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A crônica: levando a realidade para a ficção

 

22/02/2010

Autor e Coautor(es)
Priscila Brasil Gonçalves Lacerda
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BELO HORIZONTE - MG ESCOLA DE EDUCACAO BASICA E PROFISSIONAL DA UFMG - CENTRO PEDAGOGICO

Prof. Luiz Prazeres

Estrutura Curricular
Modalidade / Nível de Ensino Componente Curricular Tema
Ensino Fundamental Final Língua Portuguesa Língua oral e escrita: prática de produção de textos orais e escritos
Educação de Jovens e Adultos - 2º ciclo Língua Portuguesa Linguagem escrita: leitura e produção de textos
Ensino Fundamental Final Língua Portuguesa Análise linguística: modos de organização dos discursos
Dados da Aula
O que o aluno poderá aprender com esta aula

Esta aula tem por objetivo fazer com que os alunos reconheçam as características da crônica, estabelecendo um contraste com a notícia. Dessa forma, eles poderão aprimorar a sua habilidade de interpretação e produção do gênero de texto em estudo.

Duração das atividades
Aproximadamente 3 aulas de 50 minutos.
Conhecimentos prévios trabalhados pelo professor com o aluno

É recomendável que os alunos já tenham algum conhecimento, ainda que superficial, dos gêneros informativos.

Estratégias e recursos da aula
  • Para iniciar a aula, o professor deve apresentar aos alunos a crônica a seguir. Sugerimos que seja solicitado a um aluno fazer a leitura do texto em voz alta, para toda a turma.

O SOTAQUE DAS MINEIRAS (F.P.B. Netto)[1]

O sotaque das mineiras deveria ser ilegal, imoral ou engordar...  Afinal, se tudo que é bom tem um desses horríveis efeitos colaterais, como é que o falar, sensual e lindo das moças de Minas ficou de fora?

Porque, Deus, que sotaque! Mineira devia nascer com tarja preta avisando: 'ouvi-la faz mal à saúde'. Se uma mineira, falando mansinho,  me pedir para assinar um contrato doando tudo que tenho, sou capaz de perguntar: 'só isso?'.  Assino, achando que ela me faz um favor.

Eu sou suspeitíssimo. Confesso: esse sotaque me desarma. Certa vez quase propus casamento a uma menina que me ligou por engano, só pelo sotaque.

Os mineiros têm um ódio mortal das palavras completas. Preferem, sabe-se lá por que, abandoná-las no meio do caminho. Não dizem: pode parar, dizem: 'pó parar' Não dizem: onde eu estou?,  dizem: 'onde queu tô.' Os não-mineiros, ignorantes nas coisas de Minas, supõem, precipitada e levianamente, que os mineiros vivem – linguisticamente falando – apenas de uais, trens e sôs.

Digo-lhes que não. Mineiro não fala que o sujeito é competente em tal ou qual atividade...  Fala que ele é bom de serviço. Pouco importa que seja um juiz, um jogador de futebol ou um ator de filme pornô. Se der no couro – metaforicamente falando, claro – ele é bom de serviço. Faz sentido...

Mineiras não usam o famosíssimo tudo bem. Sempre que duas mineiras se encontram, uma delas há de perguntar pra outra: 'cê tá boa?' Para mim, isso é pleonasmo. Perguntar para

uma mineira se ela tá boa é desnecessário...

Há outras. Vamos supor que você esteja tendo um caso com uma mulher casada. Um amigo seu, se for mineiro, vai chegar e dizer: – Mexe com isso não, sô (leia-se: sai dessa, é fria, etc). O verbo 'mexer', para os mineiros, tem os mais amplos significados.  Quer dizer, por exemplo, trabalhar. Se lhe perguntarem com o que você mexe, não fique ofendido. Querem saber o seu ofício.

Os mineiros também não gostam do verbo conseguir. Aqui nin guém consegue nada. Você não dá conta. Sôcê (s e você) acha que não vai chegar a tempo, v ocê liga e diz: ' – Aqui, não vou dar conta de chegar na hora, não, sô.'

Esse 'aqui' é outra delícia que só tem aqui. É antecedente obrigatório, sob pena de punição pública, de qualquer frase. É mais usada, no entanto,  quando você quer falar e não estão lhe dando muita atenção: é uma forma de dizer 'olá, me escutem, por favor'. É a última instância antes de jogar um pão de queijo na cabeç a do interlocutor.

Mineiras não dizem 'apaixonado por'. Dizem, sabe-se lá por que,'apaixonado com'. Soa engraçado aos ouvidos forasteiros. Ouve-se a toda hora: 'Ah, eu apaixonei com ele...' Ou: 'sou doida com ele' (ele, no caso, pode ser você, um carro, um cachorro)...

[...]

No supermercado, o mineiro não faz muitas compras, ele compra um tanto de coisa... O supermercado não estará lotado, ele terá um tanto de gente.
Se a fila do caixa não anda, é porque está agarrando lá na frente. Entendeu? Agarrar é agarrar, ora!

Se, saindo do supermercado, a mineirinha vir um mendigo e ficar com pena,
suspirará: ' – Ai, gente, que dó.'

É provável que a essa altura o leitor já esteja apaixonado pelas mineiras...
Não vem caçar confusão pro meu lado! Porque, devo dizer, mineiro não arruma briga, mineiro 'caça confusão'. Se você quiser dizer que tal sujeito é arruaceiro, é melhor falar, para se fazer entendido, que ele 'vive caçando confusão'.

Ah, e tem o 'Capaz...' Se você propõe algo a uma mineira, ela diz: 'capaz' !!! Vocês já ouviram esse 'capaz'? É lindo. Quer dizer o quê? Sei lá, quer dizer 'ce acha que eu faço isso'!?
 com algumas toneladas de ironia.. Se você ameaçar casar com a Gisele Bundchen, ela dirá: 'ô dó dôcê'. Entendeu? Não? Deixa para lá.

[...]

Até o tchau, em Minas, é personalizado. Ninguém diz tchau, pura e simplesmente. Aqui se diz: 'tchau pro cê', 'tchau pro cês'. É útil deixar claro o destinatário do tchau...

Texto integral disponível em: http://recantodasletras.uol.com.br/humor/368592 (acesso em 16 de dezembro de 2009).

  • Após terem feito uma leitura do texto, os alunos devem fazer uma pequena análise dele a partir das seguintes questões:

a)    No texto, o narrador parece ter o objetivo de esclarecer algo. O que ele deseja esclarecer?

b)    Que sentimento o narrador parece ter pelas mineira s? Retire do texto uma passagem em que ele manifeste esse sentimento.

c)    Há nesta crônica, vários trechos em que o narrador se expressa com exagero. Que efeito é criado por essa maneira de se expressar?

d)    Caso você tenha o sotaque descrito na crônica, responda: você se reconhece na descrição feita pelo narrador: Cite outros exemplos de peculiaridades do falar mineiro que não foram citadas por ele. Caso você não tenha o sotaque descrito na crônica, faça uma breve descrição do seu sotaque, comparando-o com o sotaque mineiro.

e)    Vamos descrever a crônica que acabamos de ler: trata-se de um texto curto ou longo? É um texto predominantemente narrativo ou dissertativo? É um texto factual ou ficcional? Para fazer esta atividade, elabore um quadro comparando a crônica com outro gênero de texto que você conheça.

  • Depois que os al unos tenham respondido às questões de “a” a “e”, deve ser feita uma correção coletiva da atividade.
  • Dando prosseguimento a aula, o professor deve apresentar aos alunos a notícia a seguir e solicitar que respondam às questões de “f” a “h”.

MARCHA MUNDIAL DAS MULHERES - MULHERES EM MOVIMENTO MUDAM O MUNDO! 8 DE MARÇO DE 2007

Este ano o 08 de março em Minas Gerais teve como marco o ato público realizado em Belo Horizonte com o tema “As mulheres dizem não à tirania do capital”. Foi uma mobilização estadual organizada pela Marcha Mundial das M ulheres juntamente com outros movimentos sociais como a Via Campesina, o Movimento Estudantil, as mulher es da Economia Solidária, UEMP, Conlutas, CUT, alguns sindicatos e partidos. Mulheres de diferentes regiões do estado seguiram em marcha pelas ruas do centro de Belo Horizonte denunciando a violência contra as mulheres, a tirania da beleza, a pobreza, o capitalismo, o agronegócio, as ações neoliberais do governo Bush pelo mundo e do governo Aécio Neves em Minas Gerais. [...] O ato contou com a participação de mais de 2000 pessoas, marcando o retorno das mulheres mineiras às ruas, fato que não se via há muito tempo.

Fonte: http://www.sof.org.br/marcha/?pagina=inicio&idNoticia=212, acessado em 16 de dezembro de 2009.

f)     Qual é o objetivo desta notícia?

g)    Tanto a crônica quanto a notícia falam da mulher mineira, porém, cada um dos textos apresenta uma faceta diferente dessa mulher. Explicite essas facetas.

h)    Descreva a notícia: trata-se de um texto predominantemente narrativo ou dissertativo? É um texto factual ou ficcional?

·         Após realizar a correção desta atividade, passando ao segundo momento da aula, o professor deve desenvolver uma pequena atividade para que os alunos percebam a diferença na construção da temporalidade da crônica em relação à notícia. Os alunos, em duplas, devem fazer a seguinte tarefa:

i)     Procure no texto da crônica e da notícia lidas anteriormente uma expressão que seja indicadora de tempo.

j)     A partir do exemplo encontrado na questão anterior, reflita: que diferença há na construção do tempo na crônica e na notícia? Qual é a relação que o tempo construído nesses textos estabelece com o tempo atual

·         Os alunos encontrarão a expressão de tempo “Certa vez”, na crônica, e “Este ano”, na notícia. O professor deve auxiliá-los a desenvolver a reflexão acerca da temporalidade, por meio do exercício que propomos adiante.

Crônica

Notícia

Certa vez...

Não tem relação com o tempo presente. Constrói-se um tempo interno à narrativa.

Este ano...

Tem relação direta com o tempo presente, com o tempo externo.

Exercício:

Procure nos trechos a seguir marcas de tempo externo (o da notícia) e transforme-as em marcas de temporalidade interna.

Manifestantes ao redor do mundo se mobilizaram nesta segunda-feir a (7), primeiro dia da Conferência do Clima das Nações Unidas em Copenhague, capital da Dinamarca, para lembrar a importância do evento. O objetivo do encontro é evitar as mudanças climáticas resultantes do aquecimento global

Na Índia, os protestos incluíram fantasias de animais típicos do país. Na última semana, o governo indiano anunciou o corte de 20% a 25% na emissão de gases do efeito estufa até 2020.

Fonte: http://g1.globo.com/Sites/Especiais/Noticias/0,,MUL1406497-17816,00-MANIFESTACOES+AO+REDOR+DO+MUNDO+PEDEM+ACORDO+EM+COPENHAGUE.html, acessado em 19 de dezembro de 2009.

As candidatas ao título de Miss Brasil vis itaram o Palácio dos Bandeirantes, edifício-sede do Governo do Estado de São Paulo e residência oficial do governador, José Serra, nesta segunda-feira, 4. Cordial, Serra fez qu estão de cumprimentar todas as moças e posou para fotos ao lado delas. O concurso acontece no dia 9 de maio e vai escolher a substituta de Natália Anderle.

Fonte: http://ego.globo.com/Gente/Noticias/0,,MUL1109368-9798,00-CANDIDATAS+A+MISS+BRASIL+VISITAM+SEDE+DO+GOVERNO+DE+SAO+PAULO.html, acessado em 19 de dezembro de 2009.

O brasileiro vai às compras e lota o comércio de todo o país neste último fim de semana antes do Natal. Os lojistas já vivem a expectativa de vender mais do que no ano passado.

Fonte: http://g1.globo.com/jornalhoje/0,,16010,00.html, acessado em 19 de dezembro de 2009.

·         No terceiro momento da aula, sugerimos que os alunos trabalhem com a crônica a “Não gosto do natal” respondendo as questões que a seguem.

Crônica: Não gosto do natal (Disponível em: http://recantodasletras.uol.com.br/cronicas/1986308, acessado em 19 de dezembro de 2009).

i)     Diferentemente da crônica anteriormente trabalhada, “Não gosto do Natal” não apresenta uma perspectiva humorística. Qual é a perspectiva mais evidente desta crônica?

k)    A que público leitor a que essa crônica se destina? Com que objetivo?

l)     Agora você deve exercitar a sua criatividade: produza uma crônica, imaginando como público alvo os leitores de sua cidade, fazendo um elogio ao natal, em oposição à crônica que acabamos de ler, e uma crítica à perda da fantasia do natal. Para construir a sua crítica, tome a imagem a seguir como motivadora.

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Fonte: http://www.universohq.com/quadrinhos/images/charge-natal-2002-01-web.jpg, acessado em 19 de dezembro de 2009.

[1] Oto Braga Netto  (1973) afirma que não é jornalista, não é publicitário, nunca publicou crônicas ou contos – não é, enfim, literariamente falando, muita coisa, segundo suas próprias palavras. Paulistano, mora em Belo Horizonte e ama Minas Gerais.  Ele diz que nunca publicou nada, mas a crônica que abaixo foi extraída do livro. 'As coisas simpáticas da vida', Landy Editora, São Paulo (SP), 2005, pág. 82.

Recursos Complementares

Eis alguns sítios (acessados em 19 de dezembro de 2009) destinados à publicação de crônicas:

http://www.almacarioca.com.br/cronicas.htm

http://crondia.blogspot.com/

http://recantodasletras.uol.com.br/cronicas/

Exercícios sobre a temporalidade, semelhantes aos que propomos aqui, podem ser encontrados no livro didático a seguir:

FARACO, Carlos Emiliano; MOURA, Francisco Marto. Linguagem nova. 7ª série/8º ano. Ed. reformulada. São Paulo: Ed. Ática, 2007, p. 101-105.

Avaliação

·         A compreensão das propostas pelos alunos será avaliada a partir da discussão em sala de aula de cada uma das atividades.

·         Sugerimos que o professor corrija e avalie a produção escrita proposta na terceira parte da aula. É desejável que os alunos recebam os comentários sobre o texto que produziram e tenham a oportunidade de reformulá-lo ou aprimorá-lo.

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