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Música – Canto coletivo na África do Sul (aula 01): Isicathamiya e o grupo Ladysmith Black Mambazo

 

17/12/2009

Autor e Coautor(es)
Daniel Fils Puig
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RIO DE JANEIRO - RJ COL DE APLIC DA UNIV FED DO RIO DE JANEIRO

Claudia Helena Azevedo Alvarenga

Estrutura Curricular
Modalidade / Nível de Ensino Componente Curricular Tema
Ensino Médio Artes Dança: Canal
Ensino Fundamental Final Artes Música: Apreciação significativa em música: escuta, envolvimento e compreensão da linguagem musical
Ensino Médio Sociologia Mudança e transformação social
Educação Escolar Indígena Artes Arte e pluralidade cultural
Ensino Médio Sociologia Ideologia e a indústria cultural
Ensino Médio Sociologia Movimentos sociais / direitos / cidadania
Ensino Médio Artes Música: Estruturas morfológicas
Ensino Médio Sociologia Cultura e diversidade cultural
Ensino Médio Artes Dança: Contextualização
Ensino Médio Geografia Questões ambientais, sociais e econômicas
Ensino Médio Artes Música: Contextualização
Ensino Médio Artes Música: Canal
Ensino Médio História Cultura
Educação Escolar Indígena Artes Arte, expressão e conhecimento
Ensino Médio Sociologia Indivíduo, identidade e socialização
Ensino Médio Sociologia Estrutura e estratificação social: a questão das desigualdades sociais
Educação de Jovens e Adultos - 2º ciclo Artes Música: desenvolvimento da linguagem musical
Educação Escolar Indígena Artes Arte, patrimônio e identidade
Ensino Médio Sociologia Poder, política e Estado Moderno
Ensino Médio Artes Música: Estruturas sintáticas
Ensino Médio Sociologia Relação sociedade / natureza: a questão do trabalho e do meio ambiente
Ensino Fundamental Final Artes Música: Compreensão da música como produto cultural e histórico
Ensino Fundamental Final Artes Música: Expressão e comunicação em música: improvisação, composição e interpretação
Dados da Aula
O que o aluno poderá aprender com esta aula

Compreender a atividade musical como forma de expressão de uma cultura: suas contradições, sua história e sua identidade.

Compreender a importância do canto coletivo na cultura sul-africana, a especificidade do canto responsorial e os paralelos dessas manifestações na cultura brasileira e em outras culturas.

Desenvolver a prática da música em conjunto e as noções de pulsação e compasso.

Vivenciar essas manifestações através do contato com a produção do grupo Ladysmith Black Mambazo.

Nesta coleção de aulas os alunos aprenderão canções da África do Sul, a uma ou mais vozes, bem como acerca da história e dos aspectos sociais marcantes daquele país.

Duração das atividades
2 aulas de 50 minutos (1h40min).
Conhecimentos prévios trabalhados pelo professor com o aluno

Noções de pulsação e canto coletivo a mais de uma voz. Opcionalmente, leitura da grafia musical tradicional. 

Estratégias e recursos da aula

Conceitos

Canto Responsorial

Tipo de canto coletivo onde uma voz (muitas vezes solista) “chama” a resposta das outras vozes, ou seja, uma voz entra com o motivo ou tema inicial e é seguida, pouco tempo depois, por uma resposta das outras vozes, geralmente, em imitação variada. É comum chamar a isto de um jogo musical de “perguntas e respostas”.

Na acepção litúrgica, considera-se que o canto responsorial tenha origem na tradição sinagogal judaica e que seja a forma mais antiga de canto da Igreja Católica. Nestes casos, trata-se geralmente de um Salmo cuja parte principal é cantada por um solista ou por um coro seguida, após cada versículo ou grupo de versículos, por uma resposta iterativa da assembléia. Na tradição católica o canto responsorial surge ligado ao canto gregoriano, mas sua influência musical se estendeu a outras manifestações do canto coral como cantatas e oratórios da música de concerto do período barroco e posteriores. Mais tarde passou a ser utilizado em óperas e em diversos estilos da música de concerto dos séculos XX e XXI.

O canto em estilo responsorial é muito comum em culturas africanas onde os grupos vocais possuem tradicionalmente um líder. Nestes casos, a estrutura responsorial é extremamente variada e o líder ou cantor principal tem uma função primordial na condução do discurso musical conduzindo, inclusive, a interpretação do grupo. Não fica muito clara a distinção entre a denominação responsorial ou antifonal para este tipo de manifestação musical, provavelmente pelo fato de que as classificações da nossa teoria musical baseiem-se mais nos modelos advindos da cultura centro-europeia.

A influência deste tipo de canto coletivo africano é clara na música Soul norte-americana onde o jogo de “perguntas e respostas” entre o cantor solista e o coro fica evidente. Esta influência se estendeu também à música das igrejas cristãs reformadas na América do Norte e, a partir daí, à música de diversas denominações de igrejas cristãs da atualidade, em estilos da chamada “música gospel”.

No Brasil, existe a denominação etnográfica “Vissungo” para o canto responsorial praticado por escravos de origem africana que trabalhavam nas lavras de diamantes e ouro do estado de Minas Gerais. Essa música era raramente entoada em português, prevalecendo o uso de idiomas africanos de origem angolana.

Veja também a aula “Música – Canto coletivo na África do Sul (aula 02): ‘Tchotcholôsa’, um canto de trabalho” para outras explorações do tema.

Isicathamiya

A palavra isicathamiya (a consoante “c” é pronunciada com um clique da língua na região dental posterior — isto pode ser ouvido na narração do vídeo sobre Isicathamiya listado em “Recursos Complementares”) é original do idioma Zulu da África do Sul e não tem uma tradução literal, mas sua etimologia indica que deriva do verbo “-cathama”, que significa pisar suavemente. Ela se refere a um estilo de canto coletivo a cappella (sem acompanhamento instrumental) que tem origem nessa cultura, praticado exclusivamente por coros masculinos. Esses coros eram muito utilizados em festividades, especialmente em casamentos, e sua origem remonta ao século XIX. No início do século XX muitos homens deixaram suas tribos na África do Sul à procura de empregos na cidade e sua urbanização deixou o estilo esquecido por várias décadas.

O nome Isicathamiya contrasta com um mais antigo do canto a cappella Zulu: Mbube, que quer dizer “leão”, e onde as canções são cantadas com grande força e intensidade. A mudança do nome também marca uma mudança no estilo musical, pois tradicionalmente Isicathamiya procura conseguir uma mistura harmoniosa entre as vozes, apresentando uma forma suave de emissão vocal, porém de articulação clara e ritmada. O nome também se refere às coreografias que acompanham o estilo cuja característica marcante são os passos executados na ponta dos pés, apesar de sua força e velocidade. A emissão vocal — geralmente bastante anasalada, especialmente na região aguda — também apresenta diversos efeitos tradicionais das culturas africanas, como golpes de glote, trilos agudos com a língua, gritos e diversos sons guturais, utilizados com a finalidade de enfatizar o aspecto rítmico, constituir um contraponto ao movimento musical estabelecido anteriormente no decorrer da canção ou realçar a entrada de uma voz. A pronúncia das palavras é comumente explorada em seu aspecto sonoro e rítmico para enfatizar o tema da canção e as palavras que possuem cliques de língua (presentes em línguas sul-africanas como Zulu e Xhosa) têm um efeito bastante singular. Aparecem igualmente diversos portamentos e glissandos, bem como muitas passagens em uníssono e o realce da melodia pelo dobramento na oitava. Por se tratar de um coro de vozes iguais, empregam-se harmonias muito fechadas onde não são raros acordes com segundas. Outra característica que deriva do mesmo motivo é a condução das vozes em intervalos paralelos, incluindo quartas, quintas e oitavas. Também não é raro ouvir intervalos que se desviam da afinação temperada, como terças e nonas maiores um pouco abaixadas.

Observações importantes

Professor(a), você pode escolher não realizar a pesquisa e a discussão acerca da África do Sul nesta aula, e sim em outra aula sobre aquele país. Você também pode escolher dividir os temas para discussão em diferentes aulas. Porém, não deixe de aproveitar os temas sociais que a abordagem da história da África do Sul suscita, em especial aqueles ligados ao sistema de segregação racial conhecido como Apartheid (ver links em “Recursos Complementares”).

Preparação a ser feita pelo Professor, anterior à aula

Faça uma lista de temas ligados à África do Sul e sua história, ao canto coletivo naquele país, ao Isicathamiya e ao grupo Ladysmith Black Mambazo. Encontre e selecione informações sobre esses temas que possam enriquecer sua aula. Divida os temas entre os alunos na aula anterior a esta e peça a eles que preparem uma apresentação de aproximadamente 5 minutos acerca dos elementos que julgarem mais importantes no material que você entregou para pesquisa. Você também pode usar diferentes dinâmicas para distribuir os temas como: sorteio, escolha dos temas pelos alunos, etc. Tenha certeza de distribuir material adequado à faixa etária dos seus alunos. Você pode encaminhar esta atividade para que os alunos a realizem em grupo ou individualmente. Deixe claro que todos os integrantes devem participar da preparação e que isto será avaliado durante a apresentação do grupo. Estimule-os a procurar outras fontes de pesquisa sobre o tema e a fazer referência a estas durante a apresentação, bem como trazer a sua referência anotada.

Desenvolvimento da aula

Professor(a), inicie sua aula pedindo aos grupos para fazer suas apresentações acerca dos temas que você distribuiu. Controle o tempo de cada apresentação para que não passe muito de 5 minutos. Avalie cada grupo durante sua apresentação segundo critérios como: participação de todos os membros, acuidade das informações, capacidade de síntese e de compreensão do tema, etc. Ao final das apresentações promova um debate e tente encaminhá-lo para as questões que dizem respeito aos aspectos musicais ou ligados à prática musical. Procure uma forma de encaminhar a discussão para um aspecto que faça uma ponte com o canto coletivo ou com Isicathamiya. A partir daí, apresente alguma das gravações ou vídeos do grupo Ladysmith Black Mambazo.

Deixe que os alunos escutem/vejam a música com cuidado e atenção, e peça a eles que façam comentários acerca do que viram. Direcione a discussão para:

1) os aspectos políticos - como a importância da divulgação do trabalho do grupo no disco do cantor Paul Simon para o movimento mundial contra o Apartheid ou a abordagem que as letras do grupo fazem acerca de temas ligados à opressão dos negros na África do Sul;

2) o canto responsorial - os tipos de emissão vocal e de trabalho harmônico que o grupo faz (ver “Conceitos” acima), destacando as diferenças e semelhanças quanto a manifestações na música brasileira;

3) a ligação entre a música, a dança e as letras - os gestos que “explicam” do que a letra está falando, os movimentos de danças tribais, a forma de dançar (na ponta dos pés) e o nome do estilo musical (Isicathamiya — ver “Conceitos” acima) e o uso das palavras com cliques das línguas africanas (não esquecer que a palavra “isicathamiya” tem um clique no “c” — isto pode ser ouvido na narração do vídeo sobre Isicathamiya listado em “Recursos Complementares”);

4) a ligação entre essa manifestação musical e aquelas que seus alunos conhecem do seu entorno cultural, tanto popular, folclórico e religioso, quanto dos meios de comunicação de massa.

Acerca deste último ponto, você pode fazer perguntas como:

- Em que manifestações musicais brasileiras podemos ouvir o canto responsorial?

- Em que aspectos das músicas e das danças brasileiras podemos identificar influências das culturas africanas?

- Que formas de canto e de emissão vocal da cultura brasileira possuem aspectos parecidos aos observados em Isicathamiya?

- Que músicas têm se tornado “hinos” na nossa cultura (local, nacional e/ou global)?

Intercale outras gravações e/ou vídeos do grupo Ladysmith Black Mambazo com mais comentários.

Ao final da aula ou quando lhe parecer mais apropriado, mostre um vídeo ou gravação das músicas “Tchotcholôsa” e “Nkosi Sikelel’ iAfrika” e, se for este seu intuito, diga aos alunos que terão a oportunidade de aprendê-las em outras aulas (são as aulas seguintes desta coleção acerca do canto coletivo na África do Sul). Caso não tenha o intuito de seguir com as aulas desta coleção, fale da importância das duas músicas: “Tchotcholôsa” é um canto de trabalho que se tornou o hino não-oficial da seleção de futebol sul-africana, ganhando repercussão mundial, e “Nkosi Sikelel’ iAfrika” é parte do hino da África do Sul, tendo sido durante muito tempo o hino de um dos partidos políticos mais importantes na luta contra o Apartheid, o Congresso Nacional Africano (ANC) do qual faz parte o líder Nelson Mandela. Ambas as canções representam o orgulho, a dignidade e a liberdade para o povo sul-africano.

Uma outra maneira de prosseguir após esta abordagem do tema, é propor a pesquisar com seus alunos e a realizar musicalmente e/ou coreograficamente as manifestações musicais brasileiras que forem levantadas durante a discussão.

Deixe a criatividade guiar o processo!

Recursos Complementares

África do Sul

http://pt.wikipedia.org/wiki/África_do_sul

http://pt.wikipedia.org/wiki/História_da_África_do_Sul

Apartheid

http://pt.wikipedia.org/wiki/Apartheid

http://pt.wikipedia.org/wiki/Nelson_Mandela

http://pt.wikipedia.org/wiki/Steve_Biko

Um Grito de Liberdade (filme sobre o ativista Steve Biko, mártir da luta contra o sistema do Apartheid, com Denzel Washington no papel principal)

http://pt.wikipedia.org/wiki/Cry_Freedom

Isicathamiya

http://www.youtube.com/watch?v=hWkIsSKWhWc (vídeo informativo com diversos grupos jovens em cuja narração inicial em inglês é pronunciada a palavra “isicathamiya” com o clique de língua característico na consoante “c”)

Página oficial do grupo Ladysmith Black Mambazo

http://www.mambazo.com

Ladysmith Black Mambazo e Paul Simon (Zimbabwe, 1987 – este show é histórico, pois representou um marco na luta contra o Apartheid)

http://www.youtube.com/watch?v=O6Hnfu76QIs

http://www.youtube.com/watch?v=OafqYNCzq5U

Partes do filme “Do It A Cappella”, do diretor Spike Lee

http://www.youtube.com/watch?v=eJBQcUzPF-g

http://www.youtube.com/watch?v=laIPbYn3yK8

http://www.youtube.com/watch?v=r4XC9PcIMkE (em conjunto com o grupo vocal feminino “Mint Juleps”, interpretando a mesma música do vídeo abaixo)

The Lion Sleeps Tonight (com um lindo texto introdutório, em inglês)

http://www.youtube.com/watch?v=_dkvgu7jWXA

Homeless (sucesso no disco “Graceland” de Paul Simon)

http://www.youtube.com/watch?v=G5tngHfemWc

Knocking on Heaven’s Door (música de Bob Dylan, interpretada pelo grupo e Dolly Parton)

http://www.youtube.com/watch?v=9Zkr6kb8L58

Amazing Grace (Negro Spiritual, um dos sucessos do grupo)

http://www.youtube.com/watch?v=2vZsCuFX2JY

Outros vídeos

http://www.youtube.com/watch?v=NDMZrf3pbgQ

http://www.youtube.com/watch?v=uiB6vT5HT3U

http://www.youtube.com/watch?v=XTGSVGFUZIA

http://www.youtube.com/watch?v=4H6QO-cdoow

http://www.youtube.com/watch?v=EY-Wb0YHvog

Página com discografia e algumas músicas para ouvir

http://www.singers.com/ladysmith.html

Avaliação

Os alunos serão capazes de:

- Ler material distribuído pelo professor, destacar informações importantes e preparar uma apresentação curta, podendo enriquecê-la com outras pesquisas.

- Debater acerca dos temas levantados pelas apresentações dos grupos da turma.

- Escutar e/ou assistir em vídeo a músicas do canto coletivo sul-africano no estilo Isicathamiya, representado pelo grupo Ladysmith Black Mambazo, e debater acerca dessas manifestações musicais.

- Relacionar a discussão feita durante a aula e as manifestações musicais apresentadas com a sua própria realidade cultural e com a cultura brasileira como um todo.

Opinião de quem acessou

Cinco estrelas 2 classificações

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Opiniões

  • Rogério Dilkin, UNIJUÍ , Rio Grande do Sul - disse:
    dilkin1@hotmail.com

    09/02/2011

    Cinco estrelas

    Conteúdo muito interessante, bastante dinâmico, e que espraia o assunto envolvendo vários aspectos objetivos e subjetivos que se relacionam com a temática abordada. Confesso que encontrei muitas respostas para minhas dúvidas, e igualmente um "Norte" Bem destacado apontando a direção de novas pesquisas que por ventura eu venha a necessitar. Excelente! Parabéns ao professor! Abraço! Rogério Dilkin - 09/02/2011 - 23:00h


  • Eva Aparecida da Silva, NTE/CEFAPRO - (Diamantino) , Mato Grosso - disse:
    eva.apper@hotmail.com

    24/03/2010

    Cinco estrelas

    Nesta aula o aluno e professor terão muitas informações que ajudará na compreensão da formação cultural brasileira.


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