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Da autobiografia para a biografia - textos em primeira e terceira pessoas

 

06/12/2009

Autor e Coautor(es)
Liliane Gomes Falcão
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BELO HORIZONTE - MG ESCOLA DE EDUCACAO BASICA E PROFISSIONAL DA UFMG - CENTRO PEDAGOGICO

EDNA SANTANA DE MAGALHÃES

Estrutura Curricular
Modalidade / Nível de Ensino Componente Curricular Tema
Ensino Fundamental Final Língua Portuguesa Análise linguística: modos de organização dos discursos
Educação de Jovens e Adultos - 2º ciclo Língua Portuguesa Linguagem escrita: leitura e produção de textos
Ensino Fundamental Final Língua Portuguesa Análise linguística: organização estrutural dos enunciados
Educação de Jovens e Adultos - 2º ciclo Língua Portuguesa Análise linguística
Ensino Fundamental Final Língua Portuguesa Língua oral e escrita: prática de produção de textos orais e escritos
Dados da Aula
O que o aluno poderá aprender com esta aula

A partir dos conceitos e conteúdos trabalhados nesta aula, o aluno poderá:

1) reconhecer os gêneros autobiografia e biografia;

2) identificar escritas em primeira e terceira pessoas;

3) produzir textos assumindo o papel de narrador-onisciente e narrador-personagem;

4) trabalhar em ambiente virtual.

Duração das atividades
Aproximadamente 16 aulas
Conhecimentos prévios trabalhados pelo professor com o aluno

Professor, conduza um primeiro batepapo sobre a importância de registrarmos acontecimentos, fatos e conquistas vivenciadas. Trabalhe a oralidade com seus alunos questionando-os a fim de que eles relatem, pré-selecionem informações pessoais que, no decorrer das atividades, eles poderão fazer uso, até mesmo como elementos estruturadores e direcionadores dos textos que serão produzidos.

Estratégias e recursos da aula

Professor, introduza a temática levantando quais os conceitos que o aluno tem e quais as inferências que ele pode formular a respeito da constituição dos textos: biografia e autobiografia. Se possível, solicite a eles que façam uma pesquisa prévia e tragam um exemplo de cada texto para ser apresentado em sala. O objetivo é que o aluno, já no início da abordagem, tenha uma concepção dos textos a serem trabalhados.

Professor, não conte apenas com o material que o aluno trará para a sala. Providencie seu material, pois esse poderá ser utilizado a título de complementação e, caso ele não traga, esse será o texto-base.

1ª etapa  (2 aulas de 50 minutos)- Reconhecendo os gêneros autobiografia e biografia (2 aulas de 50 minutos)

Inicialmente sugerimos que seja trabalhado o significado das palavras:

BIOGRAFIA=> BIO=VIDA / GRAFIA= ESCRITA

AUTOBIOGRAFIA => AUTO= A SI MESMO

Sugerimos que você, professor, utilize o texto abaixo para introduzir o conceito dos gêneros e trabalhar a estrutura da autobiografia.

Autobiografia
Como contar a sua própria vida
Alfredina Nery *
Especial para a Página 3 Pedagogia e Comunicação
Se biografia é a história da vida de alguém (já que bio é vida e grafia é texto, escrita), o que você imagina ser autobiografia? O prefixo auto quer dizer "a si mesmo", logo o termo se refere à história da própria vida. Leia a apresentação que faz de si mesmo o escritor de livros infantis Bartolomeu Campos Queiroz:


...das saudades que não tenho

Nasci com 57 anos. Meu pai me legou seus 34, vividos com duvidosos amores, desejos escondidos. Minha mãe me destinou seus 23, marcados com traições e perdas. Assim, somados, o que herdei foi a capacidade de associar amor ao sofrimento...
Morava numa cidade pequena do interior de Minas, enfeitada de rezas, procissões, novenas e pecados. Cidade com sabor de laranja-serra-d’água, onde minha solidão já pressentida era tomada pelo vigário, professora, padrinho, beata, como exemplo de perfeição.
(...) Meu pai não passeou comigo montado em seus ombros, nem minha mãe cantou cantigas de ninar para me trazer o sono. Mesmo nascendo com 57 anos estava aos 60 obrigado ainda a ser criança. E ser menino era honrar pai com seus amores ocultos. Gostar da mãe e seus suspiros de desventuras.
(...) Tive uma educação primorosa. Minha primeira cartilha foi o olhar do meu pai, que me autorizava a comer ou não mais um doce nas festas de aniversário. Comer com a boca fechada, é claro, para ficar mais bonito e meu pai receber elogios pelo filho contido que ele tinha. E cada dia eu era visto como a mais exemplar das crianças, naquela cidade onde a liberdade nunca tinha aberto as asas sobre nós.
Mas a originalidade de minha mãe ninguém poderá desconhecer. Ela era capaz de dizer coisas que nenhuma mãe do mundo dizia, como por exemplo: – Você, quando crescer vai ter um filho igual a você. Deus há de me atender, para você passar pelo que eu estou passando. – Mãe é uma só. (...)

(Bartolomeu Campos Queiroz, em Abramovich, Fanny (org.) – “O mito da infância feliz”. Summus, São Paulo, 1983).


A autobiografia de Bartolomeu Campos Queirós é marcada por uma certa tristeza e uma forte crítica tanto à educação dos pais, quanto aos costu mes da cidadezinha onde nasc eu. Dessa forma, ele r omp e com a idéia de q ue criança é sempre feliz por ser inocente e não perceber os problemas da vida.


O escritor dá a entender que todos nascemos velhos, porque somos parte de vidas já vividas pelos pais e até mesmo pela sociedade - simbolizada em seu texto pela cidadezinha em que nasceu.


Também vale notar a referência irônica ao célebre poema "Meus oito anos", de Casimiro de Abreu ("Oh! que saudades que tenho/ da aurora da minha vida...)


Na biografia, a seleção dos eventos a serem apresentados é definida pelos outros, por isso, a objetividade é mais evidente que na autobiografia, em que a pessoa escolhe o que vai escrever sobre ela mesma.


Outra característica tanto da biografia quanto da autobiografia é a veracidade dos fatos. Costumam ser narrativas não-ficcionais, ou seja, não são histórias "inventadas". O relato dos fatos no texto autobiográfico aparece freqüentemente pontuado de lembranças, de um colorido emocional, que não é mostrado em outros tipos de textos. Predomina a subjetividade.


Compare a autobiografia reproduzida acima com a biografia de Carl os Drummond de Andrade. O que se pode concluir sobre a presença escolha dos pronom es: na biogr afia pr edomina o uso da terceira pessoa (ele), enquanto na autobiografia predomina o uso da primeira pessoa (eu). Esses usos relacionam-se à maior ou menor objetividade.

Autobiografia e sátira
Falar de si mesmo é sempre difícil... Nada como uma boa dose de bom humor para olhar para si próprio, não é mesmo? Leia como alguns autores tratam de suas biografias de forma bem-humorada.


Aí eu peguei e nasci!
Sou filho de árabe com loira e deu macaco na cabeça. E eu não tenho 56 anos. Eu tenho 18 anos. Com 38 de experiência. E eu era um menino asmático que ficava lendo Proust e ouvindo programa de terror no rádio.
Em 69 entrei pra Faculdade de Direito do Largo de São Francisco. Mas eu matava aula com o namorado da Wanderléa pra ir assistir o programa de rádio do Erasmo Carlos. E aí eu desisti. Senhor Juiz, Pare Agora!
E aí eu fui pra swinging London, usava calça boca de sino, cabelo comprido e assisti ao show dos Rolling Stones no Hyde Park. E fazia alguns bicos pra BBC.
Voltei. Auge do tropicalismo. Freqüentava as Dunas da Gal em Ipanema. Passei dois anos batendo palma pro pôr-do-sol e assistindo o show da Gal toda noite. E depois diz que hippie não faz nada! (...)

José Simão Biografia


Perceba como José Simão, ao usar linguagem coloquial, expressões populares e gírias, se aproxima do leitor de jornal e da Internet ao escrever um texto descontraído e cheio de humor: "Aí eu peguei", "deu macaco na cabeça", "matava aula", "alguns bicos pra BBC", etc.


Ao escolher "fatos não nobres" de sua autobiografia, José Simão torna seu texto mais engraçado e carregado de ironia - uma boa maneira de fazer humor.


Leia a seguir a autobiografia de mais um humorista - Millôr Fernandes, um dos fundadores do famoso jornal alternativo, dos anos 60 e 70, "O Pasquim":

SUPERMERCADO MILLÔR -- ANO I - N.º 1

(Autobiografia De Mim Mesmo À Maneira De Mim Próprio)

"E lá vou eu de novo, sem freio nem pára-quedas. Saiam da frente, ou debaixo que, se não estou radioativo, muito menos estou radiopassivo. Quando me sentei para escrever vinha tão cheio de idéias que só me saíam gêmeas as palavras – reco-reco, tatibitate, ronronar, coré-coré, tom-tom, rema-rema, tintim-por-tintim. Fui obrigado a tomar uma pílula anticoncepcional. Agora estou bem, já não dói nada. Quem é que sou eu? Ah, que posso dizer? Como me espanta! Já não fazem Millôres como antigamente! Nasci pequeno e cresci aos poucos. Primeiro me fizeram os meios e, depois, as pontas. Só muito tarde cheguei ao s extremos. Cabeça, tronco e membros, eis tudo . E não me revolto. Fiz três revoluções, todas perdidas. A primeira contra Deus, e e le me venceu com um só rdido milagre. A segunda com o destino, e ele me bat eu, deixando-me só com seu pior enredo. A terceira contra mim mesmo, e a mim me consumi, e vim parar aqui.”


Millôr


1) Releia o título "Supermercado Millôr" e o subtítulo "Autobiografia de Mim Mesmo à maneira de Mim Próprio" e analise que relação pode haver entre uma autobiografia e a idéia de produto a ser vendido, como mercadoria, num supermercado.


2) Relembrando que pleonasmo é uma forma de se usar a mesma idéia de forma repetitiva e desnecessária - lembre-se dos famosos pleonasmos "subir para cima", "descer para baixo", "entrar para dentro" e "sair para fora", que, segundo a gramática, devem ser evitados.- procure, então, explicar os pleonasmos usados no subtítulo, por Millôr, confirmando a abordagem satírica de sua biografia.


3) Millôr elabora sua biografia, de forma irônica e crítica, ao usar:


•contradições/paradoxos;

•chavões ou frases feitas, recriando-os;

•criação de novas palavras, com fina ironia.

Enfim, muitas vezes, o gênero biografia pode ser uma boa desculpa para um escritor fazer crítica social ou me smo brincar consigo m esmo e com a própria humanidade.

*Alfredina Nery é professora universitária, consultora pe dagógica e docente de cursos de formação continuada para professores na área de língua/linguagem/leitura.

Fonte:  http://educacao.uol.com.br/portugues/ult1693u24.jhtm  Acesso em: 16/11/2009

Professor, a sugestão de priorizar a abordagem da autobriografia está fundamentada na continuidade dessa proposta, o que poderá ser observado na sequenciação das atividades.

Leia o texto juntamente com os alunos. Sugira leitura participativa, dividindo o texto por aluno, seja por parágrafos ou por outra forma de divisão que mais lhe apetecer.

Faça questionamentos a fim de construir juntamente com os alunos a estruturação do texto, a forma de escrita (formal/informal), a situação de comunicação que permite uma abordagem mais livre ou mais padronizada, as informações que são apresentadas ( as ocorrências mais comuns nos textos), a flexão verbal em consonância com o narrador (nesse caso, os verbos apresentados em primeira pessoa).

2ª etapa (2 aulas de 50 minutos) - trabalhando com o material dos alunos

Professor, normalmente, quando solicitamos um trabalho extra, nem todos os alunos cumprem a tarefa. Ainda assim, boa parte dos alunos apresentam algum material. Privilegie a abordagem dos textos que os alunos trouxeram. Faça a abordagem semelhante à realizada no texto-base. Solicite que os alunos analisem o material e que adotem o mesmo procedimento de caracterização feito na aula anterior.

3ª etapa (1 aula de 50 minutos) - produzindo a autobiografia 

Agora é o momento da primeira produção. Solicite a cada aluno que produza sua autobiografia. Delimite a quantidade de linhas (primeira pergunta que eles fazem...). Direcione a produção elencando as características que deverão compor o texto e que, a essa altura, já deve ser do conhecimento dos alunos.

4ª etapa (1 aula de 50 minutos) - reescrevendo a autobiografia

Professor, é de extrema importância sistematizar a reescrita do texto. Selecione algumas produções e leia-as em voz alta, compartilhando-as com os alunos. É muito importante para o aluno esse retorno pois ele sente a valorização do seu texto.

Oriente individualmente o aluno a respeito dos problemas que o texto possa ter apresentado . Ainda que esse procedimento seja mais demorado, ele tem maior eficác ia, uma vez que o aluno recebe uma orientação e não apenas um texto todo marcado, sem um direcionamento específico .

Se o tempo em sala não for suficiente para essa atividade, peç a aos alunos que te rminem em casa e entreguem na aula seguinte.

5ª etapa (2 aulas de 50 minutos) - trabalhando com a biografia

Inicialmente recolha todas as autobiografias. Em seguida, faça a discussão a respeito da biografia. Sugerimos o texto abaixo:

Biografia
Como contar a história da vida de alguém

Alfredina Nery *
Especial para a Página 3 Pedagogia e Comunicação
É verdade que Einstein foi um péssimo aluno? Como é, na intimidade, o escritor José Saramago? E Bill Gates, o criador da Microsoft, faz o que em suas horas vagas?

O gênero de texto que conta a história da vida de alguém se chama biografia (bio é vida, e grafia é escrita). É uma mistura entre jornalismo, literatura e história, em que se relata e registra a história da vida de uma pessoa, enfatizando os principais fatos. É um gênero de narrativa não-ficcional. Os fatos podem ser contados em ordem cronológica - isto é, do nascimento à morte, ou por temas (amores, derrotas, traumas etc). Não precisam ser, necessariamente, escritas. Podem ser filmes, peças de teatro etc.


Conhecer a biografia de uma personalidade permite entender um pouco melhor o tempo em que ela viveu, o que a fez ser famosa, como alcançou o sucesso, atos que podem servir de exemplo, coisas que ela fez e que você j amais faria. Também po de ser interessante conhecer sua autobiografia.

Características textuais e lingüísticas
Leia o texto biográfico que segue, que conta um pedaço da vida de u m dos maiores poetas brasileiros, Carlos Drummond de Andrade:


Carlos Drummond de Andrade nasceu em Itabira do Mato Dentro - MG, em 31 de outubro de 1902. Descendente de uma família de fazendeiros em decadência, o poeta estudou na cidade de Belo Horizonte e com os jesuítas no Colégio Anchieta de Nova Friburgo (RJ), de onde foi expulso por "insubordinação mental". De novo em Belo Horizonte, o itabirano começou a carreira de escritor como colaborador do “Diário de Minas”, que congregava os adeptos locais do incipiente movimento modernista mineiro. Devido à insistência familiar para obter um diploma, ele se formou em farmácia na cidade de Ouro Preto, em 1925. Fundou com outros escritores “A Revista”, que, apesar da vida breve, foi importante veículo de afirmação do modernismo em Minas Gerais.

O escritor ingressou no serviço público e, em 1934, transferiu-se para o Rio de Janeiro, onde foi chefe de gabinete de Gustavo Capanema, ministro da Educação, até 1945. Depois, passou a trabalhar no Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional e se aposentou em 1962. Desde 1954, colaborou como cronista no “Correio da Manhã” e, a partir do início de 1969, no “Jornal do Brasil”.
(...)
Várias obras do poeta foram traduzidas para o espanhol, inglês, francês, italiano, alemão, sueco, tcheco e outras línguas. Drummond foi, seguramente, por muitas décadas, o poeta mais influente da literatura brasileira em seu tempo, tendo também publicado diversos livros em prosa.
(...)
Alvo de admiração unânime, tanto pela obra quanto pelo seu comportamento como escritor, Carlos Drummond de Andrade morreu no Rio de Janeiro- RJ, no dia 17 de agosto de 1987, poucos dias após a morte de sua filha única, a cronista Maria Julieta Drummond de Andrade, fato que o havia deixado extremamente abatido.


1) Veja que a biografia de Drummond é um relato elaborado numa seqüência temporal que entremeia fatos de sua vida e de sua carreira profissional:


a) 1º e 2º parágraf os: origem, estudos e carreira - no serviço público e como escritor. Nesses dois parágrafos, o s fatos da biografia são relatados de forma mais neutra.
b) 3º e 4º parágrafos: fatos da vida e obra do poeta, ressaltando sua fama literária. Esses trechos j á emitem opinião a respeito do biografado, especialmente pelos usos de:


•enumeraçã o das línguas em que a obra de Drummond foi traduzida, indicando se u p apel internacional;

•advérbio "seguramente" através do qual é evidenci ado um argumento sobre a importância do poeta;

•adjetivo superlativo: "mais influente". O poeta não é só influente, mas "mais influente", o que intensifica o qualificador;

•adjetivo "unânime" referindo-se ao substantivo "admiração", também com conotação elogiosa ao poeta.

2) Releia a biografia e repare que há várias formas de se referir ao biografado, em substituição a seu nome: "Drummond", "o poeta", "o itabirano", "ele" e verbos com o sujeito oculto. Essas substituições representam um tipo de coesão textual. A fim de evitar a repetição de termo já referido, outras palavras retomam o já dito e vão ajudando a construir o texto, articulando-o.


3) Veja que a expressão "insubordinação mental" como causa da expulsão de Drummond da escola jesuítica, está escrita entre aspas. Qual seria a intenção desse uso? Dado o reconhecimento literário que se deu na vida do poeta, podemos considerar que é uma maneira de marcar de modo irônico a maneira inovadora de pensar do poeta, não é mesmo?


4) Analise agora os verbos usados no texto:


•nasceu, estudou, foi expulso, começou, se formou, fundou, ingressou, transferiu-se, passou a trabalhar, se aposentou, colaborou, foi, morreu.
Veja que predominam verbos de ação, numa determinada seqüência, como é própr io de uma biografia, feita de forma tradicional.

Características da biografia

Podemos afirmar que na biografia:

•os acontecimentos devem estar ord enad os em seqüência temporal, ou seja, do mais antigo para o mais recente;
•deve haver um trabalho prévio de seleção das informações, que possam ser consideradas relevantes para o leitor.
•deve-se evitar julgamentos de valor, expressões adjetivas que indiquem a opinião do autor a respeito das informações que apresenta.


Biografia e crítica social
Mas será que só há biografias de pessoas famosas? Bem, sabemos que a história muda dependendo de quem a conta. Quando a história é contada pelo vencedor, costumam-se enfatizaros positivos para ele. Numa outra perspectiva, entende-se história também como ação de todas as pessoas, na relação entre as diferentes classes sociais.

Leia a seguir a biografia de uma mulher, Carolina Maria de Jesus, que morava numa favela e que escreveu um livro de muito sucesso na década de 1960: "Quarto de despejo".

Cinderela negra - A saga de Carolina Maria de Jesus
Carolina Maria de Jesus foi uma figura ímpar. Viveu sozinha, com três filhos – um de cada pai – em uma favela na cidade de São Paulo, desde 1947. Descendente de escravos africanos, nasceu em 1914, em Sacramento, um vilarejo rural no Estado de Minas Gerias e foi à escola apenas até o segundo ano primário. Trabalhou na roça com a mãe, desde muito cedo. Depois, ambas foram empregadas domésticas. Já em São Paulo, na favela do Canindé, como catadora de papel e mãe de três filhos, escrevia folhas e folhas de histórias reais e imaginadas. Um dia, um jovem jornalista teve acesso a estes escritos e conseguiu ajudá-la a publicar o seu “Quarto de despejo”, em 1960. O sucesso foi imediato. Vendeu o equivalente, naquele ano, a Jorge Amado. Seu livro foi publicado em 13 línguas, em mais de 40 países

Porém, sua trajetória, até a morte na década de 70, foi incomum e perturbadora. Carolina não se “enquadrou” como escrit ora famosa.(...). Em pouco tempo, ela foi forçada a voltar à condição de pobre, com dificuldades de sobrevivência. Na miséria viu terminarem seus dias, em 1977.

(adaptado do livro “Cinderela negra - A saga de Carolina Maria de Jesus”, de José Carlos Sebe Bom Meihy e Robert M. Levine, Editora da UERJ, Rio de Janeiro, 199 4)


Os autores da biografia de Carolina de Jesus já antecipam ao leitor, pelo título, do que vão tratar:


•há uma comparação entre Carolina e a personagem "Cinderela" do famoso conto de fadas, a partir da idéia de transformação. Assim como Cinderela vivia nas cinzas e foi transformada, por uma fada, numa linda mulher por quem o príncipe se apaixonou, Carolina viveu seus dias de gata borralheira, mas também seu tempo de fama, como escritora;

•o uso da expressão "Cinderela negra" traz uma realidade social brasileira, em geral, permeada de preconceito e racismo;

•o termo "saga" no título já prenuncia a vida heróica de uma mulher do povo, feito Carolina, que venceu muitos obstáculos para sobreviver, quanto mais para viver e ser uma escritora.


*Alfredina Nery é professora universitária, consultora pedagógica e docente de cursos de formação continuada para professores na área de língua/linguagem/leitura.

Fonte:  http://educacao.uol.com.br/portugues/ult1693u22.jhtm

Acesso em: 16/11/2009

Repita o mesmo procedimento adotado na abordagem da autobiografia. Trabalhe a estruturação do texto, estimule os alunos a identificarem quais as diferenças entre os dois gêneros (biografia e autobiografia).

Professor, os dois textos já são por si muito elucidativos e auxiliam bastante na caracterização dos gêneros.

6ª etapa (2 aulas de 50 minutos) - retomando os textos pesquisados pelos alunos

Professor, repita o processo adotado e trabalhe os textos pesquisados pelo s alunos. Solicite que eles identifiquem as características presentes nos textos que trouxeram.

Apesar de parecer repetitivo, o objetivo desse enfoque é o de permitir que o aluno pratique o s conceitos trabalhados observando outros textos para, somente depois, produzir sua escrita. Isso permitirá que o aluno consiga estruturar melhor sua produção.

7ª etapa (2 aulas de 50 minutos) - " Tô bem na foto?"Produzindo uma biografia partindo da autobiografia.

Para esta aula você precisará de uma câmera fotográfica. Tire uma foto de cada aluno. Armazene essas fotos em um cd. Posteriormente você as utlizará para acompanhar os textos.

Professor, distribua aleatoriamente as autobiografias que você recolheu na aula 5. Neste momento, você solicitará que os alunos produzam uma biografia do colega. Eles devem ter atenção para manter a fidelidade com o texto original e escrevê-lo em terceira pessoa.

Enquanto os alunos produzem o texto, fotografe cada um deles. Essas fotos serão utilizadas posteriormente.

8ª etapa (1 aula de 50 minutos) - Reescrevendo...

Com a finalidade de ressaltar e tornar hábito a reescrita, repita o procedimento adotado na aula de número 4, solicitando a reescrita e orientando o aluno agora comparando a autobiografia com a biografia por ele produzida.

9ª etapa (3 aulas de 50 minutos) - Elaborando o livro (auto)biográfico da turma.

Professor, sugerimos que você trabalhe com a foto original associada ao texto autobiográfico e trabalhe caricaturas para o texto biográfico. Para isso você poderá acessar o link:  http://www.befunky.com.   (acesso em 03/12/2009)

Trata-se de um site que oferece várias possib ilidades de trabalhar a fotografia. Leve os alunos à sala de informática (se considerar conveniente, solicite o auxílio do professor de Língua Inglesa, uma vez que o site é todo em inglês)

Abaixo algumas possibilidades de trabalhar a foto:

undefinedFOTO DO TEXTO AUTOBIOGRÁFICO

undefinedSUGESTÃO DE FOTO PARA O TEXTO BIOGRÁFICO

undefinedSUGESTÃO DE FOTO PARA O TEXTO BIOGRÁFICO

undefinedSUGESTÃO DE FOTO PARA O TEXTO BIOGRÁFICO

Revele as fotos ou imprima-as e traga-as para a sala. Proponha a construção de um livro coletivo da turma contendo a seguinte sequência: página com a foto, página da autobiografia, página da biografia (especificando o autor). Essa formatação é apenas a título de sugestão, você pode compor da forma que melhor atenda às suas proposições.

Recursos Complementares

Sugestões de leitura para melhor estruturar sua prática:

KLEIMAN, Ângela. Oficina de Leitura – teoria e prática. Campinas – SP: Pontes Editora da Unicamp, 2000.

INGEDORE G. VILLAÇA KOCH. Desvendando os segredos do texto. São Paulo: Cortez Editora, 2002. 168 pp.

MARCUSCHI, Luiz Antonio. Produção Textual, Análise de Gêneros e Compreensão. São Paulo: Parábola Editorial. 2008. 296 pp.

Avaliação

Professor, avalie a apreensão da estrutura do texto quando o aluno estiver trabalhando com a identificação das características propostas nas aulas: 2 e 6. Se notar dificuldade, você poderá intervir orientando individualmente o aluno. Proponha a análise de outros textos a fim de solidificar esse conhecimento.

Avalie também as produções sugeridas nas aulas 3 e 7, bem com as respectivas reescritas. Observe a estruturação, se condiz com a caracterização já trabalhada; as resoluções dos problemas levantados na escrita; a produção em consonância com o texto do outro.

Por fim, avalie a participação, o envolvimento na confecção do livro coletivo.

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