações e dispersões entre os dois textos.
Apresente o texto como ilustração, elucidando uma:
Ai flores, ai flores do verde' pino, se sabedes novas do meu amigo?
Ai, Deus, e u é?
Ai flores, ai flores do verde ramo, se sabedes novas do meu amado?
Ai, Deus, e u é?
Se sabedes novas do meu amigo, aquel que mentiu do que pôs comigo?
Ai, Deus, e u é?
Se sabedes novas do meu amado, aquel que mentiu do que m'a jurado?
Ai, Deus, e u é?
- Vós preguntades pala voss'amigo? E eu ben vos digo que é san' e vivo.
Ai, Deus, e u é?
- Vós preguntades pala voss'amado? E eu ben vos digo que é viv 'e sano.
Ai, Deus, e u é? (buscar referência bibliográfica)
Ei: tenho
Disponível, também, em: http://www.micropic.com.br/noronha/liter_t.htm. [Acesso em 05/12/2009]
Ressalte as caracterrísticas desse texto:
O Eu-lírico é uma mulher (solteira) que suspira pelo ser amado.
O Eu-lírico feminino reclama, ou canta a ausência do amigo, amante namorado. Nesse sentido, o que é cantado na trova é a perda, ou o abandono, tema que se repete em muitas das canções
Nesse caso há a inversão da relação Eu-tu. O Eu-lírico pertence ao gênero feminino, e o ser amado é do sexo masculino. Nesse caso, é interessante, também,ressaltar que o autor do texto poético, geralmente pertencia ao sexo masculino. Nesse momento, professor, evidencie a diferença de autoria e eu-lírico. O primeiro é o ser empírico (verdadeiro) que se responsabiliza pela criação. O segundo é invenção do primeiro, é a "voz ficcional do texto".
-Procur e evidenciar as característic as da "vassalagem" no plano amoroso.
Atrás da Porta
Chico Buarque
Composição: Francis Hime/Chico Buarque
Qu ando olhaste bem nos o lhos meus
E o te u olhar era de adeus
Juro que não acreditei, eu te estranhei
Me debrucei sobre teu corpo e duvidei
E me arrastei e te arranhei
E me agarrei nos teus cabelos
Nos teu peito, teu pijama
Nos teus pés ao pé da cama
Sem carinho, sem coberta
No tapete atrás da porta
Reclamei baixinho
Dei pra maldizer o nosso lar
Pra sujar teu nome, te humilhar
E me vingar a qualquer preço
Te adorando pelo avesso
Pra mostrar que ainda sou tua
Só pra mostrar que inda sou tua.
Disponível em: http://letras.terra.com.br/chico-buarque/45113/ [Acesso em 05/12/2009]
Professor, nesse momento, ao ler o texto, como no caso da canção "Atrás da porta", é importante mostrar, também, a melodia da música, por isso apresentamos o site acima explicitado que trás a música ao lado da letra.
A partir da apresentação da letra/texto e da canção/melodia enfatize o fato de o autor/compositor ser um homem e o Eu-lírico feminino.
Peça-os para identificarem nos termos identificados na letra algumas marcas de segunda pessoa: "pra mostrar que inda sou tua".
Nesse sentido, procure ilustra as diferenças do Eu-lírico da Cantiga de Amigo e a Letra de Chico Buarque e as semelhanças entre os dois textos.
Ao final dessa aula, faça a proposta de produção textual: como os textos abordados embora sejam textos poéticos, para a produção de texto proponha um texto expositivo-argumentativo, em formato, mesmo, de dissertação escolar. Nesse texto contendo desenvolvimento , introdução e conclusão sugira o seguinte tema: As poesias palacianas e a canção popular brasileira: representações do cortejo em duas gerações.
Explique que no texto o aluno deverá abordar as questões referentes às características de uso da língua nas duas gerações, as relações de vassalagem amorosa, ou do cortejo , a relação Eu-Tu contidas no texto. Sobre os aspectos das semelhanças e dispersões entre esses dois tipos de texto. A intenção é fazê-los refletir sobre o aspecto da intertextualidade contida no cortejo amoroso. Nesse sentido, a idealização do ser amado devem ser abordada a partir das semelhanças que eles conseguirem perceber e/ou as diferenças.
Outra instrução que pode ser dada refere-se às canções populares :deixe-os livre para escolherem as músicas de suas preferências a fim de que eles possam observar aspectos da língua, comuns a esses dois tipos de texto.
Para tanto, se achar necessário, divida-os, antes da produção de texto individual, em grupo de cinco, ou quatro e peça-os para discutirem as características comuns às duas épocas. Peça-os para escolherem as músicas e depois compará-las às características de uso, contidas, ainda no português medieval e a partir disso, cada um, invidividualmente produz o seu próprio texto.
Para saber mais sobre intertextualidade e enriquecer as suas aulas
http://www.pucrs.br/gpt/intertextualidade.php [Acesso em 05/12/2009]
FONSECA, Maria Nazareth.Texto literário: condições sobre a línguagem literário: condições de produção do sentindo. (In) Itinerários: revista de literatura, Araraquara, São Paulo: EDUSP, 1994.
BARTHES, R. Essays critique. Paris: Sevil, 1964.
RUI, Manuel. "Poesia necessária." In: Cinco vezes onze: poemas em novembro. Lisboa: Edições 70, 1984 P. 65-67.
-Na avaliação, professor, a partir das atividades em grupo e da proposta de produção de texto, avalie a capacidade do aluno de estabelecer um diálogo intertextual, reconhecendo as características do uso da língua pertinentes às duas produções artísticas.
- Verifique, por exemplo, nas discussões em grupo se o aluno foi capaz de fazer comparações, reconhecer semelhanças e diferenças das representações amorosas modernas em relação àquelas analisadas nas poesias palacianas. Peça-os para fazerem um relatório do trabalho em grupo: o quê foi avaliado? Quais os aspectos da língua observados nos textos trabalhados nesse tema/aula? Quais as inter(relações) possíveis, verificadas nos textos? Em que aspectos (da língua) isso acontece e que jogos de sentido constrói?
_ Após isso, verifique, nas produções do texto expositivo-argumentativo e a capacidade de análise do aluno, verificadas e estruturadas a partir da análise das manifestações verbais lingüísticos e culturais das duas .
-Ao avaliar a produção, devolva-as aos alunos e peça-os para sentarem em dupla, trocarem o texto expositivo-argumentativo e fazerem considerações acerca do texto,uns dos outros, em um trabalho de revisão a nível textual: coesão, coeerência, argumentatividade e a nível verbal: ortografica, regência, concordância, acentuação etc.
_Se preciso for, elabore uma legenda com os ítens da correção e peça para os alunos identificarem os possíveis desajustes do texto do colega sinalizando, do lado direito da margem da folha, com o código da legenda de correção, qual foi o "erro" encontrado.
_Depois peça-os para (re)trocarem os textos, devolvê-los aos seus respectivos autores para que eles façam a devida correção.
_ Ao final do processo, recolha o texto novamente e avalie os aspectos, dantes comentados.
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24/03/2010
Cinco estrelasAdorei a proposta