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A forma e a substância: distinção entre poema e poesia

 

01/12/2009

Autor e Coautor(es)
ANA GRAZIELA CABRAL
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BELO HORIZONTE - MG ESCOLA DE EDUCACAO BASICA E PROFISSIONAL DA UFMG - CENTRO PEDAGOGICO

Edna Maria Santana de Magalhães

Estrutura Curricular
Modalidade / Nível de Ensino Componente Curricular Tema
Educação de Jovens e Adultos - 1º ciclo Língua Portuguesa Leitura e escrita de texto
Educação de Jovens e Adultos - 2º ciclo Língua Portuguesa Linguagem escrita: leitura e produção de textos
Ensino Fundamental Final Língua Portuguesa Análise linguística: modos de organização dos discursos
Ensino Médio Literatura Estudos literários: análise e reflexão
Dados da Aula
O que o aluno poderá aprender com esta aula

Professor, a partir desta aula o aluno poderá:


- aprender a diferença entre os termos Poesia e Poema.


- reconhecer a presença do poético em distintas formas de manifestação artística;


- melhorar a capacidade de expressão escrita de suas impressões e reflexões sobre o texto literário ou outros suportes.

- ter contanto com outros sistemas semióticos, no caso, a escrita e a linguagem cinematográfica.

Duração das atividades
7 aulas de 50 minutos cada
Conhecimentos prévios trabalhados pelo professor com o aluno

Para ter uma boa compreensão, os alunos precisam conhecer de antemão o significado do termo Metalinguagem. Explique a eles que essa expressão remete a uma linguagem que se debruça sobre si mesma. Encontre informações mais detalhadas para elaborar sua explicação no site: http://www2.fcsh.unl.pt/edtl/verbetes/M/metalinguagem.htm - [Acesso em 20/11/09].

Recomenda-se também que os alunos tenham conhecimentos básicos sobre métrica. Veja mais sobre o assunto no link: http://pt.wikipedia.org/wiki/M%C3%A9trica_(poesia) - [Acesso em 20/11/09].

Estratégias e recursos da aula

1ª AULA - 02 aulas de 50 minutos


Professor, propõe-se, nesta aula, a esclarecer aos alunos a diferença existente entre Poesia e Poema. Isso é considerado importante para quebrar a noção que muitos alunos ainda trazem de que para existir poesia tem que haver palavras e, essencialmente, com uso de  rimas.


Sugere-se que se inicie dividindo o quadro em dois lados. De um lado escreva poema e do outro, poesia. Agora ouça os alunos: o que eles sabem sobre cada um desses conceitos? Deixe que eles levantem hipóteses sobre a diferença existente entre esses termos e registre as respostas no quadro.


Quando já tiver um bom número de colocações, entregue a cada aluno uma cópia do poema “O meu impossível”, de Florbela Espanca. Peça a um aluno que faça a leitura do poema em voz alta.

 
O meu impossível

Minh'alma ardente é uma fogueira acesa,
É um brasido enorme a crepitar!
Ânsia de procurar sem encontrar
A chama onde queimar uma incerteza!

Tudo é vago e incompleto! E o que mais pesa
É nada ser perfeito. É deslumbrar
A noite tormentosa até cegar,
E tudo ser em vão! Deus, que tristeza!...

Aos meus irmãos na dor já disse tudo
E não me compreenderam!... Vão e mudo
Foi tudo o que entendi e o que pressinto...

Mas se eu pudesse a mágoa que em mim chora
Contar, não a chorava como agora,
Irmãos, não a sentia como a sinto!...


http://www.revista.agulha.nom.br/flor.html#amiga [Acesso em 20/11/09].


Depois de lido o poema, passe um traço no quadro dividindo o que foram opiniões dos meninos e comece você a construir uma definição para os termos. Busque levantar os conceitos a partir de elementos presentes nos textos. Faça com que os alunos percebam a relação entre forma e significação. Que elementos formais/estruturais do texto nos remetem a tal conceito de poesia e poema? Vá listando os elementos, se achar relevantes subdivida o espaço demarcado abaixo da fala dos alunos em forma e signifcado.


Comece pelo poema. Diga aos alunos que ele é a parte visível, composta por palavras, que constitui uma forma literária. Esclareça que um poema sempre será formado por palavras, ele inexiste sem elas. Recorra ao poema lido e mostre que se trata de um soneto italiano ou petrarquiano (esclareça que esse nome é homenagem ao grande escritor de sonetos Francesco Petrarca, que era italiano e foi precursor dessa forma de escrita de poema). Explique que essa forma literária é fixa e constituída por dois quartetos iniciais e dois tercetos finais, que dão um total de 14 versos. Demonstre também que o poema segue uma lógica de desenvolvimento típica do soneto (Se achar interessante leve exemplos de sonetos e mostre como ele se rganiza e por quê.) , com uma introdução, um desenvolvimento e uma conclusão.

Além disso, professor, dê noções rápidas de métrica aos alunos, fazendo-os perceber que cada verso do poema possui 10 sílabas poéticas, podendo ser classificado como decassílabo. Isso também é um recurso comum a um soneto. Você encontrará maiores informações sobre o assunto no link: http://pt.wikipedia.org/wiki/M%C3%A9trica_(poesia) - [Acesso em 20/11/09]. Faça com os alunos alguns exercícios para a ilustrar como se faz a contagem das sílabas poéticas e enfatizando a diferença entre o sistema de separação de sílaba de palavras. Será um exercício interessante, pois isso é realmente uma novidade para os alunos e eles poderão entender como a linguagem pode ser apropriada pelos falantes/escritores em prol de suas necessidade, intenções e objetivos. A linguagem como uma atividade social que se organiza em função das situações de uso. Escrever poemas exige um trabalho mental elaborado e não nasce de uma inspiração divina; usar a linguagem em situações cotiadianas exige também um trabalho mental de elaboração e nós não o percebemos, porque o fazemos quase que naturalmente como o ato de respirar. Proponha um desafio, divida a sala em grupos, distribua cópias de poemas e peça para identificarem o tipo de verso, de rimas e divisão em sílaba métrica. Sempre as respostas devem ser jsutificadas e os colegas dos outros grupos é que discutirão a correção ou não das respostas dadas. (Se você optar pela estratégia de jogos, deverá dispensar mais tempo para essa aula.)

Neste momento, deixe os alunos perceberem que os recursos da língua estão ao dispor dele e que cada um pode operar com ele a seu bel prazer. Há normas estabelecidas de uso, mas elas podem ser de formas bem peculiares... Deixe os alunos explorarem  a métrica dos poemas. Mostre a classificação dos versos de acordo com a métrica. Faça tudo isso com textos (poemas) de diversos autores. É bem interessante eles conhecerem trechos de Os Lusíadas, de Camões. Fale um pouco desse texto, explicitando a sua composição (quantidade de versos, estrutura e classificação de rimas) e o conteúdo (fazer uma elegia, ou seja, cantar as grandes conquistas do povo português além mares). 

Feitas essas colocações, ressalte que todas essas características constituem a estrutura de um poema, mas não tem nenhum tipo de ligação com a poesia, que não é uma estrutura física ou material, mas sim o que se pode chamar da entidade abstrata ou substância que toca o poema, dando-lhe o seu sentido completo. O poema e a parte visível que podemos explicar e classificar, mas a poesia vai além. Ela é o efeito que é causado no observador ao se ler um bom poema, ao se ouvir uma boa música, ao se apreciar uma pintura, uma escultura etc. Portanto, a poesia não se manifesta apenas por meio de palavras (como aconteceu no poema acima), mas ela tem várias outras formas de expressão artísticas. Há poesia em tudo o que suscite a sensação de beleza, dor, medo, enfim, em tudo que fustigue a alma humana e cause uma reciprocidade de sentimentos entre a obra de arte e o observador.


Não se esqueça, professor, de sempre confrontar as explicações que você está dando sobre poesia, com as sugestões que os alunos haviam proposto e que estão anotadas no quadro. Isso é importante para valorizar a participação e o envolvimento deles na construção do conhecimento em sala de aula.


Ainda usando como modelo o poema, demonstre com uma nova leitura,  em termos da  literariedade das palavras, dos jogos feitos com a linguagem, das escolhas de metáforas empregadas, acabam por causar no leitor certa angústia com a própria angústia do eu - lírico.


Professor, para tratar desse assunto com seus alunos, recomenda-se o primeiro capítulo do livro “O Arco e a Lira”, de Octavio Paz, chamado “Poesia e Poema”. Embora seja um texto de maior profundidade teórica, uma leitura bem orientada por você pode trazer aos alunos conhecimentos fundamentais para se atingir o propósito de nossas aulas. Aproveite para tentar identificar os elementos já citados por vocês em sala: a densidade do texto se torna menor se você estabelecer relações com o já visto e dito em sala. Explore ao máximo essa leitura.

2ª AULA - 3 aulas de 50 minutos


A sugestão para essa aula é que os alunos assistam ao filme “Cimena Paradiso” do diretor Giuseppe Tornatore. O link que se segue apresenta o trailer do filme. http://www.youtube.com/watch?v=5WQLdZ7d9Lc – [Acesso em 19/11/09].


O filme se passa nos anos que antecederam à invasão da televisão, logo após o término da segunda Grande Guerra. Ele se passa em uma pequena cidade da Sicília , em que o garoto Toto (Salvatore Cascio) encanta-se desde pequeno pelo cinema e, a fim de conseguir ter mais contato com a sua paixão, tenta tornar-se amigo de Alfredo, o projecionista de filmes do cinema. No decorrer do filme eles se tornam grande amigos Toto aprende com o velho a arte do cinema. Já depois de crescido, morando em outra cidade e aclamado como cineasta de sucesso, Toto recebe a notícia da m orte do amigo, que desencadeia lembranças de uma vida toda, em torno d as quais desenvolve-se o filme. O filme é uma construção metalinguística (o termo está já foi explicado em “Conhecimentos prévios trabalhados pelo professor com o aluno” narrada de forma lírica. E é esse lirismo, essa junção de imagens altamente carregadas de um apelo poético, que nos interessa para dar continuidade a essa proposta.


Execute o filme e peça aos alunos que enquanto assistem, observem as formas de constituição das cenas. Eles devem prestar atenção às imagens, à trilha sonora, aos pequenos detalhes que são apresentados no decorrer do filme, cuja junção, no todo, colaboram para a formação de um efeito poético, que acaba por despertar em quem assiste um sentimento de beleza, um sentimento estético.


Para que os alunos percebam com maior clareza o que você está dizendo, pegue uma cena como modelo. Ela ocorre logo no início do filme, quando o personagem central, Toto, já adulto, recebe a notícia da morte do seu companheiro. Nessa cena, aparece, por vezes, um mensageiro dos ventos, que devido à tempestade que está caindo, se movimenta sem parar. O ambiente de penumbra, aliado à notícia da morte, à tempestade e ao som do mensageiro dos ventos, cria um uma composição a que podemos chamar, poética. É como quando, na criação da uma metáfora de um poema, todas as palavras contribuem para a criação de um sentido poético. Assim também, as cenas são organizadas para causar um efeito de sentido e uma reação em quem está assistindo ao filme. Portanto, da mesma forma que o poema pode ser considerado um lugar para a manifestação da poesia, o filme e seus elementos de composição também podem.


Tendo feito essa análise juntamente com eles e após terem visto todo o filme pensando nesses componentes, peça que eles o revejam, em casa, e escolham uma cena sobre a qual escreverão explicando de que forma os elementos envolvidos em tal cena formam um sentido poético.


Deixe claro que eles deverão fazer inicialmente uma descrição da cena que escolheram, apontando os elementos que a compõem. Em seguida eles apontaram argumentos que defendam a hipótese de que aquela cena tem funções estéticas que remetam ao poético. Deve estar claro aos olhos do aluno que a cena escolhida deverá ter subentendida a manifestação da poesia. Esse processo é importante para desmistificar a ideia de que a poesia deve estar irremediavelmente ligada ao poema, condicionada à palavra e ao gênero literário.

3ª AULA - duas aulas de 50 minutos


Nesta aula os alunos deverão apresentar suas colocações sobre a cena que escolheram. Eles passarão a cena para os colegas e farão a apresentação de seus argumentos. O objetivo dessa apresentação, professor, é que você observe a maturidade dos alunos em relação ao tema trabalhado, e que tire eventuais dúvidas que sejam manifestadas a partir da apresentação. Espera-se que fique claro aos alunos que a poesia pode estar presentes em formas distintas de arte, inclusive no cinema, manifestando-se de maneira a causar uma sensação de beleza no receptor. Para que o trabalho não se torne enfadonho, sugira que os grupos que tenham escolhido as mesmas cenas falem sobre o trabalho que fizeram. Enfatize aqui a ideia do debate e como ele deve se organizar: os alunos devem ouvir atentamente o que os colegas falam e completar com o que acham relevante, reforçar/negar  um argumento, exercitar o poder de análise, de comparação, de distinção, de síntese e de conclus ão.


Espera-se que com essa sequência de ações, os alunos entendam o caráter abstrato da poesia, dissociado da materialidade do poema e compreendam que o poético também pode se manifestar em outras formas de expressão da arte.

Recursos Complementares

http://www.youtube.com/watch?v=5WQLdZ7d9Lc – [Acesso em 19/11/09] - Trailer do filme “Novo cinema Paradiso”, do diretor Giuseppe Tornatore.


http://www.revista.agulha.nom.br/flor.html#amiga - [Acesso em 20/11/09] – Poema “O meu impossível”, Florbela Espanca.

http://www2.fcsh.unl.pt/edtl/verbetes/M/metalinguagem.htm - [acesso em 20/11/09] - Informações sobre metalinguagem.

http://pt.wikipedia.org/wiki/M%C3%A9trica_(poesia) - [Acesso em 20/11/09] - Explicação sobre Métrica Poética.

Avaliação

Professor, avalie o interesse de seus alunos em relação às proposições feitas em sala de aula. Observe a criatividade e a capacidade argumentativa de explicar o motivo de suas escolhas em relação à cena do filme “Cinema Paradiso”. Caso tenham sido perspicazes e coerentes em suas escolhas, elogie-os. Em casos contrários, demonstre ao aluno de forma carinhosa que ele pode ser esforçar mais para obter melhores resultados e apresente um novo modelo de como ele poderia ter feito. Fique atento, pois se seu aluno não trouxe o retorno que você esperava, há alguma lacuna de compreensão que precisa ser preenchida. Dar uma atenção especial a esse aluno pode despertar maior interesse e comprometimento dele em relação às atividades propostas. 

Por último, proponha que cada aluno elabore uma auto-avaliação em uma folha separada. Nela ele deverá escrever com as próprias palavras, sem auxilio a nenhum material de consulta, o que entendeu que é poema e poesia. Ele deve também escrever o que achou da forma como a temática foi apresentada e dar alguma sugestão de melhoria.

Opinião de quem acessou

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