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Contando as Histórias da Preta

 

17/12/2009

Autor e Coautor(es)
Graça Regina Franco da Silva Reis
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RIO DE JANEIRO - RJ COL DE APLIC DA UNIV FED DO RIO DE JANEIRO

Estrutura Curricular
Modalidade / Nível de Ensino Componente Curricular Tema
Ensino Fundamental Inicial Pluralidade Cultural Continentes e terras de origem dos povos do Brasil
Ensino Fundamental Inicial Pluralidade Cultural Trajetórias das etnias no Brasil e situação atual
Ensino Fundamental Inicial Língua Portuguesa Análise e reflexão sobre a língua
Ensino Fundamental Inicial Língua Portuguesa Língua escrita: prática de leitura
Dados da Aula
O que o aluno poderá aprender com esta aula

Refletir sobre diferentes temas que cercam seu cotidiano
Estimular o desejo do aluno em conhecer novos textos
Ler com fluência
Usar o dicionário

Duração das atividades
2 aulas de 50 minutos
Conhecimentos prévios trabalhados pelo professor com o aluno
Estratégias e recursos da aula

Turma dividida em grupos
Leitura de um trecho do primeiro capítulo do livro “Histórias da Preta” de Heloisa Pires Lima – Companhia das Letrinhas. São Paulo, 1998, feita pelo professor e acompanhada pelos alunos, por meio de livros individuais ou com um livro por grupo.


A Preta se apresenta

Fazia muito frio. Eu precisava pôr a luva, o casaquinho marrom de lã e o gorrinho vermelho que se espichava num cachecol. Toda manhã, na hora de ir para o colégio, era preciso cobrir a pele já rachada pelo vento frio e seco. O pior era o nariz que grudava gelado no vidro da janela embaçada, olhando a geada que transformava meu quintal em cristal. Ao anoitecer, era da mesma janela que eu via as estrelas andarem e às vezes correrem de luas gigantes. Pisca aqui, pisca ali As noites muito escuras traziam as nuvens de vaga-lume. Pisca aqui, pisca ali, num rastro de puro encantamento. Lembro do meu olhar saindo detrás do vidro da casinha toda verde da rua chamada Serra Azul, com meu nariz sempre à frente e meus pés que não pararam de descobrir ruas novas. Cresci uma menina igual a todas as meninas e diferente de todas as outras. Desse jeito sou eu com minha história, nesta história com todos os tamanhos que couberem neste livro.


Eu sou a Preta. Era minha madrinha, a tia Carula, uma irmã querida de minha mãe, quem me chamava assim. Ela sempre chegava com um lencinho na cabeça e uma sacola de palha cheia de novidades, que eu abria sentindo cheirinho de boneca nova, de joguinho para brincar, de roupa bonita, de livrinhos de história com perfume de papel colorido.
— Preta, vim te buscar!
As férias traziam com ela flores que eu nunca tinha visto e montanhas onde o mundo ficava embaixo, depois das nuvens. Numa dessas vezes, esqueci minha cordinha de pular em cima de uma pedra. Ficava triste lembrando dela sem mim, sozinha. Às vezes imagino que ela está lá até hoje.
Mas o melhor de tudo eram os aniversários, quando a tia chegava para ajudar minha mãe e preparar delicias.
— Preta, olha o bolo, os pastéis, a calça-virada, a cuca e os canudinhos que fiz pra ti!
Porém, o grande amor que nascia do coração da tia Carula ficou principalmente na minha lembrança de certos dias tristes em que ela chegava com sua sacolinha de carinhos. E só ela sabia me chamar de Preta desse jeito que ficou tão doce. Olha que engraçado: quando outros diziam que eu era preta eu achava estranho.
— Eu não sou preta, eu sou marrom. Cor de doce de leite, com a canela, como o chocolate, como o brigadeiro. Cor de telha, cor de terra. Eu sou assim... da cor dos olhos dos meus pais!
E fui aos poucos descobrindo que eu era a Preta marrom, uma menina negra. Ser negra é como me percebem? Ou como eu me percebo? Ou como vejo e sinto me perceberem? Tenho um amigo que só às vezes é preto. Que fica preto quando vai a praia no verão. Ser negro é muito mais do que ter um bronze na pele.
Como é, afinal ser uma pessoa negra? Eu só respondo quando responderem como é que é ser uma pessoa que não é negra.
Uma vez, sentei debaixo da parreira de uva, na casa da vó Lídia. Fiquei olhando para o alto, as bolinhas cheias de suco por dentro. Eram muito saborosas (quando eu não descobria formigas entre gomos). A vó Lídia sempre ficava por ali, arrumando suas plantinhas, enchendo o mundo com cheiro de terra molhada. Nossa conversa era ela perguntar pouco e eu responder pouquinho. Mas tinha um amor que grudava a gente, uma na outra.Lá estava ela, a vó linda com sua cor negra, cabelo branquinho, olhos serenos, mãos fortes e uma perna manca. E aí eu perguntei:
— Vó, quem inventou a cor das pessoas?
Isso eu perguntei porque havia aprendido que uns são amarelos, outros brancos e outros vermelhos. Ela disse:
— Eu só respondo se tu me disser quem inventou o nome da cor das pessoas.
Eu fiquei lá, pensando e chupando uva, e ela continuou plantando suas sementes.
Dizem que sou afro — etiqueta para todos ou tudo o que é parecido com algo ou alguém da África. Euro é a etiqueta para semelhança européias. E outros continentes, que etiquetas recebem?
Afro tem em todos os países. Por exemplo, existem os afro-brasileiros, os afro-americanos, os afro-cubanos, os afro-franceses. Será que tem afro-suecos? Enfim, é o seguinte: afro vem de se ter uma origem africana.
Desde a época em que minhas pernas ficaram compridas e m eu peito parecia um balão que se enchia, fui aprendendo que trago dentro de mim um pouco do que meus pais e avós e bisavós , trisávos, tataravós e... — depois eu não sei mais como chama — foram. É assim: para nascer é preciso duas or igens, ou seja, o lado da mãe e o lado do pai. Cada um traz um monte de origens. O lado do pai traz as origens da parte de seu pai e as da parte de sua mãe. O lado da mãe, por sua vez, também carrega a parte de seu pai e a parte de sua mãe. Todo o mundo nasce carregado de origens.
E, se é assim, então quantas origens carrego dentro de mim? Quantas sementes?
Também tenho parentes alemães por parte da minha avó, clara, casada com meu avô negro índio, guarani de ascendência charrua. Que confusão! Outro dia eu conversei com um amigo loiro cuja mãe sempre conta com orgulho que seu avó era negra. Nós entreolhamos sorrindo. Eu, negra descendente de alemães, e ele, loiro descendente de crioulos. Ninguém acredita!
[...]

Após a leitura deste fragmento, pedir que as crianças respondam oralmente a algumas perguntas:

Qual é a personagem principal do texto?

Quem narra o texto?

O que a menina sentia quando tia Carula a chamava de Preta? E quando  outras pessoas a chamavam de preta?

O que será que a Preta quis dizer com...

a) “Tenho um amigo que só às vezes é preto.”

b) “[...] para nascer é preciso duas origens [...]”.

A palavra semente apresenta diferentes significados neste trecho do texto. Que tal tentarmos entendê-los?

a) “Eu fiquei lá, pensando e chupando uva, e ela continuou plantando suas sementes.”

b) “E, se é assim, então quantas origens carrego dentro de mim? Quantas sementes?”

Obs: As perguntas acima foram organizadas a partir da leitura do livro Projeto Pitanguá - Português, 1 ed. Ed. Moderna - org. São Paulo, 2005.

Relacionar com eles os assuntos trabalhados neste fragmento de texto.
Por exemplo:
• origem das pessoas,
• cor da pele,
• preconceito.

Pedir que ilustrem o trecho lido e registrem em pequenas frases as conclusões sobre os temas discutidos.

Segunda aula

Após a discussão inicial gerada pelas perguntas que trabalham com o texto lido, pedir que cada grupo escreva as palavras desconhecidas que encontrou no decorrer do texto e anote-as em um papel.
Dar um ou mais dicionários para cada grupo para que possam procurar as palavras e escrever seus significados.
Por último, pedir que cada grupo escreva uma nova frase onde a palavra, agora conhecida, possa ser inserida.
Montar com as crianças um blocão com as novas palavras, ou colocar as palavras, seus significados e as novas frases no mural da turma junto com os desenhos.

Dicas e sugestões:

Este livro deve ser lido integralmente pelas crianças. É um livro “Altamente Recomendá vel pela Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil"
O ideal é que cada aluno possa ter o seu próprio livro. Caso isso não seja possível, apresentar, pelo menos, um livro por grupo. A parceria com a biblioteca é sempre importante.

Recursos Complementares

No site indicado abaixo, você encontra uma discussão sobre o livro a partir de CAVALLEIRO, Eliane. Racismo e anti-racismo na educação: repensando nossa escola. São Paulo: Summus,2001. pp. 206-212.

http://www.construirnoticias.com.br/asp/materia.asp?id=1020

Avaliação

Há aqui, pelo menos, três momentos que devem ser avaliados:
1° Participação na discussão,
2° Busca das palavras no dicionário e
3° Elaboração de novas frases que indiquem o entendimento das palavras pesquisadas.

Opinião de quem acessou

Cinco estrelas 2 classificações

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Opiniões

  • vania, solar , Rio de Janeiro - disse:
    negreiro35@gmail.com

    22/05/2011

    Cinco estrelas

    muito bom!


  • Deusiléia Silva Bandeira, Escola Municipa Castro Alves , Bahia - disse:
    leia.bandeira@hotmail.com

    02/11/2010

    Cinco estrelas

    uito interessante essa sugestão. Trablho com criançade 5º e 6º ano e estou fazendo trabalhos sobre consciencia negra, essa sugestão será riquíssima para o desenvolvimento dos trabalhos em sala de aula.


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