• Conhecer que o corpo não é simplesmente um dado da natureza, pronto e acabado.
• Refletir que o conceito de corpo inclui, além das potencialidades biológicas, as dimensões sociais, culturais e históricas das nossas vivências.
• Compreender que os corpos são marcados por experiências específicas de classe, de etnia/raça, sexualidade, de gênero, de idade, que só adquirem sentido e eficácia por meio da socialização e do aprendizado de regras culturais.

Não há necessidades de conhecimentos prévios.

Apontamentos teóricos

    A maioria das práticas escolares inscreve o corpo como “pura” descrição anatômica, fisiológica, morfológica, metabólica, etc; um organismo atemporal e universal sem relação com os acontecimentos que o configuram cotidianamente e o posicionam no mundo como dotado de particular gênero, etnia, sexualidade, comportamentos, etc.
    Desse modo, têm excluído as vozes dos (as) alunos (as) sobre as suas vivências e os seus pensamentos relativamente a um significativo elemento das suas vidas: os seus corpos.
    Nessas aulas, problematizamos, habitualmente, o que pensamos ser o corpo – um fenômeno biológico- e chamamos a atenção entre aquilo que nos é dado (contingente) como herança biológica e o que nos é dado como herança cultural – que construímos as representações sobre os nossos corpos.
    Nesta perspectiva, entendemos o corpo como um lócus de inscrição de identidades e diferença que produz sujeitos de uma cultura. Por isso, afirmamos que o corpo é história. Nele se inscrevem muitas marcas sociais, com e através de práticas afetivas, esportivas, políticas, estéticas, dentre outras.
    Professor, pensando nessas questões elencadas, propomos essas aulas para se abordar tal temática.

Dicas para o professor:

As sugestões aqui apresentadas abrem a possibilidade de trabalhos coletivos e interdisciplinares, envolvendo os campos de saberes como a História, Arte, Literatura, Geografia, Educação Física. Estas áreas de saber podem contribuir das seguintes maneiras à saber:

• Quais as conpções de corpo nas diferentes civilizações e de que forma essa concepção foi sofrendo mundanças ao longo dos processos históricos?
• Em que contexto histórico tal concepção de corpo era legitimada?
• Como o corpo é trabalho nos esportes? E nas aulas de Educação Física?
• Como o corpo foi representado pelos grandes pintores em suas obras?
• Quais as interferências geograficas na materialização dos corpos? O corpo é vista de maneira diversificada em diferentes localidades da superfície terrestre?
• De que maneira, nas obras literárias de alguns autores, o corpo aparece representado?

O diálogo com as áreas não se esgotam apenas em tais suposições, vários outras facetas da temática corporeidade poderão ser exploradas.  

MOTIVAÇÃO

Para esta motivação, que terá como foco o conceito de corpo, é sugerida uma dinâmica em que os (as) participantes, em subgrupos de até 5 alunos, construam cartazes com a colagem de revistas e jornais. Estes cartazes deverão representar as concepções do grupo sobre a temática corpo.

Material

• Revistas;
• Jornais;
• Cola;
• Cartolinas ou papel pardo;
• Tesouras de pontas arredondas;
• Lápis ou caneta;
• Fitas adesivas.

Procedimentos:
• Divida os alunos em grupos de até 5 alunos e informe que a proposta é a de que os grupos, a partir de revistas e/ou jornais, façam uma colagem do que entendem sobre corpo.
• Logo após, solicitar que cada grupo deverá fazer uma listagem com as características que considera importantes no corpo.
• Cada grupo apresentará sua colagem, referindo-se as concepções e as características evidenciadas.

Observação:

Professor, a realização desse primeiro momento, motivação, tem a finalidade de fazer o levantamento das concepções prévias dos alunos acerca da temática corpo. Tal procedimento funcionará como ponto de partida para a realização das demais etapas que constituir ão esse conjunto de aulas.

Figura 1: Colagem representando o corpo
Site : http://2.bp.blogspot.com/_LhBi39yLBFc/SIigtIFLlSI/AAAAAAAAAac/RQOujOsbNoQ/s400/colagem-2a.gif

ATIVIDADE 1: Refletindo com a música

Professor, nessa atividade solicitará que a música seja cantada pelos alunos, com posterior reflexão de seu significado. Para isso deverá disponibilizar uma cópia da letra da música para todos.
Material:
• Aparelho de som;
• CD com a música “O pulso” dos Titãs
• Cópia da letra da música para todos

Processo:
• Informe ao grupo, que inicialmente, ouvirão uma música intitulada “O pulso”.
• Distribua as cópias da letra e solicite que escutem a música e que, concomitantemente, leiam os versos.
• Terminando a música, solicite que os mesmos grupos formandos anteriormente discuta m quais as principais e possíveis mensagens abordadas pelos au tores.
• Ao final, solicite que uma pessoa representante de cada grupo apresente as considerações do grupo.

O Pulso - TitãsO pulso ainda pulsa
O pulso ainda pulsa
Peste bubônica, câncer, pneumonia
Raiva, rubéola, tuberculose, anemia
Rancor, cisticircose, caxumba, difteria
Encefalite, faringite, gripe, leucemia
O pulso ainda pulsa (pulsa)
O pulso ainda pulsa (pulsa)
Hepatite, escarlatina, estupidez, paralisia
Toxoplasmose, sarampo, esquizofrenia
Úlcera, trombose, coqueluche, hipocondria
Sífilis, ciúmes, asma, cleptomania
E o corpo ainda é pouco
E o corpo ainda é pouco
Reumatismo, raquitismo, cistite, disritimia
Hérnia, pediculose, tétano, hipocrisia
Brucelose, febre tifóide, arteriosclerose, miopia
Catapora, culpa, cárie, câimba, lepra, afasia
O pulso ainda pulsa
O corpo ainda é pouco
Ainda pulsa
(ANTUNES, FROMER, BELOTTO, 1989)

Música disponível em: http://www.topmusicas.net/titas/o-pulso.htm

Pontos para discussão

• Como ou qual o modo em que o corpo é tratado em nossa sociedade? Nessa discussão o professor poderá abordar o descasso de longa data com que as populações mais desfavorecida têm sido tratadas no que diz respeito à saúde no Brasil.
• O que representa a frase “O corpo ainda é pouco” repetida no refrão da música?
• Ao longo da música, quais as dimensões físicas de corpo são tratadas no texto? E as dimensões psicológicas? O nosso corpo contempla apenas essas dimensões?
• Como é o corpo do homem representado na mídia? E o da mulher?
• Discutir a afirmação: Os corpos para vender produtos e produtos para vender um corpo.

ATIVIDADE 2: Conhecendo as “marcas” inscritas nos corpos

Professor, sentimos incomodado com o entendimento do corpo como algo que é biologicamente dado e aceitamos o desafio de tentar olhar para o corpo como uma produção cultural. Nesse contexto, propomos essa atividade, dobraduras em papel, que contribuirá para exercitar esse olhar.

Material:
• Folhas de papel A4 ou papéis reciclados, a escolha do tipo de papel fica a critério do professor;
• Lápis ou canetas esferográficas.

Problematização:Peça que os alunos discutam a seguinte questão:
• Que tipos de marcas outras pessoas deixaram ao longo das etapas de sua vida (infância e adolescência)?

Processo:
• Distribua as folhas de papéis e uma caneta ou lápis para cada aluno participante.
• Peça que individualm e nte realizem dobras no papel. Para cad a dobra o participante deverá lembrar expe riências marcantes em sua vida e registr á-las na dobra realizada.
• Discuta alguns exemplos de experiências marcantes na vida como: uma experiência que passou na infância; uma situação vexatória que passou na adolescência; uma situação que marcou muito como mulher ou como homem (comentários, apelidos); uma situação marcante na escola, boa ou não; o primeiro beijo; o primeiro namoro; um professor que deixou boas lembranças; uma atividade na escola que não esquece; entre outras.
• Quando todos tiverem terminado de escrever e realizar as dobras no papel, peça que os participantes desdobrem o papel e que tentem deixá-lo como o original (sem dobras).

                            Figura 2: Dobradura em papel
Fonte: http://www.smartkids.com.br/passatempos/dobraduras.html

Discussão:• O prof essor deverá fazer a analogia entre as marcas que f icaram no papel com aquelas indestrutívei s ao longo da vida.
• Neste momento, o professor poderá enfatizar a importância da abordagem na construção dos sujeitos e de suas identidades, além de, enfatizar o papel das significações culturais na construção de uma determinada concepção de corpo.

Observação:
O objetivo dessa atividade é refletir sobre o quanto nossos corpos são significados e modificados permanentemente pela cultura, pontuando também sobre o quanto investimos em nossos corpos, ou seja, nós os construímos de modo a adequá-lo aos critérios estéticos, higiênicos, morais, dos grupos a que pertencemos.

Leituras sugeridas para o professor:

• Como os corpos se tornam matéria: entrevista com Judith Butler. Estudos Feministas. Florianópolis, v. 10, n. 1, p. 155-177, 2002.
Acesso: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-026X2002000100009

• SOUZA, Nádia Geiza Silveira; CAMARGO, Tatiane Souza de. O corpo no ensino de Ciências: Serão possíveis outras abordagens?. Esse artigo está disponível em:
http://www.foco.fae.ufmg.br/conferencia/index.php/enpec/viienpec/paper/viewFile/671/319. Professor, tal link em alguns momentos fica indisponível temporariamente. Caso isso acontece no momento da utilização, faça o seguinte procedimento:

Entre na página do google: www.google.com.br, e digite o título de tal artigo na caixa de texto: O corpo no ensino de Ciências: serão possíveis outras abordagens? Este aparecerá na primeira opção, seguido de: Formato do arquivo: PDF/Adobe Acrobat - Visualização rápida. Clique no link visualização rápida e terá acesso ao texto na íntegra.

Professor, utilizar as produções dos alunos nestas aulas para realizar a sua avaliação. Os cartazes e apresentação poderão ser analisados sob a ótica da organização, espírito de trabalho em equipe/coletivo, entre outros. Nesse sentido, o processo avaliativo poderá ser feito em todos os momentos das atividades propostas, sendo considerada a contribuição individual nas discussões e demais atividades em grupo.